Odiar a doença não é amar o doente? – Qual é esse pecado que tanto atrai a Justiça de Deus?

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio para Correspondentes e Esclarecedores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

 

Depois de ouvir estas palavras introdutórias terríveis e ao mesmo tempo magníficas que vós acabais de aplaudir com tanto calor, nós devemos estender os nossos olhos para um panorama ainda mais amplo. Mais amplo porque abarca um maior número de pessoas. Abarca a totalidade dos homens existentes neste mundo hoje em dia e um número imenso e incalculável destes existente no século passado.

É um pecado só do qual resultam tantos pecados, resultam tantas infidelidades, que se tem dificuldade em acreditar que um só pecado pode conter tudo isto. Entretanto é este pecado que nós temos que considerar mais atentamente nas palavras iniciais da exposição que passaremos a fazer, para que possais compreender bem não só o que é de admirável, de adorável na terrível Justiça de Deus – como é natural -, como é Justo, como é Sábio, como é Santo que Deus seja tão Terrível quanto Ele é, para que nós O adoremos a Ele todo, não só em Sua bondade infinita, inesgotável, adorável, mas também em Sua severidade terrível, inesgotável, adorável também!

Ele é Sumo, Ele é perfeito e por isso tudo nEle é Perfeito. E se Sua bondade é elemento constitutivo de Sua Santidade e de Sua Perfeição, como nada Nele é imperfeito, a cólera que nEle transborda nos termos terríveis que ouvimos aqui, e da qual diremos ainda uma palavra logo mais, essa cólera não é menos perfeita. Porque Ele de tal maneira é Santo, de tal maneira é Perfeito, de tal maneira é Absoluto, que não se pode conceber nEle que algo não seja Perfeitíssimo. Algo Nele existente um pouco menos perfeito do que algo é perfeito, é inconcebível. E Ele se definiu a Moisés quando Ele falava a Moisés, ele perguntou: Quem sois? Ele se definiu por esta definição que só Ele pode usar. Ele disse: Eu sou Aquele que É. Quer dizer, quem é? É Ele!

Todos os outros seres receberam o ser dEle e dependem dEle inteiramente. Ele é a Perfeição. Ele não é apenas perfeito, Ele é a Perfeição. Ele não é apenas Santo, mas Ele é a Santidade. Ele não é apenas sublime, mas Ele é a Sublimidade. Nele nada há mais de menos perfeito e se cólera nele há, e nós ouvimos há pouco, essa cólera é e necessariamente perfeita como sua Santíssima e Adorável e Infinita Bondade.

Mas para nós compreendermos as razões desta cólera, nós temos que corrigir um elemento que existe na formação, se quiser no subconsciente do homem moderno e que é de capital importância para situar bem o homem moderno diante da realidade natural que ele tem diante dos olhos, e as realidades sobrenaturais a respeito das quais a Igreja nos ensina nos termos que nós acabamos de ouvir.

Por que tanta cólera?

É preciso calcular, explicar por que tanto pecado? No que consiste este pecado. O que tem neste pecado de ofensivo a Deus etc., etc. e etc. Este ponto, senhoras e senhores, tem com a vocação da TFP uma relação especial.

Este pecado em certo sentido é um pecado “princeps”, um pecado que o príncipe infame e sinistro de todos os outros pecados, o rei infame e sinistro de todos os pecados. Este pecado é um pecado contra o qual especificamente luta a TFP. É o pecado de Revolução.

A TFP é a Contra-Revolução, ela é o contra este pecado e o é porque este pecado encerra em si, incrementa, incentiva, confirma e difundi. Este pecado difunde a si próprio e com ele uma quantidade imensa de pecados.

A cólera de Deus contra este pecado é necessariamente em consequência uma cólera capital, e essa cólera capital contra este pecado que se desdobra e se acentua tão terrivelmente no mundo contemporâneo. Contra este pecado que quer me parecer, e sempre me quis parecer desde os anos tão longínquos da minha infância a partir do momento em que eu comecei a refletir, sempre me quis parecer que este pecado contra ele se baixaria o gládio de Deus ainda neste século, ainda nos dias de minha vida.

E depois de ter lutado longamente contra este pecado na terra, e lutar enquanto ele existir, e antes que eu deixe de existir para este mundo, enquanto este pecado existir, pretendo lutar contra ele a serviço de Nossa Senhora, na medida em que Deus permita, em que Ele me favoreça. Está bem.

Este pecado deve arrastar o mundo para outras misérias, outros horrores que são o castigo de outros pecados, até o momento em que se renove no mundo algo à maneira de um dilúvio, e que todos os fautores de pecado sejam eliminados, sejam empurrados para fora do Mundo.

Morrerão alguns, talvez em um número considerável, talvez se salvem ainda antes de morrer. Outros serão como aquele nobre da cidade de Gândia, diz São Francisco Xavier, que mesmo diante dos milagres mais tocantes, não se emendarão. E tenho todas as razões para temer que estes serão muito numerosos.

Qual é este pecado?

Eu já lhe dei o nome: é o pecado de Revolução. Resta nós entrarmos, em poucas palavras, no que consiste este pecado.

Quem fala em Revolução movimenta dois conceitos fáceis de aprender. O primeiro é de uma autoridade correlata com o conceito de súdito a uma autoridade que o súdito quer desobedecer a esta autoridade, querem negar esta autoridade e querem destrui-la. Esse é o primeiro conceito.

O segundo conceito é de que estes súditos empregam a força e até a violência para que no seu ódio destruir este poder, destruir esta autoridade. E levar tudo para o caos, para a desordem. Porque quem não gosta da autoridade não gosta da ordem, gosta do caos, gosta da anarquia, gosta da degradação. E para lá vai caminhando mais acentuadamente o mundo contemporâneo.

Bem e depois destes dois conceitos fundamentais, vem o conceito de Contra-Revolução. Esse movimento que não se levanta apenas por exemplo contra uma República, contra o Presidente de Estado, ou numa Monarquia contra o rei ou príncipe reinante. Mas que vai em todos os Estados, em todas as nações se faz sentir, contra todas as autoridades, contra todos os poderes, que não quer autoridade, que não quer Poder, estes exprimem formalmente, categoricamente numa posição ideológica da qual os senhores já terão ouvido falar muito e que é a Anarquia. Em vários países do mundo, existem partidos anarquistas.

