Auditório São Miguel, terça-feira, 20 de janeiro de 1976 — Santo do Dia
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
[…] seja hoje a festa dEla, e a presença da estampa sugira, portanto, um comentário na linha do Santo do Dia. E não há coisa que eu faça com mais bom grado do que um Santo do Dia a respeito de Nossa Senhora.
Sobre o caso [da igreja] do “Miracolo”, eu creio que todos que estão aqui conhecem bem o fato que serviu de partida a essa devoção, em Roma.
Nos últimos meses do reinado de Carlos X, portanto pelos anos de 1829 ou 1830, ele parou de reinar em 1830, Carlos X, rei da França, último rei da casa do ramo primogênito da casa de Bourbon, na França, irmão de Luiz XVI.
Nos últimos meses do reinado dele, Nossa Senhora apareceu na Rue du Bac, na França, no convento que as Irmãs de São Vicente de Paulo têm na Rua du Bac.
Ela apareceu a uma freira que mais tarde a Igreja canonizou com o nome de Santa Catarina Labouré. Foram várias aparições durante a noite que se deram na capela da Rue du Bac. Nossa Senhora apareceu, a freira era conduzida por uma figura que deveria ser provavelmente um Anjo, ele se apresentava como um menino, que acordava a freira e levava até o local das aparições. E Nossa Senhora sentava-se ali numa cadeira, que até hoje se conserva, junto à qual Santa Catarina se ajoelhava e ela ouvia, então, as mensagens que Nossa Senhora queria dar.
Evidentemente como sempre acontece nas mensagens mariais do século passado e desse século, Nossa Senhora confiou a essa santa várias mensagens para o mundo, então ostensivas, e alguma coisa secreta. Essa alguma coisa secreta, como em Fátima também, se enrolou num dédalo de mistérios, de contradições etc., de maneira que não se pode saber bem exatamente sobre o que versava a parte secreta dessa mensagem.
A parte ostensiva da Mensagem apresenta uma coerência muito grande com a de Fátima, embora seja bem anterior, quase 100 anos anterior a de Fátima; no seguinte sentido: os costumes, a imoralidade, a degradação do mundo em 1830 eram menores do que eram em 1917. Nossa Senhora, portanto, faz admoestações a esse respeito. Admoestações em geral a respeito da impiedade que se vinha disseminando naquele tempo, mas Ela faz de um modo muito menos preciso do que em 1917, em que naturalmente o mal tinha crescido enormemente.
E sobretudo os castigos de que Ela fala, não são castigos universais quanto castigos referentes à França. Ela prevê – entre outras coisas – a queda do rei Carlos X que deu origem a uma explosão de impiedade, e os primeiros anos, sobretudo do reinado de Luiz Felipe, em que a impiedade campeou na França bastante. Todo o reinado de Luiz Felipe foi muito ruim. Mas os primeiros anos, com aquele embalo inicial, foram debaixo do ponto de vista estrito das relações da Igreja e do Estado, piores ainda do que os anos subsequentes.
Ela revelou nessa ocasião também uma devoção que é a devoção à Medalha Milagrosa. Acho que todos aqui possuem essa medalha. Uma medalha que tem, de um lado, a letra “M” e uma cruz e os dois Sagrados Corações; depois do outro lado tem Nossa Senhora das Graças com as mãos abertas derramando torrentes de graças e esmagando a serpente. É, portanto, uma versão da devoção da Imaculada Conceição, esmagando a cabeça da serpente. Depois, escrito em torno da medalha, que deve ter forma oval, “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.
A bem dizer, a parte que marcou mais a vida dos fiéis e que foi mais operativa na vida da Igreja foi essa dupla parte: a devoção da medalha milagrosa e a difusão das estampas.
A devoção da medalha milagrosa porque essa medalha, segundo Nossa Senhora prometeu, seria uma ocasião riquíssima de graças para os fiéis que a usassem. E houve uma quantidade enorme, mas torrentes de graças pelo mundo inteiro, e que de algum modo ainda continua até hoje para as pessoas que usam essa medalha.
As graças mais fáceis de controlar, mais evidentes eram para as pessoas que estavam em risco de vida, e que usando a medalha, embora fossem pessoas ímpias, acabariam por pedir a absolvição. E há casos incontáveis disso até nossos dias.
