Santo do Dia, 10 de dezembro de 1992
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.
[Leitura de “Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana“, Capítulo VI, 2. A nobreza e as elites tradicionais enquanto guias da sociedade]
É interessante nos determos aqui, antes de lerem o meu comentário, porque este é um dos pontos mais suculentos, mais ricos, dos ensinamentos de Pio XII, e convém, portanto, analisá-los adequadamente.
O senhor queira ler, então, desde o começo?
* O Papa Pio XII, Pastor Supremo, pensa na massa escravizada pela propaganda publicitária, e se vê na contingência de lutar contra a mídia
“A multidão (…) desordenadamente.”
O pensamento dele, em essência, é o seguinte. A multidão, hoje em dia, precisa de líderes. E esses líderes, os nobres, desde que se coloquem no seu verdadeiro papel, são especialmente dotados das qualidades necessárias para o serem. Agora, por que é que especialmente hoje em dia a multidão precisa de líderes?
É porque a multidão passa a ser, de povo, verdadeira massa anônima – é a famosa distinção dele entre povo e massa, que nós já tivemos ocasião de examinar nos comentários a essas alocuções, porque ele tem uma alocução em que ele desenvolve esse pensamento sobre povo e massa muito bem – ele aqui retoma esse conceito.
Ele faz lembrar, implicitamente, o quanto para ele – e com mil razões – a massa é desafortunada, é infeliz, é escravizada por técnicas que fazem dela um alvo passivo e sem defesa das manipulações da propaganda. E qual é, portanto, o jeito que tem a massa para não ser massa, para passar a ser povo, para se defender contra, em última análise, a mídia e as técnicas de propaganda de rua. Por exemplo, técnicas que recomendam a venda de remédios que limitam a natalidade, que recomendam a ida à praia, onde a imoralidade se multiplica indefinidamente, e isto, aquilo e aquilo outro, em que não é propriamente um órgão de imprensa, mas é a tipografia que entra segundo um aspecto inteiramente diferente, para imprimir anúncios colossais, que levam também a multidão para o mesmo rumo para o qual a leva a mídia toda.
Ele está na presença – ele, Papa, ele Pastor Supremo, Pastor dos pastores, Pedro! – ele, Pedro, está na contingência de lutar, com o meios instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, contra o maior adversário que ele conheceu na História, maior do que o próprio Império Romano, e que é a mídia!
* O Papa apela aos nobres, para que estes o ajudem a fazer uma resistência contra a mídia
Então, ele apela, entre outros meios, dirigindo-se aos leigos, para a nobreza. Ele está fazendo um discurso à nobreza, e ele quer que os nobres ajudem a ele, para fazer uma resistência contra a mídia, que torna tonta a multidão e que a transforma em massa.
* A resistência à mídia é feita através de uma análise crítica – fruto da convicção própria na qual cada homem deve firmar-se – de tudo o que ela propõe
Para isto, o que é que é preciso? Para isto, o quê? Para que a multidão continue povo e não se transforme em massa, ou, tendo ficado massa, passe de novo a ser povo, é preciso que, em vez de ser uma multidão que vai aceitando sem crítica, sem análise, tudo quanto lhe é dito pela mídia, essa multidão saiba fazer a análise e a crítica do que a mídia propõe. E isso segundo critérios individuais de cada pessoa que constitui o povo, que constitui a população de um país. E para isto é preciso que cada homem tenha convicções próprias, e que saiba firmar pé nessas convicções, de maneira tal que, quando lhe é proposta pela propaganda alguma coisa, ele não se deixe levar pela torrente da propaganda, e pela torrente das pessoas que vão de acordo com a propaganda, que vão aonde a mídia convida.
