Santo do Dia, 31 de outubro de 1966
A D V E R T Ê N C I A
Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Nossa Senhora de las Lajas (Colômbia): o milagre constante da representação acima, encontrada na própria rocha, em que a Mãe de Deus dá um terço a São Domingos de Gusmão e o Menino Jesus entrega outro a São Francisco de Assis
Hoje, dia 31 de outubro, é o último dia do mês do Rosário e é oportuno ler, nas “Visões e Revelações Completas” de Catarina Emmerich, algo a respeito do assunto. Ela teve uma visão a respeito da qual refere o seguinte:
“Vi o Rosário de Maria com todos os seus mistérios. Certo piedoso solitário havia honrado Maria, a Mãe de Deus, tecendo-lhe grinaldas de flores. Teve então uma compreensão profunda da significação das flores e folhas daquelas grinaldas que eram oferecidas por ele cada vez com maior fervor. Então, a Virgem pediu para ele uma graça a seu Divino Filho. A graça foi concedida e é o Santo Rosário”.
“Vi o Rosário rodeado de três ordens de flores de diferentes cores nas quais eram representadas, em figuras transparentes, todos os mistérios da Igreja, do Antigo e Novo Testamento. No centro do Rosário estava Maria com o Menino, de um lado rodeada de anjos e por outro, de virgens, que se davam as mãos. A cruz saiu de um fruto semelhante à maçã da árvore proibida; traspassada de lado a lado, sua cor era especial e estava cheia de pequenos cravos. Na parte inferior ostentava a figura de um jovem de cuja mão saia um sarmento que se estendia pelos braços da Cruz, na qual viam-se outras figuras que sorviam líquidos do ramo. A união dos galhos estava formada por raios ou fios de diferentes cores, entrelaçados como raízes, segundo seu sentido natural ou místico”.
“Cada um dos Pai-Nossos estava rodeado de uma grinalda de folhas, dentre as quais saía uma flor em que se via a imagem de alguns dos mistérios dolorosos ou gozosos, de Maria. As Ave-Marias eram estrelas de pedras preciosas. Nelas estavam figurados, por ordem, os patriarcas e ascendentes de Maria nas obras que se referiam à Encarnação e à Redenção. Dessa maneira, o Rosário compreende o Céu, a terra, Deus, a natureza e a história e a restauração de todas as coisas mediante o Salvador que nasceu de Maria. Este é o Rosário tal como a Mãe de Deus o deu aos homens, sendo a devoção que mais Lhe agrada. Poucos o rezam bem. Só a graça, a simplicidade e a piedade podem compreendê-lo. Encoberto e distante de tudo aquilo que é terreno, somente se aproxima das almas mediante a meditação e o exercício dessa devoção”.
É difícil dar uma idéia da beleza dessa visão, por causa exatamente da enorme riqueza de pormenores que ela comporta. Mas, em última análise, como os senhores viram, deu-se isto que havia uma pessoa piedosa que tecia para Nossa Senhora grinaldas de flores no sentido material da palavra, e oferecia essas grinaldas a Ela. Nossa Senhora tomou esse ato de piedade dessa alma dileta e o tomou como ocasião para conceder a toda Humanidade, especialmente a toda Igreja Católica, um favor imenso que é a devoção ao Santo Rosário.
Quer dizer, Nossa Senhora recebeu tal ato de piedade e como que o agradecendo e lhe dando valor, transformou essa devoção de entregar a Ela flores materiais, em uma devoção de um florilégio espiritual, o qual é rico em simbolismo de toda ordem.
Os valores simbólicos: cada Ave-Maria é representada por uma estrela resplandecente
O que simbolizam propriamente todas essas coisas que ela viu? Temos aqui três espécies de valores simbolizados. Em primeiro lugar, os valores espirituais propriamente religiosos, implicados na devoção. Quer dizer, a devoção a Nossa Senhora com o Menino Jesus, com a cruz, com todo o sofrimento que a Cruz representa, e nas figuras que apareceram e vem no valor atribuído aos Padre-Nossos e Ave-Marias.
Nossa Senhora considera cada Ave-Maria do Rosário como se Lhe fosse oferecida uma estrela resplandecente. E assim, cada vez que rezamos para Ela um terço, nós Lhe oferecemos cinquenta estrelas resplandecentes. E se é o Rosário inteiro, nós Lhe oferecemos 150 estrelas resplandecentes. Os senhores veem a proporção da rosa para a estrela; o símbolo é muito mais eloquente. Uma coisa é oferecer uma simples rosa; uma outra coisa é oferecer uma coisa que é um brilhante, que é uma joia tal que dá a impressão de uma estrela.