“Arquia” quer dizer poder, quer dizer superioridade, “na” é negativo, an-arquia quer dizer não poder, a eliminação de todos os poderes é a finalidade destes movimentos. Estes movimentos crescem e sobre eles falaremos daqui a pouco. E estes movimentos têm uma gravidade que eu deverei analisar daqui a pouco antes de entrar na parte específica da cólera de Deus.

Nós temos que ver o pecado, medi-lo, qualificá-lo, estudar a sua maldade para compreender depois a Santidade Imaculada e o ódio que se volta contra este pecado.

“Tu és pecado, eu te odeio porque tu és pecado! E eu te destruirei! Se alguém vier me dizer: mas destruir é um mal. Eu respondo numa gargalhada. Oh palhaço! oh partidário do mal! partidário velado, mas claro para quem tem olhos bons. Tu então achas que destruir é sempre um mal? Destruir a destruição não é um bem? Destruir uma doença não é restaurar a saúde? Odiar a doença não é amar o doente? Promover dentro do corpo do doente uma verdadeira luta de germes bons, de corpos bons que liquidem com a doença, que liquidem com por exemplo uma infecção, destruir todos os micróbios que estão causando a infecção, isso é considerado maldade? Ou é pelo contrário bondade?

Os germes que querem destruir o corpo humano são maus; destruir o que é o mal é o bem. Esta é a razão de ser da saúde. Esta é a razão de ser da medicina. A saúde nasce do domínio que dentro do equilíbrio orgânico exerce nos fatores bons, positivos, sobre fatores maus que existem em todo organismo. O organismo só prolonga a sua existência na medida em que a força dos elementos bons domina os elementos maus, e por vezes consegue expulsá-los. Esta é a noção.

Bem, há no campo moral, à maneira do campo físico, existem elementos negativos. Existem desejos, existem impulsos, existem hábitos, existem cobiças, existem luxurias, existem ambições, existem vaidades, existem preguiças, existem enfim infâmias de toda a ordem, que têm a sua raiz no pecado original. Deus não criou o homem com estas apetências péssimas, em desordem. Ele criou o homem em ordem, e por sua natureza levado propenso ao bem, Ele criou o homem portanto com inocência como estavam Adão e Eva no Paraíso.

Os senhores conhecem o triste assunto de que não terei que falar, da queda de Adão e Eva. Deus quis provar a fidelidade de Adão, na sua Misericórdia infinita, está no Genesis que Deus tinha contato frequente com Adão, e que às tardes, quando a brisa fresca das tardes baixava sobre o paraíso – os senhores podem imaginar que delícia seria… -, nesta brisa baixava Deus, e Deus então conversava com Adão, e toda a tarde Deus recebia, enquanto Adão se refrigerava do calor esplendido do dia, porque no Paraíso tudo era esplendido, ele recebia ao mesmo tempo uma brisa refrigerante e a presença adorável de Deus.

E Deus falava com ele, passeavam pelo Paraíso. Nesse passeio, Deus naturalmente mostrava alguma coisa a Adão: Olhe que bonito isto e que magnifico aquilo etc. E Adão tinha nascido com uma inteligência muito maior do que a nossa. Adão tinha nascido com o conhecimento por exemplo de um zoologista, quer dizer um conhecedor de animais completo.

Quando ele foi criado, Deus ordenou que todos os animais do Paraíso desfilassem diante dele. E ele foi dando a cada animal um nome de acordo com a natureza do animal. Quer dizer que ele conhecia a fundo a natureza do animal e deu uma definição. Trabalho zoológico investigador não haverá mais, porque não há mais homens que não tenham pecado, que não tenham caído no pecado original. Não há mais homens desses. A inteligência humana foi maculada, quebrada, não é mais capaz disto.

Mas assim era o Paraíso, o delicioso Paraíso. Nesse Paraíso, pela primeira vez o homem pecou. E tão terrível foi este pecado, tão profunda a cólera sagrada de Deus diante deste pecado que Deus expulsou Adão e Eva do Paraíso.

E mais do que isso, Ele fez com que sua natureza, a natureza dos homens, de Adão e Eva tivesse uma quebra por onde eles ficaram propensos a uma desordem interna pela qual os seus sentidos antes ordenados, equilibrados, e que só lhes faziam admirar o que é bom e apetecer o que é belo, o que está em ordem etc., esses extintos começam a tumultuar dentro dele como um oceano em agitação em dias de maremoto.

Todos nós levamos dentro de nós este maremoto. Ora nossas almas querem uma coisa, ora nossas almas querem outra coisa. Querem fantasias, querem extravagâncias, querem coisas que conduzem ao mal, de um modo ou de outro, mas conduzem ao mal e somos obrigados a uma luta terrível para dizer “não” ao mal, para mantermos inteiramente no bem, e mais ainda para lutar contra os maus! E este ponto, a meu ver, é capital, ninguém é bom que não lute contra o mal.

[aplausos]

E nessas condições, é o que nos mostra a vida concreta.

* Exemplificando as tendências más, efeitos do pecado original

Eu me lembro dos meus dez anos de idade, quando eu saí pela primeira vez do lar de Dona Lucilia e fui, por vontade dela – eu era uma criança, não fazia a minha vontade própria –, começar meu curso colegial num colégio cujo nome eu menciono com respeito e com elementos de gratidão, porque é verdade que se este colégio foi para mim ocasião de muita tentação e de muita prova, foi também um ambiente no qual eu aprendi muitos dos elementos de religião que constituíram, no decurso de minha vida, alegria e a grandeza de minha alma.

Na realidade, entretanto, eu não posso me esquecer essa diferença entre o mundo antigo, mundo tradicional, mundo tranquilo, mundo convencional a que Dona Lucilia me habituava e, de repente, a entrada no meu mundo que já não era o mundo dela, já não era o mundo das senhoras e dos senhores que estavam entre trinta e quarenta anos, mas era o meu mundo, da meninada que tinha dez anos.

O mundo dela era um mundo de antes da I Guerra Mundial, era um mundo conservador. O meu mundo era um mundo já francamente revolucionário, um mundo colocado inteiramente sob a influência deste dragão devorador de almas que era naquele tempo um perigo tremendo que hoje parece inócuo, ou quase inócuo em vista dos perigos tão maiores que apareceram depois. Esse dragão tremendo era o cinema.

