Penúltima conferência pública de Dr. Plinio (18-8-1995): comentários à RCR – as finalidades da TFP

Auditório de Nossa Senhora Auxiliadora, 18 de agosto de 1995

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.

 

[Leitura da Introdução da RCR]

(…)

Para isto, nada lhe pareceu mais oportuno do que a publicação de um artigo sobre o tema Revolução e Contra-Revolução.

É fácil explicar a escolha do assunto. “Catolicismo” é um jornal combativo. Como tal, deve ser julgado principalmente em função do fim que seu combate tem em vista. Ora, a quem, precisamente, quer ele combater? A leitura de suas páginas produz a este respeito uma impressão talvez pouco definida. É freqüente encontrar, nelas, refutações do comunismo, do socialismo, do totalitarismo, do liberalismo, do liturgicismo, do maritainismo, e de outros tantos “ismos”. Contudo, não se diria que temos tão mais em vista um deles, que por aí nos pudéssemos definir. Por exemplo, haveria exagero em afirmar que “Catolicismo” é uma folha especificamente antiprotestante ou anti-socialista. Dir-se-ia, então, que o jornal tem uma pluralidade de fins. Entretanto, percebe-se que, na perspectiva em que ele se coloca, todos estes pontos de mira têm como que um denominador comum, e que é este o objetivo sempre visado por nossa folha”.

* Esse parágrafo põe o problema para cuja solução a R-CR foi escrita: explanar perante o público as finalidades da TFP

Esse parágrafo põe o problema para cuja solução a R-CR foi escrita.

Quando eu dei a exposição introdutória da R-CR, nesta série dentro da qual eu estou falando, eu tive a ocasião de mostrar que a mim mesmo me parecia difícil explanar perante o público as finalidades da TFP.

Por que razão? Porque o público não tinha nenhuma explicação especial sobre essas finalidades da TFP, de um lado. De outro lado, mais ou menos todos os assuntos tratados para o público poderiam ser tidos como fazendo parte de uma das finalidades da TFP.

Como é a história, então? Isto tudo faz parte das finalidades da TFP? Então a finalidade da TFP é tudo isto? É só isto? O que é essa finalidade da TFP?

É a pergunta que eu apresento como ponto que se trata de explicar.

Aqui está o assunto que eu vou passar a aprofundar a partir de lido esse tópico.

“O que é esse denominador comum? Uma doutrina? Uma força? Uma corrente de opinião? Bem se vê que uma elucidação a respeito ajuda a compreender até suas profundezas toda a obra de formação doutrinária que “Catolicismo” veio realizando ao longo destes cem meses”.

Ou seja, que explicasse a pergunta que eu acabo de pôr, teria uma explicação até as profundidades da finalidade da TFP.

Então se compreende bem que é tendo em vista assuntos muito profundos e de grande calibre que a TFP resolveu soltar esse número. É essa a ideia.

 

“O estudo da Revolução e da Contra-Revolução excede de muito, em proveito, este objetivo limitado.

Para demonstrá-lo, basta lançar os olhos sobre o panorama religioso de nosso País. Estatisticamente, a situação dos católicos é excelente: segundo os últimos dados oficiais, constituímos 94% da população. Se todos os católicos fôssemos o que devemos ser, o Brasil seria hoje uma das mais admiráveis potências católicas nascidas ao longo dos vinte séculos de vida da Igreja”.

* Tendo tudo para ser um colosso, o Brasil não o é; o que lhe falta?

Notem a razão dessa afirmação. Isto não é uma afirmação solta no ar.

O Brasil tem uma extensão territorial imensa. Esta extensão territorial é mais ou menos equivalente, no conjunto latino-americano, ao que é a extensão norte-americana na América do Norte, ou o que é a extensão russo-eslava na Europa e Ásia. Isso quer dizer uma extensão colossal.

Se todos esses católicos fossem verdadeiros católicos… ou seja, eles se dizem habitualmente católicos, mas eles o serão verdadeiramente? A pergunta é essa. Se o forem, realmente a religião católica passa a ser uma potência enorme à vista de todo o prestígio que ela terá no meio católico. E depois, à vista deste prestígio, esta potência é uma potência que tende ao mundial, porque uma potência mundial que tenha a importância que tem a TFP na América do Sul, tende naturalmente ao mundial. Ou seja, ainda, quase que pelo simples fato de existir – quase, não é inteiramente isto – o Brasil é um colosso.