Naturalmente em nossos dias diminuiu muito o efeito da medalha milagrosa por causa da ação do clero, que não faz mais propaganda nenhuma, não prega mais essa medalha milagrosa; pelo contrário, faz silêncio a esse respeito.
De maneira, que eu creio que os senhores ainda encontram medalha milagrosa à venda [na igreja do] Coração de Maria e alguns lugares, mas deve haver uma tendência a que isso desapareça.
E outra coisa que produziu um bem muito grande foi a difusão das estampas ou imagens da medalha milagrosa, porque essas estampas ou imagens, embora muitas vezes sem valor artístico nenhum, da escola artesanal, mais do que artística, que se poderia chamar “sulpiciana” — nesse sentido que se os senhores comparam essa imagem com as imagens da Idade Média do ponto de vista propriamente artístico, não há comparação possível, entretanto ela traz consigo um imponderável, algo de indefinido que realmente toca as almas, que realmente impressiona profundamente as almas, e que produz a conversão de muitas almas.
Isso se dá também com as estampas de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. E a esse título um número muito maior de pessoas adquiriu a devoção a Nossa Senhora. E adquirindo a devoção a Nossa Senhora adquiriu tudo. Porque os senhores sabem que a devoção a Nossa Senhora é a chave para tudo, é a chave dos “cofres” de Deus, e quem tem essa chave tem o tesouro que está dentro do cofre; quem tem a devoção a Nossa Senhora tem a devoção a Nosso Senhor Jesus Cristo que é o tesouro infinito de que Nossa Senhora é Mãe e guardiã, ao mesmo tempo.
[Clique aqui para leitura do relato da Aparição de Nossa Senhora e conversão de Alphonse Ratisbone]
[Abaixo segue o relato feito de memória pelo Prof. Plinio:]
Esta devoção se relacionou com a devoção ao Miracolo, que eu também vou contar aos senhores muito resumidamente. Em primeiro lugar, porque há um certo benefício em se recordar essas coisas; em segundo lugar, porque talvez muitos não se lembrem.
Muito resumidamente, porque eu tenho má memória, e é bem possível que fatos bem importante desse conjunto de acontecimentos me estejam escapando ao espírito. Mas por volta talvez de meados do século passado estava em Roma um judeu muito rico, jovem, sobrinho de um Rothschild. Como tantas vezes acontece com judeus na Europa, tinha o nome de cidade. Ele se chamava Ratisbonne, que é Regensburg, famosa cidade próxima de Munique, na Alemanha.
Este homem tinha um irmão que se tinha convertido e se tornado padre, e com o qual toda a família judaica tinha rompido completamente, inclusive ele. De maneira que nem se viam, nem nada, estavam completamente postos à margem um do outro.
E esse judeu se dava muito com um embaixador francês Conde de la Ferronays, que fazia parte da legação francesa junto ao Vaticano. E nessa conversa e coisa e tal, o La Ferronays ofereceu a vida sem dize-lo, pela conversão do judeu. Ele não disse ao judeu, disse a outras pessoas que contaram.
De fato, o La Ferronays algum tempo depois morreu e um amigo comum deles foi tratar na igreja de Santo Andrea Delle Fratte, que é onde existe hoje essa imagem do Miracolo, foi tratar a missa de sétimo dia para o La Ferronays e depois iam juntos para alguma excursão. E o amigo quis passar pela igreja para tratar disso. E ele disse ao judeu que fosse junto etc. e afinal, de contas ele conseguiu convencer o judeu e foram juntos à igreja. Mas o judeu não quis entrar na sacristia para tratar da missa. Ficou pela igreja olhando. Coisa que se pode perfeitamente fazer porque a igreja tem várias obras de arte de valor. Ela é de uma arquitetonia digna de louvor, sobretudo internamente, e ao menos a mim me toca muito isso porque eu gosto muito de pedras, ela tem mármores magníficos. Mármores, alguns de durante a oração a gente não poder olhar, ao menos eu, porque toca a prestar atenção no mármore e me distrair da oração, de tal maneira são mármores magníficos, sobretudo junto à capela mor.
E havia várias capelas laterais, e o judeu ficou lá olhando aquelas coisas enquanto o rapaz contratava a Missa.
