Quanto mais a humanidade se afasta de Cristo Rei, mais diminui a bondade e as guerras se tornam mais cruéis, com o que a bondade é mais reduzida, produzindo um círculo vicioso

Conversa durante chá na Sede do Reino de Maria, Domingo, 1º de maio de 1994

 

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de exposição do Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

 

 

Ilustração: O comandante das valorosas tropas de Felipe II (rei da Espanha) recebe das mãos de Justino de Nassau, em Breda, nos Países Baixos, as chaves da cidade, que capitula depois de uma resistência intrépida (1625). Quadro famoso de Velásquez. O Prof. Plinio comentou este mesmo quadro em “Ambientes, Costumes, Civilizações” intitulado “Conduz ao materialismo o vendaval igualitário” (Catolicismo, No. 71, Novembro de 1956).

* Houve guerra porque diminuiu a bondade, ou diminuiu a bondade porque houve guerra?

Tem o seguinte, meu filho: nós podemos nos pôr uma pergunta que está subjacente à sua, que é a seguinte: o que é que houve, houve guerra porque diminuiu a bondade, ou diminuiu a bondade porque houve guerra? É uma pergunta que se pode fazer, e à qual nós vamos tentar dar uma resposta.

Nós vimos que o período que enche o século XIX e depois o século XX é um período de guerras, e guerras cada vez mais consideráveis. De maneira que a última guerra foi ainda maior do que a Primeira Guerra Mundial. Não houve guerra mundial a não ser…

* Uma ação recíproca: as guerras aumentando, o furor dos homens aumentava; mas o furor dos homens aumentando, o furor da guerra aumentava

Então você está vendo que cada vez as guerras vão se tornando mais cruéis, mais pesadas. Até a Primeira Guerra Mundial, que foi a primeira guerra em que entrou o mundo inteiro.

Mas é um modo de pensar, porque já as guerras de Napoleão foram enormes. Não eram guerras mundiais, mas eram guerras europeias, que era uma novidade, uma guerra arrastar um continente inteiro. Depois vieram no século XX as guerras mundiais. Depois das guerras mundiais, quase no fim do século XX, nós temos as guerras planetárias ou universais, porque pode ser que uma guerra atômica traga uma guerra planetária e universal e destrua o universo. É uma coisa que pode acontecer.

(O senhor queria chá ou leite?)

Chá com leite, faz favor. Meio chá, meio leite.

O furor das guerras foi crescendo cada vez mais e o furor dos homens foi crescendo ao mesmo passo que o da guerra.

O que aconteceu: a guerra aumentou ou furor do homem, ou o homem aumentou o furor da guerra?

É uma espécie de ação recíproca. As guerras aumentando, o furor dos homens aumentava; mas o furor dos homens aumentando, o furor da guerra aumentava. Era uma ação recíproca.

Nos intervalos entre as guerras, aparecia toda a espécie de ação para a paz, nos intervalos entre as guerras. Era, por exemplo, a Liga das Nações entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Depois da Segunda Guerra Mundial, a ONU.

* Podemos ter guerras de castigo de Deus em cima dos homens com consequências que não se pode imaginar

Agora não basta só essa guerra, enfim, como nós temos tido, mas nós podemos ter guerras de castigo de Deus em cima dos homens com consequências que a gente não pode imaginar.

Para mencionar uma coisa só, eu pergunto aos senhores o seguinte, eu não sei se os senhores já pensaram nisso:

Os senhores sabem que quando há guerra, as epidemias se propagam muito, por uma razão intuitiva.

Haverá epidemias de AIDS durante a guerra? Se o Aids tomar caráter epidêmico, até onde chegará a devastação dele? Se uma nação for a primeira a jogar uma bomba aidética sobre o mundo, qual é o ódio de todas as nações outras sobre essa? Qual é o ódio sobre o cientista que tenha encontrado esse meio de combater, o governo que tenha encontrado o meio de utilizar na guerra?

Os ódios vão subindo.

Mas ainda que não houvesse a guerra, o amor dos homens entre si teria decaído enormemente.

* Exemplo de ferocidade dos povos da antiguidade: os assírios

Como é que a gente vê isso? É que antes de Nosso Senhor Jesus Cristo pregar a doutrina dEle na Terra a ferocidade entre os homens é uma coisa da qual nós não temos ideia, mas era uma coisa fantástica.

Por exemplo, os assírios. Eles faziam guerra para fazer prisioneiros. Esses prisioneiros que eles faziam, eles mandavam amarrar, amarrar nos pés e nas mãos. No dia seguinte eles levavam os prisioneiros, soltavam, e antes de soltar prendiam o beiço do prisioneiro por uma argola – pode imaginar a dor que devia dar – amarrada com um fio num outro fio central grande. Aí formava aquele mundo de fios de homens presos pelos lábios. Se eles procurassem fugir, rasgava os lábios.

Eles com aquele medo, depois com a guarda do rei com os olhos em cima deles, eles podiam ser pegos a qualquer momento, eles se deixavam arrastar.

Quando chegava perto do rei é que eles compreendiam o destino deles. Cada um que chegava se ajoelhava e o rei furava os dois olhos dele com uma lança, e aquele ficava cego por toda a eternidade. Quer dizer, enquanto ele estivesse vivo na Terra, ele ficava cego…

Aí não precisava do prisioneiro, não precisava nada, porque ele não podia fazer nada, não podia escolher um dia, não podia nada. Se ele fugisse, não sabia nem onde encontrar comida, nem onde encontrar água, era um miserável.

Assim eles faziam esses homens trabalharem para a construção dos palácios deles sob chicote.

Não sei se já pensaram nisso. Passar o dia inteiro sob chicote, sem ter a menor esperança de poder fugir, porque não tem, e à noite no escuro, como de dia no escuro, a escuridão perpétua, jogados num canto qualquer de uma construção, de uma coisa qualquer, dormindo em cima de tijolos, em cima de cacos, até acordar na manhã seguinte com chibatada, porque se não desse chibatada eles não percebiam que já era dia.

Já imaginaram a maldade que entra nisso? A crueldade que entra nisso?

* O destino dos escravos dos romanos, quando já não serviam mais para o trabalho

Os romanos. Os senhores no estudo que fizeram nos seus cursos ginasiais devem ter ouvido elogio dos romanos: “grande povo! coisa formidável!”… Porque no meu tempo já se elogiava muito os romanos. Eles diziam por alto que os romanos eram cruéis, mas passava assim…

O domínio dos romanos sobre os escravos era tal, que quando os escravos ficavam velhos já não podiam trabalhar para eles. Eles queriam um escravo não é para estar gastando comida no escravo, é para fazer o escravo produzir dinheiro para eles. Então quando informavam para eles que tal ou tal outro escravo não dava mais para trabalhar, o dono do escravo mandava chamar.

[A partir deste ponto a gravação fica inaudível, defeito no microfone].

Nota: A propósito da evolução política e dos costumes em Roma, consulte-se a aula que o Prof. Plinio ministrou a respeito (1936), no Colégio Universitário anexo à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, clicando aqui.

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