Esta afirmação entra pelos olhos, mas levanta uma outra questão: “Por que é que não é esse colosso? Ele que poderia ser tão grande, por que não o é? O que é que lhe falta para ter essa grandeza?”.

Então vem a questão essencial: “Qual é a grande lacuna do Brasil? Qual é o grande problema do Brasil? Tendo tudo para ser um colosso, ele não é um colosso. O que lhe falta?“.

Aqui está a questão a respeito da qual, fundamentalmente, foi escrita a R-CR.

Não sei se o jogo de raciocínio está claro.

Por que razão é que é tão importante conhecer a causa deste não-colossismo do Brasil? Pela simples razão de que o mal a gente só corrige, corrigindo as causas do mal.

* O Brasil será um colosso quando raie o dia em que ele possa dizer: “Tornamo-nos um colosso porque nos tornamos de Deus”

Portanto, o mal em virtude do qual o Brasil não é um colosso, lhe falta algo – e muito importante – para ser um colosso, esse mal nós o devemos conhecer para combater. Não nos importa só saber que nós somos um colosso; importa-nos saber que nós não somos um colosso. Importa saber que temos muito, muitíssimo para sermos um colosso, mas que não o somos. E aquilo que falta para nós sermos o que deveríamos ser, é o colosso que nós não temos, que nós não possuímos, que nós devemos realizar em nós dolorosamente, esforçadamente, combativamente, para aparecer o dia em que raie para o Brasil o momento em que o Brasil possa dizer: “Tornamo-nos um colosso porque nos tornamos de Deus“. [Aplausos]

Essa afirmação já era mais ou menos conhecida por muitos católicos daquele tempo. Porém, não bastava que fosse “mais ou menos” conhecida: [era necessário que] fosse reconhecida. Na vida de todos os dias, no modo de agir, no modo de pensar, no modo de progredir, todo o mundo entendesse que nós devemos “recolossificar-nos” por assim dizer, que nós devemos crescer, e crescer em profundidade, crescer em raízes, crescer em sulco, em força, e não apenas em território, nem apenas em riqueza.

Nesse ponto eu tenho exatamente um aspecto a acentuar.

* No tempo em que a R-CR foi escrita tudo crescia no Brasil, menos o amor a Deus

Quer dizer, o Brasil poderia crescer muito como riqueza, e no tempo que a R-CR estava sendo escrita, de fato ele vinha se dilatando como riqueza. Por toda a parte as estradas de ferro, as vias fluviais, as vias de comunicação por estradas de rodagem etc., iam se espraiando de todos os lados de um modo a entusiasmar; a rede aeronáutica ia crescendo de todo o lado. Entretanto, esse colosso não se “colossificava”.

Por quê? Porque no Brasil tudo crescia, menos o amor a Deus. Não crescendo esse amor a Deus, tudo ficava parado, ficava à espera do único verdadeiro fator que era a causa verdadeira de tudo.

Eu mostro aos senhores um lado da questão que lhes fará ver todo o resto rapidamente.

No Brasil existiam, já naquele tempo, muitas vias de comunicação de estradas de ferro, muitas vias de comunicação fluvial, e de várias outras maneiras o Brasil crescia. Isso fazia com que, de todos os lados, aparecessem cidades novas, rodovias novas, sinais novos de crescimento, e o Brasil ria do contentamento do seu próprio riso por causa de tudo que vinha aumentando, aumentando, aumentando.

Entretanto, uma coisa é positiva. É que, apesar de tudo isto, o Brasil ficava numa situação em que uma coisa não aumentava: era a piedade. As vias da piedade estavam estancadas, o desenvolvimento das vias de piedade estava estancado. Sobretudo estava estancado o amor de Deus, o amor a Nossa Senhora, à causa católica no que ela tinha de mais fundo.

Eu não pus isto na R-CR, porque seria ocasionar rixas e lutas que seriam muito profundas, mas os senhores compreenderão melhor agora o que eu estou dizendo com a explicação que naquele tempo eu não dei.

* Enquanto no Brasil tudo crescia, o que havia de mais essencial, de mais cheio de seiva católica, não só não crescia, mas decrescia: as Congregações Marianas

Acontece que se no Brasil tudo crescia, é verdade também que no Brasil o que havia de mais essencial, de mais vibrante e de mais cheio de seiva católica, isto não só não crescia, mas decrescia. Era o movimento das Congregações Marianas.

