Os judeus com Moisés no deserto: lições aos católicos de hoje rumo ao Reino de Maria – O maná e as saudades das cebolas do Egito

Auditório São Miguel, 27 de novembro de 1981, sexta-feira, Santo do Dia

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.

 

Bom, logo depois vem o episódio das cebolas do Egito. Esse episódio ainda não foi lido aqui.

Um pequeno pormenor a respeito das cebolas do Egito e que torna o episódio, do ponto de vista meramente humano um pouco mais compreensível para nós, ao menos para mim, é o seguinte, eu achei mais compreensível quando me deram essa informação. É que as cebolas do Egito não são exatamente as cebolas do Brasil ou as cebolas do Ocidente.

Isto é um texto do livro dos Números. E lá vai a narração:

“Partiram, pois, do monte do Senhor, e caminharam através do deserto rumo a terra da promissão. Caminharam 3 dias; e a arca da aliança do Senhor ia diante deles, indicando-lhes nos 3 dias, lugares para os acampamentos. E as nuvens do Senhor também estavam sobre eles de dia quando caminhavam.

“Enquanto se levantava a arca, Moisés dizia: levanta-te, Senhor, e sejam  dispersos os teus inimigos: e fujam de tua face os que te aborrecem”.

 

É uma oração da Igreja, quer dizer, a Igreja hoje reza isso.

“Quando, porém, se depunha, dizia: volta, Senhor, para a multidão do exército de Israel”.

É muito bonito e seria uma bonita oração, quem sabe se os senhores podem me lembrar disso, para nós dirigirmos a Nosso Senhor por intermédio de Nossa Senhora no início de todas as nossas campanhas. E sempre que nós saíssemos a público para atuar, que bonito dizermos todos juntos essa oração.

Imaginem todos juntos e na hora de levantarmos os estandartes, dizermos: “levantai-vos Senhor, e sejam dispersos os vossos inimigos, e fujam de vossa face os que vos aborrecem”. Seria muito bonito!

Se me lembrarem — eu estou com a cabeça cheia de coisas — mas se me lembrarem eu certamente adotarei isto como oração para a hora de levantar o estandarte. Poderia até também ser rezada nas nossas sedes sempre que nós hastearmos o estandarte.

Precisa apropriar um pouco, colocar aí dentro a mediação de Nossa Senhora. Quem hasteia reza isto, primeiro reze isto depois basteia o estandarte.

“Entretanto, levantou-se uma murmuração do povo contra o Senhor, como de quem se queixava da fadiga. O Senhor, tendo ouvido isto, irou-se, e o fogo do Senhor aceso contra eles devorou uma extremidade do acampamento. E o povo tendo chamado Moisés, Moisés orou ao Senhor, e o fogo extinguiu-se”.

Moisés faz um papel que lembra algum tanto o papel de Nossa Senhora no Novo Testamento. Quer dizer, ele é o mediador grato a Deus e é o único inteiramente grato a Deus, e cuja oração Deus ouve sempre. Então, há uma aflição, há um pecado, Deus castiga o povo; mas, Moisés ora pelo povo. O povo aflito, depois de ter pecado — eles estavam casados de tanto andar e resmungaram.

Nós podemos ter cansaço de tanto esperar, a nossa caminhada é a caminhada da esperança. Não é a caminhada com as pernas — muitas vezes com as pernas e quantas vezes por essas ruas afora em campanhas e tudo o mais — mas também e principalmente a caminhada da esperança, nós caminhamos através das décadas. As décadas são a nossa estrada, trata-se de não se cansar, de não murmurar. Eles murmuraram. Deus, para mostrar como Lhe é ingrata esta revolta, Deus imediatamente deitou fogo sobre uma parte do acampamento.

“E Moisés pediu, e o fogo se extinguiu; e Moisés pôs àquele lugar o nome de incêndio, porque ali se tinha acendido contra eles o fogo do Senhor.”

É uma coisa muito bonita, é uma coisa para estudar… há mil coisas interessantes para dizer sobre o modo pelo qual nascem os nomes das coisas. Há nomes que às vezes são os mais insignificantes e que dão um nome inesperado a coisas enormemente grandiosas.

Por exemplo, Vaticano. Vaticano é o nome do Palácio Pontifício, porque foi erguido no morro romano, uma das 7 colinas de Roma, que chamava colina Vaticana, então ali chama o Palácio do Vaticano. Mas é ali a sepultura de São Pedro etc.