Aquele homem oferecia a Nossa Senhora flores materiais. O Rosário tem um sentido espiritual. As coisas espirituais têm um valor tal que a encontrar para elas uma comparação temos apenas os astros, que pela sua beleza deslumbram. Então, daí a constituição do Rosário como estrelas resplandecentes.
O mais interessante é que o Rosário, por essa forma é algo de sobrenatural que representa algo de natural, pois traz consigo a lembrança das rosas, sendo que a flor é algo que compagina, que concatena em si tudo quanto há de gracioso, de belo na natureza. E como a rosa é a rainha das flores, a gente pode dizer que, debaixo de um certo ponto de vista, a rosa representa toda a Criação. Então, é o emprego de toda a Criação para representar elementos de caráter sobrenatural, extraordinário.
A representação histórica paralela com o Rosário
Depois – e isso para mim é mais curioso – há toda uma representação histórica paralela com o Rosário: todos os antecedentes do Salvador, toda Sua genealogia, tudo o que fizeram os antigos profetas está relacionado misteriosamente a cada conta do Rosário. De maneira que toda história que antecedeu à Igreja, toda a história da Igreja, estão representadas nas contas do Rosário de um modo que não se sabe relacionar bem, porque não estão explicitamente contidas nos vários pontos de meditação, mas quer dizer que quando a gente reza o Rosário, de algum modo Nossa Senhora vê a representação de todos esses mistérios, vê uma homenagem a esses mistérios, como que uma continuidade desses fatos do passado nas várias contas do Rosário.
Então, os senhores compreendem que pela intenção dEla, o Rosário ficou enriquecido de valores simbólicos preciosíssimos. E que a oração do Rosário tem, portanto, um valor extraordinário e, de algum modo, insondável, porque é evidente que essas correlações históricas apresentam algo de insondável para nossa inteligência. Esta última não é capaz de enunciar e de referir adequadamente a riqueza, esses nexos riquíssimos que existem entre essas reminiscências históricas relacionadas ao Rosário e o próprio Rosário.
Aqui vemos quanto espírito de finura é preciso ter para considerar as coisas de caráter sobrenatural. Se os senhores veem o modo pelo qual na boa devoção popular o Rosário se estabeleceu, os senhores notam uma confiança nele que vai além dos simples méritos dos Padre-Nossos e Ave-Marias; vai além da simples excelência do método de meditação. Os senhores consideram que numerosas Ordens religiosas tomaram o Rosário como elemento integrante de seu hábito.
Quantas são as ordens religiosas em que os fundadores, quase sempre santos, quiseram que do hábito pendesse sempre o Santo Rosário. Quantas são as pessoas que movidas por uma graça do Espírito Santo, levam continuamente o Rosário consigo e que não o deixam nem de dia nem de noite, e que quando dormem o põem no bolso do pijama, ou em algum outro lugar, para estarem ligados ao Rosário. Quantas são as pessoas que têm o Rosário entrelaçado na cabeceira da cama! Quantas são as pessoas que têm enfrentado tentações, afugentando o demônio ao brandir o Rosário! Que confiança têm as pessoas simplesmente trazendo o Rosário consigo, põem à distância o demônio. O ódio misterioso que o demônio tem também contra o Rosário.
Há algo no Rosário que tem a força de um sacramental
Os senhores veem aí o fato de Nossa Senhora, em numerosas aparições, em Lourdes, por exemplo, Ela se apresentar trazendo o Rosário. Há no Rosário qualquer coisa de misterioso, é imponderável e que não se reduz ao simples termo do que se pode explicitar e que já é riquíssimo. Há no Rosário algo que tem um mistério e a força de um sacramental, e que faz dele um tal elemento para a perseverança na virtude e para a luta contra o demônio, que não é só o fato de se rezar o Rosário, mas o instrumento pelo qual se reza fica de tal maneira premunindo o homem, que muitos santos têm chamado o Rosário a arma mais decisiva contra o demônio.
