“Frei, o Kerensky chileno”

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Prefácio a “Frei, o Kerensky chileno”

 

 

 

 

 

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“Frei, o Kerensky chileno”, de Fábio Vidigal Xavier da Silveira, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1967

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Por certo, considerado estritamente em seu aspecto chileno, o presente trabalho se mostra de um interesse invulgar. Ele nos descreve ao vivo, com fatos numerosos e impressionantes, a ascensão sorrateira da minoria democrata-cristã no Chile, e os métodos ora astutos ora violentos com que, senhora do poder, essa minoria tenta agora transformar a grande nação-irmã em uma república socialista de estilo fidel-castrista.

À opinião pública chilena, fundamentalmente católica, o PDC se apresenta como inspirado pela doutrina social da Igreja, e, pois, visceralmente anticomunista. Na realidade, sob o belo pretexto de amparar as classes pobres, advoga ele uma série de reformas sociais que, a serem aplicadas, deixariam moribundo ou morto o instituto da propriedade individual. Ora, isto importa em fazer vencer o comunismo. O governo Frei teve alguns incidentes rumorosos, se bem que destituídos de real importância, com o Governo de Cuba. Estes incidentes tiveram o condão de disfarçar aos olhos de muitos observadores a profunda analogia entre as metas do PDC andino e a realidade cubana.

Sentindo que a aplicação das ditas reformas de base acarretará sensíveis reações, o Presidente Eduardo Frei procura atrair a opinião católica apoiando-se em teólogos e pensadores progressistas, cujas temerárias elucubrações dão de fato base à política socialista que ele vai desenvolvendo. E, a fim de reduzir os que não consegue atrair, seu governo emprega processos de repressão política, fiscal e policial realmente ditatoriais.

O advogado e agricultor FÁBIO VIDIGAL XAVIER DA SILVEIRA, neste trabalho que por sua vivacidade e concatenação tem algo de um filme, detém implacavelmente sua câmara em cada um dos aspectos mais importantes ou mais típicos, dessa vasta manobra partidária ou governamental. E ao cabo de sua penetrante reportagem dá ao leitor um panorama extenso e coerente, dentro do qual é muito difícil não ficar alguém persuadido de que a Democracia-Cristã vai levando o Chile para o comunismo.

Mas o autor não é negativista. Tendo visto com rara lucidez a trama demo-cristã, soube ele ver também os aspectos positivos da situação chilena: a crescente estranheza do povo ante a política do governo, o descontentamento latente dos lavradores contra a reforma agrária socialista e confiscatória, o alçar de pendões dos jovens universitários da revista católica “Fiducia” e da Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, Família e Propriedade na luta ideológica contra o reformismo progressista, o conseqüente despertar das energias anti-socialistas em todo o país, o recente revés eleitoral de Frei, e as perspectivas auspiciosas que daí clareiam com luzes de aurora o horizonte político andino.

Em suma, o Sr. FÁBIO VIDIGAL XAVIER DA SILVEIRA nos apresenta neste trabalho uma descrição de largos horizontes que, se explica fundas apreensões, também desperta esperanças e justifica vivo entusiasmo.

* * *

Entretanto, parece-me que esta grande reportagem do jovem e brilhante membro do Conselho nacional da SOCIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE, interessa a um âmbito muito maior que o dos estudiosos de problemas chilenos.

Com efeito, o que vai ocorrendo no Chile é arquetípico do que ocorre em outras partes do mundo. Em qualquer país onde exista a DC, quem ler o presente trabalho exclamará de si para si, a cada passo da leitura: curioso! como tudo isto se parece com a atuação do PDC daqui!

É que a Democracia-Cristã é por toda parte mais ou menos a mesma. Suas bases são sadias mas politicamente ingênuas. Suas cúpulas são ambíguas, à primeira vista. Constituídas habitualmente por elementos que vão de um centrismo conservador – passando por todas as gamas intermediárias – até um esquerdismo extremado, a influência dominante nelas jamais é dos direitistas ou centristas, mas dos esquerdistas. Estes últimos acabam por arrastar sempre mais para a esquerda – com relutância maior ou menor dos demais elementos – as cúpulas demo-cristãs, e com as cúpulas também as bases. Por esta forma, tais cúpulas blasonando-se embora de anticomunistas à maior parte de seus membros, entretanto nada omitem para tornar mais e mais conforme às tendências ou até às doutrinas comunistas tudo no que põem as mãos. Pregoeiros da concórdia a todo preço, daí deduzem a conveniência de um entendimento cordial e até uma genuína cooperação com o marxismo. Mas, frente aos anticomunistas de truz a Democracia-Cristã esquece todo o seu pacifismo, e se transforma em adversária iracunda, constante e irredutível. E à luz de tudo isto a ambigüidade das cúpulas cessa de existir para o observador arguto, dando lugar ao quadro de uma DC que outra coisa não é senão um dispositivo ideológico e político próprio a arrastar para a extrema-esquerda direitistas e, principalmente, centristas incautos.

Tudo isto, o observador comum não o nota senão confusamente. Mas a consciência desses fatos se forma rápida, em sua mente, ao longo desta reportagem escrita com tanta amenidade, e sobretudo tão bem pensada.

É porque me parece de real interesse para o país que esse trabalho do Sr. FÁBIO VIDIGAL XAVIER DA SILVEIRA – publicado em primeira mão em “Catolicismo”, o brilhante e prestigioso mensário de cultura tão conhecido em todo o Brasil – esteja em mãos do maior número de brasileiros.


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