Auditório São Miguel, 18 de fevereiro de 1984, sábado – Santo do Dia
A D V E R T Ê N C I A
Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Meus caros, é estranho, mas a noite de hoje, que representará a minha mais recente exposição feita em público, me faz pensar na primeira noite em que eu falei em público em minha vida. Já vos contei o fato, já vos disse que foi na Congregação Mariana de Santa Cecília, num grupo de jovens mais intelectualizados, que era dirigido por um Padre com dotes oratórios apreciáveis, Padre Roque Pinto de Barros, coadjutor da Igreja de Santa Cecília, que se adestravam em falar em público, para se habituarem depois a fazer discursos, conferências etc., nas reuniões católicas.
Eu nem sei se eu já estava admitido como congregado mariano, ou se ainda era noviço, quando eles me convidaram para falar. Eu imediatamente aceitei. Aceitei e não tive a menor vacilação sobre o tema de que eu deveria tratar. E o tema, para o gosto deles, estava errado. Para o meu estava certo.
Como nunca tinha falado em público, julguei que eu deveria fazer uma conferência escrita. Bati a conferência numa velha máquina “Hunderwood”, que eu creio que ainda se conserva em casa, e que pertenceu ainda a meu avô – era uma máquina quase tão antiga quanto a nau de Eduardo da Gama, pois era anterior ao meu nascimento.
Eu ali datilografei com desembaraço, com rapidez, o texto que eu devia levar, e me apresentei. Lembro-me ainda do salão da Congregação, estavam todos sentados em forma de círculo, eu entrei, alguém fez uma pequena apresentação de mim, como era o estilo. Eu nem me lembro mais quem me apresentou; eu me levantei e enunciei o tema. E notei que quando eu enunciei o tema houve um “gelo” no auditório.
Mas, eu tinha o meu texto escrito. E não tinha o hábito de falar assim em público sem escrever. De maneira que estava chumbado ao meu texto e não pude improvisar. Li o texto para eles, mas li com desembaraço. Eu fiquei apenas um pouco preocupado, vendo que eles não estavam gostando do tema. Mas eu li a coisa diante deles. Eles foram muito corteses, e eu tive essa honra – talvez o único prêmio que eu tenha recebido por oratória em minha vida – eu fui incorporado à Academia Jackson Figueiredo da Congregação Mariana de Santa Cecília.
Não me senti intimidado naquela noite. Eu vos confessarei que eu me sinto intimidado agora! Não será diante do auditório benévolo de filhos que eu tenho diante de mim. Mas é diante da cena magnífica que foi descrita há pouco. Tão bem descrita, mas sobretudo tão magnífica cena, que eu não teria o que dizer. Quando se aprofunda o conteúdo do episódio histórico, quando se pensa neste homem pecador, e gravemente pecador, que anda pelas areias níveas de uma praia nunca dantes por homem pisada, e chega de repente a uma clareira, onde ele vê um santo que se flagela!
A clareira, o santo… isso tudo é antecedido por uma confissão e um incidente sobre a penitência que não se pode imaginar como é que vai terminar, e aparece a cena da clareira, não se vê que vai ter relação com a penitência, e de repente a explicação: “Eu estou sofrendo por ti”. E o abalo que isso produz naquela alma de pedra!
“Como? ele está sofrendo tudo isso por mim? Confiteor”! e o coro canta “Confiteor Deo omnipotente”… que grandeza! que poder! que magnificência nesse episódio! E como tudo é pequeno diante de um fato como este!
São Francisco Xavier tirando do fundo do mar naus que naufragaram e fazendo-as subir e salvando seus tripulantes, me parece menos grande do que São Francisco Xavier penitenciando-se rudemente por uma alma brutal, sem imaginar que aquele homem iria vê-lo. E, de repente, colocado diante do fato de que seu penitente vê o sangue que ele está deitando aos borbotões, pode dizer ao penitente: “Esse sangue eu estou derramando por ti!” E este fato, este fato maravilhoso entre todos os do gênero, da alma de pedra, da alma de lama, da alma de asco, que vê aquilo, não tem o que dizer, cambaleia sobre suas pernas vigorosíssimas, mete os joelhos na areia e diz: “Padre, perdão!”
Para mim, arrancar isso de uma alma empedernida no pecado, é incomparavelmente mais espantoso do que tirar um navio do fundo do mar. Querem que eu diga mais? E de ressuscitar, se preciso fosse, a tripulação do navio inteira! A ressurreição de um morto, que grande coisa! Que grande graça! Que grande prova do poder e, portanto, da existência do próprio Deus! Mas, a conversão de um pecador e de um pecador sobretudo tão empedernido, que coisa imensamente maior!
Ó, o que é isto? Que coisa espantosa!
E quando eu estava cogitando coisas dessas, enquanto vós acabáveis de falar, enquanto o coro cantava, eu estava pensando o seguinte: para alguém se dar ideia da gravidade e da dureza do pecado, bastava pensar que pela vastidão da terra inteira, a Igreja canta coisas dessas. A Igreja convida, ou pelo menos – ó dor! – convidava os pecadores ao arrependimento dos pecados. Aquilo que é verdadeira Igreja ainda convida. E tem acordes como este para tocar o coração do pecador. O pecador ouve e não se incomoda. Ele é indiferente. Mais ainda: ele blasfema, porque ele acha isso insípido, acha tedioso, isso não lhe diz nada. Ele quer rock-and-roll, e daí para baixo. Isto fala para a alma miserável dele.
Depois de uma recusa dessas assim, da voz da Igreja, esse pecador de repente sentir-se tocado pela graça, ajoelhar-se e dizer: “Confiteor…” Ah! isso vale muito mais do que todo o resto!
Se os senhores querem considerar a dureza do pecado até o fim, não precisa outra coisa senão o seguinte: a dureza dos homens diante de Nosso Senhor Jesus Cristo. São Francisco Xavier terá sido, foi certamente, tudo quanto foi. Vós o dissestes há pouco, foi uma verdadeira maravilha da graça de Deus. Mas qual é a maravilha da graça de Deus que se compara com Deus, autor da graça? Qual é a maravilha da graça de Deus que pode sustentar paridade com o Homem-Deus?
