“Preparem-se! Preparem-se para confiar de todo jeito. Nossa Senhora ajudará!”

Chá, Êremo Praesto Sum, 27 de novembro de 1989

 

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

 

A impressão imediata que a graça causa, que é de devoção, de maior ternura para com Nossa Senhora, uma compreensão por assim dizer viva de toda a bondade d’Ela, de toda a misericórdia d’Ela etc., que ocasiona movimentos de especial fervor, e fazem muito bem à alma.
Mas depois há alguma coisa que fica para depois. Porque quando nós estamos perto da imagem, e temos no momento uma impressão de – o Sr. qualifica muito bem –  de frescor de alma, de bem-estar etc., nós já sabemos que essa impressão corresponde a uma verdade, mas que vai passar. E que quando ela passar, sobretudo para a alma dos meus queridos “enjolras”, fica muito difícil lembrar-se disso quando passou, e transformar isto num elemento permanente de recordação e de esperança.  E, portanto, esse auxílio, de momento se pode dizer que é um auxílio que passa.
Então, por que essa graça é tão transitória?  Por que ela passa? E o que ela quer dizer?
A coisa é muito simples.  A graça significa para nós, no momento, um auxílio de Nossa Senhora por onde Ela como que diz às nossas almas isso:  “Meu filho, não se perturbe, não se incomode, porque eu arranjo o caso!”.
Os Srs. estão dizendo com este calor que é “fenomenal”, porque percebem que as palavras que eu estou empregando definem bem o que é que sentem.  E ficam alegres de ver, é natural, que o que sentem se define tão precisamente.  Dá uma satisfação explicável.
Agora, Nossa Senhora quer que os Srs. fiquem com a ideia de que depois, em outras ocasiões, isso se repetirá, e que mesmo que não tenha essa graça sensível, Ela arranjará.
* Na hora dos apuros Nossa Senhora não é menos nossa Mãe do que no momento em que Ela nos fez sentir sua ajuda
Então, o ritmo é esse: “Agora um apuro: Meu filho, tu terás agora um sofrimento.  Mas recebe agora esta consolação, e compreende que tu serás ajudado.”  É o que a graça sensível nos diz. Mas a conclusão é: quando tivermos outros apuros, Ela não é menos nossa Mãe do que no momento em que Ela nos disse isso.  Nem nos ama menos do que no momento em que Ela disse isso.  Não que no momento em que Ela disse isso nós estávamos muito melhor do que estamos agora. Quer dizer, Ela nos ama porque quer nos amar. Ela nos ama porque é nossa Mãe, não porque nós merecemos ser amados por Ela.
Quando nós correspondemos às graças que Ela nos dá, isso é um elemento a mais para Ela nos amar – a correspondência à graça. Mas não quer dizer que não correspondendo Ela não nos ame. Ela nos ama quando nós não correspondemos, Ela nos ama com uma ternura que nós temos dificuldade em imaginar.
A maior prova de que o amor materno não depende da correspondência, é o amor que uma mãe tem por uma criancinha que ainda não fala. Qual é a correspondência que aquela criança está dando? Não é nada. Mas ela quer aquela criança. Vai alguém mexer na criança, que ela se levanta toda: “Não pode!”, etc. Por quê? Porque ela quer aquela criança de um amor natural, gratuito.
Nossa Senhora é nossa Mãe, com mais realidade do que é nossas mães terrenas, por melhores que elas sejam ou tenham sido. Nossa Senhora nos ama mais do que nossas mães terrenas nos amam. E, ainda que nós não merecemos o amor que Ela nos tem, Ela nos tem esse amor porque nós somos filhos. E, portanto, o fato de nós não estarmos correspondendo à graça, não quer dizer que Ela não esteja transbordando do desejo de nos dar favores, de nos dar benefícios de toda ordem. Ela transborda desse desejo. E porque Ela transborda desse desejo, nós devemos rezar a Ela com confiança.
* Na hora da provação confiar que Nossa Senhora ajudará
Mas se não sentirmos nenhuma consolação – aqui está o ponto – nós nos devemos lembrar daquela outra graça que sentimos.  E dizer: “Naquela ocasião Ela nos fez sentir a graça. Agora não está fazendo. Mas eu creio, porque Ela me falou!”
Não sei se querem que eu explique melhor?
[Sim!]
Quer dizer, o seguinte. Eu agora, nesse atual apuro, creio que Ela me ajudará, porque da outra vez em que eu estava em apuro, e rezei para Ela, Ela me deu uma graça de consolação, e me ajudou. Isto me prova que Ela é Mãe e me ajuda sempre.