O cinema que interessava fabulosamente as pessoas. Havia casais, e alguns de idade, que toda noite, toda noite, terminado o jantar, eles já jantavam numa hora que permitisse irem depois tranquilamente ao cinema. Toda noite tinha uma frisa reservada no cinema, e todas as noites do ano iam ao cinema. E assim eram tantos outros. E o cinema era o portador de tudo aquilo que se chama “modernidade”.

* Nada há de “moderno” que não traga consigo o agravar de uma decadência

Os senhores tomem a palavra “modernidade” e analisem o sentido em que ela na maior parte dos casos é empregada.

Quase sempre quando disserem aos senhores que tal coisa é a mais “moderna”, os senhores podem analisar: ela é pior do que a coisa antiga.

Os senhores tomem por exemplo uma cadeira em lugar dessas duas cadeiras que estão aqui em estilo tradicional, os senhores tomem duas cadeiras inteiramente modernas. Serão, talvez de matéria plástica, do modo que os senhores conhecem. Porque essas são mais modernas vêm mais impregnadas de um certo espírito, vêm mais impregnada de uma certa mentalidade, definem melhor um modo de ser que agrada o homem de hoje e esse espírito, mentalidade, modos de ser, era pior do que nesse tempo.

O que hoje é moderno faz aparecer melhor o que é moderno comparando-se com aquilo. Aquilo tem algo de mais antigo, a gente vai examinar, é melhor.

Mas houve um tempo em que essas cadeiras foram modernas em relação a outras mais tradicionais e assim por diante a gente pode ir remontando desde nosso mísero e periclitantíssimo século XX até o século XV, até o século XVI em que começou a Revolução, e os senhores vão ver que o mundo passa por uma queda enorme. Tudo quanto se tem transformado de lá para cá representa gradualmente um afastamento de um ideal religioso, um afastamento de um ideal moral que é um ideal religioso, cada vez mais se recusam posturas de alma, se recusam modos de ser, modos de ver e modos de sentir que são contrários aos modos de ver, de ser e de sentir ensinados pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

E isto pela preponderância de dois princípios, dois princípios cujo lema foi, com um terceiro princípio feito para disfarçar, que é uma simples marca, foi o lema da Revolução no mundo e em boa parte ainda continua a ser: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

* A ordenação da sociedade medieval quebrada pela Revolução protestante

A primeira dessas Revoluções foi a Revolução protestante. Será difícil imaginar qual era a paz, qual era a tranquilidade, qual era a dignidade da vida das famílias, da vida dos indivíduos, da vida das várias classes sociais no período da Idade Média que antecedeu a Revolução.

É preciso a gente ir visitar esses monumentos na Europa, ver esses museus na Europa para compreender a paz, a dignidade, e a tranquilidade que reinava na vida antes da Idade Média.

Não pensem os senhores que eu estou fazendo aqui o exclusivo elogio da residência feudal com a sua grande torre de menagem, com seus muros, com seu fosso de defesa, com os campos que dependiam do senhor e lhe proporcionavam riqueza, eu falo disso sim e falo elogiosamente. Porém não faria esse elogio se a existência desses castelos e dessa atmosfera nobre, não andasse de mãos dadas – notem bem, de mãos dadas – com uma fartura camponesa da qual dificilmente se tem ideia hoje.

Os camponeses iam gradualmente adquirindo mais liberdade e, durante a Idade Média, pela primeira vez na história do mundo se realizou algo que os séculos anteriores não conheciam.

Em todos os séculos anteriores, em todos os países, o trabalho manual era trabalho escravo. Trabalhador no campo queria dizer escravo no campo. Trabalhador doméstico, era escravo na cidade.

A ideia de um homem que vive de seu trabalho, mas que é livre, quer dizer, que pode dar à sua vida – dentro da lei é claro – um destino que ele queira, que mais lhe convenha, pode residir onde entender, pode tomar o emprego que queira, pode adquirir uma casa ou alugar uma casa conforme lhe agrade sem depender de ninguém etc.

Tudo isto não existiu antes da Idade Média. Existiu cada vez mais com a Idade Média, de maneira que quando a Idade Média terminou e começaram os tempos que vão do descobrimento da América, para marcar uma data, até os nossos dias, na aurora dessa época se podia dizer que na Europa não havia mais escravos.

Quer dizer, esta formidável libertação indica o sentido de bondade, o sentido de disciplina aliado ao sentido de autoridade e de esplendor que caracterizava a Idade Média.

* A contestação da infalibilidade papal pela Revolução Protestante

Mas, apareceu um homem, maldito entre todos – Martinho Lutero – frade agostiniano apóstata, que de um modo péssimo se revoltou contra o papa lançando uma doutrina que para resumir muito, porque quero evitar uma extensão excessiva desta conferência.

Uma doutrina que se cifrava no seguinte; o homem é por sua natureza livre e, portanto, em primeiro lugar a infalibilidade da Igreja não existe. Porque é contrário à dignidade humana que um homem diga a outro “eu estou certo e você está errado, e você está errado porque é você quem diz, eu estou certo porque sou eu que digo”. Ora, diziam eles, é o que se encontra na Igreja Católica com o papado, com o papado e com as autoridades eclesiásticas.

Um bispo, um arcebispo dirá aos fiéis a quem governa espiritualmente: “A doutrina católica é tal.” E o fiel é obrigado a supor que o bispo tem razão.

Exceto, portanto, se se tratar de um fiel muito estudioso que conhece bem a doutrina, e que sabe que o bispo está errado, ele deve dobrar-se porque o bispo falou e porque ele é um homem que não está especializado, não conhece a matéria de que o bispo está falando. E o bispo tem uma missão dada pela Igreja de ensinar.

* Assim como não se contesta os ensinamentos de um douto professor, não se pode contestar os ensinamentos que um Papa pronuncia “ex Catedra”

E por isso a gente deve supor que o bispo tem razão, do mesmo modo pelo qual numa aula de curso secundário, por exemplo, um professor entra e anuncia um princípio de física e os alunos não vão contestar o princípio. A Lei de Newton: a matéria atrai a matéria na razão direta de, na razão inversa de.

Bem, é um princípio de física.