Mas a sepultura de São Pedro tornou tão célebre o lugar que quando se fala em Vaticano, nós temos imediatamente uma conotação religiosa nos ouvidos. “O Vaticano disse…” parece-nos que a palavra até tem conotações que musicam o sentido religioso dela.

Na realidade, dá-se o seguinte: era um deus pagão, Vaticano, os romanos deram o nome desse pagão à colina. Os romanos punham deuses para tudo, então havia um deus que eles imaginavam que ajudava as crianças a darem o primeiro vagido, daí Vaticano, vagido.

E é esse deus que está desfeito na poeira, os que sabem um pouquinho de mitologia que conhecem isso — o nome dele deu nome ao palácio apostólico… É uma vitória tremenda de São Pedro sobre o paganismo!

A espécie de indolência com que os sucessores de São Pedro deixaram que o lugar continuasse a ter o nome desse deus, porque eles desse deus eles confiscaram até o nome! E ele ao mundo da cultura e no mundo do conhecimento dos povos é quase um anônimo, esse deuzinho. Mas, pelo contrário, que papel na história dos homens, que papel nas almas dos homens, que papel sobretudo nos planos de Deus!…

O senhores estão vendo a diferença que é  interessante notar.

Bom, outras vezes são fatos célebres que dão nome ao lugar — aqui é um fato célebre, o lugar ficou chamando “incêndio”!

É pena que não se possa localizar hoje onde é esse “incêndio”, porque seria muito interessante saber se ali não tem hoje uma bomba de gasolina, ou qualquer coisa modernosa desfigurando.

“Por que a populaça que tinha vindo com eles ardeu em desejos, sentando-se e chorando, unindo-se-lhes também os filhos de Israel a dizer: quem nos dará carne para comer?”

Quer dizer, eles estavam cansados de andar e estavam tristes também porque eles não tinham no deserto toda a comida que eles tinham entre os egípcios. Notem que entre os egípcios eles eram escravos, que eles eram de tal maneira perseguidos que acabou sendo ordenada aquela matança de todos os judeus varões para diminuir a fecundidade da raça de Israel etc. etc., os senhores veem por aí como eles eram tratados.

Chega no deserto, eles em vez de se lembrarem do mal do qual estavam fugindo pela proteção de Deus, lembram-se do pequeno bem — porque a boa comida é um bem pequeno em comparação com a grandeza dessa situação de catástrofe —  eles se lembram desse pequeno bem. Então os senhores estão vendo que eles choraram lembrando-se isso:

“Quem nos dará carne para comer? Lembramo-nos do peixe que comemos de graça no Egito”.

Pescavam no Nilo.

“Veem-nos à memória os pepinos e os melões, e os alhos, os cravos e as cebolas e os alhos”…

Eu não sei por que as cebolas ficaram mais célebres do que o resto do menu, mas os senhores estão vendo bem que o menu não era pequeno…

Notem que eles tinham o maná, mas eles queriam a comida do Egito.

“A nossa alma está seca, os nossos olhos não veem senão o maná. Ora, o maná era como os grãos do coentro e tinha a cor de bdélio [goma-resina aromática comum no Oriente Médio e empregada para falsificar a mirra, n.d.c.]”.

Não sei o que é isso.

“E o povo ia ao redor do campo colhendo-os, moía num só e os pisava no gral, cozendo-os numa panela; fazia dela tortas de um sabor como de pão amassado com azeite. Enquanto de noite, caía o orvalho no campo, assim também o maná”.

Quer dizer, Deus dava, portanto, esse maná substancioso, suculento para eles comerem; eles em vez de aceitarem isso, verem o caráter milagroso desta chuva de comida que não existe em nenhuma parte do mundo e que chovia sobre eles, eles começam a ter saudades da outra coisa…

Aí os senhores têm bem manifestada a alma do ingrato. E isto, meus caros, pode acontecer também com outros.

“Ouviu, pois, Moisés chorar o povo nas suas famílias, cada um à porta de sua tenda: e a cólera do  Senhor acendeu-se fortemente e até Moisés pareceu isto uma coisa intolerável. E disse ao Senhor: por que afligiste o teu servo? Por que não acho eu graça diante de ti? E por que puseste sobre mim o peso de todo este povo? Porventura concebi eu toda esta multidão ou gerei-a, para me dizeres: traze-os no teu seio como a ama costuma trazer uma criança, e leva-os à terra que com juramento prometi a meus pais?”

