Quinta-feira Santa: meditação de Plinio Corrêa de Oliveira para se defender contra seus próprios defeitos

Reunião do MNF, 31 de março de 1983, Quinta-feira Santa

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

MNF: conversas dirigidas com um grupo de pessoas, sobre temas sócio-filosóficos.

(Sr. Fernando Antunez: Já que se está na Semana Santa, o Sr. poderia tratar da Semana Santa do ponto de vista do MNF?)

Quer dizer, o que eu posso fazer, que se relaciona com o MNF e com tudo o mais, seria o seguinte: eu poderia tratar do ponto de vista Semana Santa por meio do qual eu procurei mais me defender contra meus próprios defeitos.

Mas, como esse defeito é muito generalizado – eu quase diria que era regra geral – e eu tinha esse defeito por participação dos outros; não só porque houvesse em mim, mas porque fazia parte da “ciranda” geral, eu creio que não seria uma coisa puramente individual, mas seria uma coisa do interesse de todos, de maneira que valeria a pena fazer a coisa por aí.

Eu diria o seguinte: havia uma coisa que me impressionava extraordinariamente na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e impressionava de maneira a meter pânico em mim, quer dizer, a coisa do lado meu de que eu tinha pânico, é o seguinte: por causa do “tau” [uma vocação contra-revolucionária especial, n.d.c.] eu tinha uma certa facilidade, vamos dizer mesmo uma muito boa facilidade em compreender as coisas como devem ser, simpatizar com elas, me sentir atraído pelas coisas boas, vamos dizer, uma só com elas. Tinha muita facilidade.

Mas, onde a coisa era “crespa” [árdua] é que para conservar-me nessa posição, eu precisaria fazer um esforço muito grande sobre mim mesmo. Esforço muito grande – eu já tenho dito isso várias vezes – tem o lado pureza que tem para todos os homens; o lado preguiça, o lado “nonchalance” [indolência] que é a prima irmã da preguiça.

E um certo lado de, não é propriamente ceticismo, mas uma distância em relação às coisas, uma distância egoística em relação às coisas. Quer dizer, uma vez que isso não me diz de perto – eu creio que em castelhano há uma palavra muito pitoresca -, não me “atañe”, não me concerne,  –  mas é um pouco mais do que concerne o “atañe”  –  uma coisa que não me “atañe”, eu olho para isso com olhares de ceticismo e indiferença.

É verdade que tem depois o problema do Inferno. Nossa Senhora me fez a graça de – a vida inteira – acreditar muito no Inferno e tomar muito em consideração o Inferno. Mas isso depois a gente arranja, eu sou uma pessoa saudável, forte!

Bem, acaba sendo que provavelmente eu escapo do Inferno. E depois haverá tempo de eu me arrepender quando eu ficar velho etc., etc., etc., vamos largar na moleza da vida o gosto de viver. Só não moleza na hora dos deleites. Na hora dos deleites uma espécie de ferocidade. Então, quero, quero, quero. Na fórmula Mitterrand: “Quero tudo, quero logo, quero para sempre”. Era a fórmula.

Agora, isso não se traduzia, o mais das vezes, numa tentação de cortar e voltar as costas ao dever. O “tau” também impedia isso. Mas numa tentação de fazer pontas do dever, e de sofismar e deixar as fímbrias. Fazer trechos do dever, fímbrias mal cuidadas, porcas, sofismadas e indecentes. E nisso, para conseguir um modus vivendi onde a consciência não me remordesse demais e onde eu, na placidez da rede, pudesse gozar a vida.

Até uma coisa que, em si é uma qualidade, que é meu bom gênio, concorria para essa minha posição de moleza, como sendo a coisa mais deliciosa que há.

Não sei se percebem que essa atitude de alma que eu estou apresentando como minha, não é peculiar minha e que existe, dessas ou daquelas maneiras, em mil e milhões de pessoas. E uma família vulgar de almas, isto é próprio à vulgaridade.

Eu percebia, portanto, que para mim a batalha da perseverança era a batalha de levar o dever até o fim. Agora, a batalha de levar o dever até o esmero no cumprimento do mais dolorido e do mais desagradável, uma espécie de fome do desagradável para que todo o resto saísse bem, e, portanto, uma espécie de pesquisa contínua do mais dolorido. E do mais dolorido indispensável.

Eu nunca fui de me sobrecarregar de penitências que não me parecessem indispensáveis.

Mas, do indispensável, quer dizer, do que a lei de Deus manda, ou que a lei da Igreja manda  –  porque esse é o negócio  –  isso, ir ao mais dolorido, procurar o mais dolorido e, desde logo que encontrado, me atirar em cima da lança do mais dolorido, sem um minuto de tergiversação e de maneira que a lança me fure, isto passou a ser um programa da vida. Porque, ou era isto, ou, no fundo, a vileza, a degradação, e o non sense da vida. E daí o sentido da fortaleza.

