Índice dos artigos no LEGIONÁRIO – 1928 a 1935

1928

14 de outubro – Comentando… Liberdade / Articulista de “O Combate”, arvorando-se em defensor da liberdade espezinhada e da consciência livre sufocada, em inimigo acérrimo dos perseguidores e intolerantes, quando se lhe apresenta uma ocasião de pôr em prática as suas liberalíssimas idéias, vira-se e chicotea… justamente as vítimas, os [católicos] perseguidos!

14 de outubro – – Comentando… O pacto Kelog / Os representantes de quinze nações firmaram em Paris, no dia 27 de Setembro de 1929, o célebre pacto contra a guerra, deixando sobre o documento espaço para mais quarenta e cinco firmas. Teria soado realmente a hora da paz?

14 de outubro – Comentando… Os fuzilamentos sumários no México / A Sociedade das Nações não intervém nesses atentados à humanidade e à civilização porque, segundo diz, são coisas internas de um país…!

14 de outubro – Comentando… Os protestantes Onde não há unidade de doutrina não haverá unidade de ação. A fragmentação do protestantismo em numerosas seitas não poderia senão afugentar os seus asseclas dos seus templos.

14 de outubro – Comentando… Saber religião / O Sr. Alfred Smith aceitou um desafio de um pastor protestante para uma discussão pública sobre assunto religioso. Aí está um magnífico exemplo que ele nos oferece mostrando não somente o seu cavalheirismo como também que sabe ser um católico às direitas. Quantos de nós poderiam fazer a mesma coisa?

28 de outubro – Comentando… A perseguição mexicana e Plutarco Calles vistos por um protestante e maçom norte-americano

28 de outubro – Comentando… Ainda bem! / De há muito, os periódicos católicos clamam contra essa conspiração do silêncio em torno da questão mexicana. Finalmente, parece que os jornais leigos recobraram a fala.

28 de outubro – Comentando… Obrigado, Elias! / Em uma entrevista concedida pelo ex-presidente do México, a um jornalista, aquele afirmou que, na repulsa contra a perseguição religiosa em seu país, o Brasil ocupava o segundo lugar no mundo. Estamos gratíssimos ao sr. Calles por essa afirmação.

28 de outubro – Surgirá a fênix das tuas ruínas… / O assassino-iníquo, Plutarco Elias Calles, decretou que o monumento a Cristo Rei, erguido pelos católicos mexicanos sobre a montanha “El Cubillete”, fosse destruído; e pela tarde do dia 30 de janeiro de 1928, ao estampido da dinamite, voou pelos ares aquele trono, que até então havia sido o ímã dos corações mexicanos. Após a refrega, tu, povo generoso, hás de contemplar tua pátria esplêndida e bela. Cristo, o teu Rei Divino, aparecerá outra vez, sobre a montanha santa, reinando sobre ti com o seu dulcíssimo reinado de santidade e vida, de Justiça e paz. Das cinzas desse monumento surgirá a fênix, outro monumento mais alto e mais belo, e nele escreverão: Reinava sobre uma raça de heróis, hoje reino sobre uma raça de mártires.

11 de novembro – Comentando… A “Bonne Presse” de Paris / Queira Deus que o futuro reserve também ao Brasil, para a defesa e difusão da verdade, ao menos alguma coisa semelhante àquela grande editora católica.

11 de novembro – Comentando… Na cidade da Imaculada, mais uma cura prodigiosa em Lourdes

11 de novembro – Comentando… Um frade / Ramon Navarro — um ídolo da tela, um ator popularíssimo — deixou as cenas e enclausurou-se num convento. Este fato enche-nos a alma de alegria comovida e nos faz pensar seriamente no grau da graça das nossas almas…

28 de novembro – Comentando… À sombra da cúpula de S. Pedro… / Tendo dois milhões de católicos dirigido ao Congresso mexicano uma petição para que fossem retiradas algumas cláusulas da lei inumana, receberam por resposta: “Caso não queiram submeter-se à lei, abandonem a terra onde nasceram e procurem viver à sombra da cúpula de S. Pedro.” Que resposta! Como dignificou o povo e rebaixou quem a redigiu

28 de novembro – Comentando… Aplausos à Bolívia / A resposta da Bolívia a Elias Calies, cuja petulância foi ao extremo de marcar um prazo para receber satisfações por censuras à sua tirania, merece um coro de aplausos.

 

1929

27 de janeiro – Remate da meditação composta por Dom Vital na prisão, e oração que ele repetia diariamente

10 de novembro – O Vaticano e o Kremlin – Em meio [à] efervescência política que provoca a questão da sucessão presidencial, nota-se que uma propaganda astuta, dirigida por hábeis e discretas mãos estrangeiras, tenta lançar na sociedade brasileira os terríveis germens da dissolução social, antes inoculado exclusivamente nas classes operárias e hoje, estendendo-se às universidades e escolas superiores, atinge as camadas municipais e os poderes legislativos dos Estados da União. Os sentimentos patrióticos, dos quais “O Legionário” será sempre o porta-voz, revoltam-se contra esta campanha que se esconde com habilidade, para explodir bruscamente contra as mais santas tradições de nossa Pátria. Telegramas vindos de Roma davam notícias de negociações entre o Vaticano e o Kremlin, no sentido de se reatarem relações diplomáticas, porém em condições humilhantes para a Igreja que estaria, assim, assumindo uma posição servil perante os russos. Essas negociações foram, porém, desmentidas pela Chancelaria Pontifícia e pelo “Osservatore Romano”.

22 de setembro – Uma Universidade Católica / Acompanhando-se o desenvolvimento que, entre nós, tem tido a idéia da criação de uma grande universidade, constata-se com pesar que, em muitos meios, não se cogita das brilhantes realizações que, neste assunto, têm levado a efeito os católicos europeus e norte-americanos. A questão universitária não pode ser indiferente, porque a ela se prendem graves problemas relativos à mocidade, esta mocidade que tem merecido do Santo Padre tão carinhosa dedicação.

1930

12 de janeiro – Fides Intrepida / Como o Papa Pio XI conseguiu a restauração do Estado do Vaticano, o que levou a Liga das Nações a reconhecer implicitamente este estatuto solicitando à Igreja a mediação para certo conflito internacional, elevando assim o prestígio da Igreja a patamares totalmente novos.

09 de fevereiro – Date a Cesare / Refutação ao livro “Date a Cesare”, o qual pretendia ver no Tratado Lateranense uma concessão do Papa às injunções de Mussolini e, portanto, uma vitória deste sobre a Igreja. Na realidade Pio XI, cedendo em um ponto secundário (a extensão física do Estado do Vaticano) garantiu a vitória sobre o ponto principal, ou seja, o reconhecimento da soberania pontifícia “sobre um território qualquer”, apesar da relutância de Mussolini em reconhecer este ponto fundamental.

09 de fevereiro – Os horrores da Inquisição / Apesar de verdadeira, a Igreja não tem, e não poderia ter somente funcionários impecáveis. Se os inquisidores pecaram, sendo cruéis, em nada estão afetados, mas sim confirmados os dogmas da Igreja, que afirma que todos os homens, sejam eles embora os mais graduados na hierarquia leiga ou eclesiástica, são suscetíveis de pecadoSe tal não fosse, teríamos indivíduos santos, pré-canonizados, o que seria até um insulto à justiça divina, que estatuiu que todos os homens são suscetíveis de pecar, e, portanto, de merecer o Céu ou o Inferno.

16 de março – A Igreja e o problema religioso na Rússia / Se, em circunstâncias como a atual, a Santa Sé não tomasse posição ao lado de seus filhos aflitos e perseguidos, se não procurasse consolá-los em suas amarguras e diminuir seus padecimentos, Ela daria grande argumento a seus adversários. De fato, por que se intitularia Ela Mãe, se deixasse – indiferente – perecer seus filhos? De que Lhe valeria patrocinar no mundo inteiro a fundação de hospitais se, indiferente aos seus próprios mártires, desprezasse – soberba – o sangue derramado pela Fé católica e que, segundo a Bíblia, brada aos céus?

06 de abril – Crônica Internacional – O obelisco ao centro da Praça de São Pedro é um símbolo da própria Igreja, num desafio perene ao tempo e à maldade humana. Mais uma vez, acaba a Igreja de dominar um vendaval horrível que contra Ela se havia erguido a propósito das perseguições religiosas da Rússia. Após protestar vigorosamente contra as perseguições religiosas na Rússia os soviets se viram forçados a não mais legitimar o crime. Quando muito o negam ou lhe diminuem a extensão, ao contrário do que faziam, ajudados pelos seus defensores na imprensa estrangeira. Já não arvoram como pendão de glória a vergonha de suas baixezas. E a frieza das autoridades ocidentais, as mostra submissas vergonhosamente ao dragão russo, enquanto o Vaticano, sem dólares, sem couraçados, sem soldados, estava colocado na dura contingência de lançar à face dos bolchevistas as terríveis censuras que levanta aos céus o sangue por eles derramado.

11 de maio – A Papisa Joana – A refutação da lenda anticatólica, tão cara aos protestantes, sobre a suposta existência de um Papa do sexo feminino. Clara demonstração do absurdo dos argumentos históricos alegados em sua defesa.

25 de maio – Ainda as perseguições religiosas na Rússia – Novamente surgem tentativas de negar as perseguições religiosas na Rússia, desqualificando assim a condenação que delas fez Pio XI. Ora, a insinuação se baseia em um protesto de 92 rabinos e pastores protestantes que, ignorando o apoio que os expoentes de suas religiões deram ao protesto Papal, criticam só a Igreja mas não a seus irmãos de fé, o que caracteriza a má fé da acusação.

29 de junho – Monsenhor Pedrosa – Discurso pronunciado pelo Congregado PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA no salão de atos da Congregação de Santa Cecília, em 16 de junho de 1930, por ocasião do 23º aniversário de paroquiato de Monsenhor Pedrosa.

13 de julho – A ciência e o indiferentismo religioso – Procuraremos evidenciar, no presente artigo, que não se admite cientificamente que o Estado seja agnóstico ou indiferente em matéria religiosa. Se a sua função é promover a felicidade geral e esta é fortemente condicionada pelas crenças religiosas da maioria da população segue-se que quanto mais o estado se aproximar desses conceitos da maioria mais se aproximará de seu fim. Um estado agnóstico é pior que um estado confessional, ainda que de religião não católica.

24 de agosto – Quid est veritas? – O grito de Pilatos não foi proferido sem eco. Hoje, novamente, repercute em nossa sociedade repaganizada, em nosso mundo restituído aos horrores de um cientismo desbragado. Quando observamos o atual estado da ciência, é tal o emaranhamento louco das doutrinas, tal a confusão dos sistemas, tais as contradições entre as descobertas de hoje e as leis ainda ontem tidas por verdadeiras, que a árvore reta e frondosa da Verdade, o magnífico jequitibá dos conhecimentos eternos, que resistem a todo o exame e são superiores a todos os parasitas científicos, custa para ser descoberto. Mas, por que existe em nossa época a vegetação perniciosa que procura encobrir a verdade? Por causa da repaganização do homem. Por causa da revolta da própria razão contra a revelação, que no entanto a lógica nos obriga a aceitar. Por causa, principalmente, do orgulho e desregramento dos sentidos, rebeldes a todo o freio, a toda a lei.

23 de novembro – Fora, Sr. Mariani, fora do Brasil!! – Diante das manifestações as mais revolucionárias e indignantes do Sr. Mariani – revolucionário comunista anteriormente expulso de vários países – o Dr. Plinio levanta um brado de indignação às suas ofensas ao País e suas diatribes imorais contra a Mãe brasileira, e pede por isso mesmo, sua expulsão do País que o acolhera e que não soubera respeitar.

28 de dezembro – O comunismo no Rio de Janeiro – Uma manifestação de apoio às medidas de repressão à subversão comunista empreendidas pelas autoridades. “Só poderia desprestigiar tristemente a obra da Revolução o fato de ser ela, não o movimento moralizador por que a opinião pública ansiava, mas sim o movimento maldito, mil vezes maldito, que nos traria o liberalismo perigoso, causa futura da ruína de nossos lares, da dissolução de nossas famílias, da profanação de nossos tabernáculos, da destruição de nossos patrimônios, acumulados à custa de um trabalho honrado e sagrado”.

1931

11 de janeiro – Os padres e o casamento. Em vão o jato lodoso dos sofismas se tem arremessado contra a Igreja, em vão têm investido contra sua estrutura o furor cego de todos os ódios criminosos, de todos os caprichos insensatos. Sempre altiva, sempre invencível, Ela vai assistindo à morte de todos os adversários que pretendiam matá-la! Como ocultar, então, ao olhar humano, esta luz que aponta aos homens os males em que se debatem, com a mesma nitidez com que o farol aponta ao nauta o escolho em que poderá naufragar?

