Fanatismo anti-TFP – Jornal da Tarde, 1-10-1984

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O sr. Lenildo Tabosa Pessoa, no artigo “A crise da TFP”, para o “Jornal da Tarde” (27-9-84), se mostra preocupado com o que ele chama o fanatismo nesta entidade.

Para tratar do assunto com imparcialidade seria indispensável que ele começasse por se preocupar com seu próprio fanatismo. Pois a ordem começa dentro da própria casa. E as manifestações do fanatismo anti-TFP são várias e protuberantes, no artigo do culto e vivaz jornalista.

Sócios e cooperadores da TFP, ele os conhece, como todo o mundo, pelo menos através das campanhas de rua que a entidade promove. E enquanto tantos e tantos brasileiros, em contacto com os jovens propagandistas, manifestam simpatia, apoio e até entusiasmo, aos olhos do sr. Lenildo Tabosa eles têm “o aspecto exterior de pessoas desajustadas no mundo em que vivem e fantasmas ambulantes”. A idiossincrasia se faz notar, por assim dizer, em cada palavra.

Por isto mesmo, as omissões e as inexatidões da análise feita pelo jornalista são óbvias:

1. A TFP há vinte anos participa ativamente da vida pública brasileira. E o faz de modo ordeiro e cordial, sem que se lhe tenha conseguido imputar concretamente uma só ação contrária às leis divinas ou humanas. Franca e destemida, tem ela se pronunciado amiúde no delicado campo de convergência dos assuntos espirituais com os temporais. Em todos esses pronunciamentos – dos quais obviamente muitas pessoas discordam, e com os quais muitos concordam – nunca se apontou uma palavra de grosseria, quer nos artigos quer nos livros emanados da TFP. Tudo isto, que indica uma linha de pensamento e de ação serena e digna, o sr. Lenildo Tabosa não vê.

Entretanto, a formação dada pela entidade é o reflexo dela mesma. Pois o fruto tem as qualidades da árvore (cfr. Lc. VI, 43-44).

Contudo, para justificar suas inquietudes, o Sr. Lenildo Tabosa só toma em consideração o minúsculo caso de 15 elementos que se destacaram há pouco mais de um ano da TFP (ele pomposamente fala de “crise na TFP”, se bem que a entidade esteja internamente na maior das concórdias).

A tal propósito, alega ele textos de dois volumes, de circulação inicialmente restrita, que a TFP publicou para o conhecimento do limitado círculo de pessoas interessadas no caso (Refutação da TFP a urna investida frustra, Comissão de Estudos da TFP, 1984, 950 pp.).

Ora, a imparcialidade estava a pedir, no caso, que o sr. Lenildo Tabosa tivesse pelo menos lido de cabeça fria os textos a que se refere. Isso lhe teria aliás poupado o desassossego cujas razões imaginou encontrar no livro.

2. A obra da Comissão de Estudos da TFP se refere ao acerto do prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da entidade, nas suas previsões e atitudes, acerto este tão contínuo e assinalado, que é qualificado de inerrância (cfr. op. cit., vol. I, pp. 97 a 126).

A referência é feita para demonstrar a ortodoxia da qualificação.

Fundado nessa exposição analítica, o sr. Lenildo Tabosa objeta que, se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira tivesse essa inerrância, não haveria exigido que a maioria das ações do semanário “O São Paulo” pertencesse à Cúria Arquidiocesana, de onde teria resultado ser hoje esse semanário um “pasquim marxista”. Tudo errado no que toca a “O São Paulo”. O prof. Plinio Corrêa de Oliveira nunca teve algo que ver com este semanário. Ele dirigiu, isto sim, o semanário “Legionário”, que antecedeu “O São Paulo”. Na saudosa época em que a Arquidiocese era regida pelo inesquecível arcebispo D. Duarte Leopoldo e Silva, e na qual a presente crise religiosa ainda não dava mostras de assolar grande parte do Clero brasileiro, o prof. Plinio Corrêa de Oliveira teria então feito questão de que a direção suprema do semanário ficasse, não nas mãos dele e de outros amigos leigos, porém nas do venerando Prelado, ou de pessoa da imediata confiança deste. Manifestação de humildade cristã bem diversa da paranóia colericamente mencionada pelo sr. Lenildo Tabosa.

