Plinio Corrêa de Oliveira
Carta para Alceu Amoroso Lima, 14-8-1930
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[Nota: os negritos são deste site]
Meu caro amigo, Dr. Alceu
Envio-lhe, com os agradecimentos da A.U.C., o “Momento Decisivo”, que mandamos imprimir e distribuir profusamente nas quatro Escolas Superiores. O artigo foi apreciadíssimo, até mesmo pelos não católicos. Pareceu-me, principalmente, que causou ótima impressão o fato de se arregimentarem os católicos para combater o comunismo. Além disto, o artigo em questão fotografa o momento atual, e isto não pode deixar de ter impressionado muito. (…) Realmente, a situação é das mais graves. Fala-se muito em revolução, e a agitação de certos elementos do Partido Democrático, que chegam a pregar a revolução, e declaram querer reservar suas forças para o momento oportuno, que, segundo eles, está muito próximo, faz suspeito de alguma coisa. No entanto, será inútil declarar que, em assunto como este, dispomos somente de indícios, sendo impossível afirmar com toda a segurança se há ou não qualquer coisa a este respeito. No entanto, um homem prevenido vale por dois, e nós não devemos deixar de encarar como possível a hipótese de uma revolução, que se funda em sérios indícios. Ora, o país estaria, ipso facto, entregue ao comunismo. A situação verdadeiramente anárquica em que nos encontraríamos, quer vencessem gregos, quer troianos, seria exatamente o ambiente mais favorável para que os agitadores de Moscou pudessem semear suas ideias. A organização comunista é muitíssimo mais perfeita do que imaginamos. Não estaremos nós, porventura, sobre um vulcão? O que mais nos desgosta, é verificar que os católicos, desunidos, divididos e desorientados, ou se empenham na luta em prol da demagogia, ou defendem o governo, sem a preocupação de moderar, isto é, de tornar mais prudentes as atitudes de pouco caso que o governo (afinal o representante do princípio de autoridade) toma em relação aos problemas nacionais. Assim é que os católicos do partido oposicionista não tratam de moderar, ao menos, os excessos de seus correligionários políticos, e os católicos perrepistas não tratam de imprimir certo cunho de decência às atitudes da autoridade. Ora, nós, os que não pertencemos a partido algum, e que vemos com espírito desprevenido a situação atual, não podemos deixar de recear que uma revolução, ou mesmo simplesmente o prolongamento da atual luta, nos lançará, finalmente, ou nos braços do comunismo, ou de um liberalismo demagógico e sentimental à 1789. Se arrebentar uma revolução, estaremos entregues ao comunismo. Se não arrebentar, a indignação pública crescerá a tal ponto, que será capaz de levar ao triunfo o Partido Democrático, que republicanizará a República, e porá em prática o mais “liberal” dos programas. Se os católicos pudessem receber um mot d’ordre, uma orientação que os afastasse deste demagogismo perigoso, e que os tornasse defensores da ordem, teríamos ao menos contribuído com nossos esforços para diminuir a atual agitação. E quem sabe se nossa atitude moderada e imparcial não influiria no Brasil, ou antes nos brasileiros de bom senso, e conseguiria serenar um pouco os ânimos? Lutar pela ordem não é ser republicano (eu, principalmente, sem ser patrionovista, sou monarquista convicto) nem ser perrepista. Nossos atuais governos são péssimos. Se o devemos defender, é porque temos o direito de esperar coisa pior, caso eles sejam vencidos. Jackson (de Figueiredo) defendeu (o Presidente) Bernardes. Não digo que devamos defender Washington (Luís). Defendamos, porém, o Brasil contra a demagogia e o comunismo. É nosso dever. Não seria possível que o Centro Dom Vital, pondo-se em entendimento com outros elementos católicos que não pertençam a partidos políticos, e também de acordo com elementos paulistas, previamente consultados, tomassem uma atitude qualquer, através de um manifesto ou outro qualquer documento de larga publicidade? Poder-se-ia dizer, assim, que os CATÓLICOS tomaram esta ou aquela atitude, sem envolver o nome do clero, nem a autoridade da Igreja. Grande número dos nossos, atualmente transviados em matéria política, se juntariam a nós, e isto com grande proveito para a Igreja e para a Pátria. Seria necessário que evitássemos, no entanto, parecer defensores do partido atualmente dominante. Seríamos um grupo conservador e imparcial, patriota e digno. Tenho conversado com diversas pessoas católicas, que partilham de meu modo de ver o atual estado de coisas. (…) Passando a outra questão, venho formular mais uma proposta. Lembro-me perfeitamente de que, em 1928, o Governo inglês mandou ao nosso alguns documentos obtidos manu militari na Associação comercial russa Arcos, que funcionava como uma dependência da embaixada russa em Londres. Os referidos documentos diziam respeito à propaganda comunista no Brasil. Segundo eles, deveriam nossos comunistas aliar-se a qualquer partido oposicionista (ainda que fosse monarquista!) para estabelecer a desordem no país, e a cisão nas classes conservadoras. À mercê desta desordem, introduziriam, então, suas ideias entre nós. Como se vê, o plano traçado em 1928 foi executado à risca. Não foi outra a atitude dos comunistas, que constituem, hoje, um perigo ameaçador. Ora, se os católicos e a opinião conservadora, em geral, tomassem conhecimento disto, que ótimo resultado não se obteria! Muita gente pensa que o comunismo é um espantalho de que se serve o Governo, e que não constitui um perigo real. Ora, os documentos em questão seriam um desmentido eloquentíssimo. Se conseguíssemos publicar os referidos documentos, devidamente prefaciados, e com dados seguros e bem demonstrados, sobre os progressos da propaganda comunista, o efeito seria imenso. O Sr. Dr. (…), funcionário do Ministério das Relações Exteriores, poderia, talvez, obter os papéis, que devem estar arquivados naquele Ministério. No entanto, o prefácio etc., deveriam ser feitos por pessoas inteiramente insuspeitas de governismo. Uma publicação destas, trazendo um cunho governamental, perde metade de eficácia. Porque não prefacia o Senhor os documentos, e isto, talvez, como presidente do Centro Dom Vital? Peço-lhe desculpas pela extensão da carta. Os assuntos são complexos, e mais vale mais escrever demais do que excessivamente pouco. Em suma, o que proponho é o seguinte: os católicos, ou ao menos um bom número deles, devem declarar que, como cidadãos, declaram não ser nem democráticos, nem situacionistas. São contrários, isto sim, à desordem e à demagogia. Mas, também, são indiferentes a uma luta política qualquer, desde que se conserve na ordem a serenidade exigidas absolutamente pelo momento. De fato, para nós, a regeneração do Brasil não está neste partido ou naquele, mas em Cristo, Nosso Senhor. Nosso lema é recristianizar, para restaurar. Escrever-lhe-ei dentro em breve sobre o club dos livros. Aceite um apertado abraço do amigo sincero e grande admirador Plinio S. Paulo, 14-VIII-1930. |