25 de janeiro – Às armas. Uma das manifestações mais deploráveis do crasso materialismo que por toda parte vemos reinar, é que não só a virtude se acha completamente abolida em muitos corações, mas também truncada, mutilada, caricaturada em muitos outros que, no entanto, se reputam muito bons. A caridade se acha como que deteriorada por uma certa infiltração de materialismo: compreende-se, pratica-se e louva-se a caridade feita em benefício do corpo. Foge-se, censura-se, condena-se a caridade feita em benefício do espírito. É uma espécie de filantropia materialista, que vê no corpo o fim último do homem, e no espírito apenas um acessório destinado a registrar benevolamente as delícias de que o corpo deve gozar. – O Episcopado e em geral o Clero não são uma falange de pastores do corpo, mas sim de pastores de almas.

08 de fevereiro – Nossas reivindicações políticas. Pilatos passou à História, indelevelmente marcado pelo ferro em brasa da censura dos Evangelistas, como o tipo característico do homem que não é cruel por medo da crueldade, não é assassino por indolência, e não é feroz por inércia. Escravo da preguiça e do medo, cede a todas as infâmias, submete-se a todas as baixezas, pela força de inércia que é como que a base de sua mentalidade. – Ser cristão não é só ser um crente, é ser também um soldado. É saber descer à arena da luta de opiniões, ostentando com firmeza nossos princípios. É não ter medo de adquirir inimizades, se for necessário. É não ter medo de atrair sobre si antipatias. É, em suma, sacrificar-se.

08 de março – A verdadeira caridade. Ela não é o sentimento que tem sua origem nas afeições naturais, transitórias e caprichosas dos homens uns pelos outros, mas sim o amor que, saído do mais profundo do coração humano, se eleva a Deus, e de lá, em veio límpido e cristalino, desce, como do alto de uma montanha, sobre todas as criaturas. – Almas, almas e sempre almas, eis o que deseja Jesus. Se cura corpos, é sempre com o escopo principal de salvar almas. E, pelo contrário, muitas vezes dá a certas pessoas pesadas moléstias físicas para atraí-las, por meio do sofrimento, à penitência.

08 de março – Deus e a Constituição – I. Dado que o Estado é forçado, pela natureza das coisas, a tomar uma atitude qualquer (seja ela de crença, descrença ou dúvida) em face do problema religioso, é evidente que a única solução admissível é plasmar as instituições do país segundo a opinião religiosa da maioria de seus habitantes. Claro está que, em caso algum, se justifica a opressão “manu militari” ou outra qualquer atitude violenta em relação às minorias dissidentes, que merecem toda a brandura que a caridade lhes outorga, desde que elas não ultrapassem os próprios limites traçados pela lei e pelo Direito Natural.

29 de março – Deus e a Constituição – II. Como demonstrei em meu último artigo, aos olhos da razão não se pode justificar o agnosticismo oficial, em um país de imensa maioria católica. Vejamos agora, nós que consideramos o agnosticismo uma das mais notáveis inovações que nos vieram do Exterior, a diferença que há entre o laicismo no mundo civilizado e o que entre nós, desde 1889, se tem praticado.

19 de abril – Os padres e o casamento – II. Venho cumprir uma promessa feita aos leitores do “Legionário”, relativa ao problema do celibato dos sacerdotes católicos.

10 de maio – O triunfo de Cristo-Rei nas escolas. Que país pode ser honesto na administração pública, quando não existe patriotismo corajoso na guerra, quando não existe idealismo exemplar na família, quando filhos e pais nada mais são do que indivíduos que se disputam as partes mais aproveitáveis do patrimônio comum? Mudem-se os quadros. Suponha-se um país em que, desde o chefe da nação até o mais modesto contínuo, desde o pai até os filhos, desde o patrão até os operários, predomine a prática rigorosa dos princípios católicos. E imediatamente surgirão, a nossos olhos, estadistas abnegados e diligentes, funcionários probos e esforçados, pais moralizados e respeitáveis, generais valentes e disciplinados, filhos obedientes e amorosos, mães dedicadas e respeitadas. – O característico dos grandes homens é de suscitar, simultaneamente, amizades ardentes e ódios implacáveis. Porque todo homem de bem, além da amizade fervorosa dos bons, tem de lutar contra o ódio rancoroso dos maus.

12 de julho – Fides Intrepida – II. Nós, católicos, gememos hoje ao peso da opressão de nossos adversários, que nos lançam à face a exclamação de Breno: “Ai dos vencidos!”. Mas a Igreja, que é imortal porque não é humana, lhes devolve a frase, invertendo-lhe o sentido: “Ai dos vencedores!”. Julgamos que a fase de dores cada vez mais acentuadas por que o Catolicismo virá a passar são como que o túnel que, embora nos mergulhe por algum tempo nas mais densas trevas, no negrume da mais absoluta dor, abreviará nosso caminho à vitória final, cortando montanhas e transpondo obstáculos que, sem esse túnel de dores, levaríamos muitos decênios – séculos, talvez – a percorrer. E cada vez, portanto, que sentirmos mais cerrado o ataque, mais terríveis as provações, tenhamos a convicção tranqüilizadora de que estamos progredindo no túnel, e nos aproximamos cada vez mais do momento feliz em que nos acharemos novamente na claridade radiosa de uma civilização plenamente cristã.

13 de setembro – Os livros que devem ser lidos. Entre os muitos preconceitos errôneos que dominam a mentalidade das massas populares hodiernas, figura em lugar de destaque a convicção muito generalizada de que é impossível a coexistência, no espírito de um homem, de uma virilidade real com uma religiosidade sincera. – Imitando os egiptólogos… – O vigor da vontade auxiliada pela graça. – Há coragem e coragem. – O exemplo de Gabriel Mossier (oficial de cavalaria francesa do Corpo de Dragões): do menino, ficara a Fé. Do oficial, o heroísmo. Herói e crente, Mossier se transformou quase insensivelmente em trapista. Religiosidade e coragem, Fé e virilidade são coisas inseparáveis.

27 de setembro – Catolicismo e civilização. Nossa época deve ser sobretudo uma época de reparações, em que procuremos ligar novamente as coisas às suas raízes verdadeiras. E a maior das reparações, a mais urgente – a única, em última análise – é a reparação para com a Igreja. – Muito se fala de nosso progresso. O século XX, que foi na sua primeira década uma comédia, transformou-se bruscamente em tragédia longa e sangrenta, que está longe de ter chegado a seu fim. Em vez de vergar as barras de metal, como se fossem alfinetes, sente-se a alma do homem hodierno fraca em relação aos alfinetes dos menores sacrifícios morais, como se fossem barras de metal. Nossas aspirações são desencontradas. Como crianças que brincassem em uma sala de visitas, os homens quebram hoje, inconsciente e estupidamente, os últimos bibelots e jóias que nos restam da nossa verdadeira civilização. Chegou o momento de indagarmos a respeito das verdadeiras causas de tal desastre. – Cabe a nós, católicos, o dever de pugnar nas Congregações Marianas pela elevação do nível moral e intelectual da mocidade, exposta hoje a tantos perigos, contra o cientificismo que pretende separar a razão da Fé.

11 de outubro – O apostolado. Não nos diz o Cristianismo que todos os nossos esforços são inúteis, mas sim que do mesmo modo por que uma pequena chama pode atear um imenso incêndio, uma pequena dose de amor de Deus pode atear no mundo um grande, imenso abrasamento de amor pelo bem. E, como se não bastassem estas afirmações, vem o recurso da graça e da oração, que faz de nós até participantes da onipotência divina! De párias que éramos no paganismo, o Cristianismo nos eleva a príncipes e a gigantes! Que magnífica vida, que estupendo destino. – O paganismo é a caça ao prazer, no fundo do qual só há sacrifício. O Cristianismo é a caça do sacrifício, no fundo do qual há prazer, mas com a admiração cheia de gratidão e unção religiosa de quem contempla um firmamento fulgurante, inundado de raios de sol que cortam o azul do espaço, e despejam sobre o mundo oceanos de luz e de paz. – A inauguração de nossos trabalhos não deve ser a Cápua lasciva em que os cartagineses se preparavam para levar a Roma seu último golpe, mas a vigília austera do cavaleiro medieval, que passava a noite inteira na capela a orar, a pedir ao Senhor que lhe desse as forças necessárias para enfrentar os perigos que sua missão lhe traria. Ergamos nossas preces ao Céu, para que nos tornemos fortes perante os inimigos, e olhemos com serenidade o campo em que teremos de lutar.

11 de outubro – Fac-símile do periódico, dedicado de modo especial à inauguração do Cristo Redentor, realizada no dia 12 de outubro.

01 de novembro – As mulheres não têm alma? – Ou como a meia cultura aliada ao sectarismo anti-católico toma um texto e lhe atribui um sentido totalmente diverso, para atacar a Igreja. A questão sobre se as mulheres tinham ou não alma não passava de uma polêmica quanto à propriedade da palavra “homem”, para designar juntamente o homem e a mulher.

01 de novembro – Kyrie eleison – A enigmática incoerência de nossa vida política desconcerta a quantos a observam. Ora os azares da política guindam ao poder um católico destemido, ora empossam, em Interventorias ou Ministérios, comunistas quase declarados ou ateus confessos. Não há correntes ideológicas nitidamente formadas. E, nessas conjunturas, constitui para nós um dever indeclinável incitar vivamente aos católicos que se unam em torno dos últimos elementos de estabilidade social e de ordem que ainda há entre nós. O católico que, nas circunstâncias presentes, se entrega ao indiferentismo habitual dos brasileiros, reedita o gesto de Pilatos. Ação, pois, ação constante e denodada. O católico deve ser o porta-voz dos princípios de Deus. E além desse dever, outro se nos impõe como supremo recurso: é de clamar com perseverança ao Céu:KYRIE ELEISON, KYRIE ELEISON.

22 de novembro – A Babel protestante – Comentando a notícia de que pastor protestante alemão aderira ao comunismo, em uma tentativa de conciliação dos dois ideais, Dr. Plinio mostra como o protestantismo, partindo do livre exame chegara ao ateísmo dos filósofos da Revolução Francesa, e teria que cair, em suas últimas conseqüências, no comunismo. Uma clara visão do processo revolucionário que anos depois ele sintetizaria em “Revolução e Contra Revolução”.

22 de novembro – Primícias de uma geração – Como não se ter um raio de esperança a filtrar entre as tristezas do momento, diante de um fato tão significativo e confortante: os dois primeiros trabalhos publicados pelos bacharelandos de 1931 da Faculdade de Direito [do Largo de São Francisco – SP] foram, um de um ardoroso católico como Augusto de Souza Queiroz, e outro de um semicatólico, que tem mais Fé potencial do que atual, que é mais um futuro católico do que propriamente um católico.

1932

31 de janeiro – Huysmans – I. Foi ele um dos mais estranhos e admiráveis escritores do século XIX. Seu mérito foi o de ter sabido confeccionar as mais espantosas tramas literárias que se possam imaginar, abstraindo totalmente de complicações amorosas. Literato naturalista, residente em Paris, encontrou-se, a certa altura de sua vida, mergulhado em tremenda crise intelectual. Suficientemente lúcido para abominar seu século, mas destituído de qualquer amparo sentimental em alguma amizade sólida ou afeição de família profunda, Huysmans, ao mesmo tempo que se isolava cada vez mais do convívio de todos, fazia dentro de si um vácuo tremendo. O choque com a impiedade mais profunda e o caminho rumo à conversão.

21 de fevereiro – Huysmans – II. Sua obra “En route”: aproximado graças a um sacerdote francês inteligente e virtuoso, Huysmans começa a freqüentar as cerimônias religiosas católicas, as quais despertaram nele impressões indeléveis que nos legou em páginas magistrais. Suas descrições da tristeza tenebrosa do De Profundis, das imprecações ardentes do Miserere, da alegria exultante do Magnificat, são páginas literárias que glorificam o idioma em que foram escritas. Aliás, constitui a obra de Huysmans uma aplicação interessantíssima do naturalismo a assuntos religiosos, aspecto este que a enche de originalidade.

21 de abril – O primado da santidade. No 25º aniversário do paroquiato de Monsenhor Pedrosa em Santa Cecília. Gregos e troianos, crentes e descrentes são unânimes em lhe celebrar a virtude invulgar. E mesmo pessoas há que tenho visto sustentar a inexistência de qualquer convicção católica em seu íntimo, ao passo que tributam a Monsenhor, por uma contradição inexplicável, a mais sincera veneração, reconhecendo nele a própria encarnação da virtude. Entre tantos comentários que as presentes festividades sugerem, relativamente a Monsenhor, quis salientar este aspecto curiosíssimo da sua atuação de Vigário.