Não sei se os senhores percebem o cansaço de Moisés. No fundo, me parece entender aí, que ele faz uma queixa a Deus no seguinte sentido: não fui eu que os criei, fostes Vós, agora se Vós os criastes por que sou eu que carrego? Por que Vós não me ajudais para carregar essa gente? E eu tenho que carregar este peso e por que me dizeis: leva esta gente para a terra prometida?

É uma queixa com Deus. É uma queixa que eu tenho impressão que tem a forma de oração, é um modo de pedir para abreviar logo, etc., não é uma recriminação. É como quem diz: Senhor, olhai a situação em que eu estou posto, tende pena de mim. É uma coisa nesse sentido.

“Donde me virão carnes para dar a tão grande multidão? Eles choram contra mim, dizendo: Dá-nos carne para comer.”

Que expressão interessante, fulano “chora contra mim”. Eu nunca ouvi essa expressão e creio  que até em português, literalmente  falando  ela é errada. Porque o verbo chorar não é transitivo — eu chorei lágrimas, pode-se dizer. Quando muito a pessoa chorou lágrimas, mas nunca ouvi dizer que se “chorasse contra alguém ou se chorasse a favor de alguém”… pode-se dizer em português: “eu chorei fulano”, se se quer dizer que fulano morreu, eu chorei a morte dele. Então se pode dizer em português, provavelmente castelhano também, não sei, eu chorei fulano. Mas não pode se dizer “eu chorei contra fulano”. Não sei se no castelhano se diz, no português não se diz chorei contra fulano não se pode dizer.

Mas é muito interessante um certo modo de ser contra, chorando. É muito interessante!

“Eu só não posso suportar todo este povo, porque se me torna pesado. Se Te parece outra coisa, peço-te que me tires a vida, e que ache eu graça diante de teus olhos, para não ver oprimido de tão grandes males”.

Moisés acabou exprimindo a oração dele. Ele disse: Senhor, vós sabeis as forças que eu tenho e as forças que eu não tenho, e vós vedes bem que eu não aguento essa gente! É o fundo da coisa.

E eu então vos peço que me tireis a vida. Em forma oriental. Literária, aliás muito belamente literário, a oração é muito bonita, tem uma grandeza, uma seriedade, uma varonilidade oriental, todas especiais, ele acaba dizendo isto a Deus.

“E o Senhor disse a Moisés…”

Que familiaridade com Deus! Ele fala e Deus responde, é um diálogo.

“E o Senhor disse a Moisés: junta-me 70 homens entre os anciãos de Israel, que souberes serem anciãos do povo e mestres, e os conduzirás à porta do tabernáculo da aliança e ali os farás esperar contigo para que Eu desça e te fale e toma de teu espírito e lhe darei a eles, para que sustentem contigo o peso do povo e não sejas tu só o agravado”.

É um princípio muito interessante que Deus estabelece aí. Não sei se o modo um pouco antiquado de narrar torna claro o que Deus disse. Deus disse seguinte: toma 70 dentre os homens mais eminentes do povo, anciãos e mestres e leva à porta do tabernáculo, e eles ali vão ouvir-me falar contigo, e nesse ouvir-me falar contigo eles vão receber, passarei neles o espírito que te dou e eles vão ser teus sustentáculos junto à multidão…

Não sei se está clara a coisa.

Ou seja, Deus constitui um cerne, uma elite em torno de Moisés que o ajuda a escorar o povo.

“Dirás também ao povo: certificai-vos, amanhã comereis carne, porque eu ouvi dizer: quem nos dará a comer carnes? Não estávamos bem no Egito? Assim o Senhor vos dará carne que comais, não só um dia, nem dois, nem cinco, ou dez, nem mesmo vinte; mas um mês inteiro, até elas vos saírem pelos narizes e vos causarem enjoo”.

É muito bonita a forma! Quer dizer, vocês estão com saudades dessa carne, vocês vão se enjoar dessa carne até lhes sair pelos narizes.

O que não acontecia com o maná que não enjoava nunca.

E então vocês não ter na abundância inútil das coisas que vocês lamentam tolamente, vocês vão ter o castigo de seu pecado.

Faz lembrar um pouco a figura futura do filho pródigo. Ele tinha o bem-estar sereno na casa da família, mas ele foi para a cidade à procura dos prazeres. Os prazeres lhes saíram pelos narizes, ele teve prazeres à vontade! Depois, caiu na pobreza e ali ele compreendeu como era boa a casa paterna, o maná da alma…

Mas, o que é que tem? Ele saiu para ter aquelas coisas, elas lhe estão saindo pelos narizes, não tem dúvida!…

“E chorastes diante dele, dizendo: por que saímos nós do Egito?