Nenhum aluno vai dizer: “Olha professor, eu não acredito muito nisso”. Ririam dele, ele é o mestre! E o aluno deve supor – salvo prova em contrário – que é o mestre que tem razão.

Com a Papa a situação é diversa. O Papa, quer por si mesmo quer presidindo um concílio de bispos do mundo inteiro convocado por ele, o Papa de um modo ou de outro no que ele declara é infalível. O bispo não é infalível, o bispo provavelmente acerta. Por isso a gente deve tomar como provável e submeter-se a ele, tudo quanto ele diz, exceto se a gente está muito informado das coisas da religião e tem um motivo para achar que o bispo está errado. Então, com o devido respeito, o fiel pode dirigir-se ao bispo e apresentar o seu argumento, se o bispo não se convencer, ele tem o direito de recorrer a Santa Sé. Mas na Santa Sé para.

O que o Papa tenha dito em determinadas condições que seria muito longo enumerar agora, e que caracterizam o fato de ele estar fazendo uso do poder das chaves que Nosso Senhor Jesus Cristo deu a São Pedro, e que São Pedro comunicou por via de sucessão a todos os Papas dos quais ele foi o primeiro, o Papa é infalível e se o Papa me disser que em nome do poder das chaves a coisa que me pareça mais contrária às minhas convicções, que aquilo que é verdade, eu me levantarei e aplaudirei prolongadamente.

Porque ele tem sempre razão quando fala alegando, invocando o poder de infalibilidade que Nosso Senhor Jesus Cristo deu a São Pedro. Quando ele disse a São Pedro que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja, ele implicitamente disse que a Igreja não erraria. Porque se a Igreja pudesse errar as portas do inferno teriam prevalecido contra ela.

Ele não erra, logo, nós, contra todas as evidências deste mundo, em matéria religiosa postas certas circunstâncias definidas pelo Direito Canônico, o Papa é infalível e nós sustentamos aquilo contra as maiores evidências. Pouco importa, ele não erra, nós erramos. [aplausos]

Lutero afirmou: “Eu contesto isto e afirmo o princípio do livre exame. Cada um examina a Bíblia como quiser, interpreta como entender.”

Em nenhuma das igrejas protestantes existe a figura de um chefe religioso infalível, esta figura só existe no Papado.

* Ao tomar conhecimento do dogma da Infalibilidade Papal, Dr. Plinio sentiu-se interiormente iluminado por uma intensa alegria e um intenso alívio

Já que eu lembro as minhas recordações, lembrei há pouco recordações minhas da infância, eu me lembro disto:

Eu era muito menino e não tinha noção de que o Papa era infalível. Eu tinha talvez uns dez, onze, doze anos quando me disseram que o Papa era infalível e que daí se concluía que se eu pensasse uma coisa e o Papa ensinasse o contrário, que o Papa é que tinha razão e não eu.

Eu não posso me esquecer de minha alegria… [aplausos]

Eu me senti interiormente com que iluminado por essa alegria. Por isso, porque eu sentia uma insegurança tremenda dentro de mim pensando o seguinte: “Eu a três por dois vejo que erro. Mas se eu erro, vejo que os meus colegas muitas vezes erram mais do que eu. E que eles vão ser mais tarde homens adultos como os que estão dirigindo hoje o mundo. Eles são filhos daqueles, filho de peixe sabe nadar. E filho de gente que erra, erra. Nós todos erramos, que solução dar aos problemas do mundo se todo o mundo erra? Esse mundo é um mundo de loucos? Não pode ser porque vejo que há uma coisa não louca no mundo, é a Igreja Católica, Apostólica, Romana.” [aplausos]

Mas, mas, se é verdade que a Igreja não erra, como será que a Igreja não erra? Porque é feita de homens, esses padres são homens como os outros homens. E se os irmãos deles e os pais deles erraram ou erram, eles são do mesmo estofo e erram também.

Então o que é que dá uma orientação ao mundo? Qual é a bússola do mundo?

Se um navio precisa de bússola, só o barco de São Pedro, a Igreja Católica não tem bússola? Não tem uma autoridade que mande, que segure essa nau que ou tem um chefe que não erra ou é um nau de loucos? Porque no mundo tudo o que está fora da Igreja é louco. E é louco, os senhores estão vendo.

Eu quando soube que havia um Papa que não errava e que falava em nome de Jesus Cristo, e que ensinava a verdade, eu tive um enorme alívio.

E me senti – vejam o contraste – livre. Exatamente sabendo que havia uma autoridade que mandava em mim e que me servia de corrimão contra as minhas loucuras, eu entendi que era para mim a acessível o caminho da verdade.

E esta liberdade de encontrar a verdade e de seguir com ela, esta era uma liberdade que eu gostava. Enquanto as outras liberdades que eu ouvia irem nascendo e se desenvolvendo em torno de mim: liberdade de imprensa, liberdade de palavra, costumes livres. Os chamados costumes livres, cada costume novo livre que aparecia era mais uma marcha para a imoralidade.

Esta liberdade é uma liberdade para se precipitar em todos os erros, esta eu detesto.

Era Nossa Senhora que tomava uma criança e ajudava essa criança como a todo católico a amar o contrário do que Lutero havia ensinado.

* A subordinação que se deve à toda autoridade legitimamente constituída

Lutero: ódio à autoridade, viva a liberdade.

Nossa posição contra-revolucionária, entusiasmo, amor, obediência à autoridade suprema e legítima da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. E respeito, obediência, dedicação ao que todas as autoridades legítimas – não qualquer aventureiro – mandem e que não vá contra o que manda a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.

Pelo contrário, vai de acordo. Toda autoridade legítima e católica se tem para com ela entusiasmo, veneração, carinho porque ela é como que uma vergôntea, como que um ramo que se destaca da Igreja Católica como um galho de uma árvore se destaca do tronco sem romper com ele, mas de algum modo para prolongar o tronco. Assim também são os vários campos da vida humana em que o homem trabalha dentro dos princípios da Igreja, são a copa de uma árvore cujo tronco é a Igreja Católica. Essa é a sociedade humana.

* O livre exame gerou uma inconformidade de doutrina entre as diversas seitas protestantes

Mas, ao lado da mania da liberdade, vinha a mania da igualdade.