Eu sei que é muito antipático o que eu estou dizendo, porque muita gente em grau ora maior, ora menor, talvez não com tanta truculência quanto eu, faz coisas dessas. Mas, um número incalculável de pessoas vivem dessa “concordata”. E eu queria – por excelência – não ser uma alma “concordatária”! Mas, por excelência! E chegar até o fim!

E nisso me impressionava enormemente a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque Ele teve, em face da dor dEle, precisamente, e de um modo que nem sequer encontra palavras adequadas no vocabulário humano, esta posição.

Quer dizer,  Ele passou por todas as formas e graus de dor, e entrou nelas como o rei entra no caminho que conduz à sua coroação! De passo digno, sereno, firme, sem hesitação, e caminhou para a Cruz como um rei caminharia para o trono de sua coroação. Assim caminhou Ele.

E a análise deste pormenor na vida dEle – mas naturalmente de modo muito especial na Paixão e na Morte dEle – análise desse pormenor me fez e me faz um bem insondáveis!

(Aparte inaudível)

Ele não disse propriamente isso, [disse] “comer essa Páscoa convosco –  Desiderium magnum desiderare manducare pascae vobiscum”. Era o desejo que Ele tinha de se dar aos homens na Sagrada Eucaristia. A Sagrada Eucaristia tem uma relação com a Paixão, mas não é imediatamente a Paixão. De imediato, a Paixão é outra coisa.

Mas, então, quando a gente vai analisar todo, todo, todo lance da Paixão, quer fisicamente, quer espiritualmente, não foi poupado a Ele nada. E Ele entrou no abismo mais pontudo e mais profundo da dor. E entrou com passo firme, de herói que quis e que chegou lá sem hesitação, e que assim assumiu todas as dores possíveis e se apresentou resplandecente de dor ante a justiça do Padre Eterno. E assim salvou o gênero humano. Foi propriamente o que Ele fez.

Então é interessante a gente examinar, ponto por ponto, o anoitecer dentro dEle. O Ofício de trevas dentro dEle, tomado no plano da Humanidade santíssima, dEle, da alma humana dEle.

Isso, quando a gente olha de frente assim como eu estou olhando, é de molde quase a tirar a respiração, mas é assim. De algum modo a coroação da obra dEle… vamos dizer assim:

Ele teve o primeiro ano da vida dEle – porque tudo na vida dEle foi preparando a Paixão -, no primeiro ano da vida dEle, Ele teve aquela alegria, aquele bom êxito, aquela coisa toda, e a correspondência de amor das multidões do povo eleito que afluíam a Ele. Mas, Ele sabia que isto tudo – vejam a amargura dentro disso – ia dar num número relativamente pouco de conversões e que iria, isto sim, excitar os fariseus e determinar a morte dEle. Se Ele tivesse muito menos adeptos, poderia não ter sido morto. Ele foi morto por causa do sucesso do primeiro ano da vida.

E, nas multidões que afluíam e que O adoravam, Ele via o êxito que era o primeiro passo do degrau dEle que haveria de levar ao alto do patíbulo. Ele sabia. Os Apóstolos não sabiam, os outros não sabiam, Ele sabia.

E mais ainda, Ele via aquele, aquele, aquele outro, que Ele sabia que estavam na plenitude momentânea do “tau”, do chamado, da alegria, etc., etc., e cuja beleza de alma o encantava naquele momento. Mas Ele sabia que aquele haveria de apedrejá-lo,  outro haveria de fugir, outro havia de abandonar, outro havia de caluniar, outro havia de dar risada quando falassem máfia [calúnia] contra Ele, dando a entender que aquela máfia era verdadeira; Ele sabia tudo isto e tinha tudo isto presente. E, portanto, Ele carregava diante de si a enormidade do tormento que Ele tinha.

Quando começam as máfias, eu não tenho certeza, mas tenho a impressão – pela nossa experiência – que as máfias só começaram depois de um certo trabalho do Sinédrio junto aos que O seguiam, de maneira a “alaranjar” alguns e a por alguns contra Ele. De maneira que aquela multidão se apresentasse frouxa e desunida. E Ele viu o crepúsculo da frouxidão que baixava, à medida em que Ele aumentava os milagres e as maravilhas.

E, no segundo ano, quando Ele tinha acumulado o castelo das suas maravilhas,  Ele entra numa espécie de duelo com  a frouxidão, porque a frouxidão procura lhe escapar das mãos e Ele procura retê-la fazendo maravilhas maiores. E Ele fica colocado diante dessa situação humanamente insolúvel que, quanto mais Ele faz maravilhas, tanto mais a multidão vai se tornando insensível e indiferente às maravilhas dEle. Porque é isso o que se passou.

