Mentalidade TFP e a de uma boa Pia União de Filhas de Maria – Sempre esperei enfrentar grandes polêmicas doutrinárias… E ainda espero!

Conversa durante chá no Eremo Praesto Sum, 7 de abril de 1986

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

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A baleia expele o Profeta Jonas de seu interior (pintura medieval alemã)

 

 

Então, meus caros, existe alguma pergunta a fazer? Mário, uma pergunta Mário? Você Boldrini?
(pergunta)
Todas essas coisas, meu filho, exigem uma espécie de precisão de pensamento e de expressão, que a gente leva muitas décadas da vida para adquirir, e que portanto, não se pode pedir na idade em que os senhores estão. Mas uma pessoa mais velha ajudando a adquirir, adquirem mais depressa!
De maneira que os senhores se ponham diante da Reunião de Recortes de sábado: há alguma coisa de verdadeiro, e alguma coisa de não verdadeiro diante do que o senhor disse, mas não daquilo que o senhor sentiu. O senhor por ter sentido de um jeito, não encontra meios de descrever o que sentiu, senão dizer uma coisa que não sentiu propriamente… O que muitas vezes se dá conosco: não sabemos exprimir bem exatamente o que sentimos, e exprimimos como podemos… Sai mais ou menos, não é?
Diante do que eu disse, é contraditória a impressão que se tem com a realidade como vai ser. Mas, se uma pessoa explicita, aí a coisa cai clara.
À primeira vista é tão lógico o plano que estivemos estudando juntos na Reunião de Recortes, aquilo está numa tal coerência com o fundo dos acontecimentos, que a pessoa diz: “Vai acontecer isto, e isto mesmo”. Depois, quando a gente vai ver, de fato vai acontecer isso, vai acontecer isso mesmo, mas de outro modo.
Eu lhe dou um exemplo tão alto, tão alto, que quase que estoura o assunto, mas enfim, pode-se dar o exemplo: Nossa Senhora com São José e o Menino Jesus. Quando o Menino Jesus nasceu era normal, e já antes de Ele nascer, que Nossa Senhora e São José tivessem uma certa idéia de como seria a vida dos três, juntos, constituindo a Sagrada Família.
Por exemplo, São José – eu não ousaria dizer que é o que está mais próximo de nós, mas é o que está menos astronomicamente distante de nós – era legitimo que ele pensasse o seguinte: “Bem, com essa Esposa, como não nasceu outra para nenhum homem na História do mundo, nem nascerá; e com esse Filho anterior a todos os séculos, a nossa vida de família vai ser uma sucessão continua de maravilhas, de encantamentos, etc., etc.”, e nada do que um pai tem o direito e até o dever de recear quando nasce um filho – de aborrecimento, de tristeza, se o pai é muito feliz o filho lhe dá também algumas alegrias… Os senhores, não sei se conhecem um provérbio espanhol que é mais ou menos assim “Cria hijos e te sacarán los ojos”… É isto!
(“Para que te saquen los ojos…”)
Para que te saquen los ojos… Bem, isto estava certamente afastado com as perspectivas da Sagrada Família.
Bem, e como imaginar da parte do Menino Jesus uma travessura? Ou qualquer ação desobediente ou ilícita? Mas nem sequer é imaginável sem blasfêmia…
Bom, a vida deles foi isso? Foi exatamente isso. Mas esse “exatamente” comporta uma exceção: é a fuga do Menino Jesus no Templo. Quer dizer, então, essas previsões dele não se cumpriram? Cumpriram-se exatamente, mas com um bolsão que não tira nada da exatidão da previsão, mas que é uma surpresa…
Não foi uma travessura, foi um gesto sublime, misterioso, insondável! Se é o que não foi é uma travessura. Mas, o sentir de Nossa Senhora e São José quando o Menino fugiu, Eles não suspeitaram que Ele tivesse feito uma travessura, mas era uma dor muito maior do que uma travessura pode causar a um pai.
A tal ponto que Nossa Senhora fez aquela pergunta a Ele: “Meu Filho, porque fizestes conosco assim?” “Assim” quer dizer inesperado. Não é uma censura. Ela queria saber qual é a sublimidade desse mistério. Era natural que Ela quisesse saber, mas é patente que os dois tinham sofrido enormemente!
Acrescento mais: nunca um pai, nunca uma mãe sofreram tanto de seu filho quanto Nossa Senhora e São José do Menino Jesus no Templo. Entretanto, é exatamente verdade que os prognósticos de São José se cumpriram. Se quiserem eu explico melhor, não sei se está bem claro… Está bem claro isso? (sim.)