08 de maio – O valor de uma renúncia. É no fundo das celas dos conventos, ou no recesso dos corações dos crentes, que o destino do País está a se resolver. A renúncia suprema que Monsenhor Pedrosa acaba de fazer valerá muito mais, por si só, para a salvação do Brasil, do que todos os discursos inócuos, do que todos os ódios incendiados, do que a explosão de todos os interesses pessoais que a Revolução exacerbou. E, mais uma vez, Monsenhor faz, na sombra de sua santa humildade, muito mais bem do que todos os irrequietos do mundo, no espalhafato de sua vaidade.

04 de setembro – A Igreja e o progresso. Os historiadores anticatólicos empreenderam a ingrata tarefa de alterar a verdade histórica, para submetê-la aos interesses de seus ódios religiosos. Assim é que, freqüentemente, penas autorizadas não têm hesitado em sustentar que a Igreja é uma adversária sistemática de todo o progresso humano. No entanto, a História em geral, e a da Idade Média em particular, desmentem categoricamente tal asserção. A Idade Média foi um período fecundo de trabalho intelectual e material incessante, que preparou todos os frutos que a Renascença pagã veio colher.

02 de outubro – Patriotismo. É freqüente verem-se pontos de vista radicalmente inconciliáveis defendidos por uma mesma pessoa, com igual calor. São deste naipe os conservadores socialistas, os comunistas que desejariam a abolição da propriedade e a manutenção da família, os liberais socialistas, os reacionários liberais, etc. Todos os sentimentos, mesmo os mais nobres, são postos em cheque por doutrinas exóticas, sempre aceitas com fervor. E enquanto subsistir esse caos no mundo do pensamento, será absolutamente impossível instituir uma ordem durável no domínio da política e da economia. – Eduque-se nos princípios religiosos e católicos este grande povo, e ver-se-á dentro em pouco um Brasil novo florescer, em que, eliminados os defeitos e reconduzidas as qualidades boas a seus verdadeiros limites, a História saudará o aparecimento de uma grande nação.

1933

15 de janeiro – Liga Eleitoral Católica – A postos! Acaba ela de surgir em São Paulo e constitui a expressão mais eloqüente do desejo dos católicos de que o Brasil não seja mais um país em que se adore Deus apenas no segredo do íntimo dos corações ou no recesso dos lares, mas em todos os campos da atividade humana. – O eleitorado brasileiro – e tanto vale dizer os católicos brasileiros – tem em suas mãos os destinos espirituais do Brasil, e talvez os do mundo. Dormir enquanto uma tal batalha se prepara, viver sua vida de todos os dias indiferente a tudo quanto não seja a banalidade das ocupações de sempre, construir egoisticamente sua felicidade individual, enquanto se esboroa a felicidade do Brasil e corre risco a prosperidade da Igreja, eis aí atitudes próprias certamente de um Pilatos, nunca porém de um católico brasileiro, e de um congregado mariano.

29 de janeiro – Definindo situações – A Liga Eleitoral Católica e os Partidos. – Deve ficar bem patente ainda este ponto: a Liga Eleitoral Católica não é um partido político. Ela congrega todos os católicos, deste ou daquele partido para, unidos, poderem constituir uma força capaz de preservar o patrimônio moral do Catolicismo brasileiro da ameaça que sobre ele pesa pela ação dos seus inimigos. Mas, em outra qualquer questão, conservam os membros plena liberdade para seguir os seus partidos.

12 de fevereiro – Um grande exemplo. A saudosa presidente da Liga das Senhoras Católicas, Da. Elisa Monteiro de Barros Cavalcanti. – A fidalguia de seu sangue a colocara em lugar de destaque na sociedade; servindo à Igreja, ela soube fazer irradiar sobre as instituições de que fazia parte o prestígio de seu nome, de sorte a encher de respeitabilidade, até aos olhos dos mundanos, a causa do Senhor. A delicadeza de seus sentimentos e de seu trato lhe valeram inúmeras amizades; ela soube servir-se dessas qualidades para aproximar da Igreja a quantos dela se acercassem. A clareza de sua inteligência e o vigor de sua vontade lhe deram excepcionais qualidades de organizadora; ela utilizou-se desses predicados para transformar em fortalezas inexpugnáveis as associações católicas confiadas à sua direção.

26 de março – Ideal Mariano. A Igreja não quer de modo algum que limitemos nossos horizontes espirituais a uma vida piedosa banal, amesquinhada pela errônea ilusão de que seria falta de humildade aspirar-se à santidade que brilhou no gênio de São Tomás, na combatividade de Santo Inácio, no recolhimento de Santa Teresa e na caridade de São Francisco. E desmascara esta falsa humildade, apontando nela ou um pretexto especioso da covardia espiritual, ou uma concepção orgulhosa da virtude, considerada mais como fruto do esforço humano do que da misericórdia de Deus. E, ao mesmo tempo, Ela se serve do exemplo de seus grandes santos para “levantar ao alto” nossos corações, indicando-nos que a única preocupação real desta vida é a aquisição daquela perfeição espiritual que será o único patrimônio que conservaremos, a despeito das crises financeiras, das comoções sociais e da fragilidade das coisas humanas, para, finalmente, transpormos com ele os próprios umbrais da eternidade. – Vida interior intensa, constante, ilimitadamente ambiciosa, no sentido espiritual da palavra, eis a grande lição que a festa de São José nos deixa.

23 de abril – Piedade – I. Observando o grande número de obstáculos que a mocidade encontra para conseguir uma compreensão verdadeira da piedade, tentarei remover certas dificuldades e esclarecer certas noções que a rotina ou a ignorância religiosa apagaram completamente: o mau exemplo dado por alguns católicos; a ignorância completa do valor e do papel da graça no progresso de uma alma na sua vida espiritual; o completo desconhecimento do valor e da necessidade da adoração, da reparação, do louvor e da ação de graças tributadas pela criatura ao seu eterno Criador.

02 de julho – Piedade – II. Ou a alma se serve da piedade como meio de aperfeiçoamento espiritual, e nesse caso o progresso espiritual deverá ser tão real quanto for intensa e séria a piedade, ou esta será apenas uma pieguice sentimental, detestável aos olhos de Deus e dos homens, ridícula aos olhos destes e quase sacrílega aos olhos daquele. Outro dilema também se impõe: ou a alma pede as graças necessárias para seu aperfeiçoamento espiritual ou ela se verá reduzida às suas próprias forças, e portanto derrotada pela primeira tentação que a assaltar. Sem progresso espiritual, não há verdadeira piedade. Sem piedade, não há verdadeiro progresso espiritual.

16 de julho – Dr. Estêvão de Souza Rezende (primeiro presidente da Liga Eleitoral Católica). A elegância sóbria, impecável com que se trajava, a distinção natural do seu porte e a transparência cristalina do seu olhar, indicavam nele uma admirável fusão da nobreza da alma com a do sangue, que atraía o respeito e a simpatia de quantos dele se aproximassem. Lutou como um fidalgo, viveu como um santo. Sua ação, sempre criteriosa e prudente, nem um minuto sequer refletiu vaidade de quem se quer exibir. Em todos os círculos em que vivia, em todas as rodas que freqüentava, sua austeridade impecável e a coerência inflexível com que ostentava sua Fé faziam dele um sermão vivo.

06 de agosto – É necessário. É necessário que a restauração moral tenha como ponto de partida a restauração religiosa, e que os brasileiros, em lugar de reformarem sua Pátria somente a golpes de decretos ou de baionetas, se preocupem em retemperar seus caracteres e suas energias na prática séria da Religião Católica. A mocidade mariana, pois, precisa entrar decididamente na arena das lutas em que se jogam os destinos da Nação. É necessário que a cortina de fumaça que a imprensa paulista procura estender sobre o êxito da Liga Eleitoral Católica seja dissipada pelo elemento mariano, através de uma nova imprensa que procura formar.

20 de agosto – Os primeiros frutos. A belíssima demonstração de civismo dos católicos, no pleito de 3 de maio, já está produzindo seus primeiros frutos, com o crescente prestígio que a Liga Eleitoral Católica vai assumindo nas altas esferas da vida pública do Estado.

03 de setembro – Previsões. Dizia Mirabeau que uma assembléia legislativa que interpretasse fielmente o pensamento do eleitorado deveria ser uma miniatura da nação, em que se representassem todas as suas correntes de opinião, na proporção exata do número de seus adeptos. A próxima Constituinte, fruto de um pleito livre, em que todos os grupos eleitorais puderam manifestar sem constrangimento as suas preferências, parece aproximar-se do ideal do famoso demagogo francês. – As eventuais táticas que adotarão as diferentes correntes no Brasil.

17 de setembro – Credo caduco. O Catolicismo mostrará, se o Estado não lhe fechar as portas, que ele não é caduco porque não é velho, pois para as coisas eternas o tempo não existe, e a sua perene mocidade zomba dos homens e dos séculos. E é do “Credo caduco” (como assim se referiu o General Rabello sobre o Catolicismo), que é antigo sem ser velho, que podemos esperar a seiva moral que há de dar nova mocidade ao nosso pobre Brasil que, na situação em que está, parece ser velho… sem ser antigo.

01 de outubro – O leão mudo. As eleições de 3 de maio p.p. valeram por um verdadeiro plebiscito, em que o Brasil reafirmou seu desejo de ser católico. Como o leão que dorme, o Catolicismo brasileiro estava imerso em profundo sono, do qual abusavam seus adversários, impondo à consciência religiosa do País toda a sorte de medidas vexatórias e humilhantes. Os últimos abalos acordaram o leão que, tendo saltado na arena a 3 de maio, já pode resumir seus primeiros triunfos na famosa frase de Júlio César: “Vim, vi e venci”. No entanto, depois desta manifestação de vitalidade e de energia, a opinião católica parece ter voltado novamente à passividade. – A necessidade do conhecimento da doutrina católica e de possuir o senso católico: sem ambos é impossível que navegue com segurança, neste mar das tormentas em que andamos, a nau dos interesses espirituais do Brasil. – Os católicos espanhóis só acordaram quando viram suas igrejas ardendo em chamas, violados os tabernáculos e profanadas as imagens. Tendo dormido sobre o perigo, foram cruelmente chamados à realidade pelos seus adversários.

15 de outubro – A missão da América Latina. Estamos na tarde de uma civilização. O homem ocidental já não encontra encantos na liberdade de que abusou, na igualdade com que sonhou e na fraternidade que não realizou. – Neste mar revolto do século XX, em que naufragam homens, idéias e fortunas, só a Igreja continua e será “o caminho, a verdade e a vida” que a humanidade há de aceitar para levantar um vôo salvador sobre o próprio abismo que ameaça tragá-la. Para atuar, porém, Ela também se serve de fatores humanos. – Contra os focos de corrupção de amanhã ou de hoje, a América Latina se deve erguer, com o firme propósito de continuar a ser católica.

29 de outubro – Roma, Nova York e Moscou – Ninguém ignora que, de todas as religiões perseguidas pelo regime soviético, a mais visada foi a católica. O que o Santo Padre exige é que o governo soviético, para ser admitido no concerto das nações civilizadas, restaure dentro das fronteiras russas a liberdade religiosa, que é a característica de todos os povos que pretendem ter foros de civilizados. – Não tem ouro, não tem canhões, não tem exército, o Santo Padre. Mas ele não cede. Ele, que é a potência espiritual, levanta barreiras com o simples prestígio de sua palavra. Instrui, trabalha, ora, encoraja e reprime. E, lentamente, a contra-ofensiva católica em todo o mundo se vai desenhando.

12 de novembro – Como sempre. Tudo indica que estamos chegando aos últimos dias da ditadura, e que já está próximo o momento em que o Brasil se governará por autoridades legalmente investidas, e com poderes delimitados pela nova Constituição. – Durante três anos de ditadura, o Governo Provisório foi, sem dúvida, a cortiça que flutuou ao sabor de todas as ondas ou correntes em matéria religiosa. Mas o mar revolto e inconstante, que guiava a cortiça, não terá sido talvez a opinião católica brasileira, sempre tão tímida em suas exigências, tão pouco consciente da força de seus direitos e do valor de sua influência?

26 de novembro – Alerta! É necessário que os católicos de São Paulo, como os de todo o Brasil, estejam alerta para repelir, com toda a energia, a tendência que se esboça de dotar o Brasil de uma Constituição votada de afogadilho, versando apenas sobre os pontos fundamentais de nossa organização política e deixando de parte, como matéria de legislação ordinária, uma ou muitas de nossas reivindicações católicas.

