“Heresia branca”: conceito e características deste neologismo

Reunião sem data, mas em torno da campanha do livro “Reforma Agrária – Questão de Consciência” (1960-1964)

 

A D V E R T Ê N C I A

Trechos de gravação de conferência do Prof. Plinio a sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

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Tal personagem [que por comodidade aqui será utilizada a palavra “abóbora”, n.d.c.] representa a “heresia branca”. Ele quer parecer católico, pensa que católico é quem procede de tal modo. Então age em função do conceito equivocado do que seja católico.

Qual o “fundamento” da “heresia branca”?

É toda uma concepção da religião e da piedade baseada não em princípios, mas no sentimentalismo. O importante não é o que a reta razão indica, mas o que o sentimento sugere.

Por que o “abóbora” toma aquela atitude diante do sermão? Porque acha que a verdadeira piedade é sentir algo, então procura aparentar que está sentindo.

Alguns gostam de música na igreja porque faz sentir algo que ajuda à piedade.

Em suma, a vontade é movida pela sensibilidade e não pela inteligência iluminada pela Fé.

Exemplo: imaginem uma senhora muito idosa e de condição muito simples que desmaiasse na saída da igreja do Coração de Maria [à Rua Jaguaribe, 735, na capital paulista, então frequentada assiduamente pelo Prof. Plinio e pelos sócios e cooperadores da TFP, n.d.c.]. Nós a acudiríamos, evidentemente, por um dever de caridade cristã. Resultado: muitas pessoas que presenciassem esse nosso gesto ficariam emocionadas. Se fizéssemos 10% por essa hipotética senhora do que fazemos pela Fé, tais pessoas nos “colocariam nos altares”… Mas como nossa dedicação está voltada sobretudo à Fé e mais do que simplesmente zelar pelo que ocorre na saída da igreja, então não dão importância porque nosso ideal não toca a sensibilidade, mas a razão…

Daí decorre que a “heresia branca” classifica as virtudes segundo a sensibilidade.

Assim, a comiseração é muito conceituada pela “heresia branca” porque toca a sensibilidade. O “heresia branca” fica chocado quando ouve alguém dizer que não vai à casa de alguém malcasado, por uma questão de princípio. Mas o “heresia branca” compreende que não se vá visitar alguém, se este fez algum desaforo pessoal a outrem… mas por uma questão de princípio, não.

Segundo a doutrina católica, o critério é outro. Este deve se basear na razão esclarecida pela Fé, e não movida pelo sentimentalismo. Este último influi em toda a vida do homem e modela toda sua personalidade.

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Outros exemplos: há senhoras que se incomodam se sua filha tem relações extramatrimoniais, mas se sua empregada vive em situação matrimonial irregular, não tem a menor consideração por isso… Ela pode até comungar todos os dias, sabe as consequências de não se praticar o sexto Mandamento. Mas se seu filho não trava relações extramatrimoniais e alguém o ridiculariza por isso, ela não gosta. Há uma aparente contradição. Aparente apenas, porque na verdade ela acha que o sentimento é o importante e não os princípios.

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Exemplo da “heresia branca” na iconografia

Basta se ver a diferença entre a Santa Terezinha do Menino Jesus segundo as fotografias e em não poucas de suas pinturas. Ou então pinturas representando o Anjo da guarda que protegem criancinhas que atravessam uma ponte: é clássico, por toda parte.

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Não se vê o Anjo protegendo a Fé de alguém ou então protegendo um homem maduro. Porque só fala à sensibilidade quando se trata de criancinhas e não de adultos. De onde criar a tendência para se  pensar que a religião é para crianças e para mulheres.

É comum, em Missa de sétimo dia, as pessoas chorarem na hora da consagração, porque é  a hora mais “emocionante”…

As virtudes baseadas em princípios não são negadas pela “heresia branca”, mas não são ditas como são. Exemplo: a Fé.

Outro exemplo: a caridade. Um pregador fala em caridade, ele sabe perfeitamente que se trata sobretudo do amor de Deus, porém seu modo de apresentar o assunto faz que todos entendam por isto a complacência para com o mal. E daí se originam irritações para com os verdadeiros católicos, dizendo – sem caridade… – que não são católicos.

Enfim, todas as virtudes são deformadas.