Lutero que acabou com a autoridade da Igreja…

Algum tempo atrás houve um congresso de igrejas protestantes do mundo inteiro realizado na Suécia, para ver o que é que havia de comum entre as várias igrejas protestantes. E eles chegaram a conclusão de que não tinham nada de comum entre si, que cada igreja tinha um pensamento próprio e eram igrejas pequenininhas porque todas se tinham fracionado por causa do livre exame. E que o único ponto em que elas estavam de acordo era em que Deus existe.

Mas, assim mesmo, alguns diziam que Deus existe e é uma pessoa como a Igreja Católica ensina, Deus uno e trino, pessoal. Mas, pelo contrário. alguns dizem que Deus existe, mas se confunde com toda natureza. Deus é este chão, Deus é este auditório, Deus são esses estandartes, Deus são esses aparelhos elétricos, Deus será o carro de lixo que daqui a pouco está passando pela rua para limpar as imundícies, Deus é essas imundícies, Deus está em tudo, está presente em tudo e se confunde com tudo. É um Deus panteísta.

Isto é uma forma de ateísmo, porque se Deus é tudo, Deus não é nada. Se Ele não é ninguém, Ele não é nada. Ou Deus é uma pessoa ou não há Deus. É a liquefação do protestantismo.

* A marcha de “proche en proche” da Revolução contra toda autoridade e desigualdade legítima

Lutero, na igreja protestante, destruiu em nome da liberdade todas as autoridades. Esse ódio a liberdade conduziu naturalmente ao ódio a autoridade. Eu mostrei isso há pouco.

Mas, conduziu também ao ódio a desigualdade, ao ódio às desigualdades legítimas.

A sociedade temporal, quer dizer, os estados, os países, as nações eram governadas por classes sociais distintas, cada uma com uma finalidade própria. E essas classes sociais eram três: clero, nobreza e o povo.

Cada uma no seu lugar respeitável, com toda a dignidade, a consideração e o apoio que merece todo ser racional, todo ser, sobretudo, batizado, e filho de Deus e membro do corpo místico da Igreja Católica. Mas apesar de tudo é preciso manter essas desigualdades porque Deus fundou a Igreja dEle com desiguais, Ele quis que houvesse Papa, bispos e fiéis. E se toda desigualdade fosse um mal, a desigualdade religiosa, sendo uma desigualdade, seria um mal também. E Nosso Senhor Jesus Cristo, se toda desigualdade é um mal, errou fundando uma Igreja de desiguais.

Daí a ideia obsessiva de fazer a igualdade em matéria religiosa conduziu à igualdade em matéria civil e política. E veio a Revolução Francesa que produziu a abolição da nobreza, a liquidação dos privilégios da nobreza, e proclamou a igualdade de todas as classes sociais em matéria política.

Mas se toda desigualdade é um mal, então essa desigualdade deve ser um mal não só em matéria política, mas em toda espécie de matérias, ela tem que ser um mal. Se toda desigualdade é um mal, a desigualdade política sendo desigualdade, ela é um mal também.

Daí veio a ideia de que a desigualdade econômica também é um mal e é preciso produzir a igualdade de todos os seres em todas as coisas, até as diferenças pequenas de fortuna, sendo consideradas um mal. É o comunismo. O comunismo de Karl Marx pregado a partir de meados do século passado e que veio a constituir uma revolução imensa, mundial, que produziu na Rússia as devastações de que os senhores tiveram notícia quando a Rússia derrubou a cortina de ferro e se percebeu na realidade em que situação estava o mundo, e de outro lado, em outro sentido, a gente vê que essa desigualdade conduziu a que na Rússia – em tese, eu não vou entrar no concreto onde a coisa é diferente – mas produziu uma espécie de miséria geral da qual só escaparam os que tomaram conta de governo durante esse tempo, que souberam roubar.

Mas uma triste experiência nos mostra que o saber roubar não é só próprio do governo comunista, é próprio dos homens que perderam a Fé, e por causa disso são tantos e tantos os países modernos onde o roubo parece ter invadido a classe política.

* Outro anseio da liberdade revolucionária em oposição à doutrina católica: a dos instintos sexuais

Isto posto, nós vemos que a liberdade tem outra reclamação. O homem tem como um dos seus instintos mais desregrados o instinto da procriação da espécie. Ele tende, a natureza das coisas pede e consoante com a natureza das coisas, a lei de Deus manda que cada homem tenha uma só esposa, cada mulher tenha um só esposo, que eles se liguem pela vida inteira com uma união de mentes e uma união de corpos, união de metas, união de ação, união efetiva em tudo, para o bem próprio e para o bem de seus filhos e que com isso eles levem uma vida abnegada. O casamento que é um Sacramento instituído por Nosso Senhor, é um Sacramento, portanto, sagrado, mas que pede abnegação, não é uma feira de prazeres.

* O casamento não é uma feira de prazeres, mas sim um Sacramento que pede abnegação e amor à Cruz de Cristo

O cinema, Hollywood lecionaram exatamente o contrário: o casamento se abre com uma ilusão, a ilusão de que cada moço só deve casar com a moça pela qual ele tem uma paixão, e o mesmo a ela. Mas a paixão não é inspirada pelo conhecimento que cada um tem da alma do outro, pela concórdia dos princípios morais e religiosos entre um e outro, e a convicção de que a condição de esposo, a condição de esposa traz muito alívio, traz muita consolação para vida, mas supõe também muita dedicação e muito sacrifício.

Que entra para o casamento sem a ideia de sacrificar-se, e pensando que entra em não sei que espécie de paraíso, esse incorre no comentário que um amigo meu muito bem casado, casado com uma moça extremamente simpática, com a qual ele se casou evidentemente porque ele quis, me disse uma vez, pouco depois dele casado. Eu fui visitá-lo e perguntei a ele como ia etc.

Ele me disse:

– Doutor Plinio, está tão quente aqui, não lhe faria diferença andarmos um pouco na rua à sombra e levar um pouco de vento?

Eu ouvi os passos da senhora arranjando coisas no andar de cima. Eu pensei: “ele quer dizer alguma coisa que ele não quer que a pobre senhora dele ouça”. E disse:

– Vamos, vamos passear.