Nem sequer a obra prima das obras primas, tão perfeita que nunca nenhum homem conseguirá sondar toda a sua grandeza, Nossa Senhora, nem Ela tem paridade com seu Divino Filho! Tanto mais qualquer outro santo, por excelso que tenha sido. Está bem, o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo aparece diante dos homens maculados pelos pecados, e o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo ensina para eles coisas tão maravilhosas, que evidentemente nunca ninguém disse nada de igual a eles, nem como santidade, nem como sabedoria, nem como força, nem como beleza.
Tomem a mais simples das parábolas evangélicas; o mais simples dos princípios de moral, evangélicos; a mais misteriosa das revelações a respeito de Deus. Os senhores encontram ali uma beleza e uma grandeza, que a palavra humana não é capaz de descrever.
Além dessa pregação, Ele tinha algo que é indizível: era a sua ação de presença! Ele estava presente. Os senhores já imaginaram o que é Ele ser visto, o olhar d’Ele pousar no da gente, o que pode ser uma coisa dessas? O olhar d’Ele penetrar na gente até o fundo no olhar? E nós, nesse momento, tanto quanto nos é possível penetrar n’Ele, e vermos como é a mente d’Ele? Tanto quanto nos é possível, dar alguns passos na entrada desse santuário incomparável que é Ele?
Bem, além disso, milagres que atestam uma bondade sem nome, atestam um poder sem nome, e milagres em quantidade, dos mais espantosos. Desde a transmutação da água em vinho, até a ressurreição de Lázaro, há quatro dias na sepultura, “já cheira mal”, disse sua irmã, objetando contra a ressurreição. “Senhor cheira mal, Senhor. Como é que vai ressuscitá-lo?” Ele afastou e disse: “Lázaro, sai!”
Os inimigos todos ali em volta. Eu imagino ruídos na sepultura e terror dos inimigos. A sepultura se abre como se fosse uma cortina. Os panos funerários em que os judeus envolviam os seus mortos, caem; Lázaro está na sua túnica e olha para Deus. Olha para Nosso Senhor e diz: “Domine!” Ele diz: “Lázaro”… E saem os dois juntos!
Tudo isso os judeus viram. De tudo isso eles tinham conhecimento. A dureza do pecado chega a tal ponto, que se dá a confrontação para todo o sempre célebre na história das infâmias e na história dos pecados: Pilatos, para ver se salva Nosso Senhor, diz: “Eu tenho o poder de indultar alguém. A este Homem – que era Nosso Senhor – ou a este outro – Barrabás,” um bandido que constituía perigo para toda a população da cidade, um bandido que toda a população da cidade tinha em horror.
Estava, portanto, a personificação da santidade, de um lado; estava de outro lado, uma das expressões mais requintadas da ignomínia. Pergunta: “A quem querem que eu salve?” Resposta: “Salve Barrabás! “A Este, “tolle, tolle, crucifige – toma, toma e leva embora, crucifica!”
A infâmia pode chegar mais longe? Na história das infâmias pode-se chegar mais baixo? Pode-se! Dir-se-ia que não se pode. Pode-se! Essa infâmia foi de um homem a quem foi dada a honra incomparável de oscular a face de Nosso Senhor Jesus Cristo. O homem cujo nome passou a ser sinônimo de maldição: Judas Iscariotis.
Mas quando a gente pensa que a dureza do pecado chega a tal ponto, que colocada entre Nosso Senhor Jesus Cristo e Barrabás, um pecador prefere Barrabás – e provavelmente entre estes que preferiram Barrabás estavam pessoas que Ele curou! Pessoas que se desvaneceram com as lições d’Ele e que O seguiram largamente ao longo do mar de Tiberíades, e que depois preferiram Barrabás – a gente compreende qual é a dureza do pecado. Compreende qual é a maldade do pecado. E quando o homem se afunda no pecado, até onde ele pode cair!
Só isso? Não. Como dói dizer. Mais ainda. Esse pecado tem um prolongamento até não se sabe quando, porque o povo judaico, naqueles de seus elementos que não aceitaram a Nosso Senhor Jesus Cristo como Homem-Deus, que ainda hoje não aceitam Nosso Senhor Jesus Cristo como Homem-Deus, continuam nesse pecado. E continuarão até o momento misterioso da História, em que Deus, para cumprir as suas velhas e sacrossantas promessas feitas a Abraão, ainda converterá os próprios judeus. Até lá vai a maldade do pecado.
E por isso eu digo que comover uma alma assim, abalá-la, fazer com que ela resolva deixar o pecado e entrar pelo caminho da virtude, é coisa que vale muito mais do que tirar um navio do fundo do mar.
Quem não o vê? Quem não entende? Se fosse preciso vê-lo e entendê-lo os senhores teriam diante de si. Realmente o mundo inteiro, o mundo contemporâneo, está todo ele atolado dentro do pecado. E ele ao mesmo tempo está atolado no caos, na desordem e na infelicidade. Todo mundo o vê. E é facílimo provar para cada um que a causa disso é o pecado.
Basta empregar o famoso argumento de Santo Agostinho, imaginando um país ou um reino, onde todos cumprissem os Mandamentos da Lei de Deus, e que seria um reino perfeito; comparar com isso que nós temos diante de nós, e nós compreendemos que a causa é porque não se cumprem os Mandamentos.
Toda essa desgraça tem essa causa. O homem tem as máquinas mais poderosas; os recursos científicos mais eficazes; os meios de comunicação mais rápidos; a ciência médica mais perfeita; homem…, ele tem um cúmulo de coisas que podem dar a felicidade na terra, incalculável. Uma coisa ele não tem: ele não pratica os Mandamentos. Enquanto ele não praticar esses Mandamentos, uma maldição baixa sobre tudo isso, e tudo isso atormenta o homem!