10 de dezembro – Uma página de diário. Descrição do ambiente da Constituinte: um enorme e suave aquário de água morna, banhado por uma luz brandamente pálida, em que evoluíam, com a discrição silenciosa com que só os peixes sabem evoluir, os tubarões ou as sardinhas da política nacional. Só quem conhece o Palácio Tiradentes pode apreciar a justeza da comparação. Tudo nele é rico, discreto e acolchoado, desde a poltrona em que pontifica o Sr. Antônio Carlos, até a cadeira de engraxate instalada na barbearia. – Os deputados de tribuna e os de corredor, os líderes dos grandes torneios oratórios, os do cochicho e da confabulação.

24 de dezembro – As emendas católicas. É bom que, mais uma vez, fique bem documentado que nem a coligação de todos os erros, nem a conspiração de todos os ódios, nem a urdidura de todos os sofismas conseguirá destruir a inabalável fidelidade do Brasil à verdadeira Igreja de Jesus Cristo.

1934

04 de fevereiro – Política de abelha. Tudo quanto, durante o Império ou a República, tem aparecido com os rótulos de federalismo, civilismo, voto secreto, são aspirações vagas, imprecisas, mal coordenadas, que os políticos exploram a seu favor, sem um corpo de doutrina, um programa dentro do qual se encaixem e se justifiquem. Em última análise, todas as lutas políticas, em nosso País, se resumem na conquista do Poder pelo Poder, ou melhor, pelas vantagens do Poder… Oliveira Viana mostrou muito bem como a competição entre liberais e conservadores, na Monarquia, não passava de uma grande farsa. O mesmo Oliveira Viana conta que um biógrafo de Hamilton observa que os verdadeiros estadistas praticam a “política de colméia”, procurando tudo subordinar ao interesse coletivo, enquanto os falsos “políticos” praticam a “política da abelha”, na qual tudo se subordina ao interesse individual.

04 de fevereiro – On ne passe pas… As perfídias dos adversários da Igreja constituem, por sua resistência eterna e invencível, uma glória, como é gloriosa para a alma santa a tentação que ela venceu, e que força, indiretamente, o próprio demônio a ser colaborador de sua ascensão espiritual. A perspectiva de um perigo comum congregou mais uma vez os católicos de todas as bancadas que, reunidos na sede da LEC, assumiram o solene compromisso de não votar na Constituição sintética, caso ela não contivesse TODOS os itens católicos fundamentais. E os católicos venceram! No entanto, uma lição nos precisa ficar. É a da perseverança, da astúcia e da força de nossos adversários.

18 de fevereiro – A Quinta Arma. Já se tornou banal afirmar que a imprensa é o IV Poder. Na Constituinte, um deputado afirmou que é a IV Arma, que acaba de aparecer. A opinião pública respira a atmosfera política por meio dela, digere as novidades como ela lhas apresenta, julga, condena ou canoniza, de acordo com sua vontade. As responsabilidades da imprensa são, portanto, colossais, pois que é ela, em última análise, em uma democracia organizada, que governa a nação. – Tivessem os católicos brasileiros uma imprensa própria, e eles poderiam mostrar a que ponto os quarenta anos de laicismo oficial corromperam o Brasil.

04 de março – Na “hora H” (das reivindicações católicas na Constituinte). Algumas informações capazes de pôr em relevo toda a importância do momento que atravessamos.

18 de março – Os católicos em face da política. A questão dos católicos da Espanha que se mostram dispostos a apoiar a República, uma vez extirpadas da Constituição as leis contrárias aos princípios da Igreja.

15 de abril – Subtração de valores. Preceituam os marxistas que todos os fatos sociais, todo progresso e toda decadência, tudo que gira em torno da religião, da moral, da filosofia, do direito, da ciência e da arte, tudo, enfim, é conseqüência exclusiva dos fatores econômicos. Entretanto a economia, que se relaciona com o lado material da vida, é uma grande parcela. Na complexidade da vida humana, outras parcelas há que, reunidas à economia, vão formar a grande soma de valores. Na harmonia e fusão desses elementos está o VALOR de um povo. – Em julho de 1929, a liga dos sem-Deus dirigiu aos trabalhadores, camponeses e soldados de todo o mundo um manifesto em que se lia esta frase: “Somos internacionalistas contra Deus, como contra o capital”. – O martírio imposto a Mons. Budkiewicz, Bispo Auxiliar de Petrogrado.

29 de abril – Au dessus de la melée… Não nos procuramos envolver na meada da política partidária brasileira ou paulista. Todo o mundo conhece a nossa atitude: “fora e acima dos partidos”. Defendendo sempre a ordem e a legalidade, devemos, isso sim, combater as oposições que apelam para meios revolucionários. E sempre por questão de princípio. É, portanto, com absoluta isenção de ânimo que podemos julgar o que se passa “dans la melée” [na refrega].

13 de maio – O primeiro triunfo. A emenda do preâmbulo da Constituição, invocando o nome de Deus, foi a primeira a ser aprovada. – Quando estávamos entre a espada e a parede, surgiu a Liga Eleitoral Católica. Era o ponto de apoio que nos faltava. E, começando o alistamento eleitoral, a LEC desenvolveu uma atividade magnífica por todo o Brasil.

13 de maio – Transcrição do discurso pronunciado na Assembléia Nacional Constituinte em defesa da instituição da família, especificamente quanto às declarações de nulidade do casamento

29 de maio – De vitória em vitória. Os representantes da Liga Eleitoral Católica e demais deputados que defendem as reivindicações mínimas dos católicos vão conquistando os seus ideais. Mas eles vão sair da liça, após o triunfo final, diminuídos, por assim dizer, aos olhos do grande público, porque não houve uma grande imprensa católica que amortecesse o mau efeito que pouco a pouco a outra imprensa foi instilando no espírito daqueles que melhor deveriam apreciar os fatos.

10 de junho – O primeiro marco. A Constituinte acaba de aprovar as emendas católicas. É tempo, pois, que estacionemos por instantes aos pés deste marco de vitória, para contemplar com olhar saudoso as lutas desta primeira etapa percorrida. Não cedamos porém ao desejo de fixar nossas tendas neste primeiro Tabor; não façamos dos louros, hoje, a sepultura gloriosa de nossas energias de ontem. A própria linha ascensional e íngreme da vereda que acabamos de trilhar nos mostra que são árduos os caminhos que conduzem às vitórias de Deus. Novas ascensões nos esperam. Novas tempestades se adensam em horizontes ainda longínquos. Há tocaias novas ao longo de novos caminhos. Alerta, pois, que vencemos uma batalha e não uma guerra. Outras batalhas aí estão. O momento é de alegria sã e vibrante. Longe de nós a indolência emoliente dos que já se dão por satisfeitos. – Conversando comigo em um momento de lazer, ponderava com razão Alcântara Machado que a nova Constituição será grande, principalmente pelo que não figura nela. Retificando de certo modo o juízo do líder, posso dizer que a Constituição é grande até pelo que nela se deixou de dizer.

24 de junho – Perspectivas de paz. Tenho medo de que o otimismo ilusório, trazido pelo imediatismo da paz e da opulência, venha a afastar de Deus os corações que só nEle encontraram remédio em sua aflição. Agora, é a nós católicos que cabe ainda a principal tarefa. É necessário que continuemos a falar em reação espiritual, a pregar austeridade, e combater pela palavra e pelo exemplo, enquanto todos se voltam, distraídos e satisfeitos, para seus prazeres. É necessário que a banalidade amesquinhadora da vida normal que vamos trilhar não diminua em nós a grandeza dos ideais que, ao clarão do incêndio, havíamos entrevisto tão bem.

08 de julho – Adeus. Ninguém jamais poderá compreender o que foi para mim a separação de Monsenhor Pedrosa quando, em maio de 32, partiu para Maredsous. A amizade que lhe votava, e voto, era muito mais do que um simples afeto humano. Era o enlevo que em mim despertava sua alma, através da qual, como num vitraux de finíssimo lavor, eu discernia luzes do Céu… É agora Svend [Kok, colaborador do “Legionário”, que ingressou então na ordem de São Bento] que parte. É o sacrifício de mais este amigo caríssimo que Nosso Senhor exige de mim. Mas foi melhor assim. Nada de humano se misturará a este sacrifício espiritual, onde nada deve ser para nós e tudo para Nosso Senhor.

08 de julho – Bastidores à mostra. A Igreja, que sobrevive a todas as idades e a todas as paixões, não tem interesse em se ligar indissoluvelmente ao passado, ao presente, ou ao futuro. Mas estudando o passado, auscultando o presente, preparando o futuro, Ela tem o sincero empenho de retirar da lição dos fatos as normas de sabedoria que devem orientar os católicos na aplicação de seus princípios. Se, portanto, o historiador ou o sociólogo católico exalta os benefícios do passado ou estigmatiza os vícios do presente, ele não deve por isto permitir que sua atitude seja interpretada como reflexo do suposto “saudosismo” incorrigível da Igreja. Quanto mais Ela verbera a decadência moral do século, tanto mais afirma, implicitamente, a integral atualidade de sua ação. – Escândalos na França e na Alemanha, envolvendo importantes personagens.

08 de julho – Um homem / Enquanto a mulher perde completamente a noção de sua função social e só pensa em romper os laços que a prendem ao lar para saciar sua sede de aventuras e de liberdade, o homem vê enfraquecer-se continuamente a fibra do seu temperamento viril que fazia dele, outrora, o Rei da Criação. É que a humanidade, divorciada da Igreja, procurou criar um tipo de virilidade próprio. E o homem forte passou a ser mais raro ainda do que a mulher forte, cujo preço, entretanto, a Sagrada Escritura diz que se deveria procurar nos confins da terra… – Como conciliar o seu senso de autoridade com a incomparável afabilidade e simplicidade de seu trato? De que forma harmonizar, dentro de uma mesma mentalidade, aquela constante jovialidade e aquela compreensão austera e profundamente grave e séria de seus deveres? Catolicamente falando, a autoridade de forma nenhuma se choca com a simplicidade. O homem deixa de ser simples quando ele quer tornar o direito de governar o próximo um atributo inerente à sua pessoa. – É só aos pés de Jesus Sacramentado ou de Maria Santíssima que o apóstolo consegue a fecundidade de seu trabalho. O valor da colheita não depende tanto do número das sementes, como de sua qualidade. Se algum apóstolo quiser saber como será julgada sua vida no Tribunal Eterno, não indague tanto sobre os caminhos que palmilhou ou as gotas de suor que de sua fronte gotejaram. Indague, sim, das horas passadas de rosário em punho, aos pés do Tabernáculo.

22 de julho – A consolidação. A preocupação dominante das autoridades eclesiásticas é, no momento, a consolidação da esplêndida vitória que obtivemos na Constituinte da 2ª República. Devemos repelir uma tendência que pode ter conseqüências extremamente funestas, e que deriva do otimismo fácil, um dos pecados nacionais do Brasil.

05 de agosto – À margem dos acontecimentos. Ainda somos, felizmente, um País que progride enquanto dormem nossos governos, muito mais do que retrocede enquanto eles estão acordados. A iniciativa particular desempenha, na economia em geral de todas as classes sociais, um papel muito mais relevante e mais ativo do que a iniciativa do Estado. A maioria dos nossos problemas pode ser resolvido com muito maior vantagem pela iniciativa do indivíduo, porque a natureza oferece, entre nós, muito maiores recursos à ação particular do que no velho continente europeu. – Os princípios cardeais de nossa sabedoria social brasileira.

19 de agosto – Diretrizes / Belíssima circular de Dom Duarte Leopoldo e Silva ao clero de sua Arquidiocese: de uma elegância clássica na forma e de uma energia militar no fundo, em que o Arcebispo de São Paulo, nesta hora de tremendas responsabilidades, apontou ao clero e, indiretamente, aos católicos o caminho do dever. É o Pastor que aparece a indicar, ora com energia de um chefe, ora com a suavidade de um Pai, a posição desapaixonada e superior que os Ministros de Deus devem aceitar como consequência inelutável do caráter espiritual da sua missão. Tal documento confirma uma vez mais as qualidades de tato, superior visão dos acontecimentos e profunda dedicação à Igreja de nosso Arcebispo.

02 de setembro – Um erro / Acentua-se o imenso cansaço do Brasil que almeja o advento de um ou alguns homens capazes de imprimir rumos novos à sua curta e triste história de nação precocemente envelhecida ao contato com os vícios e os erros da civilização burguesa. É este, no entanto, o grande erro dos elementos bem intencionados. O Brasil não precisa de homens, mas de uma Idéia. Esta Idéia, ou este Ideal é “o Ideal”, o Ideal por excelência, é o Catolicismo em todo o vigor de sua pujança sobrenatural e no esplendor de sua prática integral.