Há no Rosário uma bênção que Nossa Senhora pôs e que a piedade dos fiéis entrevê, vislumbra, mas não sabe reduzir a termos definidos. E esta revelação de Catarina Emmerich ao menos dá uma parte da explicação. Nossa Senhora quis fazer do Rosário isto que está dito com muita propriedade no fim: “dessa maneira, o Rosário compreende, quer dizer, abrange, o Céu e a terra, Deus, a natureza e a história e a restauração de todas as coisas mediante o Salvador que nasceu de Maria”. Quer dizer, toda a Criação e a Redenção estão ligadas por um vínculo simbólico ao Rosário. É algo de imponderável, mas é algo de um valor enorme e que se trata de considerar para que nossa devoção ao Rosário seja cada vez maior.
Mas isto não basta.
Se Nossa Senhora quis reunir todos esses elementos simbólicos no Rosário, é evidentemente para uma visão de conjunto grandiosa. Porque considerem que o Rosário compreende o Céu, a terra, Deus, a natureza e a história, a restauração de todas as coisas mediante o Salvador! Quer dizer, tudo quanto há, toda a Criação e toda a Redenção, e o próprio Criador autor da Criação, tudo isso está representado no Rosário. O que significa que o Rosário tem algo de arquitetônico, é uma reunião de valores arquitetônicos, e que esses símbolos estão numa certa ordem para apresentar a verdade total, para apresentar o conjunto total de tudo quando Deus fez e mais ainda, uma concepção, uma consideração geral do próprio Deus. E assim dar aos homens uma visão global daquilo que se deve ter em consideração para se salvar.
O Rosário é um instrumento da Sabedoria de Deus
O Rosário é a sabedoria que vem de Deus, passa por Nossa Senhora e toca a quem o reza. E é, portanto, a arma daqueles que querem ser filhos da Sabedoria Eterna, que querem ser por isso os filhos de Nossa Senhora, que é Sede da Sabedoria. Com efeito, o que é a sabedoria? A sabedoria é uma virtude que nos faz ver não só esta coisa, aquela, aquela outra, mas o conjunto geral das coisas na sua ordem arquitetônica. É uma virtude de caráter intelectual eminentemente arquitetônica. E é através dessa sabedoria que se une a Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Sabedoria Eterna e Incriada.
Assim, tem-se no Rosário todos os valores que conhecidos. O valor do Padre-Nosso, a oração ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo; o valor da Ave-Maria, que é a oração tirada diretamente da saudação angélica; o Glória Patri, que é uma oração santíssima, que os Anjos cantam continuamente no Céu. Mas também se tem, relacionado a isso, a meditação dos mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo e da vida de Nossa Senhora. Há ainda mais uma riqueza misteriosa e fecunda em graças, que nos comunica uma visão arquitetônica de toda a obra de Deus e de toda a Religião Católica. Em suma, temos então no Rosário um manancial opulento de graças que sabemos e de graças que não sabemos, de maneira tal que tudo isso deve incutir nos fiéis desejos de cada vez mais sermos devotos do Santo Rosário.
Essa devoção ao Santo Rosário é de tal natureza que todo membro do “Catolicismo” deve considerar como normal rezar os três terços diariamente. Aquele que por capenguice, por uma deficiência qualquer não reza os três terços diariamente, esse deve considerar-se numa situação lamentável, deve deplorá-la e da qual ele, com toda força, deve procurar sair, de maneira tal a rezar o Rosário sempre, sem nunca parar um dia. O normal do membro do “Catolicismo” é que nunca dos nuncas ele deixa de rezar diariamente os três terços do Rosário.
Creio que já comentei aqui esse fato da vida de Santo Afonso de Ligório: estava muito idoso, talvez já com noventa anos, paralítico, tinha um irmão leigo para o servir e ele era guiado numa cadeira de rodas pelos vários corredores do convento para se distrair um pouquinho. Enquanto ele era conduzido por esse irmão leigo, às vezes rezava o Rosário e dizia ao tal irmão leigo: “Já rezamos os três terços do Rosário?” O irmão dizia: “Não sei se já foram os três ou se do terceiro terço falta alguma coisa. Mas o sr. está tão cansado, tão doente, pode perfeitamente deixar de rezar”… Ele dizia: “Não. Então, por via das dúvidas, vamos rezar tudo quanto está incerto”. E depois dizia o porquê: “Porque depende disso a minha salvação eterna. Se eu rezar o Rosário todo dia eu me salvo. Se eu não rezar o Rosário todo dia, eu não me salvo”. Isso era um santo, Doutor da Igreja, bispo e fundador. Agora, o que dirá de nós?…
Devemos ter o desejo ardente de rezar o Rosário todos os dias
Devemos, portanto, ter esse desejo ardente de rezar o Rosário todos os dias. Se alguém não rezá-lo todos os dias, dou uma recomendação: na parte do Rosário que reze, todos os dias peça receber a graça de rezar o Rosário todos os dias. Para quem reza o Rosário todos os dias, pedir a graça de não violar nunca essa regra. Tomar o Rosário em linha de conta semelhante à Comunhão diária. Comunhão diária é algo que não se perde, que não se deixa passar, não tem perigo. O mesmo cabe à oração do Rosário. Rezar sempre, todos os dias do ano não deixar de rezar o Rosário.