Com um pouco de tirocínio, qualquer um dos senhores – meus queridos “enjolras” (jovens, n.d.c.) de 15 anos, 16 anos – com um pouco de tirocínio, aprendem a dizer isso a qualquer pessoa. E dizendo isso a qualquer pessoa, qualquer pessoa entende. Qualquer pessoa se converte? Eles estão vendo o castigo, onde é que esta a conversão?
Não é só isso. As coisas chegaram em nossa época, a um ponto extremo tal, que nós corrompemos aqueles que foram mandados para nos salvar. E nós presenciamos que a sociedade contemporânea corrompe os próprios sacerdotes que foram mandados para salvá-la. Ela é agente de morte para aqueles lhe vieram trazer a vida. E não são muitos os que se excetuam desta triste regra geral.
Então, qual é a dureza do pecado? Qual é a maldade do pecado? Meus caros, qual é a sublimidade da confissão? Esse é o tema sobre o qual eu devo tratar hoje à noite.
Confissão. Vamos com simplicidade, como São Francisco Xavier entrou na clareira, vamos nós entrar nesse tema, e vamos com simplicidade começar por perguntar: o que quer dizer confissão? Por que a palavra “Confissão”?
Confissão o que é que é? A palavra confissão associou-se de tal maneira ao Sacramento que quando uma pessoa diz: “Eu confesso que”, ela no fundo está declarando uma falta, uma lacuna. A pessoa dirá: “Eu confesso que não sei tal língua; eu confesso que tive um lapso e cometi uma falta de educação; eu confesso que deveria ter feito tal coisa e não fiz”… fora da confissão, na linguagem comum. “Eu confesso que”, se diz às vezes. Mas sempre se diz para indicar uma falta, uma lacuna, por pequena que tenha sido. Mas a indicação da falta parece chumbada na ideia de confissão.
Entretanto, se chama “Confessor da Fé”, um homem que durante a vida inteira afirmou a Fé Católica. Por que será que ele chama confessor? Por que ele ouviu muitas confissões? Não, porque muitas vezes ele não é padre. Então não ouviu muitas confissões. O que é um confessor da Fé? Um confessor da Fé, o que é confessar? O Credo é muitas vezes chamado a confissão. O que é que há de comum entre o confessor da Fé, o Credo, um homem que se confessa e o padre que ouve a confissão? O que é confessar?
Vamos tomar a palavra – e os senhores gostam das etimologias; gostam das palavras que a gente espreme para que delas saia o suco do sabor – vamos tomar a palavra e vamos perguntar-nos o que é que vem a ser então confissão.
Confissão é declaração; é afirmação, é proclamação. Confessor da Fé, é o homem que proclamou a Fé! Que declarou a Fé, esse é o confessor da Fé.
O indivíduo que diz: “Eu confesso que fiz tal coisa, tal outra”, na linguagem comum, ele declara uma coisa que mais bem estaria oculta. É um pequeno defeito que mais bem a pessoa ocultaria. Por que é que o Credo é confissão? É confissão porque é a declaração daquilo que o homem crê. É a lista dos pontos que constituem a sua religião. Então, ele faz a declaração.
“Eu declaro que: Creio em Deus Padre Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra…” Ele proclama! E este é o sentido garboso, o sentido altivo da palavra confissão.
Bem, tem também esse outro sentido: eu declaro que pequei. E esse sentido que tem um entroncamento com os outros sentidos, esse sentido está longe de ser desprovido de solenidade. Eu declarei, eu declaro a quem? A quem é feita essa confissão?
Confessionário: aquela caixa de madeira, ora mais bem construída, ora menos bem construída; ora mais luxuosa, ora mais modesta, conforme as possibilidades da igreja, da paróquia, em que a gente entra; são três compartimentos, está o padre no centro, de um lado está um penitente, de outro lado está outro penitente.
E o padre ouve a confissão. Dir-se-ia que é uma coisa íntima, diretamente da boca do pecador para o padre. É um cochicho. O que é essa declaração? Parece não ter nenhuma solenidade. Mas, o Confiteor diz o contrário. Confiteor Deo Omnipotenti: eu declaro diante de Deus Onipotente, diante da Bem-Aventurada Virgem Maria, de São João Batista, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a ti padre, que eu pequei muitas vezes por cogitações, palavras e obras, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa!” É a declaração!
Mas a declaração é soleníssima. Porque se põe o homem na presença de Deus, certo pela Fé de que naquela hora Deus está ouvindo o que ele diz. Deus, no alto do seu trono, e aquela criança de 6 anos, de 5 anos que está fazendo a sua primeira Confissão, Deus está como diante de um tribunal, e a criança está ali ajoelhadinha, e diz diante de Deus, tal coisa, tal coisa, tal coisa… Será uma ninharia! Poderá não ser hoje em dia… Será uma ninharia, mas tem seu alcance moral.
E como o menor pequeno pecado tem alcance moral, é justo que se peça a Deus que esteja presente diante desta declaração. E a criança pequena, fazendo-se pequena, dobrada… “Eu fiz tal coisa, eu fiz tal outra coisa”. Como se não bastasse Deus onipotente, a Bem-aventurada Virgem Maria… Os senhores já pensaram o que é confessar um pecado na presença da Bem-aventurada Virgem Maria? Os senhores já pensaram se Nossa Senhora aparecesse de repente, a gente dizer a Ela: “Minha Mãe, eu fiz tal coisa, tal coisa…”
Ela, com aquela pureza, com aquela santidade imaculada, baixar os olhos que estavam voltados para Deus, e voltar para nós, o que é que nós sentiríamos nesta hora? Conforme o momento, a situação, vontade de abrir um buraco e entrar no chão, para lá debaixo falar, de tal maneira nos sentiríamos indignos da presença d’Ela.
Do Bem-aventurado João Batista! Bem-aventurado João Batista, que Nosso Senhor Jesus Cristo chamou de um anjo, chamou de Elias, a esse, diante desse, que é tão contrário a todo pecado, que foi morto porque denunciou o pecado de Herodes, foi morto por causa disso. Diante do Bem-aventurado João Batista, diante dele eu contar o que eu fiz.
Dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo! Pedro, fundador da Igreja; Paulo, o apóstolo dos povos pagãos, dos povos do mediterrâneo. Diante deles todos eu me inclino, confesso que pequei muitas vezes etc., etc.
E o padre diz: “Quais são todos seus pecados?” Na hora em que o padre diz isto, o padre não é apenas o padre. Não é apenas um homem qualquer que está ali, mas é o ungido de Deus, o sacerdote que tem o poder das chaves, que recebeu esse poder de seu bispo, que recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele tem o poder das chaves, e pode absolver os pecados, e ouve aquela confissão. E o padre que depois de ouvir a Confissão, dar o conselho e diz: “De inde (em consequência) ego te absolvo a peccatis tuis”. Eu te desligo – “Absolvere” é desligar – eu te desvinculo de teus pecados, essa carga imunda que pesava sobre ti, joga-a longe, a misericórdia de Deus a perdoa. In nomine Patris et Filii, et Spiritui Sancti, Amen. Como penitência, reze tal coisa, tal coisa, tal outra coisa”. Está terminada a confissão…
Quando o padre diz “Ego te absolvo a peccatis tuis”, de tal maneira ele representa Nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a expressão dos teólogos, ele empresta a laringe dele para Nosso Senhor Jesus Cristo falar por ele. De tal maneira é Jesus Cristo que fala, que esse “Ego”, eu, quer dizer Jesus Cristo! E a tal ponto, que se o padre, em vez de dizer “Eu”, quer dizer, “Eu Cristo, te absolvo”, o padre dissesse: “Jesus Cristo te absolve”, não haveria confissão, porque não haveria absolvição. Não haveria perdão.
Quer dizer, o padre é Jesus Cristo que fala pela voz do padre. E Jesus Cristo não diria de si mesmo “Jesus Cristo te absolve”. Portanto, quando o padre diz “Jesus Cristo”, Jesus Cristo não está falando. Jesus Cristo só está falando quando o padre diz “Ego”, Eu! “Eu te absolvo, te perdoo, te desvinculo dos teus pecados, em nome do Padre, do Filho, do Espírito Santo, Amén.”
É como se uma montanha de imundícies afundasse no inferno, e aquela alma ficasse limpa. A alma sai do confessionário e vai rezar a sua penitência, ou vai cumprir a sua penitência.
Os senhores percebem facilmente por aí a grandeza, nesse sentido da palavra, verdadeiramente divina do sacramento da Confissão. E o belo é que, como o homem habitualmente não tem força para cumprir duravelmente os Mandamentos, com essas palavras do padre baixa sobre a alma uma graça. Essa graça dará ao homem uma força que a natureza humana não tem. E que torna o homem capaz de batalhas morais que o homem, por sua natureza não travaria. De maneira que, cada pessoa que sai do confessionário é um herói que se levanta, para travar uma batalha de que o homem não é capaz.
Pode ser a mais encurvada e corcundinha das velhinhas, arrastando as pernas; pode ser a mais incipiente e a mais elementar das crianças; pode ser o homem maduro mais cheio de responsabilidade e também, tantas vezes, de pecados – seja o que for, quando ele se levanta, ele se levanta com graça suficiente, com força suficiente para não pecar mais, ainda que sejam prodigiosas as batalhas que ele tenha que travar.
Naturalmente isso não é automático. Muitas vezes ele recebe graça para rezar, de maneira que rezando, ele obtém graça para não pecar. Não basta só ter se confessado. É preciso rezar, é preciso empregar os meios necessários, evitar os maus olhares, evitar os maus pensamentos, as más companhias etc., etc., empregar todos os meios que os senhores conhecem. É preciso empregar tudo isso. Mas a força para empregar tudo isso, ele recebe na confissão.
E a sua alma, até há pouco imunda, está pronta para a maravilha das maravilhas: recebe a visita de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor Jesus Cristo sob as espécies eucarísticas, vem e habita nele. Quer dizer, graça maior, graça mais magnífica não pode haver do que essa. Essa graça entra na alma dele. A presença de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesse gênero, graça maior não há.
Os senhores veem a Confissão, a que maravilhas abre caminho!
Mas nas coisas desse vale de lágrimas, a entrada de todos os jardins das maravilhas é um portão no qual está escrito o “mas”. Há sempre uma dificuldade, há sempre um problema, há sempre uma questão. Tudo isso o homem recebe quando se confessa. Basta ele declarar todos os seus pecados? Precisa que declare a todos os seus pecados; precisa, portanto, que conheça todos os seus pecados; precisa que ele conheça as circunstâncias agravantes de seus pecados; e precisa que tenha arrependimento de seus pecados.
É preciso que esse arrependimento seja por amor de Deus, ou que seja pelo menos pelo temor do inferno. Se ele não tiver essas disposições, a confissão pode ser, conforme o caso, nula ou sacrílega. E todas essas maravilhas estão fechadas para o pecador. E aqui está o mais difícil. E para mim é uma das maiores manifestações do poder sobrenatural da Igreja católica, é que a Confissão tenha chegado a ser dentro da Igreja um ato de rotina.
Levar um homem a esta lealdade de alma, em que ele toma os 10 Mandamentos e considera toda a perfeição moral que há nesses 10 Mandamentos – tanto quanto sua inteligência dá para isso – e diante disto ele toma a sua conduta e faz o exame de consciência. Toma Mandamento por Mandamento e pergunta: “Aqui minha conduta foi exata, foi boa?” E se lembra de tudo o que medeia entre a última confissão e aquela e se se examina em todos os pontos e tira conclusão: “Aqui pequei, e esse pecado foi grave, e eu mereceria o Inferno! Ah, meu Deus, eu mereceria estar torrando no inferno; e mais esta razão, e mais outra; e por outra razão um pecado venial, eu deveria estar no Purgatório, e Deus me manteve em vida. ó quanta bondade d’Ele! Mas daqui até a hora de confessar eu posso morrer, eu posso morrer num acidente de trânsito enquanto eu for para a Igreja! ó de mim! Não é a morte, não é sepultura que me espera. É o inferno que me espera! Conforme forem as circunstâncias de minha alma, é o inferno que me espera!”
