O sofrimento das almas no Purgatório. O que podemos fazer por elas?

Santo do Dia, 27 de outubro de 1973, sábado

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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O “Natal das Almas” é uma ideia muito delicada. Assim como nós, que somos vivos aqui na Terra temos a festa de Natal, na qual damos uns aos outros bons votos, orações, presentes etc., festa em que, por excelência, as pessoas que têm algum vínculo entre si procuram obsequiar-se umas às outras – assim também é natural, conforme aos ditames da fé, que as pessoas procurem também fazer um “Natal” para as pobres almas do Purgatório.

Os senhores sabem que assim como o Céu é um lugar, o Inferno é um lugar, o Purgatório é um lugar também. E nele há um fogo devorador terrível! Que queima as almas de um modo terrível! Onde elas sofrem muitíssimo para expiar os pecados que cometeram nesta Terra. Ou são pecados mortais de que foram absolvidas – porque do contrário estariam no Inferno e não no Purgatório – mas que não expiaram convenientemente e não sofreram convenientemente a isto, e então era necessário que elas passassem pelo fogo do Purgatório. Ou então são pecados veniais que a pessoa não confessou bem, ou confessou de modo incompleto, ou que não expiou devidamente e que então fazem com que a pessoa tenha que expiar antes de ir para o Céu.

Os tormentos do Purgatório são inenarráveis! Evidentemente não são como os do Inferno. Mas são tormentos inenarráveis! De tal maneira que o que uma pessoa possa sofrer a vida inteira nesta Terra não se compara ao que seria um dia do Purgatório. Os senhores podem imaginar uma pessoa posta numa fogueira durante 10 anos, 50 etc., sabe-se lá quanto tempo!… Os senhores podem imaginar o quanto esta pessoa sofre. É, evidentemente, uma coisa terrível!

Tanto mais que muitas vezes as penas do Purgatório duram muito. Há santos que tiveram revelações a respeito do Purgatório e que viram, por exemplo – é metafórico, mas o pensamento é real – um soldado que tinha obtido, justo antes de morrer, uma absolvição pelos seus pecados, que eram pecados mortais gravíssimos. E então ele estava no Purgatório a cavalo numa tábua que separava do Inferno – isto é metafórico, é um modo de dizer que era um tormento quase igual ao do Inferno por alguns aspectos; é uma situação quase igual a de um condenado, por alguns aspectos – e que ia ficar lá – não se espantem – pura e simplesmente até o fim do mundo! Esta visão, se eu não me engano, era do século XV. Os senhores podem imaginar tudo quanto se passou no mundo desde a descoberta da América até agora, e os senhores por aí podem medir este tempo. Durante este tempo todo este homem estava a cavalo na famosa tábua à espera do fim do mundo para ele ser libertado. Os senhores podem compreender o que isto representa.

Há duas circunstâncias que diferenciam fundamentalmente o Purgatório do Inferno. A primeira é a alma condenada ao Purgatório está em estado de graça, ama a Deus e é amada por Deus. Os pecados dela obrigam a Justiça Divina a purificá-la por esta forma.

Como corolário –que não é tão fundamental, mas que é de uma grande importância – a alma no Purgatório tem certeza de que um dia sairá de lá, e que quando isto ocorrer, será eternamente feliz.

De maneira que ela, porque ama a Deus, porque reconhece que necessita sofrer aquilo que merece, porque sabe que isso a purifica, ela está no Purgatório de bom grado. Pois sabe que é preciso para ela poder comparecer diante da presença puríssima de Deus.

Além do que ela tem a paz num ponto: não pode mais pecar! E tem certeza de que no Inferno não cairá! Sabe que por mais lento que seja o correr dos tormentos, por assim dizer o tempo trabalha a favor dela. Porque não há propriamente tempo no Purgatório. Cada instante – se se pudesse falar de “instante de tormento que passa” – é um passo que ela dá para a sua própria libertação. Esta é a vantagem enorme que ela tem.

Pelo contrário, o condenado ao Inferno odeia a Deus e é odiado por Deus, e sente a cólera divina que o esmaga o tempo inteiro. Ele sente a dilaceração de odiar o seu próprio Criadore não tem nenhuma esperança de sair de lá.

De maneira que a diferença das situações é capital. Sem embargo do que a situação do Purgatório é, também ela, terrível! Por isto a Igreja reza muito pelos defuntos. E é por isto que Ela tem instituída a festa de Finados, especialmente pelos que estão no Purgatório sofrendo penas indefinidamente. Porque todos os seus morreram nesta Terra, todos os que o conheciam, que se interessaram por ele, morreram, o resultado é que não há ninguém mais que reze. E então a Igreja reza por estes nestes dias para irem ao Céu.