“E Moisés disse: é um povo de 600 mil homens de pé, e tu dizes: dar-lhes-ei comer carne durante um mês inteiro? Porventura, matar-se-á tanta quantidade de ovelhas e bois, que possam bastar para essa comida? Ou juntar-se-ão todos os peixes do mar para os fartarem? O Senhor respondeu-lhe: porventura, é impotente a mão do Senhor?

A resposta é de uma grandeza única!

“Agora mesmo verás se minha palavra se põe por obra”.

A grandeza da resposta de Deus é extraordinária! Os senhores veem que o nosso venerável, pobre Moisés, estava gasto até à corda. E que era mesmo a hora de ele ser socorrido.

Muitas vezes quando nós estamos na corda, nós dizemos: Mas o que é isto?! etc. etc., Bobagem! Ajoelhe-se e diga: Salve Regina… as coisas vão. Memorare, o Piissima Virgo Maria… Ela pede e Ela obtém!

“Foi, pois, Moisés e referiu ao povo as palavras do Senhor; e juntando 70 homens dos anciãos de Israel fê-los estar de pé junto ao tabernáculo”.

É curioso o seguinte: Deus não indicou a Moisés quais eram os 70 homens que ele devia reunir, ele deixou à escolha de Moisés. Deus sabia muito melhor do que Moisés quais eram os 70 homens que Ele queria. Mas vejam as qualidades que Deus exige do chefe: discernimento de espírito bem feito, de maneira tal que ele saiba com quem contar, para o que contar. Se ele não conhecesse bem quem ele deveria ter em mãos, o que acontecia? É que Deus não lhe dava essa missão, e talvez escolhesse um outro meio para ajudar o povo, ou outra via e liquidasse aquele povo…

Quer dizer, o chefe deve ser penetrante e saber com quem trata. O que quer dizer: ele deve saber ser tão desconfiado que possa até confiar. O prêmio da vigilância é a confiança. Quem vigia, discerne e analisa; esse sabe em quem pode confiar. Quem está fora desse caso, como fazer?…

“E o Senhor desceu na nuvem e falou-lhe, e tirando do espírito que havia em Moisés, deu dele aos 70 homens”.

É muito bonita essa prova de amor e de confiança de Deus com Moisés. Ele poderia ter dado as graças que Ele queria, mas Ele fez uma comunicação da graça que havia a Moisés. Quer dizer, das graças que Ele tinha dado a Moisés Ele distribuiu umas tantas aos outros, não como quem diminuía o que havia em Moisés, mas como quem colhia o que tinha frutificado em Moisés e plantava nas almas dos outros.

Os senhores veem uma coisa muito mais bonita do que essa, mas que está nessa linha, é em Pentecostes quando o Divino Espírito Santo desce sobre Nossa Senhora e depois as chamas se espalham sobre os Apóstolos. Uma chama dEle desce sobre Nossa Senhora, e depois as chamas se espalham sobre os Apóstolos. Isso é bonito! Quer dizer, todos participam do espírito de Maria, quem não tem Espírito de Maria não tem Espírito Santo. Perfeito e acabado!

“E tenho repousado neles o espírito, profetizaram e não cessaram mais de profetizar”.

Portanto, Deus instituiu 70 profetas auxiliares para ajudarem Moisés naquela ocasião. O senhores estão vendo que bonita ajuda, que lindo desdobramento dos acontecimentos!

“Ora, tinham ficado no campo dois homens, um dos quais chamava Eldad e outro Medad, o espírito pousou também sobre eles, porque também eles tinham sido alistados, mas não tinham saído para ir ao tabernáculo. E como profetizassem no acampamento, um jovem correu e deu notícias a Moisés dizendo: Eldad e Medad profetizam nos acampamentos. Imediatamente Josué, filho de Num, ministro de Moisés, escolhido entre muitos, disse: meu Senhor, Moisés, proíbe-lhes. Moisés respondeu-lhe: por que és tão zeloso por mim? Quem dera que todo o povo profetizasse, e que o Senhor lhe desse o  seu espírito. E Moisés voltou para os acampamentos com os anciãos de Israel.”

Quer dizer, Deus tinha feito com que dois, que não estavam lá mas que Moisés tinha chamado, também recebessem esse espírito. E eles começaram a profetizar também no meio do povo. Então um muito chegado a Moisés, foi avisar: olha, proíbe aqueles porque não receberam o teu espírito. E Moisés disse: não, nada de exclusivismo. De fato, tinham recebido o espírito dele. Não estavam lá naquela hora, é uma outra coisa.