* Um leigo católico deve ser pedra de escândalo em meio às águas da mídia
Mas que, pelo contrário, as pessoas reajam e digam: “Não! Meus princípios são X, Y e Z. Isto é contrário a esses princípios, os bons exemplos que eu recebi são A, B, e C, os meus pais já se guiaram segundo esses exemplos, eu vou resistir e, portanto, vou firmar pé e vou dizer “não”! E, aconteça o que acontecer, ainda que eu seja mal visto por todos, porque não sigo a onda, eu me oponho à onda! E serei como o Profeta Simeão disse de Nosso Senhor Jesus Cristo: serei uma pedra de escândalo! Uma pedra colocada dentro d’água, e que divide as águas, e que não permite que as águas corram pacificamente e acarneiradamente pelo leito do rio. Custe o que custar, uma coisa não acontecerá: eu não serei massa! aqueles que eu conheço não serão massa, porque eu não só resisto, mas eu vou fazer apostolado junto aos outros, para que os outros também resistam.
* “A mais nobre forma de peregrinação é a rumo às nascentes, contra a modernidade que vem, que avassala e que leva tudo!”
“E assim, influenciados pelos homens que têm uma situação social superior, e que estão mais em condições do que eu de se fazer ouvir, e de obter a atenção daqueles que estão recebendo o bom conselho, e pela sua dignidade, pelo seu tônus, a levarem os outros consigo, eu vou formar um grupo junto a esses mais altos, mais categorizados para, dentro do laicato, eu, um membro do laicato, dizer: Não! Eu me oponho! E vou andar em rumo oposto às águas! A mais nobre forma de peregrinação é a peregrinação rumo às nascentes, contra a água que corre, contra a modernidade que vem, que avassala e que leva tudo. Eu farei a peregrinação de chegar até a nascente, onde a água é límpida, cuja água é pura!”
Essa peregrinação junto às nascentes, é de um elemento capital.
Essa é a afirmação que Pio XII faz. Agora eu vou pedir que o texto seja lido aos senhores, para que os senhores reconheçam no texto o que eu acabo de afirmar.
“A multidão (…) ser agitada desordenadamente”.
Agitada por quem? Os senhores estão vendo quem é, em nossos dias, quem é capaz de agitar uma multidão incontável e anônima? é a mídia! A alusão à mídia é a mais clara possível.
“Ela abandona-se…”
“Ela” é a multidão.
* Um modo de ser bem visto pelos outros e ter prestígio, é deixar-se ir junto com a onda, que lambe, lava e deixa lustrosa a pessoa que se mete dentro dela
“… passivamente, à torrente que a arrasta … e a extraviam”.
Então, ela, quer dizer, a multidão se deixa arrastar cegamente etc., é alusão, mais uma vez, à mídia. A mídia forma essas torrentes de opinião, e o indivíduo que está metido no meio, sente o arrastão dessa multidão que vai para o mal.
Em concreto: vai passar uma fita qualquer, ou uma peça qualquer de televisão – se quiserem, “Je vous salue Marie”, ou qualquer ignomínia do gênero – então vai passar isso numa televisão.
Então um número incontável de pessoas, que pela propaganda ficaram sabendo que a tantas horas esse filme será projetado em tais dias, etc., essa multidão vai ouvir isso.
Como a multidão ouviu dizer que isso é uma novela importantíssima, interessantíssima, moderníssima, tudo quanto há de mais moderno, cria-se um ambiente em que todo aquele que ouvir a novela, e a elogiar, encontra em torno de si gente que aplaude porque ele ouviu e elogia. Então fica muito atraente ter ouvido a novela e ir junto com a onda, porque a onda lambe, lava e torna lustrosa a pessoa que tenha se metido dentro dela, e que se deixa arrastar por ela. É um modo, portanto, de ser bem visto por todo mundo, é ter visto a novela e elogiar a novela.
Então, resultado, é que as pessoas cegamente, tontamente, se deixam meter nisso. Mas, perdem as suas almas!
* O principal meio contra a mídia, instituído por Nosso Senhor, é a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana
O principal meio contra isto, instituído por Nosso Senhor, é a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana! Agora, é preciso reconhecer que a Santa Igreja Católica tem de sobra os elementos para reagir contra isto. Desde que Ela faça o uso corajoso e adequado dos meios que Nosso Senhor colocou sob a ação dela.