Quando foi só ele [se pilhar?] na rua e alguns passos de casa, que ele me disse:

– Doutor Plinio, eu quero dizer ao senhor o seguinte: “minha mulher é ótima, ela não me trouxe nenhuma decepção, porque tudo que eu tinha direito de esperar dela ela me proporciona, mas ela me encheu de desilusões”.

Essa diferença de linguagem exprimia muito bem a diferença de situação. Quer dizer, o que é uma dama de romance ideal, que apenas existe para adorar o marido e para viver para ele, e uma dona de casa efetiva, inteligente, séria, que colabora com o seu marido em toda linha, mas que tem seu senso de responsabilidade própria, que poderá ser que divirja dele num ponto e noutro, mas sem contestar o princípio de que o marido é o chefe da sociedade conjugal, sabe também defender os seus direitos e seus pontos de vista dentro do lar.

Composição difícil, mas de cujo triunfo resulta o triunfo do lar, o triunfo da família, e a preparação das condições para o futuro triunfo da descendência, isto é a condição para a família ser família, a família dar uma boa educação, e o futuro da prole, o futuro de todo um país, numa geração seguinte resultar de modo principal da família e do modo sacrificado pelo qual esposo e esposa convivem e convivem depois com seus filhos, num espírito de sacrifício para o bem de seus filhos.

Quanto mais a cruz de Cristo está presente na família, tanto mais a luz desses princípios iluminam a vida de família, e tanto mais a família promete sobreviver-se a si própria no curso das gerações, mas sempre com os mesmos princípios e a mesma formação.

* A desagregação da família contemporânea promovida pelas leis civis, fruto da negação da Cruz de Cristo

É o caso de dizer que se se aplica, para todas as categorias, o princípio “per crucem ad lucem – é pela cruz que se chega à luz, na vida da família capitalmente esse princípio é verdadeiro.

Onde há espírito de sacrifício por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, há luz na vida de família. Onde não há isso, o marido cai no adultério, daí a pouco a mulher cai no adultério, daí a pouco os filhos se revoltam contra a autoridade dos pais, e há essa desagregação familiar que dá na ruína da família contemporânea.

As leis brasileiras, por exemplo, no momento, chegam a um ponto que os senhores ignoram talvez. Mas eu vou dar o ponto para os senhores verem onde nós chegamos.

Quando um casal não casado habita no mesmo lar – no mesmo lar quer dizer, no mesmo edifício – há mais de dois anos, esta união, que é uma união que ofende a Deus, é um pecado contra o sexto e quiçá contra o nono Mandamento, em que cada ato conjugal ou pseudo-conjugal constitui um pecado mortal, está bem, esta união é considerada pela lei brasileira como produzindo os mesmos efeitos jurídicos do casamento. É a destruição da família.

Se a concubina vale tanto quanto a mulher honesta, se o concubino vale tanto quanto um homem que mantém na fecundidade de sua família, mantém a fidelidade à sua única esposa, a ela ligado pelo Sacramento do matrimônio, então a família está destruída.

E de tal maneira está destruída que nossas leis contêm um outro princípio, e esse princípio é indizível simplesmente, que é o princípio seguinte: “pode haver uma família a cuja testa não esteja um casal, mas esteja só o homem ou só a mulher; quando a mulher teve filhos de vários homens – casamento ou concubinato dá na mesma, filhos legítimos e ilegítimos dá na mesma – e ele teve filhos de várias mulheres, pode acontecer que ele combine com ela: “eu deixo meus filhos com você, os filhos que eu tive com a outra e os filhos que eu tive com você, eu deixo com você, você toma conta deles e eu entro com o dinheiro para a manutenção dos meus filhos e um pouco da sua também. Você arranja um outro homem por aí, ou não arranja um outro homem e se não arranja outro homem, esse conjunto de filhos de várias mães, de filhos de vários pais constitui com você o que se chama uma família monoparental.”.

São filhos miseráveis, coitados, na maior parte das vezes de concubinato, e outras vezes de famílias destroçadas. É a ruína da família com que procuram reunir os cacos para fundar famílias novas.

* As uniões homossexuais são tão contrárias à natureza, que causam horror ao próprio demônio

Para chegar até o fim, nessa liberdade dos instintos sexuais que é uma verdadeira mania, um verdadeiro delírio, nessa liberdade dos instintos sexuais nós chegamos ao inenarrável, à uma coisa que de vez em quando eu conjeturava, que no excesso da liberdade moderna se poderia chegar. Mas afinal de contas me parecia tão monstruoso que eu mesmo duvidada se se chegaria ou não. Aí se chegou: o Parlamento Europeu fez uma indicação a todos os países da Europa – mas os senhores entendem que é para todos os países do mundo – para admitirem o “casamento” homossexual. Quer dizer, o “casamento” de homem com homem, de mulher com mulher. “Casamento” que não é casamento. É uma união que, segundo o Catecismo e segundo a Bíblia, “brada ao Céu e clama a Deus por vingança”.

Essa união de pessoas do mesmo sexo ofende a Deus tão gravemente que uma mística italiana, Santa Catarina de Sena, se não me engano, numa de suas revelações teve essa afirmação:

Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a ela e comentou entristecido vários pecados que se realizavam em vida dela, na Europa. E Ele, entre outras coisas, disse o seguinte: a união homossexual, de pessoas do mesmo sexo, é de tal maneira pecaminosa, de tal maneira brada contra a natureza, que até o demônio que é o demônio, ele faz o possível para levar as pessoas ao ato sexual de pessoas do mesmo sexo, mas a desordem natural decorrente daí é tal, que quando depois dele ter levado as pessoas a estarem na iminência de cumprirem esse ato, quando ele chegou a isso, ele se retira porque esse ato produz um distúrbio, produz um mal para a ordem geral das coisas que o homem não percebe, mas que faz sofrer até o próprio demônio. Ele dói e range.

Ele que vive nos antros infernais tão bem descritos há pouco tempo nessa proclamação, ele, entretanto, tem horror daquilo que ele mesmo faz. Quer dizer, ele promove o pecado, mas foge. É como quem acende a mexa de uma bomba e foge correndo porque não quer ser atingindo pelo estilhaços. Isso o próprio demônio.

Diante disso a reação do homem contemporâneo é quase nenhuma, ou é nenhuma. Não liga, isso está sendo generalizado por toda parte; os senhores veem jornais tratarem disso, é uma coisa incrível.

