Catolicismo, N° 526, outubro de 1994 (www.catolicismo.com.br)
TFP denuncia “operação publicitária de resgate” para salvar Fidel Castro
Incisivo manifesto da entidade aponta as verdadeiras causas – silenciadas por órgãos da mídia – da desesperadora situação reinante em Cuba e do alarmante êxodo dos “balseros” para os EUA, além de desmascarar a ampla manobra publicitária, em nível internacional, visando salvar da derrocada um regime inteiramente falido
O regime marxista-leninista de Castro atravessa a maior crise de sua lamentável história. Os recentes episódios em que milhares de cubanos – os chamados “balseros” – se lançam diariamente ao mar, preferindo enfrentar o risco de morte a continuar um minuto a mais na asfixiante ilha-cárcere do Caribe, são bastante eloqüentes.
Sem embargo, vem se delineando no horizonte internacional uma sutil “operação publicitária de resgate” com o objetivo de anestesiar e amortecer as justas reações de indignação anticastrista que se levantam hoje por todo o mundo civilizado. Essa “operação” de resgate criaria clima psicológico favorável a uma maciça ajuda econômica de nações ocidentais ao regime cubano e, inclusive, a suspensão do bloqueio econômico norte-americano.
Desse modo, sem ceder um milímetro em seu retrógrado e confessado marxismo-leninismo, o chefe comunista poderá continuar oprimindo o povo cubano, fomentando movimentos de esquerda revolucionária em nações democráticas do continente e inclusive liderando uma eventual frente diplomática antinorte-americana nas Américas.
Nessa preocupante perspectiva, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP, apresenta ao público algumas considerações:
1. A revolução comunista em Cuba, desde fins da década de 50, vem contando invariavelmente com o decisivo apoio de “quinta-colunas” atuantes em importantes setores da imprensa internacional. Alguns especialistas chegam a afirmar que, sem esse elemento publicitário de sustentação, o marxismo jamais teria triunfado na ilha do Caribe.
Cabe mencionar, como um fato pioneiro, a série de prestigiosas entrevistas feitas com Fidel Castro pelo jornalista Herbert Matthews, e publicadas pelo “The New York Times”. É inegável que tais entrevistas tiveram papel decisivo na projeção internacional do “mito” de Fidel Castro como “idealista” e “amante da liberdade”, e para consolidar internamente a então frágil aventura comunista em Cuba (cf. John P. Wallach, “The Selling Fidel Castro – The Media and the Cuban Revolution”, Transaction Books, New Jersey, 1987).
2. Ao longo de várias décadas, valendo-se de influentes setores da imprensa, hábeis propagandistas foram esculpindo aos olhos da opinião mundial a imagem do governante cubano como um moderno “Robin Hood”, e de seu nefasto regime marxista como um “paraíso” de justiça social (cf. John P. Wallach, “Fidel Castro and the United States Press”, CANF, Washington, 1987). Gerações inteiras de jovens das três Américas foram influenciadas por essa insidiosa propaganda, que contribuiu para semear a discórdia – quando não a subversão e a guerrilha sangrenta – no seio de seus respectivos países.
3. A tal coro publicitário não faltaram vozes de estadistas, intelectuais, empresários e até eclesiásticos, que ajudavam – direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente – a consolidar o “mito” da revolução comunista.
Nos últimos dias, as agências internacionais têm consignado declarações de intelectuais e políticos norte-americanos, e de figuras de outros países como o presidente da França – o socialista François Mitterrand – que pleiteiam a suspensão do embargo comercial norte-americano, medida desejada com indisfarçável frenesi pelo chefe cubano.
4. Com a queda do império soviético, o regime de Havana perdeu sua principal sustentação econômica, que entre 1959 e 1991 chegou a oito bilhões de dólares anuais, segundo recentes revelações de Yuri Pavlov, ex-diretor do Departamento para a América Latina da Rússia soviética. Essa fabulosa injeção de dinheiro foi dissipada por Castro em aventuras guerrilheiras na América Latina e na África, bem como na manutenção da “nomenklatura” cubana.
Como se sabe, o regime castrista arruinou a outrora florescente economia do país, e, apesar dos subsídios soviéticos, o povo da ilha passou a alimentar-se através do implacável e humilhante sistema de “cartões de racionamento”.
5. Mais recentemente, as tão generosas quanto desconcertantes ajudas financeiras de certos governos ocidentais e de alguns mega-empresários pouco escrupulosos não foram suficientes para substituir os rios de dinheiro soviético. Paralelamente, a situação de miséria do povo chegou a extremos sem precedentes. Com o que, conforme a fábula de Andersen, essa trágica situação clama hoje aos quatro ventos: “O regime comunista cubano está nu!”
6. Em vista disso, Fidel Castro foi sendo reduzido a uma situação insustentável, em nível interno e externo, ao mesmo tempo em que começaram a perceber-se no horizonte claras esperanças de um imediato desmoronamento do regime. Não obstante, enigmaticamente vai se articulando uma gigantesca “operação de resgate” do regime castrista – de cunho fundamentalmente publicitário -, que procura desviar as atenções internacionais dos verdadeiros culpados da atual situação da ilha-presídio: o marxista-leninista Fidel Castro e sua “nomenklatura”.
7. Com efeito, passaram a ser veiculadas certas notícias de modo a amortecer a natural e explicável indignação anticastrista que a atual situação cubana desperta na opinião pública continental. Assim, segundo essa propaganda insidiosa e sutil, a miséria atroz de Cuba não se deveria ao fracasso inerente a um regime coletivista que nega a propriedade privada, senão a conjunturas internacionais como o embargo comercial norte-americano; a repressão e a absoluta falta de liberdade que sofre o povo cubano – condenada recentemente pela Comissão de Direitos Humanos da ONU – é apresentada como medida para proteger os “êxitos” e a “estabilidade” da revolução, ameaçados por “inimigos” internos e externos; a arrogância de Fidel Castro é habilmente maquilada de modo a metamorfoseá-lo em vítima inocente do “fascismo internacional” etc.
8. Em uma palavra, está em curso uma “operação publicitária de resgate” que, utilizando técnicas de baldeação ideológica inadvertida [cf. Plinio Corrêa de Oliveira, Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1974 (*)], pretende livrar o governante de Havana do banco dos réus, no qual a opinião pública com justiça o colocou. Com isso, procura-se assegurar-lhe a qualquer preço uma sobrevivência política no seio das Américas.
9. Nesta hora crucial, a TFP não pode deixar de manifestar publicamente sua categórica denúncia sobre tais manobras.
São Paulo, 9 de setembro de 1994
(*) Para consultar “on line” e/ou fazer “download” da obra Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo clique em https://www.pliniocorreadeoliveira.info/livros.asp