– “Ah! Ele ressuscitou um morto, é?… Essa agora foi a última dEle é?” Como quem não liga, como quem diz: – “Eu estou farto disso! Quero voltar para minha vidinha. Maravilhas, afastai-vos de mim, eu quero a banalidade!”

(Sr. GVL: Mas os fariseus ligavam.)

Ora! E, quando Ele levou ao auge, Ele teve conhecimento da sentença de morte. Quer dizer, na ressurreição de Lázaro Ele soube que resolveram matá-lo. Porque Ele conhecia tudo. E quando Ele foi para casa de Lázaro festejar a ressurreição, de fato Ele festejava a morte. A ressurreição de Lázaro foi o começo da morte dEle.

Bom, eu não sei se notam quanto tudo isto é pungente do ponto de vista da tristeza. E é uma tristeza que – para usar uma expressão completamente errada, mas que significa um pouco do que eu quero – do ponto de vista gáudio, envenenava, metia um sabor amargo da tristeza nas mais legítimas e esplendorosas alegrias.

Imaginem a casa de Lázaro. Ele gostava de estar em casa de Lázaro. Com Lázaro ressurrecto, o ambiente em casa de Lázaro deveria estar de não sei o que dizer. Os Apóstolos, a família de Lázaro, gente do lugar que vinha etc., etc., não sei o que dizer de adoração e de tudo o mais. Ele saiba que a maior parte daquelas coisas todas iam dar em nada! E Ele, para bem daquelas almas, comia o festim e se alegrava, mas no íntimo de seu coração Ele chorava, porque Ele compreendia o que é que estava acontecendo.

Por exemplo, só esse episódio daria um drama do outro mundo! drama de tragédia grega não seria nada em comparação com isso…

Agora, se for muito opressivo o que estou dizendo, digam; eu estou disposto a parar.

(Aparte)

Mas Ele devia sentir também que a reação dos que estavam lá já não era a mesma de outrora. “Estava tudo bem, tará, tã, tã”… mas não era a mesma.

Algumas – bem, antes de tudo e por cima de todos os Céus, Nossa Senhora. Depois, algumas Santas Mulheres, alguma coisa assim, ainda iam. O resto, Ele sabia bem o que era…

Agora, as coisas vão e Ele alcança um triunfo: o poviléu quer aclamá-lo. Mas Ele percebe o vácuo desse triunfo. Quer dizer, o povinho queria aclamá-lo, mas não queria aclamá-lo em termos de romper com os fariseus. O povinho esperava que os fariseus o entronizassem. Se os fariseus não o entronizassem, o povinho seguiria os fariseus.

E fizeram para Ele aquela festa que era a festa da ingenuidade não do inocente, mas do mole. Porque há uma ingenuidade do mole que é diferente da ingenuidade do inocente. E Ele passando no meio daqueles hosanas, Ele percebia perfeitamente o que vinha depois.

Quer dizer…

Membros da TFP reconhecem que era impossível uma organização cobrir-se de mais glórias, numa luta contra tudo e contra todos, inclusive contra os donos da celebridade. Mas como os donos da celebridade não aclamam a TFP, eles têm todas essas vitórias como irrelevantes, porque só a vitória da celebridade é que comove a TFP, a aclamação dos donos da celebridade…

Ainda outro dia o Plinio me contou…

Agora, em todos esses passos – é preciso dizer desde já – o que impressiona é que Nosso Senhor, tendo, por desígnio do Padre Eterno, que sofrer aquela dor, Ele não consentia em que a dor caísse sobre Ele mesmo. Ele ia de encontro à dor. E Ele se afundava a si próprio naquilo que era o vértice baixo mais terrível do losango da dor, do losango da vida humana. Digamos que a vida humana seja um losango com duas pontas, a ponta baixa a dor, e a ponta alta o gáudio, Ele desceu ao mais fundo do losango da dor em cada um desses casos concretos. Com uma probidade, com uma integridade e com um “praesto sum!” que lembram o “Ecce ancila Domini, fiat mihi secundum verbum Tuum!” Porque Ele foi até o fim, de cabeça alta, na atitude que nós o vemos no Santo Sudário. Assim Ele caminhou.

Bem, podem imaginar como isto era útil para minha moleza. Era e é útil para minha moleza, fazendo-me reconhecer que era no caminho per diametrum oposto aquilo para o que eu tendia que se encontrava toda sublimidade, toda beleza, toda santidade, em última análise se encontrava Nosso Senhor Jesus Cristo!

Agora, a coisa fica mais pungente no que se festeja na 5ª feira Santa, porque era o ápice da obra dEle.

Ele institui a Missa e a Eucaristia. Ele institui a Penitência, e com isso o edifício da Igreja fica, em certo sentido da palavra, fica concluído. Era, portanto, uma festa. O povo judaico estava todo em festa, comemorando a passagem do Mar Vermelho. É a Páscoa. Páscoa quer dizer passagem.