E agora entra o ponto nevrálgico do tema. O sr. Lenildo Tabosa Pessoa imagina que a forma de discernimento reconhecida na TFP ao prof. Plinio Corrêa de Oliveira o levaria necessariamente a prever, já em 1935, toda a imensa extensão da crise religiosa no Brasil, e o matiz ideológico dos vários arcebispos que se iriam suceder na Sé paulopolitana. A hipótese faz sorrir, de tão descabida. Releia ele, que é homem inteligente, o que, no volume I (pp. 97 a 126), diz do assunto o trabalho excelente do sr. Átila Sinke Guimarães (o qual trabalho, sempre influenciado pelo seu fanatismo anti-TFP, o sr. Lenildo Tabosa qualifica agressivamente de “ridículo”) e verá que se trata de coisa essencialmente diversa.

3. No que diz respeito à origem da hipótese levantada há 18 anos atrás pelo sr. Atila Sinke Guimarães acerca de uma possível presença do prof. Plinio Corrêa de Oliveira, com Enoch, Elias e São João Evangelista, nos acontecimentos do fim do mundo, o mesmo sr. Atila Sinke Guimarães narra serenamente em seu trabalho: “De qualquer modo, esta foi uma conjectura que fiz em caráter particular, sobre a qual naturalmente conversei com outros, mas que de forma alguma teve acolhida na generalidade, e nem sequer em ponderável parcela da TFP. Conversou-se sobre isto como sobre mil outros assuntos, e seria preciso toda a malevolência do sr. O. F. [Orlando Fedeli] para assestar o telescópio sobre esse grão de poeira, procurando vê-lo com o tamanho de um astro…” (op. cit., vol. I, pp. 368-369).

Este tópico, imediatamente consecutivo ao que o sr. Lenildo Tabosa cita, faz bem ver para o público restrito a que o livro originariamente se destinou (e no qual o sr. Atila Sinke Guimarães é muito conhecido), que se tratava de algo ideado por ele em seus jovens anos, pois já se escoaram 18 anos após o fato ter ocorrido. Sem tomar o trabalho de informar-se bem sobre o assunto, o sr. Lenildo Tabosa desde logo comenta, alvoroçado: “É já extremamente grave que essa demonstração de paranóico fanatismo, surgida em 1966, seja mencionada por seu autor, quase 20 anos depois, sem nenhuma indicação de que a tenha rejeitado como manifestação de imaturidade juvenil”.

A indicação dos 18 anos decorridos lá está a evidenciar a idade que tinha então o autor…

Ademais, logo no parágrafo subseqüente do livro da TFP fica meridianamente claro porque o sr. Atila Sinke Guimarães não entrou em pormenores sobre este particular, mas foi direta e exclusivamente à análise da ortodoxia da referida hipótese. É que esta sofrera um ataque injusto – e supremamente grave para um católico – de heterodoxia. E é especificamente para refutar este ataque, que o assunto estava sendo analisado.

4. E já que se trata de ortodoxia, o sr. Lenildo Tabosa deixa seus leitores completamente desinformados de um fato entretanto capital. O livro, do qual o sr. Atila Sinke Guimarães é um dos colaboradores, e que constitui a tomada de atitude da TFP contra uma série de acusações da por ele qualificada pomposamente “dissidência” da TFP, vem precedido pelo parecer de um dos mais insignes teólogos contemporâneos, o Pe. Victorino Rodriguez y Rodriguez O.P., Professor de Teologia na Faculdade Teológica de San Esteban e da célebre e histórica Universidade Pontifícia de Salamanca, Professor contratado pelo Conselho Superior de Investigações Científicas de Madrid e Ordinário da Pontifícia Academia Romana de Teologia, autor de mais de 200 estudos de grande envergadura em matéria teológica e filosófica. Nesse parecer, o insigne teólogo afirma a inteira ortodoxia de quanto a TFP lá escreve. Será que uma entidade que se defende de maneira tão ortodoxa, em matérias tão delicadas, não dá com isso provas de uma serenidade de pensamento que fica nos antípodas do fanatismo? Nada disso o Sr. Lenildo Tabosa comenta. Má-fé? É preferível dizer fanatismo. Fanatismo anti-TFP.