Os senhores tomem, por exemplo, o púlpito. O púlpito, o que é como capacidade de irradiação de uma palavra, em comparação com uma antena de televisão? Parece que é insignificante. O padre fala daquele púlpito a um número de pessoas, em geral inferior ao número de pessoas que estão aqui nesse auditório. Ele fala, depois sai, acabou-se, cada um volta para casa. Passou o efeito do que o padre disse.
Então, do que é que vale a ação do padre? Como aquela instituição da palavra de Deus, de uma hierarquia sagrada, destinada a ensinar essa palavra de Deus, parece velhota em comparação com a televisão, e com outros meios de comunicação que o chamado progresso das ciências, no século XIX e no século XX, ao longo desse infeliz e atormentado século XX, as ciências vieram a produzir!
Mas, aqui está o ponto essencial. É que isto não é verdade. A impressão que se tem é de que o púlpito é velhote. A impressão que se tem é de que em torno do púlpito o que há são velhotas, são mulherezinhas, boazinhas, antigas, completamente passadas de moda e de jeito; homens completamente fanados, um público completamente sem irradiação, pelo próprio excesso de idade, sem irradiação na modernidade do público geral que vai caminhando para a perdição.
* Haja sacerdotes e leigos santos, e toda a modernidade é lixo em comparação com a graça de Deus!
Mas a verdade é que, haja sacerdotes santos, santos como Dom Chautard recomenda que seja santo um sacerdote, e, nas devidas proporções, que seja santo um apóstolo leigo; santo que se dá inteiramente a Deus, a Nossa Senhora, que passa a ser, ele, um canal pelo qual passa a graça de Deus e atinge as pessoas. Televisão, não televisão, toda a modernidade é lixo em comparação da graça de Deus!
E é preciso estar bem convencido disso, para compreender bem a primordial importância da palavra pregada pelo sacerdote. Portanto, a fortiori pelo bispo que tem a plenitude do sacerdócio, e tem o múnus de dirigir uma diocese, uma circunscrição eclesiástica; e então nem se fala quando se trata do Santo Padre, que está nas mais altas eminências da Igreja. E se ele fala com energia, e se ele enfrenta com força e sem temer as críticas, se ele enfrenta o adversário, acaba sendo que o adversário se desfaz diante dele.
Alguém dirá: “Mas, como é que se dá esse fato?”
É que há alguma coisa na coragem apostólica, há alguma coisa na sobranceria apostólica que vale mais do que todas essas coisas de que Pio XII fala, a justo título, aí. Seja ele como foi o Cura de Ars; seja ele como foi São João Batista; seja ele como foram os Apóstolos, e um número incontável de bispos, de sacerdotes, de religiosos, de religiosas ao longo dos séculos, que cumpriram o seu dever, e a gente vê que isso mexe as multidões a fundo.
* O nobre católico, eminente entre todos nas fileiras do laicato, quando fala, é a História que fala pelos lábios dele e é a Fé que fala pelos lábios da História
Mas, Pio XII não fala disso, porque ele não está cuidando disso. Ele está cuidando da contribuição que a este esforço de ordem superior, devem dar os leigos que assim ajudam os sacerdotes que são “o sal da terra e a luz do mundo”.
E então ele diz isso: o nobre, que é o mais eminente dos que estão nas fileiras do laicato, porque ele é um homem que Pio XII quer tomar como piedoso, ele admite previamente que se trata de um homem piedoso, de um homem que dá o bom exemplo, e que dá o exemplo não do alto de um púlpito, mas do alto de 500 anos, de 800 anos, de 1.000 anos de história, quando ele tem um nome célebre nos anais históricos de um país, esse homem fala e é a História que fala pelos lábios dele, e é a Fé que fala pelos lábios da História – a corrente é irresistível!
