Luz, água ou lenha? – Folha de S. Paulo, 22 de janeiro de 1969

Plinio Corrêa de Oliveira

Entre as entidades mais em foco no Brasil atual está, sem dúvida, a TFP. O grande número de publicações votadas pela imprensa à TFP é índice robusto dessa notoriedade. Mas, considerado em si, esse índice é algum tanto discutível. Há associações e pessoas sobre as quais a imprensa, o rádio e a televisão discorrem copiosamente. Sem embargo, fala-se um pouco delas, e acabou-se. Se os grandes meios de publicidade se calam, elas entram no mais inteiro esquecimento. Com a TFP, dá-se o contrário. Mesmo fora de nossos períodos de campanha, há largos setores do público em que se discute com freqüência a seu respeito. E mais extensos ainda são os setores nos quais, embora não se fale tão amiúde dela, as atenções são continuamente sensíveis a qualquer gesto, atitude, ou pronunciamento procedente de nossas fileiras, que provocam logo críticas ou aplausos. Isto sim é notoriedade. E da mais genuína.

Não confundo notoriedade com simpatia. Seríamos tolos, os da TFP, se ignorássemos que suscitamos, a par de aplausos entusiásticos que nos comovem, críticas acerbadíssimas que nem de longe nos desalentam. Afirmo simplesmente que não há brasileiro que não tenha ouvido falar da TFP. Minha afirmação não vai além.

As pessoas que discutem sobre a TFP, fazem a respeito de nossa entidade uma idéia certa? Penso que nem sempre. Veio-me então à idéia escrever sobre a matéria. Fá-lo-ei do modo mais sintético, para atender aos cânones jornalísticos.

Que utilidade haverá nas informações que darei? Serão recebidas como luz a esclarecer aspectos da controvérsia? Como água a extinguir as ardências da disputa? Ou como lenha a acender ainda mais a polêmica? Não sei. O que sei é que – segundo proclamou o grande Bossuet – a verdade pede fundamentalmente uma coisa para ser julgada: é ser ouvida. Público numeroso, vivaz, atualizado, influente das Folhas, ouve-me.

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A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição Família e Propriedade é uma entidade cívica legalmente registrada em São Paulo no ano de 1960. Seus sócios formam, em cada Estado, uma secção, tendo à frente um diretório seccional. As secções se dividem em subsecções, constituídas pelos sócios residentes numa mesma cidade e dirigidas por um diretório subseccional. As secções são coordenadas por dois órgãos de jurisdição em todo o país, o Conselho Nacional, com o encargo das atividades sociais nos seus aspectos culturais e cívicos, e a Diretoria Administrativa e Financeira Nacional, cujo campo de ação é definido pelo próprio título. A TFP tem por fim combater a maré-montante do socialismo e do comunismo, dois sistemas que reputamos afins entre si, como a tuberculose simples o é com a tuberculose galopante.

Ambos estes sistemas repousam sobre a mesma base filosófica errônea da qual deduzem toda uma série de máximas culturais, sociais e econômicas. Não pode, pois, haver combate sério contra eles se não incluir o contra-ataque filosófico, com suas respectivas implicações nos vários campos do pensamento humano. Assim, a TFP – entre os diversos modos necessários que há para combater o comunismo – se dedica primordialmente à ação ideológica. Para tal, prestigia ela numerosas obras doutrinárias escritas por sócios ou amigos. O sistema de difusão dessas obras consiste na venda em logradouros públicos, por grupos de jovens à sombra – ou melhor, à luz – do tão característico estandarte rubro com o leão rompante.

Além da difusão de obras, a TFP promove cursos gratuitos sobre assuntos cívico-culturais para formação e recrutamento de sócios e de militantes.

Tanto as obras quanto os cursos se destinam como já disse, a combater a filosofia materialista e evolucionista, bem como a sociologia, a economia e a cultura que desta decorrem. Entretanto, na peleja não basta demolir. É preciso preservar e construir. Com base na filosofia de São Tomás de Aquino, e nas Encíclicas, a TFP põe em realce os grandes valores positivos da ordem natural e especialmente três destes valores que são a Tradição, a Família e a Propriedade. Daí o nome da entidade.

A ação em prol desses valores não se faz apenas no campo doutrinário. A TFP tem combatido os projetos de lei, os fatos, os costumes que atentam contra esses três valores, em uma ação com a qual o esquerdismo só tem a lutar.

Partindo da persuasão de que nosso povo – um dos mais intuitivos e inteligentes da Terra – tem em sua alma profundas raízes de fidelidade à civilização cristã, essa luta se tem feito por meio de triunfais apelos à opinião pública. E, apesar de muitos nos chamarem de anacrônicos, o público sempre nos disse sim.

Nossas quatro grandes campanhas foram: a) em 1961-1963, promovida propriamente pelo grupo de amigos que deu origem à TFP, uma larga atuação de protesto contra a reforma agrária socialista e confiscatória do sr. João Goulart. Abaixo-assinado de 27 mil agricultores ao Congresso. Quatro edições de Reforma Agrária – Questão de Consciência, em 19 meses. Mensagens de aplauso de senadores, governadores, deputados federais e estaduais, e centenas de prefeitos, Câmaras Municipais e entidades de classe; b) em 1964, interpelação à Ação Católica de Belo Horizonte, para que expusesse seus argumentos contrários à nossa posição sobre a Reforma Agrária. 200 mil assinaturas. Silêncio da Ação Católica; c) em 1966, abaixo-assinado contra o projeto de Código civil divorcista. 1 milhão de assinaturas em 50 dias. Retirada do projeto pelo governo; d) em 1968, abaixo-assinado pedindo a Paulo VI medidas contra a infiltração socialista e comunista em meios católicos. Em dois meses, 1.600.368 assinaturas. O abaixo-assinado será entregue em breve à Sua Santidade.

A par dessa atividade ideológica, a TFP promove obras sociais, isto é, pensões e restaurantes, sem fito de lucro, para estudantes, comerciários, e operários, bem como consultórios e ambulatórios médicos gratuitos.

Para a realização destas atividades, a TFP tem sedes em que há ao mesmo tempo locais para reunião, palestras, cursos e bibliotecas. Cada sede tem o padrão médio do bairro em que está. Entre sedes e pensões, só em São Paulo, a TFP tem 21.

A média das idades dá preponderância aos jovens. O mais idoso dentre nós tem 61 anos, um ano mais do que eu. Em nossas sedes convivem na maior harmonia, e sem de nenhum modo se confundir, pessoas das mais variadas camadas sociais e profissões.

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Luz, água, lenha? Responda o meu caro leitor. Em todo o caso, a realidade é a que ele acaba de ler.

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