E Ele, nesse ambiente de gáudio geral, via com certeza os Apóstolos participarem do gáudio geral, que devia ser gáudio “nhonhô”, gáudio de súbditos resignados dos romanos, quando não eufórico dos romanos, tudo o mais… Toda decadência se estadeando ali. Ele sabia que daqui a algumas horas a grande tragédia haveria de começar.

Ele faz a festa e completa sua obra sem desfalecer, sabendo, na aparência, onde ela ia afundar daqui a poucas horas. E podem imaginar o misto de alegria e de tristeza dele quando Ele viu aquela coisa horrorosa que era no que aquilo daria daqui a pouco… 

Que Ele tinha isso em mente, é evidente! Imaginem a tristeza dEle lavando os pés de Judas… E depois de São Pedro, de São João, e pensando cada um daqueles o que faria logo mais. Depois distribuindo a Eucaristia e passando a ter presença real dentro de cada um daqueles, tão pífios, tão abaixo da tarefa! E depois prevendo as traições: Judas me abandonará  –  Ele não deu nome, mas disse a São João: “Aquele que meter a mão comigo no prato, este será.”

Depois, São Pedro  –  e era o príncipe da Igreja dEle. E São Pedro havia de fazer aquilo!

Terminado o festim, estava tudo terminado. E o resto, daí para adiante, não haveria mais festim, não haveria nada. Era o abismo das dores, grandes e pequenas, todas confluindo juntas e crivando-O dos sofrimentos mais terríveis, cada um em seu gênero. E começa a agonia…

Na agonia, o que foi terrível foi que Ele teve a representação de tudo o que aconteceria. E ele teve que querer, na sua inteligência, na sua alma santíssima, o que aconteceria. E acontecer com uma tal integridade que Ele sofreu a desproporção entre a dor que vinha e as forças que Ele tinha, que é pior do que tudo. Porque sentir-se proporcionado, ainda vá. Mas Ele não. Ele se sentiu esmagado. Não dava! Para usar a expressão péssima de hoje, “não dava”!

Apesar disso tudo, um ato de submissão: Ele pediu, suou sangue etc., pediu! Mas, “faça-se a Vossa vontade e não a minha!” Quer dizer, Ele teve até a aparência da fraqueza. É uma força divina, não tem nada de comum com a fraqueza, mas tem a aparência da fraqueza. Mas, nessa aparência da fraqueza, Ele ainda disse “faça-se a Tua vontade e não a minha!”, como quem intuía o seguinte: ou via, ou conhecia que a vontade do Pai Celeste tinha inflexibilidades, e que ele estava esbarrando numa dessas inflexibilidades, e que nessa inflexibilidade Ele se esmagaria.

Bem, veio um Anjo e deu a Ele uma força. Mas, essa força não era um consolo para sofrer menos, era uma capacidade para sofrer mais!

Eu creio que se um padre fizesse esse sermão, ele dispersaria o povo em torno de si. Porque não é o que o povo quer ouvir hein! nenhum pouco.

Bem, começa daí todo o resto: o abandono dos Apóstolos, e tudo o mais quanto Dom Bertrand e vocês sabem. Mas, em todo, todo, todo passo, a gente vê o horror, chegar o horror do inimaginável. Ele entra dentro desse horror e se reveste desse horror e bebe! Cálices que Ele bebeu durante a Paixão dEle – se se entende por cálice beber o cálice da dor e não o da consolação – não tem conta… cada minuto era uma!

Por exemplo, isto – é claro que o que eu vou dizer deve ser adaptado porque Ele era Ele, mas pensem um poucotiram-lhe a túnica e a túnica está toda empapada de sangue. Na hora de tirar a túnica, uma dilaceração sem nome!

Eu estou certo que um homem que não tivesse as forças que Ele teve, morreria várias vezes de dor nessas coisas. Ficava louco. Sem falar de apostatar. E desde logo, hein!

Agora, o que acontece com Ele? Essa túnica, presumivelmente foi jogada no chão, em qualquer lado. E o sangue precioso começou a secar ali. Se para um de nós é tão desagradável vestir a camisa usada na véspera, o que será pôr a túnica com sangue derramado?… É verdade que o sangue dele é perfume, o sangue dele é “exquis” [muito requintado], não há nada na terra que se compare ao sangue dEle, é bem verdade, mas compreende-se alguma coisa do que eu estou dizendo. Ora, isto é uma bagatela dentro do conjunto.

Não sei se estou terrível demais no que estou dizendo…

Imaginem esse episódio conosco mesmos: tivéssemos uma camisa ensanguentada com nosso próprio sangue, esse sangue esfriasse, coagulasse e depois tivéssemos que vestir isso sobre nossa carne, em carne viva.

(Dom Bertrand: Depois a sujeira onde essa túnica foi lançada…)

Deram pontapés naquilo, cuspiram naquilo, pisaram em cima, deve ter acontecido o inimaginável.

