Onde o demônio quer chegar com o caos e a desordem completa que está promovendo?

Exposição para Correspondentes Esclarecedores da TFP brasileira, Eremo Praesto Sum, 23 de fevereiro de 1993

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

 De onde é que vem à TFP esta clareza de visão, pela qual tudo quanto se levanta contra a Igreja, a TFP percebe, a TFP denuncia, a TFP contra-ataca?

Desde que a TFP existe – há uns trinta anos mais ou menos – não houve uma só doutrina errada contra a qual a TFP não se levantasse, não apontasse o erro.

Quando os Senhores veem – infelizmente, é no pranto de nossa alma que nós dizemos – um número crescente de sacerdotes que pactuam com o mal, que transigem com o mal, que fazem aquilo que os Senhores estão vendo. De onde é que vem isto?

Vem do fato de que Nossa Senhora nos deu uma noção, uma sensibilidade, uma acuidade de vistas para perceber um só erro de um só movimento que se vai prolongando através dos séculos e como uma serpente vem devorando tudo o que encontra no seu caminho: é a Revolução. A Revolução contra a qual nós somos a Contra-Revolução.

Daí um livro que os Senhores conhecem com certeza, “Revolução e Contra-Revolução“, que é um dos livros básicos da TFP, em que se aponta desde o século XVI os erros que há hoje como é que estavam nascendo, como é que estavam se desenvolvendo, e como é que ia chegar o momento em que esses erros haveriam de estar de uma dimensão impensável e o demônio estaria pronto a tomar conta do mundo.

* Quando o erro for tão grave, tão grande, tão imenso, tão completo que se diria que ele tomou conta do mundo, o que acontecerá?

Naturalmente o problema se pôs para nós. Como é que se põe o problema para nós? Quando esse erro for tão grave, tão grande, tão imenso, tão completo que se diria que ele tomou conta do mundo, o que é que acontece?

Primeira coisa é isso:

É preciso que nessa ocasião todos aqueles que são fiéis tenham facilidade em conhecer e em perceber um movimento, uma organização que, esta sim, continua completamente fiel. E que embora não tendo a alegria de estar de acordo com o Santo Padre em todos os pontos, nos pontos em que ele pode errar dizendo para ele “não”. Entretanto, olhando para essa organização a primeira coisa que aparece é: fidelidade a Nossa Senhora; segunda coisa é: fidelidade ao Vigário de Cristo, seja ele quem for, faça o que quiser, fidelidade ao Vigário de Cristo; terceira coisa: franqueza respeitosa, entretanto dizer claramente as coisas como são.

Nosso Senhor fez essa recomendação especial: “Seja a vossa linguagem sim-sim, não-não”.

Isso tem que ser até na presença augusta do representante dEle na Terra. Sim-sim, não-não, sim é sim, não é não, não tem por onde escapar.

* As águas ocultas e subterrâneas do pecado vão se entrosando e ficando cada mais volumosas; uma vez ou outra sobem e todo o mundo as vê, com escândalo para a Humanidade

Acontece que percebendo esse movimento, que data do Humanismo, do Renascimento e da Reforma Protestante no século XVI, depois foi como um rio que vai escorrendo debaixo da terra e vai recebendo a contribuição de outros rios subterrâneos – os Senhores sabem que por debaixo da terra há rios, há lagos, esses rios se encontram como os rios que estão em cima da terra, têm bacias, têm, enfim, toda essa movimentação –, estas águas do pecado ocultas vão se entrosando e ficando cada mais volumosas, uma vez ou outra sobem e todo o mundo as vê, com escândalo para a Humanidade.

Lutero foi o primeiro. O segundo foi a Revolução Francesa, que proclamou o princípio errado “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Terceiro foi Marx, que proclamou a igualdade completa em matéria econômica em todos os outros assuntos. Só o Estado tem direito, os homens individualmente não têm direitos, o Estado pode tudo. O Estado é naturalmente Marx, depois de Marx é Lenin, que foi o primeiro chefe de Estado comunista, depois os outros tiranos que os vêm seguindo. Fidel Castro é um deles.

* Depois do Comunismo vem a Ecologia que leva o igualitarismo tão longe a ponto de afirmar que os animais e as plantas têm os mesmos direitos que os homens

Depois disso aí quem virá? É a ecologia.