Assim também nessas previsões que a gente faz. Sai das nuvens e desça aqui, ali, ali… É assim, em comparação com São José, Nossa Senhora e o Menino Jesus… “hic tacet omnis língua – aqui se cale toda língua”.
Mas, nós fazemos essas previsões. No total, enquanto elas estão se realizando, a impressão que se tem é que elas em muito se realizam e em muito não estão se realizando. Feito o epílogo a gente olha no conjunto e diz: “Não, foi tudo assim!”
Exemplos de minha vida, centenas de milhares! Quer dizer, coisas que eu pensava que devessem dar-se de um certo modo, deram-se, mas o que entrou de permeio… É o caso de dizer como alguém disse aqui: “Nossa Mãe!” É isso, não se imagina!…
Por exemplo, havia nos meus antigos prognósticos, antes da TFP nascer, quando éramos um grupinho de 4, 5 ou 6 e que se percebia, para além das nuvens, já não digo nas nuvens, mas para além das nuvens que a TFP estava em gestação, eu pensava na TFP com cavaleiros dessa, daquela e daquela outra nação; desse, daquele e daquele outro Estado do Brasil; pensava em TFPs de todas as nações do mundo, se quiserem, TFPs de todos os continentes.
Eu não pensava de nenhum modo que conjunto de circunstâncias haveria de reunir esses cavaleiros em torno de nós. Quer dizer, eu pensava que assim como tinha nascido a TFP brasileira, nasceriam as outras TFPs. O que em linhas gerais, é verdade para as outras TFPs.
Por exemplo, a TFP argentina eu encontrei formada, o grupo aderindo a nós constituiu-se uma TFP, era o grupo de “Cruzada”. A TFP chilena encontrei formada, era o grupo de “Fiducia”. Outras TFPs encontrei como nascidas de grupos que deviam ter constituído TFP e não constituíram, mas os filhos deles vieram a constituir. Como elementos iniciais, os filhos deles vieram a se constituir TFP.
(…) luz do dia, considerada por todos, odiada por muitos! Retribuindo e retribuindo como, com que abundância!
Eu não imaginei a TFP objeto ao mesmo tempo de uma – imaginei polemicas doutrinárias fenomenais, e imaginei contestações de toda ordem! Sonhei com essas contestações, e quando eu vi que tardavam, tive das maiores decepções de minha vida. E espero por elas hoje como no começo da minha vida… É um dos pontos da minha esperança. E um membro da TFP que não seja assim, está por equívoco entre nós! É preciso que com urgência ele complete o seu espírito, porque como ele é no momento, ele daria para pertencer a uma boa Pia União de Filhas de Maria…
Como eu sonhei com isso! Como eu quis isso! Em toda volta do caminho que davam as nossas vias eu me perguntava: será a hora?
A polêmica doutrinária… Os senhores me vêem preparado para a polêmica doutrinária dos pés à cabeça! Eu tenho impressão que se eu estiver dormindo, alguém me acordar e der uma objeção doutrinária, eu respondo… Tenho essa impressão.
Polêmicas temos tido muitas (…) que teminhas! Nós saímos com nossos livros e desdobramos sempre um grande estandarte doutrinário! O adversário nunca tem a coragem de discutir, porque nosso material já é tão preparado para a polêmica, que eles logo de início entendem que não adianta discutir. Os senhores conhecem a história dos nossos estrondos, conhecem tudo. Eles não atacam nada, nada.
Nós desdobramos os estandartes, esperando tiro! Eles soltam um verme que tenta roer o fuste… É isso!
Eu esperava poder desatar contra eles invectivas magníficas, radiosas e de esmagar. A parte madura de minha vida desenvolveu-se sob a gangrena da atmosfera de Yalta – que é uma gangrena. E que eu sou, ainda mais em certos ambientes… quando eu queria vociferar como um Macabeu! Mas a invectiva de estandarte despregado que eu tanto esperei, esta não vem! Eu sou obrigado a conduzir uma luta suburbana, de 5ª, contra objetantes que não objetam nada, caluniadores que caluniam sobre imbecilidades e idiotices, e fazer uns livros de refutação em que, segundo o dito de Dom Mayer, eu procuro por uma montanha em cima de cada pata do mosquito que eu quero isolar. É verdade!…
Dom Mayer me dizia – já era no período em que ele estava se separando de nós – que ela via nisso um defeito de minhas obras. Que eu refutava cada coisa, casa coisa… que eu devia refutar por alto, com certa generosidade. Eu disse: não tem “generosidade” Dom Mayer, eu vejo bem que se eu não puser um rochedo em cima de cada pata de cada formiga de um enxame, tem uma claque – eu deveria ter dito que tem uma “clique” – tem uma claque que está do lado de fora esperando para dizer: “Aquela pata lá não tem, é porque ali tem casa podre, ali, pápápápá….”