02 de setembro – À margem de uma crítica. Na bela crítica que Plinio Barreto faz ao trabalho de Daniel de Carvalho sobre “Theophilo Ottoni, Campeão da Liberdade”, mostra o desprestígio em que o liberalismo caiu perante as massas e principalmente as massas jovens do século XX. – Trecho da critica que P. Barreto faz ao livro do prócer integralista, Sr. Miguel Reale: “O meu cepticismo sobre as virtudes de regimes políticos absolutos, sobre a possibilidade de encerrar os homens de uma nação no cárcere da unidade mental e social, tira a sua seiva da observação desapaixonada do que tem sido a humanidade na sua misteriosa peregrinação pela terra”. – Resumo fiel e imparcial do pensamento do agnosticismo democrático. – Há um abismo que separa o integralismo e o liberalismo, do ponto de vista católico. No entanto, cortando este abismo, há ainda entre as duas doutrinas antagônicas uma ponte de comunicação. – Não é verdade que a Igreja nunca tenha realizado a unidade do espírito humano. A Idade Média realizou, sem dúvida, na Europa, uma unidade cristã, que o cisma russo reduziu à Europa Ocidental e que a reforma luterana destruiu. A existência de meteoros que rolam pelo céu, vagabundos e desorbitados, não implica em negação da existência de um sistema planetário ordenado, que a marcha das estrelas errantes não pode alterar.

16 de setembro – Relações Indesejáveis / Nada é mais tipicamente burguês do que o desejo de auferir lucros imediatos com negócios com a Rússia, sem o menor receio da campanha comunista que imediatamente passará a grassar no BrasilNada também é mais imprevidente e mais míope do que esta inteira indiferença pelo incêndio que amanhã devorará nossa casa, contanto que possamos, hoje, ornar com mais luxo nossa sala de visitas.

30 de setembro – Chapas. Vivemos em uma democracia, isto é, em um regime em que a opinião pública tem ou presume ter o direito de governar. Ora, quem diz governo da opinião diz governo da imprensa. E é a má imprensa que é responsável pela má opinião. – Não é gente moça nem gente velha que o Brasil quer. O que o Brasil quer é gente boa. Portanto, ele precisa de uma imprensa que não seja nova ou velha, pouco importa, mas que seja boa.

14 de outubro – O Sentido do Congresso de Buenos Aires. Os Congressos Eucarísticos e a paz das nações: as guerras são sempre frutos de paixões exacerbadas. E, como entre os indivíduos, a virtude das partes domina os ímpetos do amor próprio e conserva em harmonia as relações recíprocas, também entre as nações é mister reine a virtude cristã que impeça os excessos das paixões nacionais. Ora, para tanto, muito concorrem os Congressos Eucarísticos. Porque neles há uma consagração da realeza transcendente de Nosso Senhor Jesus Cristo. Reúnem-se representantes dos mais diversos países para, prostrados, reconhecerem a soberania suprema do Rei dos reis de quem procede todo o poder na Terra. Este espetáculo não pode não impressionar os soberanos deste mundo. Não compreenderão aquela massa enorme de homens diante do que para eles não seja talvez mais do que um pedacinho de pão; mas sentirão a precariedade de sua soberania, perceberão que sua autoridade não é absoluta ou ilimitada, mas que deve curvar-se diante de outra mais excelsa a que peça normas por que se regular. – Não há uma sociedade abstrata à qual se apliquem normas e reformas sem considerar os homens que a compõem. Estes são sempre os membros daquela na qual ingressam todo inteiro, corpo e alma, vícios e virtudes que porventura possuam. E como os vícios concorrem para a desordem e intranqüilidade, as virtudes são elementos de ordem e de paz. A paz social depende pois, e muito, da paz interna de seus membros. Esta só se obterá quando se compenetrem os homens de sua finalidade extraterrena, sobrenatural e saibam que ela se subordina ao cumprimento exato de seus deveres para com Deus e para com o próximo.

14 de outubro – Comentando… A paz na América (Latina) / É inconcebível que num continente em que a Sagrada Eucaristia é adorada por todas as nações continue o contraste do troar dos canhões fratricidas, que dizimam povos bem perto do Trono do Rei dos Reis. Guerra à guerra!

14 de outubro – Comentando… Combates de tocaia / Não há justificativa no recurso à violência, principalmente nos moldes como ela foi empregada recentemente; apenas se explica a “barbárie” do “credo vermelho” se este resolveu substituir a força do argumento pela força bruta. – Quando uma ideia não tem valor intrínseco… de nada valem os campos de concentração da Sibéria.

28 de outubro – Três Rumos. O Brasil é mestre entre os mestres na arte de contemporizar, e há muitos lustros já que ele vem fugindo ao severo dilema considerado por José Bonifácio: não caímos ainda no fundo do abismo e nem empreendemos a reação moralizadora que nos deveria salvar. – Os brasileiros só foram bons republicanos no tempo da Monarquia e só foram bons monarquistas depois de 15 de Novembro. – Qual dos rumos tomará o Brasil? O que os católicos escolherem. E só uma condição se exige de nós para que entremos no uso de tão excelsas prerrogativas: que não sejamos inferiores à nossa missão.

11 de novembro – O Caso das Urnas. Como perigo remoto, o comunismo só pode ser evitado pela recristianização da sociedade, especialmente no que diz respeito à família e às relações entre o capital e o trabalho. A inobservância dos preceitos católicos, neste terreno, vai produzindo um mal estar social crescente que, em futuro menos próximo, gerará graves comoções sociais. Neste sentido, o perigo comunista é real, tremendo, indiscutível e só um tolo pretenderá resolvê-lo, na imensa complexidade dos seus aspectos, a tiro ou a pata de cavalos.

25 de novembro – Justiça de Salomão. – A questão do anunciado afastamento de Dom Carlos Duarte da Costa da Diocese de Botucatu. – No seu afã de atrair as simpatias da Igreja, lembram as alas rubras do PRP e do PC ou suas respectivas imprensas, o caso das mulheres que disputavam a maternidade de uma criança perante a justiça de Salomão. Com esta diferença: que no caso atual, qualquer dos contendores prefere ver rachado ao meio o menino (neste caso a Igreja), a vê-lo em mãos do adversário. Realmente, pouco se lhes dá o prestigio moral desta Igreja cuja influência tão vorazmente querem conquistar. Para qualquer deles, membros do PRP ou do PC, é preferível ver dividida pela espada de uma publicidade escandalosa a dignidade da Igreja, a permitir que o adversário se possa jactar de lhe ter monopolizado o prestígio eleitoral. O que nos indigna é que se pretenda invocar o amor aos interesses da Igreja para justificar tão destemperadas apreciações.

09 de dezembro – Extremismos. O Ministro da Justiça prepara um projeto de lei contra os “extremismos”. Católico, exclusivamente católico, é bem clara minha intenção de me manter rigorosamente alheio a todo e qualquer partido ou “ação” política, para consagrar todo o meu tempo e toda minha energia, até o menor dos meus minutos e o último dos meus esforços, pela causa da Igreja. E da sinceridade desse propósito penso ter dado arras superabundantes, recusando as cadeiras de deputado que, com tão honrosa insistência, me foram oferecidas pelas maiores correntes políticas de São Paulo.

09 de dezembro – Krishnamurti. Origens e descrição do teosofismo.

23 de dezembro – O Mundo às Avessas. Manifesto da “Frente Única de Luta de todos os estudantes pela democratização do ensino e pela democracia escolar”: seria ridículo se não estivesse tão evidente sua origem. Raros são os documentos públicos nos quais esteja tão claramente exposta a ideologia marxista desorganizadora da sociedade. No valor dado às massas, no ideal de luta, na inversão hierárquica que preconiza, no espirito de revolta que se nota em suas linhas, respira-se a mais completa erudição soviética. Nesse sentido ele é um índice de grande valor; mostra o trabalho lento de sapa a que nossa mocidade é submetida pelos doutrinadores comunistas.

23 de dezembro – Pela União dos Católicos. Se o católico é um homem que vive no mundo como os outros, ele não pode deixar de se voltar para os problemas temporais que o cercam, especialmente para aqueles que mais de perto dizem respeito ao bem comum da sociedade. O seu desinteresse pelas mais sérias questões temporais poderia mesmo acarretar graves prejuízos para a vida religiosa. Mas é preciso subordinar as atividades de ordem temporal à ordem espiritual e religiosa representada pela Igreja.

1935

06 de janeiro – Na montanha russa / São tantas as revoluções anunciadas, tantas as greves prometidas, que não se sabe por que não será desferido o primeiro golpe, desde já ficamos a olhar com desconfiança para este 1935 que nos seus primeiros dias já se mostra tão barulhento e tão carregado de ameaças. – Enquanto nas altas esferas da política, a incerteza das conspiratas e dos conciliábulos nos avizinha do abismo, nossa simples atitude de espectadores nos reduz à impotência. Esta impotência provém do fato de não se preocupar ninguém em ouvir os católicosE os maiores culpados por este exílio a que nos atiram somos nós mesmos, soldados rasos da Igreja, que não soubemos cumprir nosso dever. Abandonar a Igreja porque Ela não foi devidamente defendida por seus filhos, seria absolutamente igual a abandonar Nosso Senhor no Calvário porque todos O haviam abandonado. É preciso reagir, e reagir com a veemência de um tufãoA palavra de ordem no momento é esta: não desanimar.

06 de janeiro – Sobre a Greve. Todo o edifício de nossa organização social ameaça ruína, mas o senhor da casa não quer construir um outro; parece que prefere aguardar o desabamento daquele para depois, talvez, aproveitar ainda os tijolos!

20 de janeiro – Cultura Católica / Enquanto os moços se afastam da concepção materialista da vida, aspirando a horizontes mais externos e mais altos, mestres há que a ela se entregam totalmente, anunciando-a e propagando-a como a única esperança do Brasil. Só os verdadeiros valores serão capazes de resistir à “rápida sucessão de situações novas”, à “profunda revisão de valores sociais”, à “ebulição intelectual, feita de todos os fermentos filosóficos, literários e científicos”.

20 de janeiro – Progressos. Dados referentes à Arquidiocese de São Paulo em 1912 e 1933, extraídos do Anuário da Cúria Metropolitana. Nossos progressos espirituais quase não se fizeram sentir, ainda, na esfera administrativa, exclusivamente entregue a gerações formadas longe de Deus. Mas a onda vai subindo. Dia virá em que, tendo galgado todas as camadas sociais, penetrará em todas as esferas da administração pública ou das empresas particulares. Nesse dia, o Brasil será grande: terá raiado para ele um novo 7 de Setembro.

20 de janeiro – Comentando… Agonia do século que passou

20 de janeiro – Comentando… O remédio / Não são as revoluções que regeneram os costumes. Mais uma prova da verdade dessa asserção está na fraude que, segundo parece, campeou nas eleições de 14 de outubro. – A única que pode recristianizar nossos costumes, e que por si só nos pode salvar é a Igreja Católica.

20 de janeiro – Comentando… Politicagem / Mais uma vez é vergonhosamente influenciada a congregação da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Mais uma vez dirigem-na em suas decisões os mesmos comunistas de colarinho, jamais molestados pelo governo que castiga estudantes e operários.

20 de janeiro – Comentando… Quem não tem competência / O partidário da “ditadura republicana” é militar (General Manoel Rabello). Não obstante isso, seus colegas acham que o velho soldado não tem competência para ajuizar de uma coisa que interessa aos militares. Quem não tem competência… cala a boca.

03 de fevereiro – A Lei de Repressão ao Extremismo / Nada é mais difícil e ingrato do que falar a linguagem da serenidade, quando sobe o termômetro das paixões políticas e baixa o do bom senso geral. – E’ óbvio que se é crime atentar por meios violentos contra a organização política e social, tanto mais grave será o crime quanto mais funda a modificação planejada pelos delinquentes. – A mão que traçou estas linhas pode escrever “ex abundantia cordis” que não é integralista. Mais uma vez, cabe ao autor destas linhas reafirmar sua inteira dedicação à causa da Igreja. Católico, e exclusivamente católico, procura examinar os acontecimentos não à luz esfumada de preconceitos ou paixões pessoais, mas à claridade meridiana da doutrina da Igreja.