Tratada a Missa o rapaz chegou e encontrou na capela de São Miguel Arcanjo o judeu de joelhos, rezando super enlevado e dizendo que Nossa Senhora lhe tinha aparecido com estas e aquelas e aquelas caraterísticas e que o tinha convertido à religião católica.
A conversão operada nessas circunstâncias durou até o fim da vida do homem, mas ela teve uma repercussão fabulosa na Europa daquele tempo, em que a separação das religiões, portanto, o valo que separa o erro da verdade, e o bem do mal era muito mais claro no espírito das pessoas do que é hoje em dia.
O fato de ele se ter tornado ostensivamente católico, o fato de ele depois se ter ordenado sacerdote para fundar com seu irmão, padre, com quem se reconciliou naturalmente, uma congregação religiosa para a conversão dos judeus — todo esse conjunto de fatos teve uma repercussão enorme em toda Itália e depois em todo o mundo.
E no altar de São Miguel aonde apareceu Nossa Senhora para falar ao judeu Ratisbonne, nesse altar tiraram a imagem de São Miguel e puseram uma imagem de Nossa Senhora do Miracolo à maneira das descrições feitas por este judeu.
Esta imagem passou-se a chamar Nossa Senhora do Miracolo, e os senhores estão vendo por quê. “Miracolo” é milagre em italiano. Era o milagre dessa aparição; e de numerosas outras curas e milagres operadas ali, com ocasião da intercessão da Imagem.
Até hoje há relíquias que se cedem na Igreja de Santo Andrea delle Fratte da toalha em que Nossa Senhora pousou os Seus pés sagrados no momento em que falou com o judeu Ratisbonne e o converteu. E eu mesmo tenho, aliás vários dos senhores que estiveram na Europa têm, uma teca com uma parte desta toalha, que eu osculo todos os dias como sendo uma coisa das mais sagradas que existe em minha casa.
Assim nós poderíamos dar por encerrada a narração do Miracolo e de Nossa Senhora das Graças, se não me ocorresse a ideia de fazer uma tentativa de fazer com os senhores, com base nessa imagem, um “ambientes, costumes e civilização”, procurando exprimir os imponderáveis que há a propósito da Imagem, e ver até que ponto esses imponderáveis correspondem ao que sentem os mais velhos e os mais moços.
Poder-se-ia fazer sumariamente uma descrição da Imagem, para pôr um pouco em ordem as idéias antes de fazer a análise dos efeitos produzidos pela Imagem.
(Dr. Camargo: Nesta ocasião, na casa do La Ferronay, este amigo dele fez com que as filhas dele colocasse no pescoço uma medalha. Ele relutou em colocar, acabou colocando e comprometeu-se rezar um “Lembrai-vos” portanto iniciou ali…)
Ah, foi! Os senhores vejam como é bom ter boa memória. Isso enriquece muito a narração que eu dei.
(Dr. Adolpho: Antes do milagre, havia Imagem de Nossa Senhora das Graças lá?)
Não, não havia. Havia um quadro de São Miguel nessa capela.
(Dr. Adolpho: Nem na igreja?)
Nem na igreja. Depois que Nossa Senhora apareceu, ele [Ratisbonne] indicou.
Os senhores têm aqui Nossa Senhora vestida à maneira do tempo de sua existência terrena, como se vestiam as senhoras no tempo de sua existência terrena. Quer dizer, uma túnica grande, uma capa. A capa é azul celeste, que é a cor de Nossa Senhora; a túnica, isso é diferente das imagens habituais de Nossa Senhora das Graças, essa túnica é de um discreto rosado, enquanto em Nossa Senhora das Graças a túnica costuma ser branca.
Ela está com a fronte encimada por uma coroa, o que também nas imagens de Nossa Senhora das Graças não costuma ter. E os senhores veem que serve a Ela de resplendor uma fileira em forma de círculo de 12 estrelas. É uma alusão à aparição de Nossa Senhora no Apocalipse. Aqui Ela não está esmagando a cabeça da serpente; pelo contrário, a da Rue du Bac Ela esmaga a cabeça da serpente.
Das suas mãos, como na imagem da Rue du Bac, partem com abundância, raios que significam as graças que Ela concede.
