Edição polonesa de “Revolução e Contra-Revolução

1995

Prefácio à edição polonesa de “Revolução e Contra-Revolução”

Com satisfação acedi ao pedido da editora “Ad Astra” para dizer algumas palavras ao público polonês sobre esta primeira edição de “Revolução e Contra-Revolução” na Polônia. Com efeito, na minha longa luta em defesa da Civilização Cristã, sempre tive a atenção voltada, para o berço dela – a Europa – e, dentro desta, um vivo interesse pela cara nação polonesa, duplamente agraciada pela Divina Providência.

Agraciada sim, em primeiro lugar, por ser compactamente católica: “Polônia semper fidelis!”. Em segundo lugar, pela posição estratégica de seu território, situado na confluência do Ocidente com o Oriente. Portanto, com a possibilidade de exercer um papel decisivo para a conversão da Rússia e das nações vizinhas dominadas pela assim chamada Igreja Ortodoxa. Nação esta cuja história, acrescento, é pontilhada por trágicos e gloriosos acontecimentos, sempre prestou relevantes serviços à Cristandade enquanto muralha avançada contra as invasões dos inimigos desta. Trágicos, pelas constantes lutas contra as numerosas investidas do adversário que, muitas vezes, não quis apenas conquistar seu território, mas sobretudo eliminar o que ela tem de mais precioso, a sua fé católica. Dos mais trágicos foi a tirania comunista de cujos reflexos o país ainda não se libertou inteiramente. Gloriosos, porque deu à Santa Igreja santos e heróicos defensores da Civilização Cristã. Basta lembrar São Casimiro e Santo Estanislau Kostka.

Ademais, quando em 1655, o último reduto de católicos fiéis refugiados no santuário de Czestochowa se inclinava à rendição, coube ao monge Augusto Kordecki a decisão heróica de dizer “não” ao invasor protestante, dando inicio à milagrosa e vitoriosa reação católica.

E quando em 1683, o poder muçulmano ameaçava a Cristandade às portas de Viena, coube ao Rei João Sobieski III a glória de conduzir os exércitos cristãos à vitória.

Mas, de fato, os problemas com que se defrontou e se defronta hoje a Polônia, quer internos quer externos, no decurso de quase toda sua historia, são fruto de uma crise mais ampla que atingiu toda a Cristandade e que teve inicio com a decadência da Idade Média, a doce primavera da fé. Tal crise não cessou de se aprofundar no correr dos séculos. Para compreende-la em toda sua extensão, é “conditio sine qua non” considerar que ela atingiu todos os setores da sociedade humana, tomou conta das mentes e passou da esfera temporal para a esfera religiosa. De requinte em requinte chegou-se aos dias de hoje em que os artífices dessa crise, dispondo de armas incomparavelmente mais poderosas, tentam apagar da face da terra as poucas brasas que ainda fumegam sob as cinzas do incêndio que atingiu a Civilização Cristã. Como exemplo da ousadia a que se chegou, citemos apenas a legalização em vários países das piores aberrações no campo moral.

Assim, considerado o panorama geral da cristandade profundamente infiltrada pelos princípios revolucionários, não seria exagerado afirmar que a humanidade está exangue de recursos morais para reagir contra esse terrível mal. Ele gangrenou quase inteiro o conjunto das nações que constituem o mundo cristão. Infelizmente não podemos afirmar que a Polônia faz exceção. A liberdade adquirida após 1989 com a assim chamada falência do comunismo, se de um lado propiciou uma sensível melhora econômica, de outro lado trouxe um acentuado declínio dos costumes, tudo em nome da liberdade de imitar o mundo ocidental mesmo no que ele tem de censurável.

Ora, é justamente no país considerado centro da modernidade, do bem-estar e da opulência, em suma uma espécie de “paraíso” – ou seja nos Estados Unidos – que se começa a notar um cansaço, uma desilusão e desejo de voltar “à casa paterna”. Segundo pesquisas de opinião pública realizadas por ocasião das ultimas eleições ao Congresso norte-americano, 74 por cento dos americanos “atribui a maior prioridade à volta dos valores tradicionais da moral”. Essa mesma pesquisa revela que a América passa por um período de rejuvenescimento religioso. Seria isto um sinal do começo de uma intervenção da Providência? São mistérios de Deus! Entretanto, nós o cremos firmemente, e todos os homens de fé o crêem também que neste panorama sombrio que prenuncia grandes e iminentes tempestades, brilha uma luz que as trevas não podem extinguir e que são a garantia da vitória da Cristandade. Esta luz veio do céu e se resume em cinco palavras proferidas por Nossa Senhora em Fátima, em 1917: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfara’!” Triunfo esse que consistira’ na restauração da ordem cristã, profetizada e com tanto ardor desejada pelo grande São Luís Maria Grignion de Montfort.

Sem dúvida, o caos que vai envolvendo os acontecimentos humanos – prenunciativos, ao meu ver, da passagem de uma era histórica para outra – exige um espírito atilado na análise dos mesmos. É com vistas à boa interpretação desses acontecimentos que ofereço ao público polonês a presente obra, como instrumento de orientação válido de quem não quer outra coisa senão servir a causa católica nesses dias carregados de incertezas. Queira Nossa Senhora de Czestochowa, padroeira da Polônia, abençoar este esforço.

 

 

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