É isto. E, portanto, é isto mesmo: eu ponho um rochedo em cima e, se pudesse por dois rochedos em cima, eu punha!
Agora, voltando à pergunta do meu Nelson: vistas estas dezenas de anos assim, a luta foi mais ou menos heróica do que eu imaginava?
(Muito mais!)
Não tem comparação! Então, desenvolveu-se exatamente como eu esperava. Deu até mais do que eu esperava. Em certo sentido, o contrário do que eu esperava…
E eu creio – nunca fiz estudo mais exato das profecias, nem das públicas do Antigo e Novo Testamento, nem sequer das privadas, nunca fiz assim um estudo científico; li alguma coisa, e com muita atenção, isso sim, mas não um estudo propriamente dito.
Mas o senhor tomando, por exemplo, a profecia de Fátima, o senhor tem a impressão que no máximo dentro de 10 anos, se as coisas não se acertaram, desata em “Bagarre”. E se uma pessoa lhe dissesse que não, que isso iria até 1986, os senhores diriam: “mau espírito”.
Está bom, foi o que aconteceu! Quer dizer, as profecias têm surpresas – as públicas como as privadas. E para dizer tudo numa palavra só, Jonas no seu caminho profético esperava tudo menos ser comido por uma baleia! E quando ele estava no abdômen da baleia, glorificando calmamente a Deus, mas achando as coisas muito esquisitas… é um sistema de hospedagem que ele não entendia…
Bem, quando ele estava no abdômen da baleia glorificando a Deus, sentindo não sei que cheiros hein! levando constricções musculares não sei de que ordem, tendo falta de ar não sei de que forma, perguntando-se se ele não estava dentro de uma sepultura, e se ele não era o único homem vivo da terra, vivo, dentro de uma sepultura viva!
Único fato da História! Ele via que aquela baleia estava navegando… para onde? Era uma das perguntas que ele devia se por: onde é que vai me deixar essa baleia? Ooohhhh!!
Os senhores já se imaginaram dentro de uma baleia? Mas é o caso de se imaginarem!
Depois, problemas: mato ou não mato essa baleia? Se eu mato essa baleia, talvez eu saia de dentro dela, mas quem sabe se ela vai ao fundo do mar se ela perder a vida? Do que é que me adianta a mim sair de dentro da baleia no fundo do mar e depois não subo mais?  Ou se subo, quando estiver à tona não tenho mais respiração, morri! Eu a mato, mas não me dou conta que eu estou vivendo da vida dela: é o ar que ela respira da água que entra transformado em mim, dá respiração a mim mesmo!
Pelo contrário, eu vou me fazer outra pergunta: como me mexer bem direitinho para não matar a baleia! A baleia que me prende! Ele não sabia que a baleia estava fazendo a parte da viagem que ele não podia fazer sem barco, e que ela o havia de pôr na praia dos destinos dele!
Os senhores imaginem ele começar a sentir convulsões estranhas na baleia… de repente percebe que a baleia pára, ele não sabe se está no fundo do mar, onde é que ele está, onde está a baleia. Em certo momento ele percebe que a baleia o está expelindo! Procura resistir! Esta bruta aqui… Humhumhum… Mas, como é vontade de Deus, a baleia o ejeta! Ele pára na praia! Ahahaha!… Anda uns passos, porque sabe que na praia a baleia não o alcança, começa a olhar a baleia de longe… Ela o saúda com o rabo e entra para dentro do mar de novo…
É uma hipótese, as coisas podem ter se passado assim. Afunda a baleia. Vê passar uma gente estranha, com nariz adunco, umas barbonas, uns olhos oblíquos, ferozes, falando uma língua que ele não entende! No meio vem um prisioneiro. Ele olha e percebe logo pelo jeito que é um judeu, conterrâneo dele, amigo de raça. Olham-se… O judeu faz um sinal para ele: encontre-me lá… Mais adiante se encontram… ohhh!
— Onde é que eu estou?
— Você? Você está na entrada do Rio Eufrates. Suba mais um pouco e encontra Nínive…
— Era para onde eu queria ir… que baleia gentil!…
Quer dizer, aquilo tudo foi calculado assim. Quando as coisas se realizarem, os srs. terão dito: é assim. Mas, não se realizarão como nós estamos imaginando…
Eu acho muito importante ter isso em linha de conta, sob pena de a gente se emaranhar num dédalo de coisas que depois a gente não entende.
Bem, meus caros…

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