A fisionomia é discretamente sorridente. Ela não está propriamente tanto sorrindo quanto olhando para a pessoa que está ajoelhada diante dEla, de um modo muito afável, muito acolhedor, com uma enorme vontade de atender o pedido, de atender a necessidade, de ajudar.
Mas ao mesmo tempo – e as coisas se completam muito bem – Ela é muito régia. Não é só por causa da coroa, mas ainda que se lhe tirasse a coroa, o porte, a impressão de uma pessoa alta, esguia sem ser magra, muito bem proporcionada; e qualquer coisa de imponderável da consciência de sua própria dignidade transparecem aí de um modo que não se pode qualificar taxativamente, não pode dizer assim de um modo preciso, mas de fato transparece aí.
Quer dizer, tem-se a impressão de uma rainha, muito menos pela coroa do que pelo todo dela. Enfim, pelo misto de grandeza e de misericórdia que dEla emanam.
Mas a meu ver o elemento mais tocante desta imagem — eu não sei se os senhores sentem isso como eu — é algo de inexprimível, que à primeira vista, pelo menos, não encontra sua explicação em nenhum elemento concreto da Imagem.
Essa Imagem, junto com o sorriso que traz consigo — mas não é só por causa do sorriso, é um todo que eu vou depois tentar explicar — essa imagem traz consigo qualquer coisa de apaziguador. Eu não sei se os senhores notam que quem olha para essa estampa tende a ficar mais apaziguado, serenado, tranquilizado, como quem tem as suas más paixões em agitação, acalmadas; quem tem suas angústias favorecidas por uma certa distensão, por uma certa calma, como quem diz sem dizer nada:
“Meu filho, Eu dou jeito a tudo, Eu arranjo tudo, não se impressione, haverá um modo, Eu estou aqui ouvindo a você, Eu posso tudo, você precisa de tudo, mas eu posso tudo, e o Meu desejo é de lhe dar tudo. Portanto não tenha dúvida, espere mais um pouco. Mas superabundantemente, você terá o que Eu quero”.
E por cima de tudo a Imagem — e a meu ver este é o elemento mais apaziguador da Imagem e mais encantador — a imagem tem qualquer coisa como quem se oferece à pessoa que está diante dela, como quem diz:
“Meu filho, Eu sou toda sua, você pode pedir o que quiser. Eu para você não tenho reservas, Eu não tenho recuos, Eu não tenho recusas, Eu não tenho nem recriminações pelos seus pecados. Eu lhe estou olhando num estado de alma, numa disposição de ânimo, por onde você de Mim consegue tudo, tudo o que você pedir, e muito mais ainda”.
E a imagem deixa um pouco no mistério, mas um mistério suave, diáfano — seria mais ou menos como o mistério de um dia com um céu muito azul em que a gente se pergunta o que haverá para além do azul, mas não é um mistério carregado, é um mistério que fica por detrás do azul e não por detrás das nuvens. Um mistério como quem diz o seguinte:
“Se você soubesse, conhecesse o dom de Deus, se você soubesse quanta coisa Eu tenho para lhe dar, e que maravilhas há em mim, aí é que você compreenderia. Eu estou notando essas maravilhas e transbordo do desejo de as dar a você. Como você compreenderia bem o que Eu sou se você quisesse abrir os olhos para essas maravilhas”.
E esse apaziguamento que Ela comunica é uma espécie de primeiro passo para a pessoa que queira se deixar maravilhar, para a pessoa, recebendo esta misteriosa ação da graça, começar a admirar e procurar perguntar o que há nEla, o que Ela está exprimindo, o que Ela diz.
Então a gente poderia aprofundar um pouco.
Os senhores veem a impressão de pureza que a Imagem tem. É uma impressão tão excelsa que quase ofusca um pouco, mas não ofusca de maneira a machucar. É que é tanta pureza que no início a gente nem se lembra bem de pensar na pureza, por assim dizer transcende a pureza. De tanto que Ela é pura, Ela transcende a pureza.
Mas contemplando essa imagem não é só dizer que o homem admira essa pureza. Mas algo da figura, da estampa, da imagem lá e da estampa aqui, comunicam algo do prazer de ser puro. Fazem compreender que, se muita gente tem a ilusão de que a felicidade está na impureza, muita gente pelo contrário, possuindo verdadeiramente a pureza, compreende a inefável felicidade que a pureza dá, perto da qual toda felicidade da impureza é lixo, é tormento, é aflição.