* A força está conosco, desde que tenhamos fé e compreendamos o caráter sobrenatural de nossa luta
Quer dizer, a força está conosco, desde que nós tenhamos fé e compreendamos o caráter sobrenatural de nossa luta, o caráter sobrenatural da influência divina que, através de meios naturais, atinge aqueles a que o apóstolo quer atingir. E que, portanto, leva de fato tudo atrás de si, muitas vezes atrás de aparentes derrotas. Mas, ai! do poltrão que não aguenta de sustentar aparentes derrotas. Ai! do poltrão que no dia da infelicidade e do infortúnio, foge e tem medo. Para ele nada disso importa. Ele foi derrotado? A derrota passa, Deus não passa! Vamos para frente! [Palmas.]
* “De mil soldados não teme a espada, quem pugna à sombra da Imaculada”: falemos alto e bom som, peito para frente, e proclamemos aquilo que é nossa obrigação proclamar
A gente dirá: mas são mil microfones, mil aparelhos de televisão que estão instalados numa paróquia, mil, dois mil, três mil, cinco mil! O que pode fazer contra isso o apostolado de um sacerdote, ou o apostolado de um leigo?
Antes de tudo, pode munir-se de uma televisão, e pode organizar algo que seja um contra impacto formidável. Daqui a pouco falarei a respeito disso.
Mas, sobretudo – porque isto é pouco – sobretudo o hino das Congregações Marianas (que nós cantamos com tanta ufania) nos ensina a verdade fundamental nesse ponto: “de mil soldados não teme a espada, quem pugna à sombra da Imaculada”! Não nos importemos! Vamos e falemos! Falemos alto e bom som, com o olhar firme, com a voz forte, com a cabeça erguida, com o peito para frente, e proclamemos aquilo que é nossa obrigação de proclamar! [Palmas.]
* “Medita nos teus novíssimos e não pecarás eternamente” (Ecli. VII, 40)
Há uma promessa de vitória nesse sentido, que é impressionante. É Nosso Senhor que faz essa promessa. Ele diz que quem medita nos novíssimos, não pecará eternamente. Isso é uma promessa estupenda!
Os novíssimos são os quatro últimos pontos da existência terrena do homem. Portanto: morte, juízo, céu, inferno. São os últimos pontos. Todo homem tem que morrer. Morrendo, todo homem é julgado. Julgado, ou ele é mandado para o Céu, ou é mandado para o inferno. Acabou-se. O resto é conversa!
Está bem. Nosso Senhor promete que quem meditar a respeito disso, eternamente não pecará. Por que é que nós não havemos de, sistematicamente, quando estamos nesses ou naqueles ambientes, falar a respeito de algum desses pontos? E eu falo aqui especialmente de um ponto particularmente odiado: por que não havemos de falar do inferno?
* Estamos na terra para lutar por Nosso Senhor Jesus Cristo, reagirmos às perseguições
Eu já sei qual é a objeção: há muita gente que não gosta.
Nosso Senhor não prometeu o seguinte: “Falai sobre os novíssimos, ou meditai sobre os novíssimos, e sereis aplaudidos eternamente”. Nem nós estamos aqui na terra para ser aplaudidos. Nós estamos aqui na terra para lutar por Ele e, conforme o caso, para ser perseguido, e para reagir à perseguição! [Palmas.]