O que acontece com as almas do Purgatório? Porque como Deus as ama, tem como obra excelente e premia muito quem reza por elas. Porque por um destes entrecruzares da justiça e da misericórdia divinas, ao mesmo tempo em que Deus quer castigar as almas do Purgatório, as ama. E ao mesmo tempo em que as prende no Purgatório, Ele fica contente com as pessoas que fazem com que tais almas sejam liberadas. E numerosos santos tiveram visões a respeito do Purgatório, em que viram a Mãe de Misericórdia, que é o canal de todas as graças de Deus, descer até o Purgatório nos dias de grande festa da Igreja, sobretudo nas festas dEla e nas festas de Seu Divino Filho, libertar um número incontável de almas do Purgatório.

Nossa Senhora vai ao Purgatório como uma Rainha resplandecente de luz, cercada de um orvalho maravilhoso, levada por Anjos cantando melodias perfeitíssimas, desce naquele lugar de trevas e de tormentos, e porque Ela é Rainha, vai libertando e levando consigo para o Céu milhares de almas!

É claro que Nossa Senhora assim fica contentíssima de receber as orações dos que lhe permitem apresentar algo ao Seu Divino Filho e dizer: “este meu devoto rezou por tal filho Meu que está no Purgatório; então agora vou libertá-lo”…

Os senhores imaginem – que Deus nos livre – que arrebentasse um incêndio e 50 membros da TFP ficassem nele presos, e que esse incêndio fosse “purgatorial”. Quer dizer, um incêndio que não matasse, mas queimasse e aqueles coitados ficassem torrando durante 20, 50 anos… O que nós faríamos para libertá-los de lá!… Faríamos tudo para libertá-los de lá!

Devemos considerar isto em relação a nossos irmãos na fé que morreram e que merecem o nosso auxílio – alguns até que tenham pertencido à TFP. Este nosso auxílio é gratíssimo a Deus, portanto.

O que podemos fazer pelas almas do Purgatório? Orações, penitências, esmolas, e as almas do Purgatório nos recompensam. É frequentíssimo Deus conceder graças através das almas do Purgatório.

Exemplo tocante a este respeito é o famoso pedido para se acordar na hora certa. Creio que os senhores todos já fizeram experiência disso. Não erra!

Conheci um membro da TFP que depois mudou, mas que era meio vagabundo, o qual me disse que chegava a não rezar para as almas do Purgatório porque elas tomavam a sério e o acordavam mesmo. E tal pessoa me acrescentou: “Eu queria acordar, mas não tanto assim”…

O despertar produzido pela ação das almas do Purgatório é muito benéfico, muito brando. Mas o indivíduo perde o sono mesmo, de maneira que depois levanta.

Se em algo que é relativamente pequeno, o auxílio das almas do Purgatório é tão assíduo, tão contínuo, tão grande, os senhores podem imaginar para as coisas difíceis!

Aí se explica também o aparecimento tão frequente de almas. A Igreja rejeita o espiritismo completamente, mas Ela jamais negou – pelo contrário – que as almas de vez em quando possam aparecer, e de vez em quando aparecem. O que não se tem direito é de estar chamando as almas. Elas de vez em quando aparecem, por permissão divina. Os demônios aparecem por ódio, por ordem de Deus para nos incutir horror do Inferno. As almas do Purgatório aparecem para nos lembrar e para rezarmos por elas.

Todos os senhores ouviram contar casos em sua família de espíritos que apareceram, de coisas assim, almas de precitos que foram para o Inferno e voltam para atormentar as pessoas etc.

Nestas condições, os senhores compreenderão que a Providência permita que as almas apareçam para pedir orações. Devemos, portanto, rezar por elas.

Assim, a ideia de fazer um “Natal para as almas do Purgatório”, é muito boa, e constitui verdadeiramente um presente de Natal que fazemos a Nossa Senhora libertar para Ela muitas almas do Purgatório que depois rezarão por nós.

Eu estava falando em orações, em penitências, em esmolas. E a pobre mais necessitada, mais humilhada, mais andrajosa, mais maltratada que há hoje em dia, e que é Rainha de toda humanidade, é a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Dar, portanto, para a Causa católica, trabalhar para a Causa católica, sofrer, lutar para a Causa da Contra-Revolução é evidentemente um modo esplêndido de sufragar as almas do Purgatório.

Nada, porém, nada, nada, nada, tem o valor de uma Missa. Porque a Missa que o Sacerdote celebra é a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário, é a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo que se renovam de modo incruento, sem uma efusão real de sangue. E não há, portanto, nem um ato de piedade que possa ter o valor de uma Missa. Nenhum! Absolutamente nada pode se comparar ao sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo.

De maneira que pedir a um sacerdote que reze uma Missa segundo certa intenção é pedir a melhor das coisas que se possa. O centro do culto católico, da piedade católica é o Santo Sacrifício da Missa com a comunhão pela qual o fiel participa da ação do padre na Missa.

Então, obter orações, penitências e Missas celebradas por padres dignos de confiança e que, portanto, o fazem com piedade, tudo isto constitui um presente esplêndido para o “Natal” das almas do Purgatório.

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