Como as pessoas andariam com cuidado nas ruas, sabendo que é o inferno que as espera, e não apenas o cemitério, e não apenas o purgatório! E mesmo o purgatório, se elas pudessem medir o purgatório e pensar: “evitando um desastre agora, eu me confesso e evito um purgatório que é de ficar, por exemplo, 60, 70, 100 anos numa fornalha torrando”!
Como as pessoas andariam mais devagar. Eu acho que a gente reconheceria pelos passos da pessoa na rua, se ela vai ou não vai confessar.
Mas, como ao orgulho humano é desagradável reconhecer que o homem pecou! Porque ele reconhecendo que pecou, ele reconhece que nele existe uma raiz de mal que deu naquilo; que a causa daquele mal está nele, e que ele portanto é o culpado.
Como diz o Confiteor, “pequei muitas vezes por pensamentos, palavras e obras, por minha culpa, por minha culpa, por minha máxima culpa!” Quer dizer, eu fui o culpado! O mal está em mim. Eu fiz isto, e eu me torne execrável por ter feito isso. E, ó meu Deus, eu compreendo e me execro!”
Eu me humilho e digo: “Eu realmente preciso declarar isso”. Vou logo ao padre, me ajoelho e me confesso. Mas, sabendo bem que em mim há essa raiz de mal, que se eu não prestar atenção, logo depois essa raiz de mal vai começar novamente a produzir frutos, e que minha vida é uma batalha contra mim mesmo.
O pior inimigo de Plinio Corrêa de Oliveira, não é nenhum maçom, não é nenhum comunista, não é nenhum progressista, não é nenhum esquerdista-católico! O pior inimigo de Plinio Corrêa de Oliveira, são os lados ruins de Plinio Corrêa de Oliveira!
E ou eu tenho isso claramente em vista ou eu me deixo derrotar. Mas isso que é comigo, é com cada um dos senhores que estão aqui nesta sala. O seu pior inimigo está dentro de si mesmo.
Os senhores dirão: Ah! eu sei, é o demônio. Eu digo: “devagar; é o demônio, mas não acuse o demônio além do necessário. É você! Você que foi concebido no pecado original, e por causa do pecado de Adão e Eva, herdou um desequilíbrio na sua natureza, por onde você tende para o mal, e tem uma desordem inviscerada em si. É você que tende, conforme a má construção de sua pessoa, tende continuamente para determinadas coisas más. E ou você presta continuamente atenção em si, nesse corpo-a-corpo contra si que não pára um só minuto, ou você faz isso, ou o derrotado é você”!
Que o homem tenha isso bem claro diante de si, ele tem condições para esperar muito que ele salvará a sua alma. Se ele não tem isso bem claro diante de si, a salvação de sua alma corre risco…
Aí está meus caros, o exame de consciência. Mas o exame de consciência que não é assim uma listinha de pecados que a gente faz, para não esquecer. Supõe uma ponderação, um peso, uma pesagem bem feita, uma avaliação bem feita de todo o mal que a gente fez.
E supõe depois, que a gente então faça a declaração ao padre, ou seja, a confissão ao padre, do mal que fez.
Então, feita a confissão, pode ser absolvido e pode se salvar. Mas é preciso fazer… [o Sr. Dr. Plínio bate na cadeira] esse exame de consciência claro, honesto, transformar-se num hábito, por onde a pessoa normalmente se confessa bem, isto é o elemento fundamental de toda vida espiritual.
Os senhores dirão: “Mas Dr. Plinio, isso para mim é meio abstrato. Por que como é que eu posso saber se eu de fato me examino bem na confissão?”
Eu digo, meu caro, vou lhe dar um critério. Quando os outros te censuram, e você é capaz de receber essa censura com tranquilidade, até com gratidão, e depois se examina, não se zanga – você está em condições de fazer um bom exame de consciência.
Quando, pelo contrário, com qualquer censura você fica furioso e tem vontade de dizer: “Você também tem tal defeito assim… Se eu tenho você também tem”; com até vontade de mentir: “eu não tenho tal defeito, eu não disse tal coisa…” – eu duvido que seu exame de consciência seja bem feito.
Porque uma pessoa que não é capaz de ouvir uma censura merecida, é capaz de se censurar a si mesmo? Não sei se querem que eu repita?
Bem, então é isto: se eu me irrito tanto com qualquer crítica que me é feita, eu não posso me criticar bem, porque eu começo a me criticar e me irrito. E mais ainda: das críticas feitas contra mim, a que mais irrita é a que é feita por mim! Porque me arranha. Eu dizer para mim mesmo: “Você fez tal coisa!” Me arranha. Ou eu ouço muito bem, e de muito boa vontade a crítica que me é feita, ou eu não examino bem minha consciência. O hábito de ouvir bem as críticas, e de agradecer, dizer: “Muito obrigado”.
O hábito de não alegar atenuantes… Alguém me diz: “Plinio, você fez tal coisa”. Eu vou e digo: “Bom, mas tem tal coisa que atenua…” Fique quieto! Suas atenuantes, Deus conhece. Aproveite a ocasião para se humilhar, para depois seu exame de consciência, quando você diante do olhar de Deus estiver se examinando a si próprio, sair bem feito, importa em que você receba com mansidão também uma crítica injusta.
Então, alguém chega e diz: “Você fez tal coisa”. Eu sei que não fiz, eu fico quieto. “Jesus autem tascebat”. Jesus, entretanto, se calava. Pode ser um grande ato de virtude. Ficar quieto, não é assim, com olhos terríveis para quem está acusando: “Esse bandido, qualquer hora eu pego a ele na esquina. Eu agora vou ficar quieto, mas quando eu pegar a ele na hora da rasteira, ele vai ver! Eu já sei. Tal hora ele faz tal coisa mal feita, eu vou pegar a ele…” Não valeu nada, não valeu nada!… É receber com serenidade. Inclusive a acusação injusta.