A ecologia leva o igualitarismo tão longe, que afirma que os animais e as plantas têm os mesmos direitos que o homem, e que quando o homem mata animais para sua própria vantagem, o homem peca contra Deus.

Então, por exemplo, uma coisa que sempre foi utilizada nos hospitais e os Senhores devem ter ouvido falar, pelo menos muitos dos Senhores, são cobaias. São uns coelhinhos pequenininhos que são utilizados para experiências científicas etc.

Nós achamos isso natural, porque se eu posso matar uma cobaia e comê-la, eu posso usá-la para fazer experiências científicas.

Não, não pode comer cobaia, não pode fazer experiências científicas.

Mas como não?! A vida da cobaia está ali para salvar a vida do homem, a vida do homem é tão mais preciosa. O homem tem razão, tem inteligência, tem vontade; a cobaia é um pobre bichinho que Deus criou para distração do homem, para diversão do homem, não é outra coisa senão isso. Existe para nós, nós temos direito de matar qualquer cobaia, fazer dela o uso que entendermos. Vamos, portanto, sacrificá-la para descobrir numa cobaia um germe, um micróbio qualquer, que descoberto permite fazer uma vacina, feita a vacina, salvar da doença, salvar da morte um número incontável de homens. Como não?

Não pode, são todos iguais.

* Onde o demônio quer chegar com o caos e a desordem completa que está promovendo?

Outro lado é: acabar com todas as autoridades. Ninguém manda em ninguém, nem na Igreja nem no Estado, todos os homens fazem o que querem.

Os Senhores compreendem, é o caos, é a desordem completa.

Qual é o sentido dessa desordem completa? Qual é o sentido desse caos? Onde é que quer chegar o demônio com esta revolução que ele está promovendo? Por que os Senhores estão vendo bem que essa revolução é obra dele. Onde é que ele quer chegar com isso?

Ele quer chegar a se fazer adorar pelos homens, e adorar-se com se fosse Deus.

Para isso ele encontra obstáculos, mas também ele é muito mais poderoso do que os homens, porque ele é um anjo decaído. Lúcifer era o primeiro dos anjos, era aquele que conduzia a luz na presença de Deus. Pecou, caiu, ele levou consigo um número enorme de outros anjos, estes anjos revoltados se julgam no direito de aparecer perante o homem e se fazer adorar.

* Os demônios ficaram com formas horrendas para representar externamente o pecado que cometeram

Ora, acontece que eles, no estado de condenação que estão, estão simplesmente horrorosos, repelentes, nojentos. Se nós tivéssemos a ocasião de ver um só demônio, nós fugiríamos de horror por causa do que há neles de repugnante como castigo e como símbolo do pecado que cometerem. Quer dizer, eles ficaram desse modo para representar externamente o pecado que cometeram. Cheios de ódio, de maneira que eles não têm um instante de ser que não seja cheio de ódio.

E o ódio deles a Deus é tão grande, que estando eles no Inferno e sendo eternamente desgraçados no Inferno, se Deus abrisse para eles as portas do Céu e dissesse: “Se vós vos arrependeis eu vos deixo entrar”, eles não quereriam porque odeiam a Deus e não querem a amizade de Deus. Preferem a infelicidade completa e total no Inferno, a um instante em que sobre o ser imundo deles pouse o olhar compassivo e misericordioso de Deus. Eles não querem, eles estão revoltados. Mas essa própria revolta os torna horríveis.

* Como pode ser que em determinado momento o gênero humano admire a um ser hediondo como o demônio?

Como é que pode ser que em determinado momento o gênero humano admire a ele?

Eles têm que ir deformando o homem de maneira que o homem queira cada vez mais coisas feias, cada vez mais coisas horrendas, e tudo quanto é belo, nobre, virtuoso, artístico etc., ir desaparecendo da Terra. Porque na medida que estamos habituados a ver essas coisas, temos horror a eles. Transformar a Terra numa espécie de imenso leprosário moral – eu não digo no sentido físico da palavra, é no sentido moral – e que fiquemos habituados às coisas mais hediondas, mais extravagantes.

* Tudo na Terra ficando cada vez mais feio, fará com que quando aparecer o feio moral, o feio do pecado, o hediondo que é o demônio, os homens estarão dispostos a se curvar diante dele

Por exemplo, as casas que se constroem hoje, quantas vezes são casas extravagantes, os móveis são loucos, as canções são doidas, os cumprimentos – quando há cumprimentos – são cumprimentos completamente sem distinção, sem beleza.