03 de fevereiro – Médicos e Comunismo / Não é no comunismo que se devem buscar exemplos de caridade, baseado como é no ódio de classes. Domina nos comunistas, materialistas que são, a idéia de superioridade absoluta de determinados homens e o desprezo mais completo pela vida e pelo estado dos doentes psíquica e fisicamente e portanto destinados a desaparecer. Os pobres seriam, assim, perfeitamente comparáveis a animais de experiência, nos quais se tem direito a tudo fazer.

03 de fevereiro – Comentando… Publicidade moderna

17 de fevereiro – Alegria por Decreto. Onde foi parar o velho carnaval paulista, todo feito para fazer rir? Cedeu seu lugar a um carnaval exclusivamente sensual, em que a alegria dos espíritos não é mais uma inocente hilaridade, como a de nossos avós, mas a festa dos sentidos postos em estado de superexcitação. – Se fôssemos contar o número de pequenas economias domésticas que se desequilibram definitivamente por ocasião do carnaval, poderíamos ver até que ponto os festejos de Momo são uma bomba aspirante que suga os tostões das classes pobres, conduzindo-os para os bolsos entumecidos dos exploradores do carnaval. Se pudesse falar, o que diria Momo ante tal cena?

17 de fevereiro – Igreja, Autoridade e Liberdade Uma das acusações atiradas à Igreja é a de ser favorável ao absolutismo, à tirania do Estado e, portanto, inimiga da liberdade. E em nome desta, prega-se o seu aniquilamento e a sua destruição, para que os homens sejam “livres”, no mundo “livre”. Desmontando objeções e relembrando, em síntese, a doutrina da Igreja sobre limites à soberania do Estado, de um lado. De outro, os deveres dos súditos em relação ao Estado. O que constitui o despotismo das massas e o despotismo do Estado. Nessa doutrina deve o Brasil abeberar-se. Um olhar à filosofia cristã, colocará a humanidade no caminho único da verdadeira harmonia.

03 de março – Ainda o Carnaval. O Juiz de Menores baixou portaria estabelecendo normas e proibições diversas para os menores até 21 anos, os quais devem, assim, limitar-se à assistência de determinadas festas carnavalescas, sendo-lhes interditas as demais, mesmo quando oficializadas. A Superintendência de Ordem Política e Social recorda que aos foliões não será permitido o porte de armas. – Num retrospecto vivo, apresentam-se à imaginação as civilizações que desapareceram na dissolução dos costumes e na materialização do homem. Mas ao mesmo tempo, uma finíssima flor da espiritualidade cristã vem dar a resposta da verdadeira mocidade, da verdadeira virilidade: é o Retiro Espiritual.

03 de março – Prece que Salva / Penetrante e saborosa descrição de um corso carnavalesco. – Passemos para o Liceu Coração de Jesus. Centenas de moços. No silêncio da noite, terminam-se as últimas orações: “Quando choramos com lágrimas amargas nossos pecados, aliviai, Senhor, as dores dos que sofrem longe de Vós. Quando, enfim, descansarmos no sono das consciências tranqüilas, dai um pouco de nossa paz àquelas almas que se agitam longe de Vós, procurando no pecado uma felicidade que só em Vós se pode encontrar. Perdoai, Senhor, perdoai nossa Pátria. Para vô-Lo pedir, não Vos trazemos, nós, corpos gastos pela vida ou almas maculadas pelo pecado. Senhor! É o Brasil de amanhã que Vos fala. Perdoai o Brasil de hoje!

03 de março – Comentando… O segredo do prestígio / Mais de 600 jornaleiros se reúnem no seu Sindicato; uma palavra basta para acender a greve. Mas o monge beneditino se vale da sua paternidade espiritual; intercederá por eles, contanto que se vão em paz. — “D. Polycarpo prometeu, e isto nos basta” dizem eles. É o duplo reconhecimento do prestígio moral da Igreja, através de um digno sacerdote seu: diante dela cedem os poderosos do Governo e a massa dos humildes, dos pequeninos, mas dos bem intencionados.

17 de março – Comentando… Cristo e a Sociedade / O pensamento político errado que plasmou a sociedade contemporânea e que chegou, como corolário mesmo de seu agnosticismo, à crise moral. Lembraram-se então os homens de que Cristo existira, mas foram buscar o que Ele ensinara, não para o dar lealmente como alimento às multidões famintas de ideal, mas para o adaptar às suas próprias idéias e fazer de Jesus o testemunho de seu ensino. Uns viram nEle apenas o homem que apostrofava os ricos e poderosos e exaltava os humildes, e o tomaram como o primeiro comunistaOutros viram apenas o homem que mandava dar a César o que é de César, e O transformaram no primeiro endeusador do Estado absoluto e pretenderam usar da Igreja de Cristo como colaboradora do seu despotismo e do seu autoritarismo. Só a Igreja Católica manteve e mantém a verdadeira doutrina de Cristo, e só Ela tem de seu Fundador a verdadeira concepção.

17 de março – Comentando… Sosseguem os escrúpulos / Em vários Grupos Escolares já se iniciaram as aulas de Catecismo. Tudo previsto de modo a evitar qualquer constrangimento por parte dos alunos que não comungam com a nossa fé, os quais não tiveram a mais leve sensação de inferioridade ou hostilidade. Infelizmente por um lado e felizmente por outro, os abusos têm partido dos intransigentes partidários da “liberdade de consciência”.

17 de março – Socialismo e Religião / Afirmam repetidamente socialistas e comunistas que não são inimigos da Religião e que a prática desta não encontrará dificuldades no regime socialista. Somente o sacerdócio não poderá persistir por ser, dizem eles, a exploração organizada do povo. Refutação doutrinária e com base também em fatos recentes, mostrando a mentira da liberdade religiosa sempre prometida e nunca concedida pelo socialismo, que na realização prática se encontra sempre em oposição às suas promessas.

17 de março – A Questão Militar / Em uma época em que o sentido da hierarquia e da disciplina se evapora, em que o idealismo desaparece, em que soçobra o amor a uma vida austera e metódica, ficam em extraordinária evidência as reais afinidades que ligam o espírito religioso e o espírito militar. O que exige o catolicismo não só dos militares, mas de todos os fiéis? Precisamente o mesmo amor à pátria, que é o eixo do espírito militar. – Não se compreende exército sem disciplina. Ora, neste capítulo, qual é o ensinamento da Igreja? – O catolicismo exige que todos, militares ou não, sejam austeros, sejam castos, sejam continentes segundo o estado de vida que abraçaram. Em tempo de paz, as duas maiores escolas de defensores da Pátria para os tempos de guerra são precisamente a Igreja e o Exército. Uma, fazendo, de cada homem prestante, um soldado ideal, pela austeridade de sua vida, pela rija têmpera de sua vontade, pela sua grave compreensão da disciplina e por seu nobre idealismo. E o outro, fazendo deste patriota morigerado, austero e obediente, um militar competente e atilado. Ideais comuns e inimigos comuns, eis aí um cimento bastante resistente para consolidar as amizades mesmo quando novas.

31 de março – Liquidação de Contas / O País foi inteiramente dominado – e já lá vão ao menos quarenta anos deste domínio – pelos políticos profissionais, que conquistaram todos os laboratórios onde se prepara a opinião pública, desde as Escolas Superiores, até a imprensa e o aparelhamento bancário. A Revolução de 1930 substituiu alguns destes chefes. Mas a substituição de chefes não significou, de forma nenhuma, a substituição dos verdadeiros valores aos bonzos. E tudo continuou como antes…

31 de março – O Brasil é Esquecido / A regra no Brasil: essa instabilidade de opinião característica de uma falta de convicções, do superficialismo banal com que são tratados os assuntos da mais grave importância, do utilitarismo imoral com que são desejados e tomados os cargos públicos. – O tradicional cristianismo, que é a força do Brasil, alijará um dia, com um sacudir de ombros, esses elementos – perversos alguns, inconscientes muitos – que só souberam ver-se a si mesmo e se esqueceram da terra onde nasceram.

14 de abril – Catolicismo e Política / Frutos do naturalismo e do teorismo político, um separando a ordem natural da sobrenatural e outro esquecendo que o governo dos povos deve ser baseado em suas realidades próprias. – O Catolicismo afasta o homem das falsas concepções morais baseadas umas no prazer, outras no servir, outras no dever, e em tantas outras atitudes humanas, todas desconhecedoras, entretanto, da fonte e do fim da Moral que é Deus, e todas podendo ser sintetizadas no utilitarismo. E não havendo Deus como medida, esta é o próprio homem e ninguém quererá considerar-se inferior a qualquer outro. E não havendo Deus como fim, este é o próprio mundo, é o tempo de vida mais ou menos longo de cada um; e quando o indivíduo for suficientemente otimista para não cair no desespero, procurará não ser inferior a qualquer outro, em prazeres e em proventos materiais.

14 de abril – Desvairamento / Precisamente quando se declara de modo oficial e peremptório que nenhum princípio e nenhuma doutrina explica o fato capital de nossa política, aplaude-se entusiasticamente tal declaração, tanto entre gregos como troianos. – Causa-nos estranheza a declaração de manchete da “Ofensiva” (órgão integralista) de que “a Ação Integralista é a única força moral antiburguesa capaz de salvar o Brasil do comunismo”.

28 de abril – À espera / A consciência social católica exige uma voz que todas as manhãs ande pelas ruas, que penetre em todas as casas, que suba a todos os escritórios, que viaje em todos os veículos, que bata a todas as inteligências, mostrando-lhes a perfeição da doutrina católica, os remédios que ela aponta para os males sociais; o tipo de sociedade que ela preconiza. E essa voz é o jornal. Um grande diário católico será o mais corajoso defensor das nossas instituições e tradições, e o mais perigoso inimigo de todos os falsos doutrinadores e de todos os extremismos.

28 de abril – Comentando… Dois amigos do Brasil / Dizer que o Brasil se desconhece a si mesmo é um lugar comum. Sofremos de um sentimentalismo ancestral que já hipertrofiou em nós a capacidade de conhecer o nosso país; o nosso romantismo faz-nos míopes.

12 de maio – Mensagem (que Getúlio Vargas leu na inauguração do Congresso Nacional) / Se não é fácil compreendê-lo em matéria política, é impossível decifrar o pensamento de S. Exa. em matéria religiosaComo deputado, parece que S. Exa. foi fiel a suas tendências, pois que conhecemos dele um bom número de discursos parlamentares hostis ao ensino religioso. Como ditador, mudou S. Exa. de orientação. O certo, porém, é que – honra ao mérito – S. Exa. assumiu, de 1930 para cá, uma atitude de discreta simpatia em relação às reivindicações católicas. – Deputados eleitos com votos católicos atacam a doutrina dos seus eleitores.

12 de maio – Comentando… Ensino religioso / Como católicos, anotemos esse fato feliz para o Brasil: a instalação do ensino católico nas escolas de vários Estados que já regulamentaram a aplicação do dispositivo da Constituição Federal, relativo ao assunto.

26 de maio – Aliança Nacional Libertadora / Ela representa uma organização nitidamente revolucionária, inimiga da civilização cristã e devemos estar prevenidos contra ela e contra seus manejos e atividades, tolerados pelo maior ou menor “esquerdismo” de grande número dos nossos homens de governo. Seu chefe é Luiz Carlos Prestes – O mal que perturba a humanidade não está tanto nos corpos como nas almas, é muito mais moral que material. É o que no século passado dizia Luiz Veuillot, e que muito melhor se aplica aos tempos atuais, quando a sociedade já chegou aos extremos que o grande pensador previa: “…Não se trata de reprimir, de aprisionar, de fuzilar; não se trata mesmo de organizar o trabalho dos braços; trata-se de organizar o trabalho das consciências. Enquanto a sociedade não fizer cristãos os homens que a perturbam, ela os terá como inimigos encarniçados e implacáveis…”

26 de maio – Por quê? / Raras vezes pode ter um observador político, de mediana sagacidade, uma ocasião melhor do que agora para constatar a terrificante inconsistência das fórmulas de 1789 no Brasil. – O Brasil, em lugar de ser governado pelo povo, continua nas mãos dos agitadores ágeis que o conduzem, a seu talante, para rumos que todos ignoram. – “Clama, não cesses, como uma trombeta eleva tua voz” aconselha o Espírito Santo aos que defendem a verdade. Realmente, se se calarem os católicos, quem, no Brasil, pode ter a independência necessária para pôr os pingos nos “is”?

26 de maio – Comentando… Caminho certo / A Comissão de Boa Imprensa, da Confederação Católica, organizou a realização de dias de recolhimento para jornalistas. Não se fazem as obras divinas, todas elas dirigidas para um aperfeiçoamento espiritual, sem que antes se estabeleçam sobre uma base também espiritual. Inúteis – e mesmo contraproducentes – serão todos os esforços puramente humanos, desenvolvidos embora com muito boa vontade.