Bem, em cada um desses passos aconteceu-lhe o pior previsível, mas o pior previsível. Ele tomou por inteiro e sem um minuto de adiamento! Em nenhum minuto da Paixão dele Ele pede que tenham pena dele. Em nenhum minuto! Em nenhum instante da Paixão dele Ele pede para adiarem um pouco para Ele poder respirar. Quando Ele cai debaixo da Cruz é porque as forças não aguentavam, é uma coisa diferente. Mas logo que Ele pôde, Ele levantou e continuou.

(Dom Bertrand: Diante de Pilatos, continuamente reafirmando-se a si mesmo.)

E com a serenidade de um homem… com a dor de um homem que estivesse sofrendo tudo e a serenidade de um homem que não estava sofrendo nada. De maneira tal que eu acredito que Pilatos, de dentro das banhas dele e do conforto dele, tenha tido inveja do bem estar de Nosso Senhor Jesus Cristo.

(Sr. FA: Se suicidou depois.)

Não sei se é bem histórico que ele tenha se suicidado.

(Uma tradição que diz que ele se suicidou na Suíça.)

É uma coisa que é possível. Mas, enfim, vamos calcular com o incontestável, com o que está revelado.

Agora, isto posto, Ele chega e é obrigado a esta ação atroz de caminhar, Ele, carregando sua própria Cruz para o lugar onde o tormento chegaria ao auge… Quer dizer, cada passo que Ele dava era um passo não para a própria libertação. Porque, se dissesse a Ele: “Se subires esse morro, no alto estarás liberto”, a coisa é uma. Mas não! Se subires esse morro, sobe nesse morro, e quando subires terás o pior. Agora ande! Ele sobe o morro e depois começa a Crucifixão.

Quer dizer, a gente tem a impressão de que não é nada em comparação com o que vem depois. Quer dizer, o processo mortal que à certa altura da Crucifixão, talvez logo depois, começa.

Ele começa a morrer. Longa morte! Podia ser, ao menos, de uma apoplexia, de um momento para outro. Não! Ele bebeu – se se pudesse dizer sem irreverência – Ele bebericou o cálice da morte, gotinha por gotinha, tomando-lhe todo sabor. Ele não bebeu a morte de um trago só, mas tomando cada sabor de cada gotinha.

Quer dizer, Ele sentiu-se morrer aos milímetros. E cada milímetro de morte era uma pequena morte. E Ele transpôs cada milímetro desses até o fim. E quis que o mundo soubesse que Ele não teve consolação nenhuma no gemido final! Quer dizer, até o Padre Eterno e o Divino Espírito Santo O abandonaram! A Humanidade Santíssima dEle ficou abandonada. A divindade, unida à humanidade na união hipostática, esta ficou fechada para Ele. E o que nEle havia de homem ficou na noite mais completa e mais escura, a ponto de arrancar aquele brado.

E o brado indicava bem duas coisas lindas: de um lado, a pungência tremenda da dor; mas de outro lado ainda tudo quanto de força restava naquele Homem que estava morrendo. “Voce magna”, com grande voz ele disse. Depois “eflavit spiritum”, acabou…

Agora, em todo momento, todo momento, todo momento, é o auge da dor previsto de longe e aceito de longe, por uma preparação da alma para isso.

[Isso] Me fez compreender que ou eu viveria assim, ou eu não teria coragem de cumprir meu dever. Porque se eu vou deixar que o monstro incerto que me espreita no caminho venha de um modo inopinado, se eu vou permitir que até o momento do monstro pular em mim eu tenha esperança de que não pule, se tudo isso vai acontecer, eu desfalecerei no caminho. E, ou eu tomo aquilo tudo e digo: “Se acontecer isto “paratum est cor meum, meu coração está preparado” e eu faço”, ou é isso, ou eu de fato não conduzi minha vida espiritual como minha moleza exige. Porque, a tanta moleza só se pode dar réplica adequada com tanta firmeza. Me parece.

Agora… “dirai-je?” [direi ?]

Uma das coisas que me deixa desolado em torno de mim, é que esta minha posição abre um fosso entre os meus e eu. Porque os meus não amam de se colocar nessa posição. E fazem o cálculo vil seguinte: “Para que me hei de preparar para uma dor que talvez não venha? Para que é que hei de estar com o peito aberto para um inimigo que talvez não me ataque? Quando o inimigo vier, aí serei um herói. Se ele não vier, eu terei sido nhonhô…”

O desfecho do negócio é que várias vezes o inimigo vem e a gente faz o papel de nhonhô… Por uma imprevidência que é a própria sordície da alma; por uma… e a “Bagarre azul” [período dos “milagres” econômicos no Brasil e em outros países, com o embevecimento e endeusamento do bem estar próprio, n.d.c.] ajudou para isso não sei quantas grosas, mas eu simplesmente não sei quantas grosas ajudou para isso a “Bagarre azul”!