A afronta a Deus chega aí ao auge. Deus deixou bem claro que o fogo que caiu sobre Sodoma e Gomorra era por causa do pecado contra a natureza, do pecado homossexual, e por isso essas cidades foram queimadas, e o mar morto onde ficam essas cidades, ficou um mar no qual não há vida, não há peixes, não há nada, há uma água salobra com gosto muito esquisito. Mas para levar a afronta a Deus aos últimos pontos, para levar a esses últimos pontos, instituíram sobre balsas, no Mar Morto dois bares, um chamado Sodoma e outro Gomorra, para turistas. E há turistas que vão lá comer, beber, se divertir como que caçoando do castigo de Deus. Parece aos senhores horrível isso. Os senhores exclamam: que horror! Exclamam com toda razão. Mas qual é o clamor dos Anjos vendo que sobre todo o mundo ocidental, e daqui a pouco o mundo oriental, uma lepra desta natureza está se generalizando.

Quer dizer, no dia em que uma coisa destas se dilatar ainda mais, até onde terá chegado o pecado dos homens?

Há senhoras nesse auditório, às quais… [troca de fita] …os senhores pensam que chegaram ao auge da abominação. Não chegaram. Chegaram ao quase o fim da minha conferência, digo isto porque vejo que estou muito longo na minha extensão naquilo que eu estou dizendo.

* De abominação em abominação, hoje se chega a propor meios de reaproveitamento de excrementos humanos para alimentos; isto instituído, o homem estará preparado para a adoração do demônio

Mas já há movimentos de caráter revolucionário que sob o pretexto de evitar o consumismo, de um lado para provocar o hábito do homem com o horror, promovem todas as formas de arte em que o feio é o título da arte. Quadros monstruosos, decorações medonhas, de seres se convulsionando etc., é o estilo deles. Mas dizendo que é preciso os homens não depredarem os bens da natureza, porque acabará não havendo o homem com que comer na Terra, estão estabelecendo um sistema pelo qual o produto do corpo humano, que o corpo humano não assimila, mas rejeita, esse produto possa ser industrializado para ser recomido pelos homens. Eu vejo nisso mais um gosto do horror, mais um brado de revolta contra Deus. Brado de revolta para fazer o homem comer aquilo que segundo a ordem posta por Deus ele deve abandonar para seu corpo estar limpo.

Eu creio que se eu disser aqui a alguém que… se eu fizer um inquérito, quem é que ouviu dizer isto alguma vez, ninguém levantará o braço, porque provavelmente não ouviu dizer. Eu afirmo com a responsabilidade. São notícias de jornal etc., que já vão preparando um pouco remotamente o público para este horror.

Neste dia, neste dia, o homem fica preparado para que se aparecer a ele o demônio em todo o seu horror, ele adore.

Os senhores compreendem de rampa em rampa, de descida em descida, de pecado em pecado, até onde se pode chegar; aonde se está no perigo de chegar.

* O primeiro lance da Revolução: o brado de Lúcifer contra o plano de Deus para a Criação – a réplica de São Miguel

Este movimento enorme, que vai de Lutero até essa abominação, percorreu séculos destruindo, devastando, deformando e preparando ignomínias novas, esse tufão de desordem, de revolta, é parecido a mais não pode com o tufão de revolta que houve no começo da História, não é da História dos homens, mas da História da Criação, quando o mais belo dos anjos, Lúcifer, que traz consigo a luz, revoltou-se quando Deus revelou a Encarnação do Verbo e o nascimento dEle nas entranhas virginais de Maria Santíssima. Ele bradou: non serviam! “eu não obedecerei nessas condições!” E é a Revolução.

Houve um Anjo contra-revolucionário que no Céu, que parece que teve assim uma espécie de primeiro pasmo diante de toda infâmia, deu o brado da inconformidade e disse: Quis ut Deus!: “Quem é como Deus!” E iniciou, segundo diz o gênese, uma grande guerra no Céu, de onde os demônios foram todos expulsos e no Céu passou a reinar novamente a paz. A paz de Deus, o reino de Deus, projetando-se sobre a Terra e abrindo-se para nós, se nós passarmos a nossa vida lutando contra essas ignomínias, por mais que elas se tornem fortes, por mais que elas se tornem imperiosas, por mais que elas pareçam arrastar tudo diante de si, nós bradarmos: “Quis ut Deus! Quis ut Maria Santissima!“, nós não tememos, nós não recuamos, nós enfrentamos e Nossa Senhora vencerá! [aplausos]

* Quando se fala das belezas da Criação, pouco se diz a respeito da imensa e admirável “sala de torturas” criada por Deus para castigo daqueles que se revoltam contra Ele: o Inferno

Isso faz compreender, senhores, um quadro que está mais ou menos explícito, e mais ou menos implícito no que foi proclamado tão bem no começo dessa reunião.

Quando se fala da criação, é tão aprazível a gente se lembrar [de] Deus na sua eternidade, na sua perfeição, criando o Céu e a Terra, todas as coisas visíveis e invisíveis criando os Anjos, criando todos os seres, pondo em ordem tudo isto para que nesta criação os seres inteligentes e dotados de vontade própria, de livre arbítrio, portanto, que Ele criasse, que esses seres cumprissem a Lei de Deus que os homens em sua imensa maioria, pelo menos, se salvasse e enchessem o Céu, povoassem a Terra e depois povoassem o Céu. Que coisa linda Deus planejando tudo isto, e executando isto, e vendo num determinado momento em que Ele diz: “fiat lux!” que a luz se fez. As luzes se acenderam. Segundo certos intérpretes essas luzes são os Anjos. Ele criou, numa só palavra, miríades de Anjos imensamente superiores a nós.

Depois vieram os outros dias sucessivos da criação. É uma verdadeira maravilha.

Mas não contam que Deus também criou o inferno. E assim como imaginamos Deus criando isto tudo que os senhores veem, que Deus criando isto, Ele não nos mostrou a não ser a certos Santos privilegiados para nos contarem o que tinham visto. Mas é esta sala de torturas imensa, eterna, e como tudo quanto Deus faz é bem feito, é perfeito, a sala de torturas que Ele criou é perfeita, e as torturas que Ele criou são torturas perfeitas que torturam para todo o sempre, eternamente, até arrebentar de torturar e vai ver, não arrebenta, ninguém morre, ninguém escapa dessa terrível sala de torturas.