26 de maio – Comentando… Futurismo / A mania moderna de se dar nomes novos às coisas velhas.

09 de junho – Ainda a Aliança Nacional Libertadora / Documentos provando que a ANL é uma organização revolucionária pois “esmagará os bonecos de galões” (Exército), conforme afirmou o estudante Carlos de Lacerda; inimiga do regime, da Pátria; combate o ensino religioso que é estabelecido pela Constituição, luta contra a família, batendo-se pelo divórcio, critica as mulheres que se apoiam em Deus, na Pátria e na Família. – Leão XIII, na “Rerum Novarum”: “Intervenha a autoridade do Estado e, reprimindo os agitadores, preserve os bons operários do perigo da sedução e os legítimos patrões de serem despojados do que é seu”. Aquele Papa lembrou aos governos todos os seus deveres para com as classes desprotegidasdeveres esses que Pio XI resume na Encíclica “Quadragésimo Ano”.

09 de junho – O Sacrifício indispensável / Há certas almas capazes de descer à profundeza das mais sérias cogitações onde vão buscar a pérola inestimável da verdade. Outras, porém, se sentem asfixiadas desde que as idéias se tornam um pouco mais densas e retrocedem imediatamente, de mãos vazias, àquela banalidade estéril que é o único ambiente que conseguem suportar. – De nada vale a mais útil das obras de apostolado aos olhos de Deus, quando o apóstolo leva na alma aquele mesmo espírito do mundo que combate por suas ações. – A vocação sacerdotal é – por excelência – a vocação para o sacrifício.

09 de junho – Reconquistemo-los / A Aliança Nacional Libertadora, do ponto de vista moral, não merece ela a menor consideraçãoAs idéias que professa não são as que prega. Nas dobras de sua bandeira nacionalista, se ocultam a foice e o martelo de Moscou. A mistificação é sua nota característica. A demolição é sua finalidade suprema. Quem o seu líder no Rio? O burguesíssimo prefeito Pedro Ernesto que desertou das hostes burguesas onde comeu, bebeu e viveu em paz durante toda a sua vida, para externar através da campanha comunista o seu venenoso rancor de “decaído” do Clube 3 de Outubro. Em São Paulo, não é de outro estofo o seu líder, burguês de grande estirpe e de luxuosa vida, egresso também ele de um partido liberal-democrático, para incitar à revolta operários a cuja classe não pertence e de cujas amarguras não participa, no seu esplêndido palacete. – O melhor meio de combater o comunismo consiste em conquistar o operariado, associando-o em organizações caracteristicamente católicas, em saciar sua alma sedenta de carinho e de justiça, em lhe suavizar o trabalho, em lhe facilitar a vida. É mister, também, conquistar as elites. É necessário extirpar da alma do patrão o câncer não menos devorador de uma ganância imoderada. – E o perigo comunista? Devem os católicos desinteressar-se dele? Nunca. – O irmão gêmeo do espírito burguês é o espírito de revolução.

09 de junho – Comentando… Esmolas / Nova e interessantíssima forma de auxílio aos necessitados, posta em prática em Madri, por um grupo de senhoras católicas.

23 de junho – O Cardeal da Providência. A recente promulgação dos estatutos da Ação Católica Brasileira, a fixação da data em que se realizará o Congresso Eucarístico de Belo Horizonte, e sobretudo a notícia de que se reunirá em Concílio, brevemente, o Episcopado Nacional, constituem os marcos iniciais de uma inteira renovação de toda a nossa vida religiosa. Parece-nos, portanto, da mais estrita justiça que no limiar de uma nova série de esforços e de lutas detenhamos por instantes nossa marcha, a fim de examinar o caminho percorrido. Em 1915 – há vinte anos apenas – qual era a situação religiosa do Brasil? Como se apresenta ela em nossos dias? Quais as modificações operadas? É o que vamos examinar.

23 de junho – Urgente Definição / Protesto contra publicação do Departamento de Publicidade da Ação Integralista Brasileira. Queremos apenas fazer com que os integralistas de boa vontade compreendam a nossa atitude e, ao mesmo tempo, chamar a atenção do referido Departamento de Publicidade pelas expressões desrespeitosas que usou para com a autoridade da Igreja. Se deixamos lavrado nosso protesto contra tais afirmações não é em absoluto por qualquer sentimento de amor próprio, nem apenas – o que já seria suficiente – em defesa da nossa dignidade e da nossa honra, mas sobretudo porque foram ofendidas insólita e arrogantemente a própria dignidade e a honra da Igreja, da qual nos confessamos filhos amorosos e submissos. – O integralismo é que precisa definir-se, de uma vez para sempre, em relação ao catolicismo. – A nossa confiança não está no integralismo nem em qualquer outra organização humana, mas só na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

23 de junho – Comentando… Depoimento insuspeito / Verdadeiras “confissões” de um protestante: “A primeira coisa que constrange o coração – afirma o depoente – é ver tantas seitas, todas em divergência, repudiando-se ou combatendo-se reciprocamente. Só em Ponta Grossa, cidade de 30 mil habitantes, onde todos – na sua maioria – são católicos, existem sete seitas evangélicas“.

07 de julho – A Primeira Desobediência. Pela primeira vez em minha vida, encontro-me entre os cabecilhas de uma facção de revoltosos. – O Bispo perfeito, em nossos dias, deve aliar à santidade um pouco do tino político de um Richelieu e um pouco da perícia financeira de um Colbert, para vencer todas a dificuldades que se encontram em seu caminho.

07 de julho – Um Ano (da promulgação da Constituição Federal). Afirmação de Tristão de Ataíde: “Até ontem podíamos atribuir à imperfeição das leis vigentes o estado calamitoso em que se encontra o Brasil sob o ponto de vista moral. Hoje, porém, temos uma Constituição ideal, e de hoje em diante a imperfeição das leis não mais poderá servir de escusa à nossa situação, que passará a ser fruto exclusivo da indolência e da inércia dos católicos”. Análise daquele período constitucional: não foi regulamentado o casamento religioso. Não foram introduzidas capelanias nas Forças Armadas. Não sabemos de nenhuma alteração no regime das relações entre a Igreja e o Estado a despeito da “colaboração recíproca” permitida pela Constituição. A única conquista que foi aproveitada foi o ensino religioso. E por que isto? – Congratulem-se por esta bela situação os católicos que puseram o facciosismo acima da Religião. Se é de politicagem que gostam, aí a têm, pois que ela invadiu todas as camadas de nossa vida social.

21 de julho – Nossa missão O Brasil não pode ser salvo apenas por um grande homem, porque é mister que, na obra de salvação, colaborem todos os brasileiros. – “Ó vós que conheceis a verdade, o que fazeis dela?” A mesma pergunta fará o Brasil de amanhã à nossa mocidade católica. E a resposta que nos ditar nossa consciência será a sentença que sobre nossa ação terá proferido a História.

21 de julho – Saudação dos Marianos ao Prefeito da Capital pronunciada pelo diretor do “Legionário”, o Prof. Plinio / Consagrando ao Apóstolo das Gentes a Cidade que acabava de fundar, Anchieta implorou e obteve, para o povo que dela brotasse, o idealismo abrasador, a energia inexaurível, a combatividade invencível, a audácia viril e realizadora, que Paulo de Tarso soube pôr ao serviço da maior das causas, a causa de Cristo e da sua Igreja. É possível que, na defesa de seus pontos de vista, em lutas travadas em séculos que já se foram, tenham alguma vez errado – pois que é esta a triste contingência da natureza humana. É certo que, mais de uma vez, se atiraram uns contra os outros em lutas fratricidas. Mas ainda mesmo nos mais dolorosos momentos de sua História, nenhum vulto aparece que possa ser filiado àquela categoria de tíbios que, segundo a enérgica expressão dos Santos Evangelhos, o Cristo justiceiro vomitaria de sua boca divina. – Não é apenas no idealismo candente e no vigor da ação que os filhos desta Cidade se têm mostrado dignos do Orago que lhes deu Anchieta. É também pela universalidade de sua ação. O Apóstolo das Gentes não concebia limites para a sua doutrinação. O mundo inteiro era pequeno para a grandeza de seu ardor apostólico. – Do Coração de Jesus, que é o marco zero de toda a ação católica, a mocidade católica de São Paulo partirá a esmagar dificuldades, a vencer obstáculos, a contornar precipícios, em corrida desabalada à procura de almas.

04 de agosto – Um golpe. A Constituição Federal estabelece que se elaborará, para todo o Brasil, um plano uniforme de educação. Evidentemente, o assunto interessa muito de perto à Igreja, cuja missão tão de perto se relaciona com todos os assuntos educacionais. Seria, pois, de se esperar que o Governo do Estado procurasse consultar as altas autoridades Eclesiásticas para incluir, na comissão que deveria organizar, alguns elementos representativos do pensamento católico. Aliás, não seria apenas um gesto de simpatia do Governo, este que acima indicamos, mas uma atitude inspirada na estrita justiça. Infelizmente, o que se deu foi o contrário. Mais do que estranheza, o gesto do governo nos causa pesar. Sempre dispostos a respeitar a autoridade constituída e prontos a aplaudir sem menor preocupação partidária todas as iniciativas governamentais acertadas, nosso dever nos impele, no momento, a formular uma categórica censura.

18 de agosto – A candura do Sr. Maximiliano / Esse Procurador Geral da República declarou: “O comunismo, como todas as doutrinas, tem o seu lado bom e o seu lado mau. Corrija o último e aprimore o primeiro”. Mas corrigir no comunismo (uma das piores coisas que existem entre os homens) o seu lado mau para aprimorar o que, porventura, tenha ele de bom… é simplesmente acabar com o comunismo. – A subversão da ordem social e política, a corrupção das famílias, a luta contra a religião, tudo estaria muito certo e direito desde que fosse feito por meios não violentos (suasórios) pelos comunistas…! O parecer do Sr. Maximiliano revela o imediatismo jurídico que parece dominar a mentalidade de nossos governantes.

18 de agosto – Equipes (sociais). A ninguém ocorreu de censurar o excelente movimento equipista que com tanto êxito vem sendo orientado pelos Padres Dominicanos na França. Todas as opiniões versavam apenas sobre a radical inoportunidade dessa medida em São Paulo. Para corroborar opiniões já tão valiosas quis o Sr. Prof. Leonardo Van Acker incluir algumas palavras sobre o assunto, em entrevista concedida a “O Legionário“ sobre ação operária. Nenhuma intenção tivemos, portanto, de atingir o movimento equipista do Rio de Janeiro, cujos membros nos merecem a mais afetuosa e fraternal amizade. Todos os aucistas do Rio de Janeiro tem nos colaboradores desta folha irmãos devotados que lhes dedicam uma estima e lhes tributam uma solidariedade total que sabemos ser abundantemente retribuída.

18 de agosto – Comentando… Homens ou feras? / Noticiaram os jornais, medidas tomadas pelas autoridades soviéticas contra os pais que, em grande número na infeliz URSS, abandonam os filhos. A guerra à família, com o amor livre, o ódio e repúdio dos próprios pais, que o comunismo prega e insufla, só poderia ter como consequência aberrações como essa.

18 de agosto – Comentando… O 3.° Mandamento / Nossa Senhora revelou em La Salette que Deus castigaria a França por não guardar o Domingo, sucedendo-se a isso a guerra de 1870, o cerco de Paris no Domingo 29 de janeiro de 1871, a revolução da Comuna no Domingo 26 de março e a entrada dos inimigos na capital francesa no Domingo 21 de maio. Possa o Brasil, pela fiel observância dos preceitos, evitar os flagelos com que a Providência castiga os indivíduos e os povos rebeldes à sua lei!

01 de setembro – A “Campanha dos 50%”. Que todo bom brasileiro preste muita atenção às sutilezas dos inimigos de nossa Pátria e de nossa sociedade: suas armas são discretas, suas intenções parecem puras, mas seus desejos são destruidores. E se os deixarmos, sentiremos os efeitos de seu jugo, e então será tarde demais.

01 de setembro – Comentando… A.N.L. & U.R.S.S. / Palavras textuais do secretário geral do “Komintern”, referentes às ligações da Aliança Nacional Libertadora e a Terceira Internacional.

01 de setembro – Comentando… Base social / Dificuldades que a U.R.S.S. vem encontrando para conter a onda de criminalidade infantil, em todo o país, a ponto de tornar aplicáveis aos menores todas as penalidades, desde os doze anos de idade. É necessário um sentimento de respeito, eliminando as atitudes irônicas para com a Família, instituição básica da sociedade, pois este foi sempre o processo mais eficaz para combatê-la.