5. E vamos chegando ao fim.

O sr. Lenildo Tabosa passa ligeiro, como se pisasse em brasa, sobre um assunto ao qual entretanto alude. E alude-o suficiente para deixar perplexo o leitor desinformado. Menciona ele o culto que o prof. Plinio Corrêa de Oliveira reconhece ser prestado na TFP à memória de sua querida e veneranda Mãe, bem como a ele.

Ora, para um muito grande número de leitores, a palavra “culto” só se aplica às formas de homenagem religiosa, e mais especificamente litúrgicas, prestadas a pessoas mortas que a Igreja beatificou ou canonizou. E o Sr. Lenildo Tabosa omite dizer que não é este o sentido da palavra “culto” na grande maioria dos moralistas que tratam do assunto. É no sentido técnico e não popular que a palavra “culto” foi usada pelo prof. Plinio Corrêa de Oliveira, bem como pelo aludido livro da TFP. Mais uma vez, má-fé? Se a TFP fosse fanática, diria que sim. Mas, como ela não o é, prefere imputar o fato ao fanatismo anti-TFP.

6. O corolário habitual do fanatismo é a iracúndia. A essa não escapou, no artigo do Sr. Lenildo Tabosa, nem sequer o grande São Tomás de Aquino, o Doutor máximo do pensamento cristão, cuja obra, durante as sessões do Concílio de Trento, foi colocada sobre o altar, a par da Sagrada Escritura. E cuja glorificação foi feita por Leão XIII na famosa Encíclica Aeterni Patris.

Admirador fervoroso do Doutor Angélico, o sr. Atila Sinke Guimarães expõe suas várias questões de um modo que faz lembrar o grande doutor. É a homenagem despretensiosa de um discípulo fiel. O sr. Lenildo Tabosa preferiu ver nisso não se sabe que nota de “ridículo”. E daí, com sua caneta, atira fel sobre o grande doutor. Com efeito, reconhece sua “genialidade”, mas uma genialidade de pé quebrado, pois ela não o exime de consumir folhas e folhas de papel “discutindo bobagens”. Uma bobice tagarela e derramada na obra e pois no espírito do incomparável doutor. Não há nisso muito fel?

Como espantar que desse fel uma parte caia sobre a TFP?

Mas que honra para a TFP estar assim sentada no mesmo banco dos réus do que o Anjo das Escolas!

É preferível imaginar que o Sr. Lenildo Tabosa, ao sopro do fanatismo anti-TFP, não tenha lido os dois volumes da Refutação da TFP a uma investida frustra. Ou só a tenha lido apressadamente, nas mãos de um amigo também fanático anti-TFP… e “ciceroneado” pelo dedo deste. Se assim é, o sr. Lenildo Tabosa tem os dois volumes à sua disposição na sede “Santo Elói” da TFP, à Rua Dr. Martinico Prado 271, tel. 220-5900. E se preferir não ir ao que ele talvez imagine fanaticamente ser um… covil de fanáticos, bastará que telefone para lá pedindo que esses volumes lhe sejam entregues em mãos. Ele prontamente os receberá como testemunho do apreço que a TFP sabe tributar ao talento que, para além da muralha do fanatismo anti-TFP, ela se compraz cordialmente em reconhecer nele.

São Paulo, 28 de setembro de 1984

Paulo Corrêa de Brito Filho

Diretor de Imprensa da TFP

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