Porque quem não é capaz de receber em paz uma acusação injusta, dificilmente recebe em paz uma acusação justa, dificilmente.
Então, nós devemos receber com tranquilidade uma acusação injusta. Não dizer nada e tocar a vida para frente, não há nada, vamos para a frente.
Há casos em que nós devemos nos defender. Quais são os casos em que nós devemos nos defender?
É quando nos acusam de ter feito uma coisa boa! O que eu disse pode parecer um paradoxo. Como é que vão nos acusar de ter feito uma coisa boa? Está cheio aí fora! Quanto nos acusam de nós cumprirmos os Mandamentos! Quanto nos acusam, por exemplo, de nossa castidade.
Nesta hora, nós devemos levantar alto o pendão dos princípios! Mas não é para defender nossa pessoinha, é para defender o princípio!
Alguém dizer: “É ridículo, você é casto”. Eu não vou dizer “eu não sou ridículo”. Eu devo dizer: “A castidade é uma grande virtude!” Que eu seja ridículo ou não aos olhos daquele homem ou de qualquer outro, não tem importância. Tem importância que ele não fale mal de uma virtude que está no Evangelho, de uma virtude que faz parte dos Mandamentos da Lei de Deus! Pela honra de Deus eu protesto!
Há ocasiões em que nós somos acusados de algum defeito, e devemos nos defender por causa da honra do nome católico.
Se nos acusam de uma coisa que nós não fizemos, e fica mal, sabem que nós somos católicos, e fica mal para o nome católico que nós tenhamos feito isso, nós temos obrigação de dizer: “Não, tenha paciência, isso eu não fiz. Não fiz e vou oferecer as provas; e conforme o caso vou provar que você está me caluniando”. Aí é bem. Mas é sempre para defender a honra da Igreja, a honra do nome da gente enquanto um valor da Civilização Católica, aí está bem. Mas nunca como uma defesa do amor-próprio.
Com o amor-próprio, o homem tolera qualquer coisa; do lado dos princípios, ele não tolera nada. Ele pula como um leão!
Mas aqui entra outra regra que não falha: o homem que defende princípios, só por amor aos princípios, é um homem humilde. Acusado pessoalmente ele ouve com calma. O homem que pula quando é acusado, não se levantará na hora de defender princípios. Ele se acovarda, tem respeito humano e fica quieto.
E os srs. percebem bem isso na vida do Grupo. Habitualmente, quando o indivíduo tem mau gênio dentro do Grupo, estejam certos que diante dos inimigos da Igreja ele é um covarde. Pelo contrário, se ele tem bom gênio, é fácil de trato, é agradável, esse tem possibilidade de ser um herói. É uma regra que dificilmente se escapa.
Eu não queria, portanto, recomendar essa mansidão de modo indiscernido, de um modo em que não coubessem os matizes adequados. É preciso notar bem como é o matiz de cada coisa. Mas, posto o matiz, os senhores têm então, agora num olhar de conjunto, a beleza do sacramento da penitência.
Os senhores têm a beleza assim: a alma que começa por ter – é um pecador que sabe que pecou e que não tem arrependimento do seu pecado. Mas alguém rezou por ele, no Céu ou na terra. Rezou por ele, no Céu ou na terra. Pelas orações de quem rezou, sobretudo pelo Sangue de Cristo e pelas lágrimas de Maria que foram derramadas por nós no alto do Calvário, bem, por esta razão, o homem em certo momento é tocado pela graça.
E é quando a gente menos imagina, ele se sente tocado, ele começa: “Eu não andei bem, eu andei mal, eu me arrependo”; fica inquieto etc. Aquele Mandamento que para ele estava inerte, começa a tomar vida, e ele se entusiasma. Ele resolve: “Eu vou romper com isso!” Bem, então, ele começa a examinar tudo e vê todos os seus pecados. E aí diz: “Eu quero me confessar, eu preciso contar isso a alguém!”
E depois da Confissão… Quer dizer, os senhores estão vendo que houve um exame de consciência e houve uma dor pelo exame de consciência. Depois da dor, houve o propósito de Confissão. Ele declara ao padre. O padre ouve, e dá um conselho. Dado o conselho, o padre dá a absolvição e dá a penitência. Está completa a Confissão!
A dor pode ser por duas razões diferentes. Há homens que têm dor porque amam a Deus e têm tristeza de ter pecado contra Ele. Há homens também que não amam a Deus suficientemente para ter essa tristeza, mas têm pânico do inferno. Propriamente o perdão é adequado para quem ama a Deus, e por amor d’Ele se arrepende.
Quem por medo do inferno se arrepende, e não por amor de Deus, esse de si não poderia ter perdão. Mas como no temor do inferno há uma certa raiz de amor de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo supre com Seus méritos e abre a porta do Céu para este.
Mas os senhores sabem qual é o resultado? O resultado é o seguinte: é que quando uma pessoa está mal à morte, e tem o arrependimento de seus pecados e não dá tempo de chamar o padre, se o arrependimento é por amor de Deus, a pessoa pode morrer tranquila; se o arrependimento é por temor do inferno, é uma coisa terrível, porque de fato, se não receber absolvição, vai para o inferno!
E os senhores compreendem aí a necessidade de nós rezarmos sempre para termos uma boa morte. E porque na Ave-Maria se diz: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém“. Porque o homem muitas vezes não sabe ver claro em si se ele está se arrependendo por medo do inferno ou por amor de Deus. E como é que quando ele sente em si que a vida o está abandonando e de uma hora para outra a sua alma lhe escapa. Como é que é? Está entre o Céu e o Inferno, e ele não sabe o que está lhe acontecendo?