No meu tempo longínquo em que eu era moço, nos anos trinta, por exemplo, um cumprimento de um rapaz para uma senhora poderia ser por exemplo com esta forma: “Minha senhora, quanto prazer eu tenho de lhe apresentar as minhas homenagens”. É uma fórmula bonita de respeito.

Hoje [se] cumprimenta uma senhora assim: “Como vai?”, e ela responde: “Oi!” Está acabado, o cumprimento está acabado. E assim por diante um número enorme de [coisas].

Tudo na Terra ficando cada vez mais feio, o resultado é que quando aparecer o feio dentre todos os feios, que é o feio moral, o feio do pecado, o hediondo, que é o demônio, os homens estarão dispostos a se curvar diante dele. É assim que ele prepara o reino dele.

Para chegar a esse ponto ele sabe que ele tem que destroçar todos aqueles que ele prevê que têm uma mentalidade oposta, e que naturalmente querem tudo quanto é verdadeiro, tudo quanto é bom, tudo quanto é belo, que detestam o errado, o deformado, sobretudo e sobretudo o pecado. Detestam o pecado mais do que tudo no mundo e que querem fazer a coisa direito.

* A TFP vai dividindo o mundo em duas correntes: uma que nos odeia e outra que nos ama

Eles podem, por exemplo, ter um estandarte no qual se leiam estas três palavras: “Tradição, Família e Propriedade“, que são três princípios de ordem elevadíssimos, três elementos fundamentais da moral, de toda a ordem, de toda a dignidade, de todo o bem na Terra. Então, odiar esse estandarte.

Mas também todos aqueles que amam o bem, olham para esse estandarte e começam a aclamá-lo.

Quer dizer, a TFP vai dividindo o mundo em duas correntes: uma que nos odeia e outra que nos ama. A que nos odeia, odeia-nos porque amamos a Deus; os que nos amam, amam-nos porque amamos a Deus. Mas, em compensação, nós não temos no nosso coração apenas o amor, nós temos também o ódio àqueles que resistem à graça e que não amam a Deus, que odeiam a Deus e trabalham pelo demônio. Nós queremos que eles se convertam, mas na medida em que não se converterem, na medida em que eles não deixarem de ser inimigos de Deus, nessa medida nós somos os inimigos deles. (…)

* No momento em que o demônio aparecer e não causar horror, nós aparecemos e causaremos horror, mas os anjos no Céu nos sustentarão

Nós mantemos a nota e dizemos: “Vós sois o demônio, vós estais errado”. E fazemos a previsão: o mundo baixando como está, está caminhando para o momento em que o demônio aparecendo não lhes cause horror. Esse momento a nós nos causa horror, e no momento em que o demônio aparecer e não causar horror, nós aparecendo, causaremos horror. Mas os anjos no Céu nos sustentarão, e eles que do Céu enxotaram Lúcifer e os espíritos malignos com uma grande luta…

* Um lindo mistério: Como foi a luta dos anjos no Céu? Como é que um espírito luta contra outro espírito?

Como foi essa luta no Céu? É um lindo mistério, porque os espíritos não têm corpo, não são capazes de se esbofetear, não são capazes de se matar, são espíritos. Como é que um espírito luta contra outro espírito? Como é que se faz essa guerra altíssima e sublimíssima, por meio da qual uns, cheios de amor de Deus, levantam-se e dizem: “Quem é como Deus?”, foi o que exclamou São Miguel Arcanjo, e outros dizem: “Non serviam – Nós não serviremos”, como disse Satanás?

Quando Satanás se revoltou, os teólogos têm como certo que foi porque Nosso Senhor revelou a ele a Encarnação do Verbo. E com a Encarnação do Verbo ele percebeu que Nosso Senhor, para encarnar-Se, tinha que ser gerado por uma mulher, senão não seria homem, não seria do gênero humano. Para ser do gênero humano tinha que ser gerado por uma mulher. Ele sentiu a superioridade incalculável dessa mulher sobre ele. Ele, orgulhoso, julgando-se muito mais do que os homens, ter que obedecer a uma mulher que é inferior ao homem? Isso é uma coisa que ele não queria. Então ele se levantou e disse: “Non serviam – Eu não servirei, não aceitarei esse plano, eu não vou nessa onda”.