Os senhores estão vendo o espírito largo, o espírito vasto que o verdadeiro homem chamado por Deus tinha.

“E um vento mandado pelo Senhor, trazendo codornizes de outra banda do mar, arrebatou-os consigo e fê-las cair sobre os acampamentos ao redor do campo, por tanto espaço quanto se pode andar no dia, e voavam pelo ar à altura de dois côvados sobre a terra. Levantando então o povo, apanhou todo aquele dia e noite, e outro dia também codornizes; aquele que menos recolheu tinha 10 coros delas, e puseram a secar à roda dos acampamentos”.

Deveriam ser 10 odres, 10 cordas com codornizes penduradas.

Os senhores vejam como é bonito e majestoso o modo de Deus operar! Deus disse a Moisés: tu verás. E Ele para mandar tantas codornizes, elas não podiam estar naturalmente voando assim sobre o Atlântico digamos, ou sobre o Mediterrâneo, não pode ser, Ele mandou que as codornizes do mundo inteiro voassem para lá muito antes.

Então os senhores podem imaginar essas codornizes voando, ou transportadas pelos ventos e que vem para um certo ponto onde as colhe o vento que leva para o acampamento. Lá elas voam ao alcance dos judeus e os judeus então colhem, e colhem e ainda acumulam. Vejam a bondade de Deus: eles não deixaram de caminhar para irem em direção à terra prometida, mas eles encontravam por toda parte codornizes e codornizes e codornizes… Essa era a bondade de Deus!

“Ainda as carnes estavam nos seus dentes, e ainda não se lhes tinha acabado este manjar, quando a cólera do Senhor se acendeu contra o povo e o feriu com grandíssima praga. E aquele lugar foi chamado o sepulcro da concupiscência, porque ali sepultaram o povo que tinha tido os desejos. E tendo partido do sepulcro da concupiscência, foram a Haserot, e ali ficaram.”

Os senhores estão vendo a beleza da coisa! Deus deu codornizes, e disse: agora uma parte de vocês vai morrer.

Há mais: era castigo para aqueles. Deus tinha de algum modo tocado a alma daqueles. Eles antes, para não morreram na sua revolta, eles que se tinham revoltado, foram visitados por 70 profetas que auxiliaram a obra de Moisés, e eles viram atendido o seu pedido, de maneira que eles puderam ver o poder e a bondade de Deus a quem eles tinham ofendido. Todos os elementos para um ato de arrependimento por temor de Deus, e por um ato de contrição, quer dizer, de amor de Deus estava ali ao alcance deles!

Morte agora sobre os que se arrependeram e não se arrependeram. Os que se arrependeram descem ao Limbo e vão ficar milhares de anos até Nosso Senhor Jesus Cristo morrer, no Limbo à espera do Messias, não têm o Céu…

Agora, os que não se arrependeram vão para o Inferno e diretamente. Quer dizer, uma parte do povo Deus castigou para ser misericordioso com outra parte do povo. Quer dizer, para que os que viram o castigo dos que morreram pudessem ver de outra maneira.

Então alguém poderia me dizer: Mas Deus então foi misericordioso com uns e não com outros, hein Dr. Plinio?

Eu digo: Deus não tem obrigação de ser misericordioso com todos, Ele tem obrigação de ser justo. Ele é misericordioso por natureza e deve exercer a misericórdia sobre as suas criaturas, mas não é tal medida necessariamente para cada um. Misericórdia tem mais e tem menos… Ele com esses foi muito misericordioso, só os matou depois de ouvirem os profetas e comerem as codornizes.  E mais misericordioso foi ainda com aqueles que Ele não matou e com os quais Ele manteve a promessa de levar à terra prometida.

A narração termina com a menção de itinerários desconhecidos, povos desconhecidos, só o rumo é conhecido, vê-se no fundo o brilho da terra santa. A narração termina com naturalidade assim.

“E tenho partido do sepulcro da concupiscência, foram para Haserot e ali ficaram”.

Quer dizer, com certeza ali descansaram até continuarem a andar. Deve ser provável que seja isso.

Agora, os senhores vejam que bonita serenidade com que a narração do fato [termina]. Não há mais nada! está dito o que tinha de ser dito…

Bem, meus caros, com isso também está comentado o que tinha de ser comentado! E a próxima narração é longa — não é tão longa, não posso mentir, ela é curta – mas o número de recortes é muito grande também. De maneira que os senhores tomarão em linha de conta que eu preciso ir marcá-los agora.

Meus caros, vamos rezar. Salve Regina…

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