Bem, “deixe eu ficar nessa  valsa que eu me divirto. Se vier alguma coisa, eu resisto!” Fica dito “sotto voce” [cochichado, sussurrado] na alma hipócrita, na alma fraudulenta: “se eu não resistir também não tem nada, porque no total eu me confesso, comungo, continuo o caminho de novo”… É o que fica dito.

E o “nó” [aversão, repulsa, n.d.c.] com as Reuniões de sábado, o “nó” com a “Bagarre” [realização das promessas de Nossa Senhora em Fátima, n.d.c.] é porque estou sempre prevendo os acontecimentos assim. Eles vão sempre se confirmando, mas as pessoas têm horror de os prever assim. Por quê? Não meditam honestamente sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fazem meditações fraudulentas…

…não poupa ninguém. A pessoa pode imaginar que se subtrai a isso, mas de fato acumula com juros. E isso espreita à certa altura do caminho e o devora. Mas isso não poupa ninguém.

Bem, eu antes de dar o aspecto completo disso, eu queria insistir num ponto: é que sem uma ajuda da graça a pessoa não aguenta isso. Eu não teria aguentado. Não é não teria aguentado como uma prova que passou, não! Neste momento eu deixava de aguentar. Agora, nesse instante, eu deixava de aguentar. E de futuro não aguentaria.

Todos que estamos nessa sala, ou que pertencemos a essa Comissão, somos exatamente assim.

Agora, a ajuda da graça não vem assim, habitualmente, pode vir, mas não é o modo habitual dela vir como um relance inopinado. Ela nos educa fazendo com que nos acontecimentos comuns da vida, nós tomemos essa atitude. Quando nós tomamos essa atitude nos acontecimentos comuns, nós estamos prontos para tomar esta atitude nos grandes acontecimentos.

O que não for isso, no fundo, é uma “concordata” [situação de pré-falência, n.d.c.]. No fundo é uma “concordata”…

Nesse ponto, quantas infidelidades dentro da TFP! Mas, montanhas! Montanhas tão grandes, Himalaias, que eu nem sei o que dizer… Porque, para ser amável, eu vejo poucas almas dentro da TFP que tomem isso assim.

Mas, Dom Bertrand e vocês hão de reconhecer que esta é a imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo. E que se é para fazer uma meditação MNF das coisas, é preciso tomar por aí. Porque, como é que se pode falar em CR [Contra-Revolução] quem não tem a alma bem ajustada nesse ponto?

(Vira a fita)

concretamente? Consiste em compreender uma certa coisa que é inteiramente paradoxal, mas que é assim: essa vida é a mais terrível que se possa imaginar… exceto a vida do pecador. Porque é uma vida duríssima! Mas ela tem forças de alma, limpezas de alma, tranquilidades de alma, estabilidades de alma que já são, nesta Terra, pelo menos algo do cêntuplo que a alma deve receber…

De maneira tal que o pecador inveja – como Pilatos deve ter invejado a felicidade de Nosso Senhor –  o pecador inveja a alma que vive assim. Tem “nó”, é injusto, porque ele está pronto a caluniar uma alma assim. Porque essa alma é o remorso dele, em pé diante dele. E ele calunia seu próprio remorso para ter sossego, mas ele sabe que é um desgraçado. E que, se felicidade nesta terra existir pode, ainda é essa felicidade.

Mais ainda: a dor de encontro à qual a gente caminha com passo firme, essa dor de algum modo diminui. A dor da qual a gente foge, vai crescendo à medida que a gente foge, e a gente vai minguando. Na hora dela nos estraçalhar, nós não somos nada…

Querem que eu repita isso? Ou está metafórico demais?

E quanto mais o indivíduo previr de longe a dor, tanto menos ela lhe doerá. E a verdadeira ascese consiste na longa previsão. Não tem outro remédio! A verdadeira ascese consiste na longa previsão.

E que, paradoxalmente falando, nós temos aí o nosso cálice do Horto das Oliveiras. Quer dizer, o líquido que nos dá forças, a “prima facies” [evidentemente] é esse. Mas isso supõe, não o seguinte [cálculo] “na hora do drama serei um herói”, mas é: “na hora do draminha eu serei um herói também, da pequena coisa da vida cotidiana, eu serei um herói também”.

…[Outro] contraforte para dar. O contraforte é o seguinte: isso não tem a seguinte conclusão: cada vez que se apresenta uma dor para nós, em perspectiva, nós não devemos pedir que esta dor se afaste de nós, que nunca essa dor se afaste. Isso não é verdade, nem eu estou dizendo isso.

