Nossa Senhora de La Salette (19/9) e as profecias de castigos

Santo do Dia, 18 de setembro de 1965

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.

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A aparição de Nossa Senhora de la Salette num sábado das Têmporas a 19 de setembro de 1846, véspera da festa de Nossa Senhora das Dores, a dois pastores, Maximiano Giraud e Melanie Calvat. “A bela Senhora”, como a chamavam os videntes, apareceu em atitude de profunda tristeza, pedindo oração e penitência, e anunciando que não poderia sustentar o braço de seu Filho, prestes a castigar a humanidade por causa de seus pecados e confiando-lhes um segredo. Por ter a aparição se verificado numa montanha de Salette, diocese de Grenoble na França, uma nova invocação da Santíssima Virgem logo se difundiu, Nossa Senhora da Salette.

1846, nós estamos em 1965. Os senhores estão vendo que há muito mais de 100 anos [150 hoje em dia] que ocorreu este fato. São três aparições de Nossa Senhora que se deve mencionar, que fazem parte, vamos dizer que são os três pontos salientes, três montanhas altas de uma cordilheira de aparições de Nossa Senhora, que começaram mais ou menos com Salette e terminaram com Fátima, que é a mais recente delas, ou se os senhores quiserem com Nossa Senhora de Siracusa.

Essas aparições — Siracusa não foi propriamente uma aparição, mas foi uma manifestação de Nossa Senhora — todas as três reconhecidas pela Igreja. A primeira é Salette, a segunda é Lourdes, a terceira é Fátima e, se quiserem, a quarta é Siracusa.

Quer dizer, em todas essas a Igreja aceitou a ortodoxia das aparições e as admitiu até como festas dEla. Bem, em Siracusa que é a mais recente, o episcopado da província eclesiástica, a que a diocese de Siracusa pertence, depois de ter mandado fazer um exame das lágrimas que eram vertidas por uma imagem de Nossa Senhora, que se encontrava em casa de camponês e o exame tendo verificado que eram um líquido de lágrimas humanas, decretou o prodígio, reconheceu o milagre, mandou construir uma igreja e estabeleceu uma festa local, mas é a hierarquia local que admitiu este fato.

Bem, então os senhores tem quatro aparições. Nestas quatro grandes aparições, três tem segredos. Nossa Senhora confiou um segredo a Maximiano e Melanie. Nossa Senhora em Lourdes confiou um segredo a santa Bernadete e Santa Bernadete só revelou ao Papa Pio IX. Nossa Senhora confiou um segredo aos videntes de Fátima e de que a irmã Lúcia é guardiã. Nessas três aparições Nossa Senhora se manifestou profundamente entristecida com o estado da humanidade e preconizou um castigo tremendo que deveria vir em um determinado momento.

Portanto, nessas três aparições reconhecidas pela Igreja, Nossa Senhora adota uma posição em face dos dias de hoje, mas em face não só de hoje, mas [d]o transcurso das coisas nos últimos 100 anos que é uma posição semelhante, para não dizer que é exatamente a mesma, daquela que nós adotamos ao considerarmos a época de hoje. Os senhores estão continuamente em contato com padres, freiras, para não dizer com pessoas de categoria mais alta, com líderes católicos, quer dos elementos masculinos quer do feminino, que estão muito alegres, julgando que a nossa época é muito boa, que todas as coisas estão correndo muito bem.

E se se falasse a essas pessoas [sobre a ameaça de castigo contida nas profecias dessas aparições] , elas diriam que a Bagarre (*) é uma coisa absurda, que pelo contrário a religião está num progresso estupendo, etc., etc. Nós em face dessas pessoas fazemos o papel do indivíduo triste, preocupado, sombrio. Nós fazemos o papel do pessimista hipocondríaco, em face do indivíduo alegre, de nervos bem construídos, satisfeito, que tem uma opinião bonita a respeito das coisas. O nosso papel é um papel duro, porque é sempre duro prever, para uma humanidade gozadora, o castigo que ela está em vias de receber. E não espanta que ninguém ou muito pouca gente esteja disposta a acreditar na visão política que nós temos das coisas, que prenuncia o castigo, uma vez que Nossa Senhora, Ela mesma, em três mensagens que mandou, também não foi recebida.