Outro exemplo: castidade. Só se importam com esta virtude na medida em que fala à sensibilidade. Um homem que ataca uma criança de modo bestial, é anatematizado. Mas se tirarmos os lados sensíveis desse pecado monstruoso, ninguém se importa com a castidade…

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Consequências mais amplas da mentalidade “heresia branca”

Com essa mentalidade fica-se com a visão diminuída. Assim, por exemplo, um vigário pode se incomodar apenas com que haja batizados, casamentos etc. Não, porém, que a sociedade seja ou não católica, que haja ou não leis católicas.

A ideia de que a sociedade deve se subordinar aos princípios católicos é teórica e, portanto, não entra na visão do vigário hipotético acima referido.

Uma pessoa vê o Santíssimo Sacramento, emociona-se e se ajoelha, mas não cogita em que o Estado preste culto ao Santíssimo.

Devido ao problema da sensibilidade, um fiel diante do púlpito é levado a crer em tudo o que o vigário diz, desde que se apresente revestido das características do vigário…

Assim, o clergyman é contra a mentalidade “heresia branca” porque não comove. Mas isso tem algo de legítimo? Sim. O que dizemos não é que a sensibilidade não deva entrar na consideração das coisas, mas que deve estar subordinada à razão iluminada pela Fé. A “heresia branca” dessorou o princípio e deixou só o exterior.

Nossas sedes são decoradas devido à necessidade de características sensíveis. Porém as decorações por si só são como a casca. O certo é que o princípio venha revestido de características sensíveis, que manifestem que aquilo é verdadeiro e bom.

Hoje, os contra-revolucionários encontram vários obstáculos. Por quê?

1) A tendência é só aceitar o que é sensível;

2) é preciso aceitar o princípio;

3) o princípio, muitas vezes, nos é apresentado sem características sensíveis.

Exemplo concreto: Dr.  Plinio nos fala sem as características de  um sacerdote. Se ele falasse como padre, seria mais fácil nós aceitarmos, entretanto menos meritório. E assim nosso subconsciente está repleto de coisas desse gênero.

Outro exemplo: vivemos sem nos colocar o problema do laicismo de Estado, em que este último viva separado da Igreja. Por quê? Porque esse assunto não repercute em nossa sensibilidade e, portanto, não o analisamos, nem sabemos o que, hoje em dia, seria o ideal a tal propósito.

Se soubéssemos que um deputado pisou em uma hóstia consagrada, nós nos revoltaríamos a justo título com isso, porém meramente porque esse ato blasfemo toca apenas nosso lado sensível.

Há, por outro lado, um número enorme de “escândalos de sacristia” que nos chocam, mas que são secundários em face do laicismo de Estado que é a paganização de toda a sociedade.

Os católicos que aprovaram a introdução da Reforma Agrária são contra o roubo. Como é possível isto? Eles entendem por roubo somente o fato do ladrão entrar pela janela, e não a contravenção ao direito de propriedade…

Aqui entra o papel da compenetração. Não adianta alguém ter os princípios e não agir segundo eles. É preciso ter compenetração. [“Ou se vive como se pensa, ou se acaba por pensar como se vive”, afirmou Paul Claudel].

Assim, nas Reuniões de recortes, em que se analisam os fatos mais importantes que tenham se dado na semana: os pontos teóricos-religiosos interessam pouco ao auditório, enquanto os nomes de famílias conhecidas mencionadas pela imprensa provocam interesse. Não quer dizer que as notícias nacionais não devam ser tratadas. Devem, mas com vistas elevadas.

Às vezes a pessoa coloca os princípios entre parênteses e diz: “bem, agora vou tomar o meu cafezinho…”

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Como viver de princípios?

Seria olímpico querer fazer isto de uma só vez. Deve-se proceder como a Igreja fez para acabar, por exemplo, com as guerras: por etapas. Então, a Igreja proibiu de se lutar na quaresma, e assim por diante.

Quando se apresentam os problemas para mim, procuro encontrar qual o fundo deles. Eu os resolvo na hora? Não. Porque há toda uma vida de análise e de reflexão durante a qual, na medida do possível, pensei nesses problemas.

Conclusão

A “heresia branca” é péssima, porque em certo sentido é o pecado dos bons, que não aceitam formulações erradas, mas são como casa comidas por cupins por dentro.

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Toledo (Espanha), Cadetes de Infantaria prestando homenagem ao Santíssimo Sacramento, na festa de Corpus Christi

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