Um pouco mais ou menos é como o seguinte. Uma criança – eu estou dizendo uma criança muito pequenininha, que está começando apenas a dormir em cama, não está mais no berço – ela durante a noite acorda, se sente muito isolada, assustada com a escuridão, e apela para a mãe. A mãe a atende muito bondosamente.
Resultado: na segunda vez que ela acordar, ela está de novo no escuro, está de novo assustada, mas já tem um fio condutor: “Mamãe me ajuda!” Então apela para a mãe!
Assim as graças que temos diante de Nossa Senhora das Graças. Nós vimos, pelo atendimento que Ela nos deu, que Ela nos ajuda sempre. Como a criança que diz: “Minha mãe me ajudou ontem, ela ajuda sempre. Porque ela não muda! Eu posso mudar, mas Ela não muda!
Não sei se está claro ou não?
[Claríssimo.]
Então, daí resulta o quê?  Daí resulta que nós devemos ter uma graça que tem qualquer coisa de profético; profetizar em nós que a ajuda virá: “Pelo que se passou outrora, eu sei o que se passará no futuro. Ela não me abandonará.”
Se houver um só para quem isto não estiver claro, e quiser que eu explique de novo, eu explico 200 vezes com muito gosto! De tal maneira eu tenho empenho que isto fique claro para todo o mundo. Porque nas circunstâncias em que vamos entrando, é o ponto, o nervo vital de nossa conduta no futuro. Então, isso precisa ficar claro.
* É preciso ter uma previsão profética de que Nossa Senhora atenderá
O próprio de uma pessoa previdente – quer dizer, que prevê as coisas – é que ela, pelo uso do raciocínio, tem conhecimento pelo menos provável do que vai acontecer. Então, como ela é previdente, ela toma algumas providências de antemão.
Vamos dizer, por exemplo, eu conheci uma senhora dos antigos tempos, que era consultada pelas pessoas da família, e até por pessoas de fora, por causa de questão de meteorologia – mas sem aerologia, nem nada – se ia chover ou não.  O clima de São Paulo é muito irregular etc., e as pessoas por uma porção de pequenas razões queriam saber se ia chover ou não.
E eu vi essa senhora fazer, já bem velha, uma previsão assim. Disseram a ela:  “Tia Fulana, a Sra. podia dizer se vai chover ou não?” Ela com boa vontade levantou-se da cadeira onde estava, foi lá fora, e eu – sem ela perceber – fui e coloquei-me a uma distância dela, porque eu queria saber o que se passava na cabeça dela, para ela…  Ela tinha uns brinquinhos pequenos, mexeu assim nos brincos, olhou, fez assim…  céu azul.  Entrou, eu fui atrás. Ela disse: “Olha, lá pela tarde vai chover”. À tarde, “pruummmmmm”. Nada fazia prever.
Mas ela era previdente. É um fenômeno natural que ela conseguia perceber, e fazia prever com muita probabilidade, ou com certeza, uma coisa que os outros não conheciam o que ela conhecia. Eu creio que se ela quisesse ensinar, não conseguiria. Não sei se ela queria ensinar. Mas se ela quisesse ensinar, eu acho que ela não conseguiria. São desses imponderáveis naturais.
Mas isso é diferente da graça profética. A graça profética é uma coisa que mesmo o homem mais previdente e mais inteligente não previria. Mas que por uma razão sobrenatural ele prevê.
E é o caso do exemplo que eu dei: a pessoa, mesmo muito inteligente, muito capaz, sei lá o quê, essa pessoa colocada diante do seguinte problema: “Você – mas `você’ quer dizer ele, o homem inteligente -, você vai ser atendido por Nossa Senhora, ou não?”, ele em rigor sabe que “o justo peca sete vezes ao dia”, diz a Escritura. E que, portanto, ele tem uma porção de razões para recear que dessa vez Nossa Senhora não atenda. E, portanto, a resposta natural, da previdência natural, a resposta é: “Não sei se Ela vai me ajudar. Porque eu fiz algumas, pedi perdão, Ela não me disse se perdoou, eu não sei a quantas ando nisso”.
E não é questão de ser pecado mortal ou venial. Pode ser pecado venial. Um pecado venial é digno de punição! O sujeito vai para o fogo pelo pecado venial!  Então não pode ser que Nossa Senhora não queira atender o pedido dele por um pecado venial que ele cometeu? Agora, quantos pecados veniais cometeu? Quer dizer, faltas. Basta ser uma falta pequena, comete. Então, como é que eu posso saber se Nossa Senhora me atendeu?