Os senhores tomem em consideração que as almas que estão em risco de morrer, essas almas são muitas vezes tentadas pelo demônio, gravemente, e não têm certeza sobre se estão resistindo bem. E às vezes não tem certeza sobre se, se não estão resistindo bem, o arrependimento é por temor do inferno ou por amor de Deus. E agora, como é que é?
Os senhores dizem: “Chama o padre!” Às vezes o doente está mudo, e não tem meios de mover nem um braço para exprimir nada. Em torno dele a família está chorando, ele está totalmente paralítico. O mundo está cortado para ele. É assim, é assim…
Há doentes que passam 10 anos, 15 anos, mais, completamente paralíticos, não podem virar nem sequer os olhos. Sabe-se que estão em vida porque veem, o médico ausculta o coração etc., está tudo funcionando. Do contrário não se sabe. É uma coisa tremenda. Na hora da morte pode haver isso. Os senhores compreendem como o demônio tenta de desespero nesta hora. E quanto perigo existe na hora da morte. E quanto nós, portanto, temos que preparar a nossa alma, não só para a Confissão, mas para esse último momento também.
“Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém”. Na hora de nossa morte, Amém. Quanto isso é importante!
Os senhores compreendem bem como, portanto, o nosso futuro é incerto. E que nós que nos dedicamos a viver pela Religião, como devemos viver com cuidado, porque como tudo isso é grave, como é santo, como é belo!
Alguém dirá: “Dr. Plinio, eu fico aterrado”.
Eu digo: Meu filho, é uma ingratidão. Porque quando você pensa que no fim de todo esse caminho, afinal, você fechando os olhos, e sua alma se desprendendo do corpo, você encontra, se morrer em graça, afável, bondoso, o próprio Cristo que lhe diz: “Eu sou a tua recompensa demasiadamente grande!” E começa Nossa Senhora a sorrir, começam os cânticos celestes, e a alma é introduzida no Céu para uma felicidade sem fim – os senhores compreendem que toda essa eternidade para uma luta que só terá durado 50, 70, 80, 90, digamos 100 anos, só 100 anos diante de toda a eternidade, como isso não é nada, e como Deus foi bondoso!
Nós devemos nos lembrar que por cima de tudo quanto eu disse, paira a oração de Nossa Senhora, que como Mãe nos acompanha passo a passo; e que quando nós estivermos nessas situações… nesta sala é possível que alguém esteja completamente sem falar antes de morrer. É possível! É possível até que seja mais de um. O que fazer?
Há sempre uma possibilidade de falar! É dizer: “Salve Regina, Mater misericordiae! Eu não vejo saída, ó minha Mãe. Mas Vós sois Mãe minha, mas Mãe de Deus. Vós podeis tudo junto a Ele. Vós sois o meu caminho. Maria fons, Maria mons, Maria pons: Maria fonte da graça; Maria montanha do alto da qual eu posso desvendar os mais belos horizontes; Ela é a ponte que me leva ao Céu!”
A devoção a Nossa Senhora ilumina o que há de grandiosamente sombrio em tudo quanto eu disse.
Então, meus caros, nós estamos no momento de dizer “Salve Regina, Mater misericordiae, vita, dulcedo, spes nostra, Salve!…”
(Fatinho!)
Fatinho… eu creio que já contei aqui a minha primeira confissão, não?
(Não!)
A minha primeira confissão foi assim. Eu ia fazer minha primeira comunhão. E eu estava bem instruído sobre o que era pecado, o que não era etc. Eu tinha tido uma instrução catequética comum, boa, tinha prestado atenção naquilo, estava equipado para me confessar bem. Mas havia uma coisa que eu não entendia bem: é que me disseram que, o padre disse, ou a professora de catecismo, disse que a pessoa deveria “chorar” os seus próprios pecados.
E eu deduzi daí que eu devia chorar a propósito dos meus pecados. E eu, que era muito chorão quando era menininho, assim, 2, 3 anos, depois, naturalmente deixei de ser chorão. Eu examinei aquilo e disse: “Bom, eu me arrependo, não deveria ter feito etc., vou me confessar. Mas há uma “maçada”: é que eu não chorei ainda pelos meus pecados. Então vou experimentar chorar. Porque se eu chorar está tudo feito. Sai-me umas lágrimas, está tudo feito. Se não sair a lágrima é um imbróglio, como é que eu vou me arranjar? Eu não choro!”
E toca a pensar nisso, naquilo, passos da Paixão de Cristo, considero um santinho… Lágrima, nenhuma!
A fräulein: “Plinio, chegou a hora da confissão!” Era na véspera da primeira Comunhão, para tudo ser feito com calma. “Chegou a hora da confissão. Você, sua irmã, sua prima, vão agora comigo para igreja de Santa Cecília (a pé e em passos grandes que eram os dela, e nós correndo atrás o quanto possível; eu sem bom humor!) vamos à Igreja de Santa Cecília para confissão, já está marcado, o padre vai atender a confissão das crianças nessa hora”.
Disse: “Eu agora como é que eu vou me arranjar? Se eu vou contar para essa fräulein aqui que não estou chorando, ela vai fazer um “tempo quente” comigo, mas eu não choro nem com isso. Vai ser pior. Pensei: quem sabe se eu, chegando à igreja, eu me comovo com o ambiente da igreja e choro lá…” Entrei lá, e disse para ela: “Preciso rezar um pouco”. Ela: “então reze”.
Ela ficou sentada numa cadeira, creio que até lendo um livro, não tenho certeza, enquanto eu fui a uma imagem de Nossa Senhora que há lá ainda até hoje, do lado do Evangelho, e rezei. Nada de chorar. Fui para ela, ela me disse: “Você se arrependeu de seus pecados?” Eu disse: “Não senhora…” Eu com uma cara de um homem, assim, não sei, de um homem péssimo, que não tem arrependimento de seus pecados.
Ela foi sumária, fez assim com o dedo: “Uma Via Sacra”. Eu disse: “Bom, quem sabe se dessa vez…”. Faço a Via Sacra com todo o empenho, nenhuma lágrima!