Por quê? Porque foi feita por Ele. Foi feita por Deus juiz fortíssimo, juiz justíssimo, que se ama tudo quanto fez de belo, detesta tudo quanto se revolta contra aquilo que Ele fez. E que, portanto, é o grande punidor de todos os castigos, mas sobretudo deste castigo que é como que a fonte de todos os outros castigos: o pecado de Revolução. O pecado da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, o pecado da negação de toda disciplina intelectual, de toda obediência à infalibilidade Papal, à autoridade docente da Igreja, negação de toda desigualdade social legítima, negação de todas as desigualdades econômicas legítimas, para transformar o mundo numa tábula rasa que Deus não quis, que Deus não fez e na qual Ele se recusa a reconhecer semelhança com a sua perfeita beleza, e sua perfeita santidade.

Resultado: esta criação Ele quebra e tortura. E torturará eternamente no outro mundo, mas castigará já neste mundo.

E com isto, que eu vou dizer agora, eu concluo minhas palavras.

* Como no Céu e no Inferno não há mais nações, estas são premiadas ou castigadas ainda nesta Terra

Santo Agostinho, o grande e imortal Santo Agostinho, Doutor da Igreja, Bispo de Hipona, Santo Agostinho desenvolve o seguinte pensamento, que é doutrina da Igreja. Aliás, São Paulo diz isso:

Que no Céu não haverá mais nações, desaparecem as nações, há apenas almas – como não há nações entre os Anjos – todas as nações se irmanam e se confundem num só todo dos filhos de Deus. Que como no Céu na há mais nações, na Terra os homens que vivem poderão ir para o Céu e serem premiados, e os que não forem para o Céu poderão ir para o inferno e serem torturados, e por causa disso, na vida terrena, os homens, muitas vezes, são punidos e são castigados duramente, mas não tão duramente quanto mereciam, porque eles vão para o purgatório, ou vão para o inferno, depois dessa vida, e os castigos de depois dessa vida são castigos muito duros, mas que evitam que o homem sofra tudo quanto tem que sofrer nessa vida. E que isto é um ato da misericórdia de Deus porque no purgatório a pessoa não peca mais, está confirmada em graça, pode sofrer muito, mas sofre na adoração de Deus e no reconhecimento da justiça da punição que está recebendo e na gradual purificação dos defeitos que teve, porque reconhecem a justeza do castigo. E com isso, quando a alma estiver expiado os seus pecados ela sobe para o Céu e goza da felicidade eterna.

Mas com as nações não é assim, as nações não vão para o Céu, e as nações não podem ser premiadas no Céu, as nações tomadas como um todo não podem ser premiadas no Céu, no Céu não há nações. No inferno não há nações também, e as nações não podem ser punidas no inferno. E por causa disto, para as nações a recompensa do bem e o castigo do mal se dará nesta Terra. E não há inferno que sirva de complemento para isso, ou de purgatório que sirva de complemento para isso, não há. As nações têm que expiar nesta vida o mal que fizeram, como recebem recompensa do bem que fizeram.

Os senhores tomem as nações cristãs, sobretudo, mas quão sobretudo, as católicas, elas estão acima de todas as outras nações do mundo. É porque elas de um modo ou doutro ainda reconhecem Jesus Cristo como verdadeiro Deus e recebem a recompensa nessa Terra. Os senhores tomem as nações pagãs, seja como for, elas estão inferiores às nações cristãs, é a recompensa nessa Terra.

Mas também, pecados como teve da Rússia…

O Cardeal Ratzinger disse que o comunismo reduziu a Rússia a um estado de miséria que é uma vergonha para o gênero humano. É uma vergonha para os homens que homens tenham sido reduzido àquela miséria. Ele poderia ter acrescentado: “é um castigo”. Porque a desgraça que acontece ao homem nessa vida, nem sempre é um castigo, é uma prova, os senhores veem a história de Jó, por exemplo, mas o mal que acontece às nações é um castigo.

* Devemos envidar todos nossos esforços para incremento da Contra-Revolução, pois Deus tem pena e ama especialmente as nações onde há uma Contra-Revolução

Eu pergunto aos senhores: de que castigo estamos ameaçados? Diante desse cúmulo de pecados, até onde chegaremos?

E a resposta é: Deus tem pena e ama especialmente aquelas nações onde há uma Contra-Revolução, os filhos dessa Contra-Revolução Deus os olha com comprazimento especial, estes disseram não, eles são perseguidos, são caçoados, são postos à margem, são contestados, mas não se importam, continuam a proclamar o nome e a Igreja de Deus, o nome e a glória de Maria. E por causa disto, por causa deles, muitos que seriam maus são bons, e muitos que ainda são maus ainda poderão tornar-se bons, e a misericórdia de Deus se estende sobre eles muito mais amplamente do que sobre outras nações da Terra. Contanto que esses filhos da luz lutem, contanto que eles entrem em choque com a Revolução, dizendo a ela de frente o que ela merece ouvir, e entrando em choque, discutindo, afirmando e proclamando o bem de Deus etc., a verdade da Igreja, a doutrina da Igreja. Estes são os novos Macabeus, são os filhos eleitos desde que tenham coragem.

Meus caros! Minhas senhoras e meus senhores, peçamos uns para os outros, uns em favor dos outros, e em favor de todos aqueles que estão empenhados nesse admirável e bendito esforço da Contra-Revolução, mas também a todos aqueles que vagueiam aí por esse mundo, e que não conhecem a Contra-Revolução, e que se conhecessem adeririam, e a outros que estão no pecado, mas que se tivesse gente que os ensinasse, sairiam do pecado, peçamos, para todos esses, que Nossa Senhora disponha que saíam o quanto antes do pecado, que saíam das garras da Revolução e que venham conosco bradar: “Quis ut Deus? Quis ut Mariae?” no oceano de pecados do mundo de hoje.

Essa é a vossa missão. Vós, ao lado das fileiras da TFP, cada um no meio que frequenta, com as relações que têm, bradar bem alto: “existe a Revolução, e ela é um vaso de ignomínia. Existe a Contra-Revolução e ela é um vaso de eleição! Quis ut Deus! Quis ut Mariae!”

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