* O nobre, por sua hereditariedade, educação e formação católica, tem um dever a cumprir para com a Igreja e a Cristandade, lutando contra a Revolução
Nessas condições, nós devemos compreender o papel do nobre. Ele tem por hereditariedade, ele tem por educação, ele tem por formação católica antes de tudo, e por formação católica a convicção de um dever a cumprir para com a Igreja, para com a Civilização Cristã, lutando contra a Revolução, ele tem a obrigação de ir em sentido oposto. E formar homens que tenham uma convicção, tenham uma fé bastante ardente para que, quando o mundo inteiro convide um homem a ir para a esquerda, ele diga:
“– É isto? Está bom, eu vou para a direita! Vocês se arranjem, riam ou façam o que quiserem. Depois… percam-se! Meu desejo é que vocês se salvem, mas se vocês obstinadamente quiserem se perder, “qui creavit te sine te, non salvabit te sine te – quem te criou sem ti, não te salvará sem teu concurso”. Se tu obstinadamente queres negar teu concurso, perde-te então! Essa não será uma razão pela qual eu te acompanhe nos caminhos da perdição. Mais ainda: farei o possível para que tu vá sozinho. Vinde comigo, vós todos outros, e vamos para o caminho de Nossa Senhora! [Palmas.]
* Se a TFP fosse fechada por um governo comunista, e cada um de seus membros soubesse pregar os novíssimos nas esquinas, não se poderia levar esse país para o mal
Eu já tenho dito que, se nós imaginarmos um governo pagão, comunista, ou qualquer outra coisa, que feche a TFP, se cada membro da TFP souber chegar a uma esquina, montar sobre um pulpitozinho, que ele mesmo carrega nas costas e monta, e depois sobe e começa a falar para o povo assim, poderão apedrejá-lo, poderá acontecer tudo. Uma coisa não acontecerá: é que se leve para o mal um país onde haja tanta gente assim disposta a fazer isto.
* Um país que tenha uma organização social, política e econômica conforme a lei de Deus, é um país onde o Reino de Maria está instalado
O que acontece? Se essa gente que ouvir essa pregação, der atenção a ela e não pecar eternamente, nasceu o Reino de Maria! Porque um país onde todos cumpram a vontade de Deus, é um país aonde o Reino de Maria nasceu. Maria é Rainha, uma vez que todos vivam em estado de graça.
Não basta viver em estado de graça. É preciso, aí, começar a organizar a vida, organizar o Estado, organizar a sociedade, segundo a lei de Deus. Mas, o pressuposto inicial, o ponto capital do qual decorre todo o resto, está obtido: as almas vivem em estado de graça!
Como é que nasceu, por exemplo, a Europa católica? Por meio de missionários magníficos que entravam pelas florestas germânicas, ou célticas, ou quaisquer outras, ou pelos povoados onde havia resíduos de populações berberes, árabes etc., e ali começavam a pregar, pregar, pregar, para que as almas se convertessem. As almas se convertiam e era como a massa do pão: era depois pôr apenas no forno, que o pão estava pronto.
Assim também era apenas “pôr no forno” de uma organização social, política e econômica conforme a lei de Deus, que aquele procedimento individual bom conduzia a um procedimento coletivo e a uma organização coletiva boa: o Reino de Maria estava instalado.
* Um nobre aposentado é o contrário do que ensina Pio XII
Bem, os senhores veem então o papel do nobre aí. Não é um papel ao qual o nobre tenha o direito de renunciar. Eu falei aos senhores da nobreza que eu venero especialmente, por causa das minhas origens lusas, a nobreza de Portugal que recentemente fez um congresso, ao cabo do qual a consequência – não sei se escrita, mas pelo menos verbal – entre os membros mais proeminentes era: “Nós, os nobres, somos os aposentados da História. Nós não temos mais nada que fazer. É cruzar os braços, porque a História nos deixou de lado.”
Isso é o contrário do que está ensinando Pio XII.
Bom, vamos adiante. Eu continuo na explicação desse tópico dele.
* Como um órgão dentro do organismo, importa que cada nobre cumpra a sua missão específica dentro da sociedade
Quer dizer, é como o corpo humano. O corpo humano tem órgãos diferentes, de importâncias diferentes, de configurações, enfim, diferentes em tudo. Mas, cada parte do corpo humano tem uma missão especial. Quando cada parte cumpre a sua missão, o bem geral está obtido.