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Noé construindo a Arca – Jan Sadeler

Faz parte de todas as épocas que vão muito mal, que quando se lhes avisa que vão mal elas não dão ouvidos, e é isso exatamente o porquê das grandes catástrofes da História. Porque se elas dessem atenção, se nessas épocas os homens dessem ouvidos [aos avisos], se emendariam e a catástrofe não viria. [N.R.: O exemplo mais  característico foi o dilúvio universal, quando  todo  mundo ria de Noé porque construía a arca esperando um grande  castigo.] É precisamente porque elas não se emendam que sai a catástrofe. E o não darem crédito a essas mensagens é uma prova a mais de que essas mensagens de fato não foram cumpridas. Quer dizer que os castigos nelas previstos, para o caso da humanidade prevaricar, vão de fato ser realizados.

A única dessas quatro grandes manifestações de Nossa Senhora que não falou foi de Siracusa. Mas Siracusa não foi uma visão, Siracusa foi um prodígio. Eu já disse há pouco, era uma casa de uma pessoa em que havia uma imagem de Nossa Senhora, dessas imagens comuns feitas de gesso, colada sobre um pedaço de madeira junto à parede. E essa imagem começou a verter lágrimas em determinado momento; foram feitos exames etc., e deu no que eu disse aos senhores. É claro que a figurazinha de gesso que representava ali Nossa Senhora, não haveria de falar. Mas é como quem já nem fala mais, limita-se a chorar. O silêncio aí diz mais do que quaisquer lágrimas. Os senhores diriam: “mas, Dr. Plinio, o senhor acaba de dizer que o milagre de Salette foi mais de cem anos atrás. Onde estão os castigos que Nossa Senhora prenunciou? Isso leva cem anos?”

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Guerra Franco-prussiana

Carga de cavalaria na Batalha de Rezonville

Os castigos começaram a vir. O mundo começou a se enchafurdar [cada vez] mais nas revoluções e pouco depois começava o ciclo das grandes guerras mundiais. A guerra franco-prussiana de 1870 foi o prenúncio da grande guerra de 1914, porque era exatamente a rivalidade franco-alemã que ia tomar o seu apogeu, depois essa rivalidade que em 1914 arrebentou como os senhores viram e na segunda guerra mundial teve a plenitude que os senhores viram. Essas três guerras foram, sobretudo e no começo, guerras da França com a Alemanha, com pretexto da Áustria, de Sudetos, de uma coisa e de outra, fundamentalmente guerras da Alemanha com a França e que foram num crescendo até chegar às guerras que afinal de contas prenunciavam a próxima guerra que pode evidentemente [ser] a guerra da Bagarre [e da catástrofe].

Assim nós devemos nos voltar para Nossa Senhora de La Salette, nesta data e fazer a Ela alguns pedidos. O primeiro pedido é que Ela mantenha bem firme em nossa alma esta convicção de quanto está má a época atualpara pôr em nosso espírito um repúdio completo dos males desta época. Não permitir que sejamos pessoas heresia branca (**), ou que sejamos pessoas otimistas, ou bobas ou de terceira posição.

Em segundo lugar, que Ela nos dê uma fé viva na realidade destes castigos em que a humanidade está merecendo cada vez mais incorrer. E em terceiro lugar, que Ela nos prepare para, chegando a ocasião destes castigos, nós sermos dos que não sejam castigados, mas sermos daqueles que lutem para a vitória e glória dEla.

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Vendo Nossa Senhora chorar em La Salette, Nossa Senhora das Dores, mas em que Ela não chora mais a crucifixão de Seu Filho, mas chora a crucifixão da Igreja Católica, pensando em tanta coisa que está se realizando no Concílio e por outros lugares, e que representam esta crucifixão, nós devemos ter uma palavra a Nossa Senhora de piedade, de respeito e de reparação.

Ao menos sermos as almas fiéis que não dobram os joelhos diante da impiedade triunfantee que dizem e continuam dizendo que o mal é mal e que o bem é bem. E que não pactuam com esta confusão monstruosa que está querendo se impor como elemento dominador de todo o universo. É o que nós devemos, no dia de amanhã, pedir a Nossa Senhora de La Salette.


NOTAS

(*) Bagarre: Um grande triunfo da Igreja e da Civilização Cristã, depois de uma crise, metaforicamente definida na linguagem quotidiana da TFP com esta palavra francesa – cfr. “O Cruzado do século XX – Plinio Corrêa de Oliveira“, Roberto de Mattei, Civilização Editora, Porto, 1996, Cap. VII, n. 10).

(**) Heresia Branca: Com a expressão “heresia branca”, o Prof. Plinio designa uma atitude sentimental que se manifesta sobretudo em certo tipo de piedade adocicada e em uma posição doutrinal relativista que procura justificar-se sob o pretexto de uma pretensa “caridade” para com o próximo.

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