Não sei se os senhores notam, ela está inundada de felicidade aqui. Mas essa felicidade é inseparável da pureza dela.
Outra coisa é a humildade. Ela está aqui como Rainha. Mas quem não vê em toda atitude dela que Ela faz abstração de toda superioridade dela sobre a pessoa que reza diante dela, e que Ela trata como se fosse, não digo de igual a igual, mas como se fosse uma pessoa que tem proporção com Ela; quando nenhum de nós tem, e não só nós, nenhum santo tem proporção com Ela. Ela é completamente fora de proporção em relação a todo mundo! A atitude dela é como de quem se abstrai e se coloca assim, tão acessível, tão no mesmo nível.
De outro, também, a gente percebe que se aparecesse Nosso Senhor Jesus Cristo Ela estava toda feita para se ajoelhar e adorar. Não há nada nela que contenha uma repulsa a reconhecer o que é mais alto. Pelo contrário, uma alegria: “que maravilha! Apareceu quem é mais do que eu”. E a gente está vendo desde já o ar enlevadíssimo dela olhar para aquele que é Filho dEla e ao mesmo tempo infinitamente mais do que Ela.
Debaixo desse ponto vista, nela há, entre outros traços — eu não quero simplificar o panorama — uma comunicação do prazer da humildade, do prazer de despretensão.
Os senhores olhem a cara que tanta gente faz nas fotografias de jornal: pescoços esticados, ares agitados, para querer aparecer.
Aqui a felicidade inefável da despretensão.
De outro lado a felicidade inefável de pureza.
Diante de um mundo que o demônio vai arrastando para o mal, pelo prazer da impureza e pelo prazer do orgulho, comunicar-nos esse prazer da despretensão, e o prazer da pureza, é nos chamar a Si suavissimamente, sem pito nem recriminação, mas como quem diz:
“Meu filho, você não se lembra dos tempos primitivos de sua inocência? Você não se lembra antes de você ter pecado como é que você era? Você não se lembra que havia coisas dessas em você? Eu lhe ofereço isso. Eu restauro. Aqui está. Abra-se para Mim, olhe para Mim. Eu lhe dou isso. Venha. No caminho que conduz a Mim só existe perdão, bondade e atração. Venha logo”.
Não é difícil a gente estabelecer uma relação desses dois traços com a Contra-Revolução.
Apresentada aqui não no seu aspecto belicoso de Nossa Senhora enquanto esmaga a cabeça da serpente, mas no seu aspecto materno, enquanto Ela procura tirar, pelo sorriso, das garras da Revolução aqueles que a Revolução vai vitimando. E dessa maneira fazendo uma altíssima obra de Contra-Revolução.
É ou não é verdade que o espírito que se deixa impressionar por essa imagem, que se deixe influenciar por essa imagem, que o espírito nessas condições fica sumamente propício à admiração? Fica sumamente propício a admitir a hierarquia das coisas mais altas sobre ele; sumamente propicio pela sua própria dignidade a querer que todas as coisas abaixo dele estejam em hierarquia também? É uma coisa inteiramente evidente. Entra pelos olhos!
Debaixo desse ponto de vista, sem querer dizer que esta Imagem seja a de Nossa Senhora da Contra-Revolução, porque seria forçar a nota, nós poderíamos dizer, entretanto que para aqueles que lutam pela Contra-Revolução o quadro é de uma altíssima expressão quanto a um dos aspectos de Nossa Senhora na sua permanente Contra-Revolução, até chegar o fim do mundo.
Isso seria um pouco de “ambientes e costumes” feitos a partir da Imagem.
Com que vantagem para nossas almas? Não sei. Pelo menos, talvez essa: de explicar um pouco aos mais jovens como é que uma imagem deve ser vista; o que a gente deve procurar quando vê uma imagem e qual é o bom efeito que uma imagem pode produzir em nós, e o estado de alma que uma imagem, simplesmente por existir, pode comunicar às nossas almas, por vezes tão necessitadas.
E com isto ficaria encerrado o Santo do Dia sobre Nossa Senhora do Miracolo.