Assim também numa sociedade de desiguais – uma sociedade onde há nobres é uma sociedade de desiguais – cumpre que cada um tenha a sua missão específica e que cumpra a sua missão. Ele será um órgão dentro do organismo. E se todos os órgãos dentro do organismo trabalharem, está tudo bem.
* Para viver bem, a sociedade supõe desigualdades ordenadas e proporcionadas
A sociedade supõe, portanto, para viver bem, desigualdades: desigualdade de importância, desigualdade de ilustração, desigualdade de situação etc. Supõe que essas desigualdades sejam ordenadas, sejam proporcionadas, não sejam desigualdades extravagantes, exorbitantes (de que daqui a pouco darei aos senhores um exemplo), mas sejam desigualdades harmoniosas, proporcionadas. Aí, nessas desigualdades, começa a colaboração dos desiguais, cada desigual com a sua missão própria. Os senhores têm, propriamente, a sociedade humana funcionando muito bem, têm a Civilização católica. Está claro isso ou não?
* Um exemplo de desigualdade extravagante: cônsul egípcio declara-se indigno de “beijar o pó em que se firmaram as patas do cavalo do faraó”…
Eu costumo, quando trato desse assunto, mencionar – eu creio que já nessas reuniões aqui mencionei – uma carta que foi encontrada nas ruínas do Egito, dirigida por uma espécie de agente de negócios, um cônsul do Faraó (portanto do Imperador do Egito), dirigida por esse cônsul ao imperador, dando conta de certos interesses do Egito ali na Ásia Menor.
A saudação da carta é que interessa, não o conteúdo da carta. Na carta, a saudação é a seguinte: “Fulano de tal, teu escravo, indigno de beijar teus pés, e indigno de beijar as patas dos teus cavalos, beija o pó em que as patas do seu cavalo se firmaram”. Isso é uma desigualdade exorbitante! Porque um homem é um homem e, enquanto homens, quer dizer, debaixo do ponto de vista da humanidade, são todos iguais. Não há razão, portanto, para um homem considerar-se indigno de beijar as patas do cavalo do Faraó, quando ele é muito mais do que um cavalo. Ele é um súdito do Faraó. Se os senhores quiserem, ele é um filho do Faraó, porque todo súdito, sob certo ponto de vista, é filho do seu superior. E, por isto, essa inferioridade é aviltante, é própria aos povos pagãos, aonde as homenagens que eles prestam aos seus senhores são deste gênero.
Mas, na Civilização Cristã tudo isso foi graduado com aquele senso da medida e das proporções que é um sinal da sabedoria e da graça presentes na Igreja Católica. Então, assim nós temos a perfeição da sociedade.
* Os paulistas de 400 anos, elite tradicional análoga à nobreza, em São Paulo, tinham a missão de conduzir o povo conforme ensina Pio XII
Eu, por que é que escrevi isso, que já está tão evidente no anterior? É para tornar mais evidente ainda o seguinte. Eu conheci muitas pessoas das famílias aqui chamadas em São Paulo “Paulistas de 400 anos”, que representavam – hoje isso está deglutido pela maré da vulgaridade e do mero valor do dinheiro, adquirido de qualquer maneira etc. – houve tempo em que eles representavam uma verdadeira nobreza, ou uma elite análoga à nobreza, em São Paulo.
Essa elite tinha a missão de conduzir o povo como Pio XII está falando. Os homens nessa elite, católicos praticantes, eram raros. As senhoras eram muito numerosas. Elas eram fruto do apostolado de um certo Monsenhor Francisco de Paula Rodrigues, que era um padre eminente aqui de São Paulo, chamado Padre Chico, e que pela sua caridade, sua bondade etc., etc., irradiou muita influência sobre a atmosfera paulista, da São Paulinho antiga.
Eu conheci muitas senhoras que, essas sim, passaram a praticar a religião por influência do Pe. Chico. E, então, o número de senhoras que começou a frequentar a igreja era enorme. Mais antigamente, quer dizer, lá por volta de 1850, 1870, etc., o número de senhoras que frequentava as igrejas era muito pequeno.