Mas, se me foi dado perceber, por uma luz sobrenatural, que eu recebi um auxílio d’Ela – por exemplo aqui, junto a essa imagem -, se me foi dado isso, eu fico conhecendo que essa luz sobrenatural não me foi dada só para aquela ocasião. Porque é um modo habitual de proceder d’Ela. Tem, portanto uma razão: habitualmente acontece isso na piedade católica. Quem recebe uma graça assim, fica uma espécie de promessa de uma longa série de outros atendimentos assim.
Então a pessoa pode profeticamente dizer: vai acontecer!
Meu filho, isso está claro, agora?
[Claríssimo!]
Bom, agora vamos apertar a questão. Alguém dirá:  “Então eu, depois disso, fui e pedi a Ela. E Ela não me atendeu. Então quer dizer que está quebrada a promessa. Eu alguma fiz por onde Ela quebrou a promessa”.
Não, não é isso. Ela algumas vezes tarda, não atende. Naquele não atendimento Ela deu mais para a minha alma do que daria se atendesse. Em outra ocasião atende. Quer dizer, Nossa Senhora não funciona como uma coisa que eu aperto aqui, e sai a graça. Ela é Rainha! É grande demais para…  Mas a linha geral fica que quando eu peço, Ela atende. E é o que dá um sentido racional ao “Memorare” [“Lembrai-Vos”, oração composta por São Bernardo de Claraval].  Porque o “Memorare” sem isso, que sentido tem? “Nunca se ouviu dizer que alguém que tivesse recorrido à vossa proteção…”  Nós sabemos de uma porção de gente que pediu e não conseguiu. Então, o que quer dizer isso?!
O sentido profundo é: quem recebeu uma graça assim, este tem um título especial para esperar, com hiatos, com mistérios, esperar uma seguidilha, longa, que pode tomar a vida inteira!
Está claro?
[Sim Sr.]
O Sr. tome em consideração simplesmente isso. Que aquela graça que eu recebi na igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, recebi quando eu tinha mais ou menos uns 10, 11 anos. Estou com 81. Já se foram 70 anos! E eu posso dizer que até agora isto é assim!
* “Meus filhos, preparem-se! Nossa Senhora ajudará!”
Agora, nessa situação, a TFP pode passar por perseguições e por provações de toda ordem. Nossa Senhora fará com que, indo de encontro a essas provações terríveis, e parecendo que estamos abandonados, Ela no escuro nos ajudará. E na história da TFP, eu não conheço um conjunto de episódios em que de tal maneira as pessoas ficassem afligidas e desconcertadas, e de tal maneira fossem apoiadas, do que o caso todo o estrondo da Venezuela (novembro de 1984).
É uma coisa que não se compreende o que se passou lá. Quer do inopinado da perseguição, estúpido, brutal da perseguição; quer de, nas trevas, a ajuda. Mas é assim.
A patrona dessas situações é Nossa Senhora!  “Juxta crucem dolorosa, stabat Mater lacrimosa” – de pé, junto à cruz, o Filho d’Ela morrendo.  O Sr. já pensou o que é uma coisa dessas? Uma coisa de perder a cabeça! Ela não perdeu a cabeça, não perdeu nada! Cresceu em méritos e virtudes, incalculavelmente! É uma coisa fabulosa, assombrosa, mas é assim.
Então, Nosso Senhor quando bradou: “Meu Pai, Meu Pai, porque Me abandonastes?“, era a expressão de que Ele dentro estava nessa aridez.  Depois, pense no seguinte: é que Ele tinha dito ao bom ladrão, que naquele dia Ele estaria com o bom ladrão no Paraíso. Bem, portanto Ele fez uma canonização. Mas declarou que Ele iria para o Céu também. Ninguém sabia melhor do que Ele o que é o Céu, os gáudios infinitos no Céu etc. De mais a mais, Ele, enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, não é dizer que Ele gozava da visão de Deus: Ele é Deus! Pois bem, portanto, o gáudio eterno de Deus não se apagou n’Ele um instante. Mas na humanidade d’Ele, veja que nuvem tremenda!
Mas a nuvem passou, e Ele teve a palavra de consolação: “Pai Meu, em vossas mãos entrego Meu espírito”. O Evangelho conclui: “Et efflavit spiritum”. Ou seja, daquele extremo de dor, Ele passou para todas as alegrias e glórias!
Meus filhos, preparem-se… Preparem-se para crer contra toda verossimilhança;  para esperar contra toda aparência; e confiar de todo jeito, todo jeito, todo jeito! Nossa Senhora ajudará!
Bem, agora tenho o expediente!

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