01 de setembro – Mau caminho. Não podemos deixar sem um comentário a indiferença doutrinária que vem presidindo aos conciliábulos preliminares travados em torno da sucessão presidencial. Qualquer católico de consciência mediocremente bem formada, ao cogitar da escolha de um candidato para cargo de tamanha responsabilidade, deve colocar na primeira plana de suas preocupações a questão religiosa. Satisfeita esta preliminar, deve cogitar dos interesses temporais legítimos do País. E, determinada a sua escolha sob este duplo critério, nenhum lugar sobrará para as preferências oriundas de simpatias pessoais ou da perspectiva de alguma propina governamental. No entanto, o que vemos diante de nós está longe de se conformar com tais princípios.

15 de setembro – Imprensa Católica. Falta-nos o grande órgão que possa competir em condições de igualdade com todos os grandes jornais nacionais, e ainda que os supere a todos pela pureza de doutrina e pela elevação moral.

15 de setembro – O veto. Estamos longe de ter atingido o ideal em matéria de legislação sobre o casamento. No entanto é inegável que a situação decorrente da Constituição de 1891 era muito pior. – Muito bem andou o Presidente da República vetando um projeto de lei prenhe de temíveis conseqüências, que constituiria gravíssimo precedente a servir de pretexto a todas as incursões que o poder temporal quisesse fazer em assuntos privativos do poder espiritual.

15 de setembro – Comentando… A intenção do “apostolado” Nenhuma obra católica, talvez, haja tão necessidade de preces como a da nossa Imprensa. E esta pobre mendiga precisa muito menos da esmola de um níquel que da caridade de uma prece.

29 de setembro – Ofensiva? / Qual a a principal finalidade do “Legionário”? – Há católicos liberais, católicos socialistas, católicos semi-paganizados. O que revela a existência de tantas tonalidades de catolicismo entre nós, quando o Catolicismo só tem uma tonalidade autêntica que é a de Roma? – Se é certo que é com mel que se caçam moscas, é com cercas de arame farpado que se devem cercar os campos onde não se quer que penetre o lobo devorador. Não quer isto dizer que devamos infringir os gravíssimos deveres que nos são impostos pela caridade. Há uma certa forma de se ser caridoso e severo que nos faz alvejar o erro ou o vício, levando ao pecador o mais ardente de nosso afeto fraternal, o mais delicado de nosso carinho em Cristo. – Se para o combate ao erro e ao pecado nos fosse permitido escolher um lema, nós o redigiríamos assim: para com os católicos, caridade e unidade; para com os não católicos, caridade para obter a unidade.

13 de outubro – “Self-Control”. Algumas considerações a propósito do conflito ítalo-abissínio. A ninguém é lícito desejar o aniquilamento da Abissínia pelo simples fato de pertencerem seus habitantes à raça negra, bem como não pode qualquer pessoa desejar a derrota de um país com as gloriosas tradições da Itália, simplesmente por alguma incompatibilidade de temperamento com o povo italiano. A caridade cristã se opõe a que odiemos negros por serem negros, italianos por serem italianos, ou ingleses porque a Inglaterra é uma nação conquistadora. Por outro lado, é necessário acentuar que quaisquer ressentimentos devem ser muito controlados quando externados em solo brasileiro. Quanto a nós, brasileiros, devemos desenvolver um sério esforço de self-control, para impedir que nossas simpatias por um dos lados nos faça esquecer nossos deveres da caridade, agravados pelos da hospitalidade. – Nossa missão histórica consiste em manter, neste mundo que se defronta com uma conflagração universal, um oásis de paz dentro de nossas fronteiras. Assim, contribuiremos para evitar o alastramento do tremendo mal que é a guerra.

27 de outubro – Eleições Municipais. Um frenesi político apoderou-se de muitos católicos, que puseram suas preferências partidárias acima de suas preocupações religiosas e que votaram, apesar de tudo isto, em adversários da Igreja. A conseqüência não se fez esperar: os deputados federais paulistas não compromissados com a Liga Eleitoral Católica estão criando obstáculos à vitória do ponto de vista católico. E os católicos que neles votaram estão fazendo ouvidos moucos e vistas grossas a esta situação, fruto diretíssimo de sua incomparável incúria.

27 de outubro – Uma idéia infeliz… (1). Lamentamos que a Academia Paulista de Letras, a que pertencem tantos homens que se proclamam católicos, tenha sugerido a mudança dos nomes do Largo de São Bento e da Rua São João, para denominações alusivas às bandeiras paulistas.

10 de novembro – Entre a espada e o violino / Faça-se a pregação de qualquer doutrina como quer o Dr. Henrique Bayma, persuadam-se às massas de que a família é uma instituição burguesa destinada a perecer. E responda-nos S. Exa. o que será da moralidade pública, depois de arrancada esta convicção no espírito do povoConvença-se a este de que a Religião é a cocaína com que a burguesia anestesia os padecimentos da massa, e conte-nos, depois, em que estado de devastação ficarão os nossos bons costumes particulares e públicos, já tão débeis. Persuada-se o povo de que a propriedade é ilegítima, e responsabilize-se o Sr. Henrique Bayma, se tiver coragem, pela ordem pública material, de cuja conservação S. Exa. faz a suprema finalidade do Estado. Quem conterá as massas sem moral e sem Fé, para evitar que elas se atirem contra a propriedade privada que durante tantos anos lhes foi apontada como iníqua?

10 de novembro – Uma idéia infeliz… (2). Afirmam os médicos que os sintomas das grandes moléstias são, às vezes, de insignificantes proporções. Pelo contrário, certas moléstias sem gravidade há que se manifestam em sintomas de aparência alarmante. O mesmo se dá com alguns fenômenos sociais que, insignificantes na aparência, denotam tendências dignas do mais cauteloso exame. Um congresso que mude os nomes religiosos das ruas para substituí-los por nomes profanos, embora respeitáveis, erra duplamente. Esta atitude, de aparência insignificante, revela um incontestável desamor à Igreja. Realmente, alguém que substituísse na sua sala de visitas o retrato de um amigo antigo pelo de um amigo novo, não revelaria porventura desamor ao primeiro? Em segundo lugar, os nomes de ruas e praças, bem como os monumentos públicos, têm uma profunda ação educadora sobre as massas.

24 de novembro – As atividades comunistas no Brasil. Fechadas as sedes da Aliança Nacional Libertadora, ela ri-se da Lei de Segurança e continua a agir. Com o fechamento da ANL, muitos espíritos, pouco atirados ao conhecimento da vida social brasileira, acreditaram ter soado a hora final da vida comunista em nossa terra. Contudo, àqueles que vêm de perto a realidade nacional e que se não contentam em julgar pelos movimentos de superfície, não iludiu essa meia medida governamental. Apesar dela, ou talvez por causa dela – pois concedeu aos comunistas a oportunidade de se atribuírem diante da massa ignorante o rótulo de mártires da Pátria contra a perseguição liberal – o imperialismo de Moscou vive e trabalha entre nós, procurando manchar o céu brasileiro com o despontar rubro da alvorada marxista. – Descrição do plano comunista em suas diversas áreas de ação. – A tática de dividir para dominar.

24 de novembro – Cambodge ou Honolulu? Mais de uma vez, temos sido forçados, em nossas colunas, a censurar as quixotadas anticlericais de certos expoentes integralistas, os “despistamentos” parlamentares de certos representantes peceistas. Ninguém, portanto, nos acusará de parcialidade quando souber que aprovamos francamente a atitude dos deputados federais peceistas que negaram seu assentimento ao requerimento formulado pelo bloco parlamentar “pró liberdades públicas” que pretendia impor ao Governo um dilema: ou aplicar contra o integralismo a lei de segurança; ou, “por eqüidade”, deixar de aplicá-la à Aliança Nacional Libertadora.

24 de novembro – Uma grande esperança. Excelente livro “Heroes”, que o Seminarista Pio Ottoni Jr. acaba de publicar. O autor possui um raro talento para compor enredos que se manifestou principalmente na perícia com que soube extrair temas realmente atraentes e de ambientes até agora quase inexplorados. Mas além de ótimo arquiteto de enredos, o Clérigo Pio Ottoni é psicólogo de grande valor. O drama do menino “Celito”: “Padre, eu não dou para nada!” Santo Agostinho chama a atenção dos leitores para o erro muito comum de se considerar como insignificantes os acontecimentos que pontilham a existência das crianças.

08 de dezembro – À Margem dos Fatos. A vaidade e a ambição são mães de todas as obstinações irredutíveis. Assim é que não faltam políticos oposicionistas que, para brilhar na luz mentirosa de uma efêmera popularidade, procuram dificultar a ação anticomunista do Governo. – Julgam eles, porventura, que aboletados com o aplauso dos comunistas nos postos de mando, que tanto ambicionam, poderão gozar por muito tempo das delícias do poder? Não. Deus às vezes exerce sua justiça já nesta vida. Eles serão tragados pela tempestade. O fogo que eles ateiam na barba do vizinho também consumirá um dia a sua. – Os católicos devem reconhecer que o Governo está agindo agora (após a intentona comunista) com uma energia modelar, nosso papel não deve ser, pois, de carpideiras incorrigíveis, férteis em estéreis recriminações. Só temos, na atual emergência, uma atitude: a de defender as instituições.

08 de dezembro – O Crime de Sancho Pança. Ante a atitude displicente dos que poderiam ter evitado o derramamento de sangue ocorrido com a intentona comunista: Sancho Pança revive no comodismo dos imprevidentes que fecham os olhos às nuvens de hoje que serão tempestades amanhã. Ele fecha os olhos não por que confie na Providência, não porque tenha qualquer motivo sério para negar o perigo, mas simplesmente para gozar em paz o momento que passa. Sancho Pança revive na incúria comodista de muitos cidadãos a quem o Brasil havia confiado a missão sagrada de defender a Religião, a Família, a Propriedade, e que não se pejavam em designar para cargos de máxima responsabilidade os mais encarniçados inimigos dos princípios cuja custódia lhes incumbia como dever sagrado.

08 de dezembro – Comentando… Profecia / O decano dos jornalistas católicos de São Paulo, Sr. Júlio Rodrigues, põe em relevo o fato de que no mesmo dia em que estourava em Natal o movimento comunista, nós, sem estarmos informados — o que era praticamente impossível — da sua deflagração, denunciávamos os preparativos da ANL para entregar o Brasil à Rússia. Nossa previsão foi certa. Oxalá que as considerações oportunas do Sr. Júlio Rodrigues sobre os esforços dos jornalistas católicos calem profundamente no espírito daqueles católicos que, se não nos desdenham, pelo menos olham-nos com o desinteresse com que, infelizmente, ainda se olha aqui no Brasil a Boa Imprensa.

08 de dezembro – Comentando… Cristo e Hitler! / Em Frankfurt, durante uma demonstração coletiva da Juventude Hitlerista e da Frente Alemã do Trabalho, o burgo mestre daquela cidade assim se expressou: “Nos séculos vindouros, quando os homens tiverem uma ideia exata das coisas hoje sucedidas, dir-se-á: Cristo foi grande, mas Adolf Hitler foi maior”. Se nós a transcrevemos é para mostrar até que ponto pode ser levada a absurda divindade de um homem, arvorado em chefe. É tão ridículo o ato de vergonhosa subserviência do burgo mestre erigido em profeta, que certamente ele seria gostosamente vaiado em outro lugar, que não na Alemanha infelizmente caída em poder do transtornado chefe do nacional-socialismo.

22 de dezembro – À margem dos fatos. Parece que o comunismo é, no Brasil, uma doutrina “aristocrática”. Para prová-lo, bastariam os nomes de certos aristo-plutocratas e de magnatas burocráticos. Mas é muito mais longa, infelizmente, a lista com os nomes dos comunistas ilustres. – Há grande agitação entre os católicos norte-americanos porque o governo do seu País continua a estimular as perseguições religiosas no México. – Também na Alemanha, continuam as celebrações pagãs e as prisões de Bispos.

22 de dezembro – Ratos e ídolos. Só Deus sabe o ardor com que desejamos sinceramente a conversão e salvação de qualquer dos presidiários comunistas. Enquanto a justiça divina não tiver chamado a contas as suas almas, estão abertas para eles, de par em par, as portas da misericórdia. E nunca haverá em nosso coração outro desejo que não o de encaminhar por essas portas largas e luminosas quantos se acham extraviados nas sendas do erro. – Dentre os agitadores comunistas, os mais culpados e mais perigosos são os plutocratas e os altos burocratas. – Enquanto houver um desses operários do mal a trabalhar contra a sociedade, a perturbar as famílias, a ameaçar a Igreja, nossa língua não calará.

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