Por uma misteriosa concatenação de causas – que eu não vou descrever aqui porque suporia toda uma explicação que não acabaria mais – o Brasil teve uma explosão de crescimento muito grande por ocasião das eleições de 1934.

O Brasil tinha alguns partidos políticos chochos, mambembes, inexpressivos – mais ou menos como são os de hoje – esses partidos políticos não tinham verdadeiro peso na Nação. Mas o grosso da Nação queria um Brasil Católico, Apostólico e Romano, em que as leis fossem todas conformes a doutrina da Igreja, em que as doutrinas do Estado fossem exatamente as doutrinas da Igreja Católica, em que, de outro lado, os anseios da população fossem claramente os anseios católicos. Em suma, se a gente fosse estudar o que desejava esta população era uma população sobretudo de jovens que queria um Brasil jovem, um Brasil em que tudo fosse de acordo com a Doutrina da Igreja, que estivesse querendo e desejando isto ativamente, de um modo imperativo, de maneira que ninguém tivesse a coragem de não querer isto.

Esta grande aspiração coletiva se corporificou no movimento das Congregações Marianas, e esse movimento das Congregações Marianas se corporificou, sobretudo, em algumas congregações de uma vitalidade particularmente grande.

Quando vieram as eleições de 1934 esse desejo explodiu e em todas as Congregações Marianas do Brasil, o que se pediu foi a “marianização” do Brasil, a catolicização do Brasil, quer dizer, mais do que tudo e do que qualquer outra coisa, a proibição do divórcio. O Brasil ainda não tinha divórcio e o Brasil não queria o divórcio, os congregados marianos não queriam o divórcio, batalhavam contra o divórcio. Além da proibição do divórcio, a imposição do ensino católico obrigatório.

Quer dizer, pelo que as leis do tempo estabeleciam, o Brasil deveria ter um ensino todo ele católico, ensino público como o ensino particular. Por causa disso, nas escolas católicas oficiais como extraoficiais, a matéria ensinada deveria ser católica. Os professores dessas matérias deveriam ser católicos, e a medula do pensamento ensinado nessas matérias deveria ser o pensamento católico.

* O Brasil não se conformava com a ideia de que nas suas penitenciárias não houvesse o ensino oficial da Doutrina Católica

Além disso, o Brasil não se conformava com a ideia de que nas suas penitenciárias públicas não houvesse o ensino oficial da Doutrina Católica para os prisioneiros, para aqueles que estavam assenhoreados pelo Estado, para que, através da doutrina dada pelo Estado, eles se capacitassem da veracidade do ensino da religião, e esses miseráveis prisioneiros, vítimas dos vícios da época e dos vícios da Nação, acabassem por ser pessoas que se modificassem e que passassem, pelo menos em grande número de casos concretos, a praticar verdadeiramente a religião católica.

Eu me lembro que uma ocasião visitando a penitenciária aqui de São Paulo, eu visitei com uma personalidade que era recebida oficialmente. Eu era amigo pessoal dele e fui com ele. Eu me lembro que visitamos a penitenciária inteira e depois fomos conduzidos pelo diretor a uma espécie de sala de concerto, se os senhores quiserem um salão, talvez mais ou menos do tamanho deste, em que os prisioneiros todos se sentaram em cadeiras adequadas. Quando chegou o momento, o maestro da fanfarra da penitenciária começou a fazê-los cantar o arrependimento do mal que tinham feito, a tristeza que tinham, a vontade de fazer o bem, a pedir por meio de orações a Nossa Senhora que alterasse a eles no fundo do coração, que fizesse o coração diferente, que fizesse os filhos deles parecidos não a eles, mas ao contrário do mau exemplo que eles tinham dado, que encaminhasse bem as esposas deles etc.

Durante esse cântico, estava o diretor da penitenciária aqui, o visitante aqui e eu do lado de cá. Eu estava ouvindo aquela música e estava muito impressionado, muito bem surpreendido com aquilo que se cantava. Não tinha prestado atenção no visitante, nem no diretor da penitenciária. Quando olhei para os dois, os dois choravam de emoção, de alegria e de vontade que isso se realizasse e que assim se remodelasse até suas profundidades o Brasil.

