Noto, em seu jornal, uma verdadeira insistência em elogiar pessoas, costumes, instituições da Inglaterra. Por que esta predileção?

Catolicismo, n. 17, maio de 1952, pág. 6

CORRESPONDÊNCIA

De F. J. M., Niterói (Est. do Rio): — “Noto, em seu jornal, uma verdadeira insistência em elogiar pessoas, costumes, instituições da Inglaterra. Por que esta predileção? Tudo, em “CATOLICISMO”, faria esperar o contrário; é verdadeiramente desconcertante a simpatia de um jornal tão cioso de sua ortodoxia, para com a nação que é o maior baluarte do maçonismo e do protestantismo no mundo”.

R — A respeito da Inglaterra, devemos distinguir:

a — A religião, que é herética, e, pois, digna de formal rejeição, como o luteranismo, o calvinismo ou qualquer outra forma de heresia.

b — A linha do desenvolvimento histórico, que apresenta sem dúvida aspectos gloriosos, mas no qual domina o apoio dado nos séculos XVI e XVII à expansão protestante na Europa, e, nos séculos XIX e XX, a todos os movimentos revolucionários suscitados pela maçonaria. Evidentemente, o papel da Inglaterra foi, neste assunto, dos mais censuráveis e funestos.

c — A luta sistemática de seu imperialismo, contra as nações católicas, e particularmente Portugal e Espanha, cujo declínio durante o século XIX é em grande parte obra inglesa. Também merece decidida censura.

d — As instituições políticas, na aparência muito equilibradas, pois permitem uma feliz colaboração entre a Coroa, as classes altas e o povo; mas em verdade inteiramente entregues ao despotismo da massa, que reduziu o Rei e os Lordes a meros elementos decorativos, e que sob o impulso do Labour Party caminham para o comunismo. Evidentemente ninguém poderá supor que nosso jornal aprova esta tendência visceralmente contrária a tudo quanto pensamos, somos e queremos.

e — Um senso de tradição que ainda mantêm vivas certas cerimônias, certas fórmulas, certos costumes, certos hábitos mentais que datam ainda dos velhos tempos da Inglaterra católica. É o que se dá com o rito da coroação, e em geral com tudo quanto cerca a coroa e a corte. Para usar de uma imagem do B. Pio X, a Inglaterra é um vaso do qual há muito tempo foi retirada a rosa, mas que dela ainda retém vago perfume. Todo este conjunto de tradições conserva o aroma de velhos ambientes ainda não contaminados com a peçonha do espírito de Lutero, Rousseau e Marx. Sabemos que a Inglaterra de hoje já não é a Inglaterra anterior a Henrique VIII. Sabemos que na Inglaterra de hoje todos os princípios tradicionais estão quase expirantes. Mas, se queremos dar a nossos leitores um meio de conhecer e respirar o aroma da velha civilização cristã, é legítimo e didático tomar estas aparências enquanto tais, a título meramente instrutivo, e mostrar os princípios que elas contêm. Como alguém que quisesse fazer sentir o que é o perfume de uma rosa, poderia apresentar um vaso em que a rainha das flores tivesse deixado algo de sua presença.

A este título, e com todas estas reservas, é que elogiamos na “prestance” de alguns estadistas da velha escola, na majestade de algumas cerimônias, no esplendor de alguns símbolos, os reflexos áureos da cultura e da civilização cristã.

Contato