* Uma compreensão errada do que seja a distinção pessoal e a sã influência que esta tem no apostolado, fez com que as posteriores gerações da boa sociedade saíssem do regaço da Religião
As igrejas encheram-se de senhoras. Mas, deu-se um extravio de que eu fui testemunho, e testemunho desolado, porque eu compreendia onde ia chegar.
O Pe. Chico e outros sacerdotes que acompanhavam meritoriamente a orientação dele aconselhavam às senhoras que abandonassem qualquer preocupação mundana. E como “preocupação mundana”, entre outras coisas figurava o desejo de se vestirem bem. Não se tratava de se vestirem conforme à moral, isso os costumes do tempo impunham absolutamente. O traje imoral, para as senhoras, não existia, não estava em jogo. A verdadeira católica não deveria ter preocupação de se vestir com elegância, de se vestir com distinção, de ter uma apresentação nobre e elevada. Ela deveria apenas viver como uma pessoa apagada, dentro da igreja, rezando, ou então recebendo os sacramentos, ou então dando esmolas etc. Ou trabalhando para um associação religiosa, ou outra.
E se deu na sociedade de São Paulo uma fratura. Da mesma sociedade, de um lado e de outro, pessoas do mesmo nível, umas primas das outras, ou irmãs das outras. As piedosas afundaram, perderam toda a importância social. Vestiam-se – eu me lembro muito do modo de algumas se vestirem, dava pena: uns chapéus de palha escuros, umas coisas assim, aconselhados pela preocupação de não se adornarem. Haveria nisso mais abandono das coisas do mundo. As outras, pelo contrário, usando as modas mais elegantes e melhores, importadas de Paris pelas casas de moda brasileiras. As segundas tinham muita influência sobre os costumes, e as outras nenhuma influência.
Resultado: a parte mais influente do elemento feminino da sociedade acabou sendo constituída por pessoas que se preocupavam em não fazer apostolado, mas apenas em faceirices. E o resultado é que ser católico equivalia a não ter influência, a ser desprezado etc. E ser importante e ter influência equivalia a não ser católico, a levar uma vida que não era ainda uma vida má, mas era uma vida despreocupada da Religião.
Resultado: as gerações que vieram, saíram do regaço da Religião.
* O ensinamento de Pio XII: o nobre deve esmerar-se na sua apresentação pessoal e cultivar suas maneiras, sob o risco de faltar à sua missão
O Papa diz várias vezes o contrário: o nobre tem que se vestir bem, tem que se adornar bem, tem que ter casas bem arranjadas. Na medida em que os seus haveres o permitam, ele tem que ter representação social, para ter prestígio, para fazer apostolado! O prestígio é um meio de apostolado. E quem tem meios para ter esse prestígio, deve tê-lo para exercer nessa direção.
Seria mais ou menos como um homem que tivesse uma tal ou qual facilidade de expressão e que tivesse, portanto, um tal ou qual meio de atrair a atenção de um público numeroso. Mas ele achasse que ele não deveria cultivar a sua linguagem, de maneira que ela fosse bonita e atraente. Ele não deveria cultivar seus modos de falar, de maneira que eles cativassem a atenção e atraíssem a simpatia… porque isso tudo é “faceirice”!
Então um homem pode fazer um discurso dizendo: “Mecê vai…” e daí para fora, que são outras formas de caipirice, porque isso é o abandono das coisas da terra… São eles que abandonam a terra, é sobretudo a terra que os abandona. São eles que abandonam a sua missão! Quem tem missão de falar em público, deve cultivar a sua linguagem, deve apresentá-la com o cuidado com que uma senhora esmerada na sua apresentação, apresenta a sua indumentária.