A oração pode afastar dores de nós. E assim como a Providência não só permite, mas quer, e a doutrina da Igreja estimula que a gente diminua as dores das pessoas que estão no Purgatório, também como muitas pessoas recebem uma parte do tormento do Purgatório na terra, é legítimo que essas pessoas peçam que, no caso de ser este o tormento, que a Providência as livre. E, muitas vezes, a Providência misericordiosamente livra.

De maneira que eu não estou pregoando a atitude de [Caio] Múcio Cévola com a mão em cima do braseiro [508 A.C.]. A nota católica consiste em tudo isso que eu disse, mais o que eu estou dizendo. Mas, com os olhos postos nas misteriosas inflexibilidades de Deus.

Outro dia ainda E. estava falando a respeito da atitude de Deus com Moisés, no alto do Monte Nebo. Quer dizer, Moisés levou o povo eleito até a Terra Prometida e Deus disse a ele que ele ali morreria em castigo daquela infidelidade que ele teve. Ele pediu a Deus, insistentemente, para ele poder entrar na Terra Prometida para ver. Deus não achou o pedido dele estúrdio, achou o pedido razoável. A tal ponto achou razoável que o levou ao Monte Nebo e parece que lhe deu uma visão de toda a Terra Prometida como era. Entrar, não pode. E quando Moisés insistiu, Deus disse a ele: “Basta!” São das tais inflexibilidades de Deus…

Então há flexibilidades adoráveis e há inflexibilidades não menos adoráveis. E, de um modo ou de outro, a alma sente isso. E tem que estar pronta para todos os élans de esperança e de confiança, mas também de resignação.

Morto Moisés –  vejam a coisa espantosa, o homem fiel entre todos, a bem dizer condenado à morte por Deus, é uma coisa espantosa  –  Deus o amava tanto que escondeu o corpo dele. Ninguém sabe onde está o corpo de Moisés. O olhar de Deus pousa sobre esse corpo até a ressurreição dos mortos. Moisés esteve presente na Transfiguração, mas ele aguentou milênios de Limbo e um decreto inexorável sobre ele baixou. E ele adorou esse decreto. Está perfeitamente bem…

Assim também há, dentro do que eu estou dizendo, um claro-obscuro. Primeiro, a ajuda de Nossa Senhora para nós conseguirmos ter forças para isso. Porque, sem isto, não sai! Não sai comigo, não sai com ninguém! Eu não acredito em um só homem que sem ajuda de Nossa Senhora faça isso.

Bem, mas de outro lado também, as exorabilidades adoráveis de Deus, ainda mais quando se põe como intermediária, se suplica que seja intermediária a Mãe dEle. A gloriosa intercetio beata Maria Virgine. E se podem conseguir coisas espantosas. Mas, sempre fica esse ponto: uma inexorabilidade poderá baixar sobre ti. Nessa hora, sabe fazer como Moisés que morreu sereno nas mãos de Deus…

Não sei se me exprimi adequadamente.

Agora, creio que, se um membro da TFP se desse ao fastio de ouvir essa fita uma vez por semana, ele daria um passo enorme na vida espiritual dele. Mas, as coisas chegaram tão longe que eu não creio que vale a pena fazer ouvir isto por todos.,,

Tenho medo que não. Não  tenho certeza, mas tenho medo que não.

Mas é preciso rezar por nós e por eles para que isso seja exequível. Porque se não fosse numa manhã de Quinta-feira Santa, também aqui entre nós eu não diria o que eu estou dizendo. Mas se a gente quiser meditar seriamente a Paixão, o que encontra é isso…

Encontra também [isto] da parte de Nossa Senhora, porque não se pode imaginar que a uma mera criatura seja pedido tanto quanto foi pedido a Ela. Ela deu.

Imaginem só o seguinte: com que cuidados e com que carinho Ela tratou dEle enquanto menino. Depois enquanto mocinho, moço. Com que afeto Ela bordou essa túnica inconsútil!

Tudo isto assim e aquele corpo que Ela tinha amado tanto; aquela Alma que Ela tinha procurado encher de consolações e que Ela sabia que tinha enchido de consolações, estar naquele mar de tormentos! E Ela estava conjugada com o inexorável de Deus, Ela quis que Ele morresse. Ela sabia e quis que Ele morresse. Desde o início: morrerá! É uma coisa… nós não temos ideia do que isso representa.

Por exemplo, se nós devêssemos sentir em nós uma fagulha do que Ela sentiu, morríamos de dor. Pluft!

Bem, o papel da confiança dentro disso?

O papel da confiança é muito bonito nesse ponto: é que a confiança é a virtude por onde a gente, misteriosamente, discerne o que não é o inexorável. E consegue recuar algo do inexorável. É também algo tão poderoso que eu creio que um pouco do inexorável, ele próprio, às vezes recua.