Os senhores vão a uma penitenciária de hoje. O que os senhores vão encontrar? É melhor nem falar… Venda de tóxicos, de drogas, defeitos de caráter moral de toda ordem, inclusive tendência de permitir a homossexualidade, dizendo que dessa maneira a vida fica mais alegre para o homem; decadência do ensino religioso, umas missas, umas aulinhas de religião das mais sumárias, quando as têm! Quer dizer, naquele setor tão vivo e tão fundamental da vida de um país, naquele setor o que é que a gente vê?…

Mas se fosse apenas isto, como seria feliz o Brasil! Como é infeliz o Brasil!

* Essa crise tinha um aspecto muito mais amplo: a crise religiosa que começava com o progressismo que veio a transformar a atmosfera católica do Brasil

Esse era um aspecto de uma crise. Essa crise tinha um aspecto muito mais amplo: Era uma crise religiosa. Começava exatamente naquele tempo a crise do progressismo, que hoje invadiu a religião católica do modo como os senhores conhecem, e que transformou a atmosfera católica do Brasil naquilo que os senhores conhecem. De tal maneira que a maior parte dos ambientes católicos tornou-se um ambiente de desvio, de desnaturação, de contestação mais ou menos clara ou mais ou menos desviada da Doutrina Católica, Apostólica e Romana.

Os senhores então encontram o seguinte: que até aquilo que foi feito para o bem – a penitenciária foi feita para o bem, para curar os homens – até aquilo que foi feito para reerguer um país, para levá-lo a uma altura moral que lhe dê o gosto de ser ele mesmo, até isto estava sendo desviado por um desvio nas próprias raízes da Igreja Católica. E que a crise não era apenas UMA crise da Igreja, era A crise da Igreja.

Aí está a parte da RCR, que não foi escrita. Por quê? Porque ela foi escrita num livro que saiu algum tempo antes e que se chamou: “Em Defesa da Ação Católica” em que na crise da Igreja foi posto o preto sobre o branco. Foi dito tudo quanto devia ser dito, foi calado tudo quanto deveria ser calado, foi punido tudo quanto deveria ser punido e foi premiado tudo quanto deveria ser premiado.

Os senhores estão percebendo a degringolada e o desvio tremendo em que essa múltipla crise jogou o Brasil. E porque o Brasil não foi essa potência católica cuja ausência eu lamento logo nas primeiras páginas da R-CR.

Eu pergunto se essa explicação está clara? [Aplausos.]

São cinco para as onze, se meu relógio não me trai, e não podemos passar muito do horário habitual. Entretanto, eu queria acrescentar alguma coisa que completa esse panorama do qual nós estamos falando.

* Tudo piorou e piorou ainda muito mais

O que completa é o seguinte: depois disto houve mudanças que dão a impressão de que algo modificou. Nós vamos ver, tudo piorou e piorou ainda muito mais.

Por exemplo, do ano… R-CR é do ano… 59. Do ano 1959 ao ano 1995, ou mais ou menos tanto, combatíamos o comunismo com muita energia. Se alguém dissesse: “Ora, qual nada! isso não tem importância, o comunismo é uma tapeação. Em certo momento ele cessa de existir e passa a ser substituído por uma outra forma qualquer de política ou de governo, que altera as condições do mundo. E o mundo vai viver tranquilo, porque o comunismo deixa de existir.”

Qual seria a resposta daqueles dos senhores que acompanhassem a Revolução com inteligência?

A resposta seria essa: “O comunismo nunca deixará de existir, porque ele representa o mal nas suas expressões mais radicais e mais completas, mais categóricas e o mal quando se coloca nessa posição, ele não morre, ele piora, ele mata; morrer ele não morre. Por causa disso, o comunismo não cessará de existir.”

Os senhores me dirão: “Dr. Plinio, essa sua expressão: ‘O mal não morre, ele mata’ é uma bonita expressão, mas afinal de contas, o que é que o comunismo está matando?” Eu digo: O quê? Tudo!

Quer dizer, se nós vamos ver quem não é comunista no mundo de hoje; quem no mundo de hoje, por algum lado não participa do comunismo, não tem uma ideia afim com o comunismo, não tem o desejo de que em alguma coisa o comunismo vença, esse já foi traído pelo comunismo, esse já está disposto a, na primeira ocasião, entregar os pontos à vista de uma vitória comunista.