* O povo, devidamente influenciado pelo bom exemplo de distinção e cultura do clero e da nobreza, saberá resistir às maléficas pressões da mídia
Esta preocupação com a beleza, com a distinção, com o bom ar das coisas, faz parte das condições para que, quando os homens e as senhoras com esta influência são bons, e pregam o bem pela palavra e pelo exemplo, o povo não seja massa. Vem a mídia pregar o mal, o povo tem a influência da nobreza, das elites tradicionais, que lhe ensinaram, junto com a influência preponderante de um clero esclarecido e corajoso, que é preciso resistir. Começa a resistência; no primeiro momento eles urram; no segundo, caluniam; no terceiro, fogem!
Os senhores estão vendo bem que este é o ensinamento de Pio XII.
* A tradição, elogiada por Pio XII, é um elemento de apostolado de primeira ordem
Primeiro a tradição. A palavra “tradição” é uma palavra antipática hoje. Mas, quando nós constituímos o nosso lema, eu a quis colocar em primeiro lugar: Tradição, Família, Propriedade! Aqui está a palavra “tradição” bem entendida, como Pio XII a elogia, e vê nela um elemento de apostolado de primeira ordem.
Os senhores estão vendo bem: “termina no terror” é uma alusão à Revolução Francesa, à Revolução Comunista. São povos que abandonaram a Religião, e que caíram por onde caíram.
“Émulos dos vossos antepassados … profundamente cristã”.
Então não basta a coisa pessoal, a fidelidade pessoal, mas é uma vida familiar, a honra imaculada, quer dizer, sem mancha, sem mácula de uma vida conjugal e familiar profundamente cristã.
“De todos os países … ” [Vira a fita]
Quer dizer, o movimento que reage contra o divórcio, contra as imoralidades de toda ordem, das intimidades excessivas dentro do próprio lar entre pessoas do mesmo sexo, primo e prima, irmão e irmã, e daí para fora, tudo isto faz parte de uma preservação do lar. Porque – diz ele – há um brado de angústia que vem pelo menos dos países de formação católica, pedindo pela família porque a família está ameaçada. Isto foi dito… qual é a data desse documento? 1946! Nós estamos em 1992, nas últimas badaladas de 1992.
Quanto tempo de lá para cá! E em que ruína está a instituição da família!
[…]
É o equilíbrio, mais uma vez. Quer dizer, espíritos conservadores que não tenham frenesi de mudar pela vontade de mudar, pelo contrário, gostam de conservar, mas que, aparecendo circunstâncias novas que criam problemas novos, sabem reconhecer isto e então introduzir as mudanças conformes à lei de Deus, que as circunstâncias pareçam recomendar. É o equilíbrio.
* O nobre deve ocupar cargos públicos condignos com sua posição, disposto a resistir às pressões do governo, e ser firme no cumprimento da fé
Os senhores estão vendo aqui o pensamento, que é tão claro, que eu me limito a uma palavra para comentá-lo. Quer dizer, o nobre deve procurar ocupar cargos públicos proporcionados a ele, dignos, mas nisto Pio XII sabe que ele vai sofrer pressões, que ele vai ser obrigado, ou vão tentar obrigá-lo a fazer roubalheiras, a fazer politicagem, toda espécie de indecência. Mas que ele deve resistir, ainda mesmo quando ele incorra em pressões do alto, quer dizer, do governo. Ele deve resistir e ser firme no cumprimento da fé.
O resto, é esse belo panorama que ele descortina aí.
Com isso, meus caros, se não houver nenhuma pergunta a fazer, está terminado neste ponto, a reunião de hoje. Há alguma pergunta a fazer, alguma retificação a estabelecer, ou algum acréscimo a propor, eu estou à disposição.
* Roma, a pedra fundamental da Igreja
“Possais, queridos filhos e filhas … e a sua justiça”.
A pedra fundamental é Roma. “Pedro, tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela”. De maneira que está esplendidamente concluído por Pio XII, o ensinamento dele nessa alocução.
Com isso, mais uma vez, eu pergunto se há algo a corrigir, a acrescentar, algo a falar, eu estou à disposição.