Sede São Milas, sexta-feira, 24 de maio de 1974 – Santo do Dia
A D V E R T Ê N C I A
Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Os eremitas do Pilar me pediram para dizer alguma coisa a respeito de Nossa Senhora Auxiliadora e como esta devoção se liga a episódios passados etc.
A TFP pode ser considerada uma família na qual as gerações vão se sucedendo e sempre que numa família entra uma geração nova, os mais velhos repetem histórias antigas que os das gerações intermediárias já conheciam. De maneira que eu sou obrigado a repetir, o mais brevemente que eu possa, uma história que muito dos senhores já conhecem.
Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos, como os senhores sabem bem, é a invocação que celebra em Nossa Senhora o fato de que Ela com frequência, com uma solicitude materna, com uma generosidade, com uma amplidão de graças e de dons especial, Ela intervém frequentemente na vida dos féis para os ajudar, quer para sua santificação, quer para sua luta em favor da Igreja, quer para suas necessidades de caráter pessoal, terreno.
Então, Nossa Senhora Auxiliadora é Nossa Senhora enquanto votada a auxiliar, enquanto propensa a auxiliar, esperando as nossas orações, os nossos pedidos, a todo momento para nos auxiliar. Está é Nossa Senhora Auxiliadora.
Há um sabor especial nesta especificação: “auxiliadora dos cristãos”. O título não A celebra como auxiliadora de outros, embora Ela auxilie todos os homens, mas Ela é auxiliadora específica dos cristãos, mais do que de todos os outros. Porque estes são os verdadeiros filhos dEla, os filhos por excelência. Então é sobretudo enquanto cristãos – que quer dizer católico, porque o único cristão no sentido pleno da palavra é o católico, apostólico, romano – então, Nossa Senhora Auxiliadora dos cristãos é sobretudo auxiliadora dos católicos enquanto católicos. Quer dizer, enquanto ligados à Igreja, vivendo do espírito da Igreja. E, portanto, também enquanto “resistentes” porque Ela é sobretudo auxiliadora dos mais fiéis. E os srs. sabem bem que a “Resistência” é uma epopeia de fidelidade.
De que maneira esta noção ou essa devoção se firmou em minha vida?
Eu já tenho contado várias vezes, que eu tinha mais ou menos 10 ou 11 anos e era aluno no Colégio São Luís, quando eu cometi uma ação que eu não deveria de maneira nenhuma cometer (*). E a eu continuar nesse processo, nesse caminho, as coisas correriam para a minha perdição.
Isto chegou ao conhecimento dos meus pais e foram coisas que me aborreceram enormemente, que eu estava na iminência de ser mandado para um colégio interno – um colégio que era naquele tempo uma espécie se castigo para todas as crianças. Aqui, no Brasil, um colégio de uma severidade terrível, reputado… aliás o colégio era em Minas [Gerais], e parece que tinha essa fama em São Paulo. Em Minas, era tido como muito bom colégio, mas em São Paulo tinha a fama de uma masmorra para criança, o Colégio Caraça.
E eu estava ameaçado de ir para o colégio Caraça etc., etc. E estas coisas, os senhores dirão: “mas Dr. Plinio, está tomando a trágico coisas de crianças…”
Santo Agostinho diz muito bem que as coisas de criança impressionam as crianças como as coisas de um homem grande impressionam o homem grande e que para a criança uma tragédia dessa pode toldar todo o horizonte, como outra coisa maior tolda o horizonte do homem maduro.
Eu me lembro que até essa ocasião, eu tinha muito pouca devoção à Nossa Senhora. E é uma coisa horrorosa, mas eu tinha uma espécie de objeção contra o fato de que parecia que a devoção à Nossa Senhora toldava, criava obstáculos à devoção a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Eu me lembro até que eu tinha, no meu quarto de dormir, preso numa parede, um quadro de vidro pintado representando Nossa Senhora com o Menino Jesus. E eu me lembro explicitamente de mim, pequeno, fazendo esse comentário “que estória é essa Nossa Senhora, Nossa Senhora, Nossa Senhora, está bem, eu nesta casa quase que ouço falar mais de Nossa Senhora – era a casa onde eu morava – do que de Jesus Cristo. Agora, que propósito tem uma coisa dessas? Isso não é uma coisa que atrapalha?”
Mas neste apuro em que eu estava, eu fui rezar no Coração de Jesus. Eu não me lembro mais se fui à Missa, ou fui durante o dia numa hora de muito apuro. A Igreja do Coração de Jesus ficava a uma distância muito pequena de minha casa e era onde minha família costumava ir à Missa aos Domingos e eu costumava ir com eles.
Eu fui muito… muito aborrecido e muito preocupado para a Igreja e comecei a rezar no fundo da igreja, tendo em vista aquela imagem branca de Nossa Senhora Auxiliadora, de mármore, que está no fundo da nave, do lado direito. E que era tal e qual, apenas não tinha umas pinturazinhas douradas que depois foram feitas.
E quando eu olhei para aquela imagem, naquela aflição, me vieram as palavras da “Salve Rainha”: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia etc., etc., “ e eu me dei bem conta que naquele estado em que eu estava, é só Ela tendo misericórdia de mim e por ser minha Mãe. E comparando com o que era mamãe, me veio a ideia muito claramente como Ela deveria ser misericordiosa, porque mamãe era em extremo misericordiosa para comigo. Então, Ela ainda mais, incomparavelmente mais do que mamãe, porque Ela era mais verdadeiramente minha Mãe do que mamãe e porque Ela tinha todas as virtudes sem comparação possível com ninguém. De maneira que Ela tinha que ter uma misericórdia incomparavelmente maior do que mamãe.