* O governos não vão mais existir; os países serão governados por igrejolas que vão governar o mundo

Nós tivemos ocasião de ver isto quando mandamos alguém ver aquela espécie de grande show coletivo do Rio de Janeiro [ECO-92, n.d.c.], com barcas e toda espécie de shows etc., que afirmavam que governos não vão mais existir, com o tempo vão ser substituídos por uma espécie de organismos simbólicos de pouca vitalidade e de pouca expressão. O que vai existir, isto sim, são entidades que têm um pouco de funções governamentais, mas que são, sobretudo, governadas pelas igrejolas locais, pelas igrejolas dos vários países, e essas igrejas sim vão governar o mundo. Essas igrejas que vão governar o mundo são igrejas de direção internacional feita – pasmem com a coisa! – feitas de seitas. E são as seitas que vão governar o mundo.

Os senhores retomem a exposição que alguns de nossos amigos fizeram daquela reunião do Rio de Janeiro [ECO-92, n.d.c.], os senhores vão perceber que quase não se fala mais ali de igrejas, mas se fala continuamente de seitas e que essas seitas de que se fala lá, são igrejolas que ocultamente, veladamente governam um país a quem nada mais governa, porque são seitas essas igrejolas e essas igrejolas disfarçadamente governam o mundo.

A coisa vai mais longe e é mais impressionante: não só elas governam o mundo, mas se estabelece uma espécie de conjugação dessas seitas todas umas com as outras, pelas quais elas têm um poder dominante sobre aquilo que parece igreja, portanto a Igreja Católica, a igreja cismática russa, a igreja metodista da Escócia, e daí para fora; enquanto se tem a impressão de que o comunismo desapareceu e não desapareceu; que os estados desapareceram e a gente vai ver estão ali e estão como estão e tendentes a se dissolver eles também em seitas. Por outro lado, as igrejolas daquele tempo – isto é uma modificação para daqui a breve – essas igrejolas vão também ter uma realidade aparente, mas que tudo que fica é na realidade pseudo-religiões desse gênero que governam o mundo. E não tem mais nada que fazer.

* Ficamos colocados diante de uma das maiores transformações da História: o mundo vai sem perceber para um lugar que não quer; será um mundo novo liderado por Satanás

Então, os senhores têm aqui, na exposição que eu fiz, um resumo muito breve, mas de importância a meu ver, pelo qual resumo: nós ficamos colocados diante de uma das maiores transformações da História, uma das transformações mais colossais e ao mesmo tempo das mais delicadas, das mais surdas, das mais surpreendentes e inesperadas, por onde o mundo vai, sem perceber, para um lugar que não quer, mas que é um mundo que será um mundo novo liderado por Satanás. Esta é uma teoria da marcha para a V Revolução.

Não sei se isto está claro… [Aplausos.]

Símbolo do esplendor da forma monárquica de governo. Como a monarquia britânica é, hoje em dia, o próprio símbolo da monarquia, o governo da Inglaterra é um símbolo de tradição, de monarquismo que existe no mundo.

Por seu lado, os símbolos têm símbolos, e a rainha da Inglaterra tinha como um de seus símbolos o seu iate Britânia. Era uma das mais belas embarcações do mundo em que ela saia para descansar, para levar amigos, para manter uma grande roda social, enfim, dar brilho à monarquia britânica. Não há sinal de que esteja faltando dinheiro à família real inglesa. A família real inglesa resolveu vender o iate. Está leiloado, posto à venda e há alguns ricaços que estão dispostos a dar algum dinheiro por isso. Quer dizer, é um esplendor, é um sol que até há pouco brilhava e que daqui a pouco não vai ter senão o brilho de uma lâmpada elétrica. Vai desaparecendo. Tudo assim vai desaparecendo.

Assim também o comentário um pouco longo – por isso eu puxei o relógio a tempo e com preocupação – um comentário um pouco longo de quais são as avenidas que a gente percebe a partir da R-CR. Então os senhores compreendem o que é que representava para a história do mundo um grupo de jovens que a partir daquele tempo [1959] via este tempo.

Com isto está feito o comentário da noite.

Nota: Para a coletânea de comentários relativos à obra “Revolução e Contra-Revolução” (RCR), clique aqui.

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