E depois, uma pequena recomendação que importa muito: não ficar jamais sem levar consigo o Rosário, mas tê-lo sempre no bolso. E isto enquanto estiverem dormindo, seja, qual for o modo. É bonito e piedoso o costume de ter o Rosário entrelaçado na cabeceira. Mas considero melhor ainda tê-lo consigo mesmo, sobre si, mesmo que o coloquem à maneira de um colar, no pescoço, ou o coloquem no bolso do pijama, ou o tenham de outra maneira qualquer, mas ter consigo mesmo. Porque é uma tal defesa contra as ciladas do demônio, um tal modo de atrair continuamente a proteção de Nossa Senhora, que realmente não conheço, nesse gênero, nada de melhor do que estar continuamente com o santo Rosário!
Nessas condições, vamos consagrar a nossa oração dessa noite a que Nossa Senhora nos dê a graça de rezar o Rosário diariamente, se ainda não temos esse hábito. Além disso, de perseverar nessa graça até o último alento de nossa vida, se já temos esse favor do Rosário diário.
Contra isso levanta-se, às vezes, um sofisma: “Dr. Plínio, eu não rezo o Rosário bem e por isso eu prefiro não rezar…” Isso é um verdadeiro estapafúrdio. Uma oração mal rezada por capenguice, por falta de capacidade de concentração, de atenção, pode valer aos olhos de Nossa Senhora absolutamente tanto quanto uma oração bem rezada. Mas vamos dizer que ela valha a quinta parte de uma oração bem rezada. Se o meu Rosário vale apenas a 1/5 parte do que devia valer, isso não é razão para rezar nenhuma. É razão para rezar cinco vezes mais. É claro! Pois se é absolutamente necessário que eu apresente a Nossa Senhora orações totalizando um “x”, então não posso dizer para Ela: “Sabe o que tem? É tão pouco que eu achei que não vale a pena eu rezar…”
É o contrário. É como quem tem um remédio. Vai ao médico e este diz: “Olhe, seu remédio é bom, mas está meio velho. A capacidade curativa dele está reduzida a um quinto”. Imaginem que os senhores, com uma dor muito forte, uma nevralgia por exemplo, os senhores dizem: “Ah! bom então mais vale a pena continuar doendo, porque se é uma só quinta parte…” Mas, pelo contrário, diz para o médico: “Não. Consiga para mim cinco vezes que eu tomarei cinco pastilhas de cada vez, mas eu liquido essa dor!…”
Assim, se nossas orações valem pouco, então rezemos mais e procuremos dar quantidade, já que não podemos dar qualidade. Porque há uma coisa que a gente não pode dar: é zero. Essa é a razão dos preguiçosos. Então, mais vale a pena dizer de uma vez: “Eu sou preguiçoso, eu não tenho coragem a não ser recitar uma jaculatória. Então, ó minha Mãe, que sois tão boa e tão compassiva, aceitai o reconhecimento que eu faço de minha preguiça! E se Vós sois o Refúgio dos Pecadores, sois o refúgio dos preguiçosos, porque é uma forma de pecado. Então, aceitai-me! Eu Vos ofereço a minha preguiça para entrar sob Vossa proteção”. E acrescentar uma jaculatória: “Nossa Senhora dos preguiçosos, dai-me a graça de vencer a preguiça!”
Isso eu compreendo: é a oração do publicano que bate no peito, que diz, realmente, eu sou mau, mas quero melhorar etc. etc. O que eu não compreendo são essas curvinhas torcicolosas: “Eu não rezo e sou zeloso da boa orientação, sou zeloso da oração, sou tão piedoso que não rezo…” Isso é uma brincadeira! Portanto, rezar o Rosário em todas as circunstâncias, em todas as ocasiões. É essa a recomendação que fica e a graça para ser pedida hoje.