Santo do Dia, 14 de setembro de 1965
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
A Exaltação da Santa Cruz (Les Très Riches Heures du duc de Berry – Musée Condé, Chantilly)
* O sentido da festa da exaltação da Santa Cruz
Hoje é festa da Exaltação da Santíssima Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Os comentários comuns na festa da exaltação da Santa Cruz muito condignamente falam da cruz. E um pouco paradoxalmente eu vou falar da exaltação da cruz, mais do que propriamente da cruz, para indicar bem qual é o sentido desta festa.
Os senhores sabem que a cruz é um instrumento de suplício, usado em toda a antiguidade, que representava uma ignomínia para a pessoa que fosse crucificada; uma vergonha para a pessoa e uma vergonha para a família.
São Paulo reclamou de não ser objeto de crucifixão ou outro tipo qualquer de morte, mas de ser decapitado, porque ele era cidadão romano e, sendo cidadão romano, tinha as honras de cidadão romano, não era sujeito a crucifixão.
Nosso Senhor Jesus Cristo portanto, sendo crucificado, recebeu uma humilhação tremenda. Esta humilhação equivalia a matá-Lo dizendo que era um bandido, um ladrão, que era do mesmo gênero que os dois outros facínoras com os quais foi crucificado.
Neste sentido a cruz não era apenas uma humilhação, mas o auge de todas as outras humilhações que Ele sofreu durante a Sua existência terrena.
O povo judaico foi enchendo Nosso Senhor de humilhações durante sua vida terrena. E essas humilhações, que correspondiam a um ódio crescente, desfecharam na maior de todas as humilhações possíveis que foi o sacrifício da Cruz. Este desejo de infligir a Nosso Senhor um martírio moral, humilhando-O ao longo de toda a sua ação é muito evidente.
Em toda a Paixão nota-se o desejo de humilhar a Nosso Senhor. Assim, por exemplo, a coroa de espinhos, a túnica de bobo, uma cana na mão à guisa de cetro, as pessoas que batiam nEle, etc., exprimem o desejo de O atormentar na sua Alma Santíssima, e não apenas no seu Corpo Santíssimo.
A Cruz de Nosso Senhor representa, portanto, todas as humilhações que Ele sofreu durante a vida. E ela é o começo de todas as humilhações que até o fim do mundo todos os católicos haveriam de sofrer por causa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Porque a impiedade não desarma. Ela visa sempre humilhar, ela visa sempre quebrar a moral. Não há aqui nesta sala um só que não tenha sido humilhado por causa de sua fidelidade a Nosso Senhor Jesus Cristo. É uma honra para nós, é exatamente uma das bem-aventuranças ser perseguido por amor a Jesus Cristo.
Nós todos sofremos estas humilhações, e havemos de sofrer até o fim do mundo, exatamente por causa disto, por causa do contínuo ultraje que a impiedade faz contra Deus.
Coroa de Carlos Magno ou Coroa de Nuremberg, durante séculos símbolo da soberania do Sacro Império Romano
* Os católicos tomaram a cruz como sinal de honra para reivindicar a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas, paralelamente, a honra de Deus, a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo é reivindicada pela Igreja. E por causa disto os católicos tomaram a Cruz como sinal de honra, como o que há de mais sagrado, o símbolo de quanto há de mais santo, e aí os senhores vêem três manifestações características dos tempos de Fé: a Cruz colocada no alto das coroas; a Cruz como sinal heráldico dos mais nobres galardões das famílias da alta aristocracia; a Cruz colocada como insígnia das condecorações.
Tudo isto provando que o católico, para exaltar a Cruz em face desta humilhação, para revidar esta humilhação, e revidar com ufania cavalheiresca e sobrenatural, faz a exaltação da Santa Cruz.
O que representa isto?
Antes de tudo, tomar a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e glorificá-la.
O aparecimento da Cruz a Constantino na Ponte Milvia, dizendo: “Com este sinal vencerás!” (In hoc signo vinces), significava isto. A Cruz se levantava no céu e ia ficar definitivamente no horizonte do mundo, humilhando por sua vez os maus, humilhando por sua vez os demônios.
E a Cruz por sua vez ia ser o sinal de nossa honra, como as nossas cruzes iam ser sinal de nossa honra. E a nossa honra não consiste em nós não sermos humilhados, mas consiste em receber a humilhação com ufania. E receber gabando-se da humilhação.
E mais ainda, num espírito de desafio. Em face daquele que nos humilha, nós revidamos como cavalheiros e nós proclamamos com ufania ainda maior a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Batalha da Ponte Milvia – Pieter Lastman – 1613
* A exaltação é a proclamação da glória da Cruz com ufania
Esta idéia da exaltação exatamente é isto: a proclamação da glória da Cruz, com uma ufania que esmague as humilhações que o adversário procura impor a Cristo.
Daí vem a palavra exaltar. Exaltare, altere in alto, levar para o alto. Quer dizer, levar para o alto aquilo que estava humilhado, que estava abaixado. É esta então a glorificação da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
É exatamente o que falta ao “heresia-branca”. Este, quando vê qualquer humilhação, faz uma cara preguiçosa, baba e foge. Enche de vergonha a causa que deveria defender.
A Causa Católica precisa ser defendida com espírito de Cavalaria e, portanto, se alguém injuria a Cruz diante de nós, devemos redargüir incisivamente. Mas não como se defende a nossa honra, porque esta é uma coisinha muito insignificante, mas como quem defende a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, a honra de Nossa Senhora.
Ter, portanto, esta espécie de sentido da contínua exaltação da Cruz, esta espécie de espírito de cavaleiro, de guerreiro, que está lutando pela glória da Cruz continuamente, é a graça que devemos pedir na festa da Exaltação da Santa Cruz.