Mas, é uma coisa curiosa: a gente confia em que não venham sobre nós as dores que a gente sente que, normalmente, não estariam no nosso caminho. Porque cada um tem uma noção confusa do que é o caminho de suas dores. Mas, também sente quando esbarrou no próprio inexorável. E aí a confiança se chama resignação. Ela muda de nome e se chama resignação.

Mas, o mais terrível é quando vem a prova axiológica em que a pessoa perde a noção do exorável e do inexorável. Fica assim [na dúvida]… Aí já é uma outra questão.

Bem, exame de consciência.

Eu dou por certo que nenhum de nós fez essa meditação inteira assim. Eu dou por certo. E dou por certo que é muito arriscado que não fará. O próprio é sair daqui com um certo alívio e procurar jogar-se na vida cotidiana que não é sombreada por perspectivas tão terríveis. E isso fica como uma espécie de recordação que fez sobre a alma um bem fugaz. E que essa fita, ainda que eu desse um exemplar para cada um, não seria ouvida. Pretexto: já sei tudo e não quero ouvir repetição.

Eu não tenho que dizer, sobre esse assunto, nada, nada. Se uma pessoa me dissesse isso, eu me calaria melancolicamente dizendo: “está perdida a partida”. Não a partida da vida dele, mas esta partida.

O que fazer disso? Também não sei. Pediram-me uma meditação, a meditação está feita.

Quando um homem ganha uma guerra mundial, ele deve sentar-se dentro da sua própria cadeira no museu. Porque tudo o mais que ele faça é menos do que ele já fez. De Gaulle querer ser presidente da França foi miséria. Hindenburg querer ser presidente da Alemanha foi miséria; Churchill disputar  cadeirinha de deputado, miséria! Porque a coisa é outra…

O homem entra para o museu da História. E está acabado!

(Sr. GVL: O Senhor dizia que essas considerações sobre a Paixão ajudaram muito o senhor…)

Eu não teria feito nada se não fosse isso!

(Sr. GVL: Exemplos mais frisantes da vida do senhor)

Mas é tudo, meu filho! A todo momento que você me vê, é saltar em cima do infortúnio. Não há uma ocasião. Aparece um infortúnio no fim do caminho, eu me preparo para ele. Com uma previsão que parece pessimista, mas de fato não o é. Porque eu não tomo uma providência que seja inútil. E não tenho acesso de medo nem de fraqueza diante dele.

Mas eu vejo logo: isso, ao último ponto onde pode chegar, é tal! E o pior dos inimigos que quer para mim o pior dos fins, vai tramar isso. Eu tenho que preparar-me contra isso, contra aquilo, contra aquilo, aquilo outro, continuamente, continuamente, continuamente. Nossa batalha existiria se não fosse isso?…

Eu estou sempre nos limites da tragédia lutando para que ela não se consume. Sempre! E assim, quantas e quantas coisas do gênero… nem cabe dizer! Nem cabe dizer.

Quer dizer, a toda hora eu estou na ponta da previsão vendo o que há. É a minha vida…

(Aparte: como foi a preparação para a morte de Da. Lucília?)

É tal o hábito que eu já estava com a alma posta para isso, habitualmente. Vai acontecer a qualquer momento, agora enquanto eu jantar, enquanto eu conversar com ela, enquanto estiver no MNF vem um telefonema: “Ela está morrendo”… Eu estou preparado para isso. “Paratum est cor meum.” Não tem mais nada.

Agora, eu acho que nós não temos esse hábito. E que, enquanto não tivermos esse hábito, não acertamos comigo. Não tem conversa. Para fazer uma meditação sincera sobre a Semana Santa, a que eu faço, é essa.

Também é preciso dizer: por detrás de tudo isso tem as glórias e as esperanças da ressurreição. Quantas coisas na nossa vida foram à maneira de ressurreições. E virá sobretudo a ressurreição final de todos nós. O Céu, antes da ressurreição e a ressurreição final de todos nós. Quer dizer, isso não é, portanto, um horizonte que esmaga. Tem isso tudo.

Eu não verifiquei, mas disseram-me que aquele salmo de Nosso Senhor, no alto da Cruz: “Deus, Deus meus, respice in me, quare me dereliquisti”, termina com uma previsão da Ressurreição. Portanto, nada disso tem o cheiro pútrido do jansenismo. Mas é uma… não é?

Do que ela terá adiantado [esta reunião]? Pouco. (…) E por causa disso eu não fiz um tratado, não dei uma aula. Eu fiz uma coisa – para usar a expressão de que tanto se tem abusado hoje, e na medida em que ela caiba para um leigo – eu fiz uma exposição pastoral, acomodada às necessidades dos que forem ouvir essa fita.

Que Nossa Senhora tenha pena de nós. Porque eu achar que essa fita vai adiantar qualquer coisa, eu acho muito difícil. Assim está…

Nota: Para outras matérias (artigos de imprensa, conferências) relativas à Semana Santa, clicar aqui.

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