“Fräulein, eu fiz a Via Sacra”. Ela me olha assim e diz: “Você se arrependeu?” Eu disse: “Não senhora”. – “Outra Via Sacra!”
Digamos que tenham sido três Vias Sacras, uma coisa assim, em seguida. “Você se arrependeu?” Disse: “Não senhora”.
“Está bom, então vá contar para o padre qual é o estado de sua alma”. Eu disse: “Mas é mesmo, não tem remédio, não me arrependo. Vou lá falar com ele. Não me arrependo”.
Eu não me lembro que conversa tive com o padre, mas o padre com certeza me esclareceu o que era arrepender, porque nunca mais depois tive o problema. Eu saí aliviado, porque eu me senti em ordem depois da Confissão.
E assim eu estava preparado para minha primeira Comunhão.
Dom Bosco confessa seus filhos em sonho – As condições necessárias para fazer boas confissões
Todos conhecemos o amor que Dom Bosco tinha pelos jovens. Uma de suas principais ocupações era confessá-los, para que recebessem os melhores frutos da participação nesse sacramento. É por isso que não nos surpreende que seus sonhos tenham sido povoados por aqueles cuja alma lhe era tão cara.
Aqui, portanto, é um sonho famoso que vê Dom Bosco envolvido em confissões e, juntos, envolvido em uma luta verdadeiramente singular. É ele mesmo que conta na noite de 4 de abril de 1869, deixando uma profunda impressão em seus ouvintes.
Três laços que levam à perdição
“Sonhei – disse ele – de estar na igreja, em meio a uma multidão de jovens preparando-se para a confissão. Um número esmagador lotou meu confessionário sob o púlpito. Comecei a confessar, mas logo vendo tantos jovens, levantei-me e caminhei em direção à sacristia em busca de algum padre para me ajudar. Ao passar, vi, para minha grande surpresa, jovens que tinham uma corda no pescoço, que segurava suas gargantas.
“Por que você segura essa corda no pescoço?”, Perguntei.
E eles não me responderam, mas me encararam. “Venha”, eu disse para alguém próximo a mim, “tire essa corda!” “Eu não posso tirar isso; há um atrás que o segura.”
Eu olhei com mais cuidado então e pareceu-me que dois longos chifres apareceram nas costas de muitos garotos. Aproximei-me para ver melhor e, por trás dos ombros do menino mais próximo, vi uma fera feia com um tapa horrível, parecendo um gato grande, com longos chifres, segurando aquela renda.
Eu queria perguntar a esse monstro quem ele era e o que ele fez, mas ele abaixou o nariz tentando escondê-lo entre as patas, curvando-se para não ser visto. Por isso, peço a um rapaz que corra até a sacristia para pegar o balde de água benta. Enquanto isso, percebo que todo jovem tem um animalzinho tão bonito atrás dele. Eu pego o aspersor e pergunto a um daqueles gatos:
“Quem é você?”
O animal me olha ameaçadoramente, abre a boca, range os dentes e faz o ato de se aventurar contra ela.
“Diga-me imediatamente o que você faz aqui, sua besta feia. Você não me assusta. Veem? Com essa água eu te lavo bem, se você não responder”.
O monstro olhou para mim tremendo. Ele torceu de forma assustadora e eu descobri que ele estava segurando três cordões.
“O que eles querem dizer?”
“Você não sabe? Eu, aqui de pé, com estes três laços, seguro os jovens porque eles confessam mal“.
“E como? De que maneira?“
“Eu não quero te contar, você revela para os jovens”.
“Eu quero saber o que esses três laços são. Fale de outra forma que eu vou jogar água abençoada em você.”
“Por piedade, manda-me para o inferno, mas não jogue essa água em mim”.
“Em nome de Jesus Cristo, fale, portanto!”
O monstro, assustadoramente contorcido, respondeu:
“O primeiro nó com o qual eu fecho esta renda é silenciar os jovens em seus pecados confessionais“.
“E o segundo?”
“O segundo é fazê-los confessar sem dor“.
“O terceiro?”
“O terceiro não quero contar a você.”
“Como? Você não quer me dizer? Agora eu vou jogar essa água abençoada em você.”
“Não, não! Eu não vou falar, ele começou a gritar, eu já falei demais.”
“E eu quero que você me diga”. E repetindo a ameaça, eu levantei meu braço. Então chamas saíram de seus olhos, e depois novamente gotas de sangue. Finalmente ele disse:
“O terceiro não é fazer resoluções e não seguir os avisos do confessor. Observe o lucro que os jovens fazem das confissões; se você quiser saber se eu mantenho os jovens conectados, veja se eles se corrigem.”
“Por que você se esconde atrás dos ombros dos jovens ao esticar os cadarços?”
“Por que eles não me veem e podem arrastá-los mais facilmente para o meu reino?”
Enquanto eu queria perguntar-lhe outras coisas e instruí-lo a revelar-me como suas artes poderiam ser em vão, todos os outros horríveis gatos começaram um murmúrio monótono, depois começaram a lamentar e começaram a gritar contra aquele que falara; e fez uma insurreição geral. Eu, vendo aquela desordem e pensando que não conseguiria nada mais vantajoso daquelas feras, ergui o aspersor e joguei a água benta por todos os lados. Então, com grande alvoroço, todos aqueles monstros se lançaram a um precipício, alguns de um lado e outros do outro. Com esse barulho eu acordei” (M B – Memorie Biografiche, vol. IX, 593).
Um antigo provérbio diz: “Bom conselho é recebido até do diabo”. E aqui o diabo deu a Dom Bosco um que também pode ser útil para nós: “Observem o lucro que os jovens fazem das confissões: se quiserem saber se eu os mantenho ligados, ver se eles se corrigem”. A experiência de Dom Bosco nos leva a nos examinar se nossas confissões realmente mudam a vida.
Fonte: https://www.sdb.org/pt/Dom_Bosco/Biografiche/Documentos/Don_Bosco_confessa_suoi_ragazzi