Mas São Miguel Arcanjo se levantou e disse: “Quis ut Deus? – Quem é como Deus?” e começou a batalha.

Como foi essa batalha? Nós também não sabemos. Saberemos no dia Juízo Final.

Transidos de admiração e de entusiasmo de São Miguel e pelos anjos, no Juízo Final nos será dado ver como é que eles combateram e como foram precipitados para o Inferno.

Mas o fato concreto é que estão lá, estão acorrentados. Deus lhes dá de vez em quando a permissão de vir à Terra para tentar os homens, e nesta ocasião ele virá à Terra para tentar os homens.

Compete-nos a nós, e a todos os que odeiam a Revolução e tudo quanto a Revolução fez, tudo quanto ela inovou, tudo quanto ela reformou, odiarmos. Estaremos atraídos por uma misteriosa simbiose uns com os outros.

Nós gostamos de estar juntos os que pensamos do mesmo modo, é evidente. Os Senhores aqui, eu vejo com quanta satisfação, estão alegres de se sentirem entre si, estão alegres de sentirem neste Êremo onde todo mundo pensa como os Senhores, querem o que os Senhores querem. É só dar um passo fora destas portas benditas e já encontramos a contradição, mas aqui encontramos a harmonia, encontramos a ordem, encontramos o amor de Deus. Isso nos enche de alegria.

Também será isso no dia da Bagarre. Os dois grupos amarão cada um de estar com os seus congêneres e odiarão os outros, e a batalha começará. Os anjos virão para nos ajudar, Nossa Senhora intervirá, e eu tenho a certeza de que haverá um momento em que Ela dá uma ordem: “Debelem esses demônios e mandem-nos para o Inferno!”

Vai acabar a batalha? Essa batalha nunca terá fim pelo seguinte:

Quando o mundo acabar, quando todos os homens tiverem ressuscitado, quando todos os homens tiverem sido julgados, os bons irão para o Céu, o Purgatório ficará vazio porque eles já terão cumprido – os bons – a expiação dos pecados que cometeram na Terra e estarão no agrado pleno e na dileção de Deus, os outros – alguns, raros – não terão passado pelo Purgatório porque foram tão perfeitos que não foi necessário isso, todos esses estarão no Céu e no Inferno vão estar os demônios.

Um dos maiores teólogos, homem pelo qual tenho uma admiração sem nome, Cornélio a Lápide, Corneille de la Roche (estou dando o nome em francês porque não sei holandês e ele era holandês), escreveu um dicionário de teologia que é a última perfeição em matéria de ortodoxia, a mais alta perfeição.

Ele diz isso: que do inferno eles vão perceber de algum modo a glorificação dos justos, e quando houver alguma coisa que glorifique especialmente os justos, eles, debaixo, protestam e clamam ultrajes. Mas os justos receberão poder de Deus de clamar ultrajes contra os demônios e humilhá-los. Sobretudo quando o demônio olhar para um lugar onde tem um trono e perceber que ele, se não tivesse pecado, estaria sentado naquele trono e que ali está uma criatura humana.

Por toda a eternidade da eternidade os derrotados protestarão, mas já então acorrentados, sem possibilidade de sair dali de dentro, humilhados, atormentados, estraçalhados. E os justos estarão na presença de Deus inatingíveis, prontos para fulminar o demônio com um simples olhar ou com um simples gesto, e fulminando com uma certa frequência. Esse é o prêmio daqueles que na terra tenham sabido lutar.

Meus caros, pela presença dos Senhores, pelo pouco que nos encontramos, pelo gosto de estar com os Senhores eu me deixei levar respondendo muito longamente à primeira pergunta. Eu sei que ela contém – pelo que disse o Sr. X – uma parte das outras perguntas, mas os Senhores conhecem a palavra latina, não é?

Fugit irreparabile tempus”. O tempo insubstituível, o tempo que nada segura, o tempo fugiu.

Eu falei muito, os Senhores tiveram a condescendência de aplaudir muito, agora acabou e eu sou obrigado a dizer aos Senhores que a hora da despedida chegou.

Vamos rezar três Ave-marias a Nossa Senhora pedindo para ter essa firmeza em toda a nossa vida, essa completa fidelidade a Ela, de maneira que encontremos no Céu, quando morrermos, os lugares que nos foram destinados desde toda a eternidade e lá continue a luta que levamos aqui na Terra.

Com isso, vamos rezar três Ave-Marias.

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