Então comecei a rezar para Ela e as palavras da “Salve Rainha” me foram entrando uma por uma, como se fossem uma luz. Então é isto: Ela é Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança… E enquanto eu ia pensando: “está vendo, como ela é minha vida”? Quer dizer, eu estaria liquidado se Ela, pelo menos, não tivesse pena de mim e não advogasse minha causa junto ao Filho dEla.
Depois, “doçura” – “que doçura restaria em minha vida se não fosse a possibilidade de rezar para Ela?…”
Depois, “esperança” – “minha esperança é Ela, e não tem outra esperança! Porque se Ela não tem pena de um trapo sujo como eu, os trapos sujos não têm mais solução na terra. Mas eu tenho esperança de que Ela tenha pena de mim” .
E assim por diante, a oração foi se desfiando em todas as suas palavras, uma por uma e me parecendo verdadeiramente maravilhosa.
E sem que eu tivesse tido nenhuma revelação, nenhuma aparição, que eu nunca tive nada disso, sem que eu tivesse tido nada disso, me parecia que a imagem – não quero dizer que me falasse, nem nada – mas algo da imagem me parecia incutir – aqui está a fórmula adequada: algo da imagem incutia em mim a convicção de que Nossa Senhora nunca jamais, em nenhuma circunstância me abandonaria. Em todos os casos, em todas as aflições, em todos os perigos, até em todas as infidelidades, Ela teria pena de mim e que não havia o que eu fizesse que Ela não me socorresse, não me ajudasse.
Donde eu formei ali a seguinte convicção: “você está vendo? Você vai para o inferno se você não se agarrar a Ela, porque você não merece forças para continuar bem o seu caminho; é um menino sem força de vontade, sem categoria, sem nada, um trapo que não fará nada que preste, só fará coisas que não preste, mas se se agarrar a Ela, entenda bem, que tudo muda, você poderá ter forças, você poderá ter energia, poderá modificar o seu modo de ser e poderá ser uma pessoa exímia.
Mas não se esqueça da verdade que você aprendeu: a coisa é com Ela e com mais ninguém! Ela é que arranja as coisas com Nosso Senhor para você, ou você orienta toda a sua vida rumo a Ela ou se você desorientar um pouco, flectir um pouco que seja, não tem nada para você; com Ela tem tudo quando razoavelmente você possa aspirar; sem Ela você não tem absolutamente nada.
Também, note bem: com Ela toda a suavidade, toda a bondade, isto será fácil, será atraente; sem Ela não será nada”.
E Ela mesmo me ajudou a ter isto em vista a vida inteira. Então, a rezar a Ela na certeza de que todas as graças que eu vinha recebendo depois eram a confirmação desse perdão dEla, eram posteriores perdões, eram crescentes misericórdias, tudo dado sem eu merecer, ou excedendo méritos que porventura eu tivesse, mas sempre numa proporção onde entrava a misericórdia muitíssimo mais do que alguma justiça que pudesse entrar. E sempre na certeza de que tudo no fundo haveria de dar certo, porque Ela é “auxílio dos cristãos”.
Então, daí me veio o fato de que quando eu tive que comprar uma imagem para a Junta Arquidiocesana da Ação Católica – era a primeira associação religiosa na minha vida para a qual eu comprava uma imagem; eu teria nesse tempo… não me lembro bem, mas por volta de 30 anos – eu comprei uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora e fiquei muito contente de encontrar esta imagem.
É a que está na nossa capela e que quando nós fomos expulsos da Ação Católica… eu estava contando até, hoje cedo numa roda, depois da Missa celebrada pelo Conego José Luís, de medo que se confundisse aquilo com objetos de propriedade da Cúria, eu colei um cartão de visita embaixo da imagem, na base da imagem escrito “Pertence a – depois vinha o nome impresso – Plinio Corrêa de Oliveira”, porque se saísse uma discussão, eu levantava: “olha aqui isso, quem comprou fui eu”.
Quando nós saímos da Ação Católica, eu levei a imagem. A imagem esteve num altarzinho que nós tínhamos na sede da Rua Martim Francisco, numa capelazinha que fica no fundo, ocupa uma parte da sala de fundo aonde a Comissão do Exterior tem uma sala de reuniões hoje.
De lá mudou-se para a nossa capela na Rua Vieira de Carvalho; depois mudou-se para a capela da Rua Pará; e depois mudou-se – esteve durante muito tempo na sala que eu usava no velho “Buissonnets” [sede à Rua Martinico Prado 206-210] e depois passou para a Sede de Reino de Maria [Rua Maranhão, em Higienópolis]. E sempre com o hábito, quando nós mudávamos de sede, transportar a imagem, D. Mayer e eu, outras pessoas no automóvel, mas fundamentalmente D. Mayer e eu, e rezando o terço durante o transporte da imagem. De maneira que daí vem a nossa invocação também nas orações da noite: “Auxilium christianorum, ora pro nobis”, é Nossa Senhora auxiliadora dos cristãos.
Que esta pequena explicação sirva para cada um dos senhores, sobretudo os eremitas do Pilar, sejam muito dedicados, muito devotos de Nossa Senhora Auxiliadora.
(*) Essa narração também foi feita, por exemplo, em Conferência de encerramento da II Semana Especializada para a Formação Anticomunista (SEFAC), a 15 de janeiro de 1970.
Para mais documentos relativos à Nossa Senhora auxílio dos cristãos, clique aqui.