Estudo apoiado em pareceres de um teólogo e de um canonista de fama mundial – Sobranceira e serena, a TFP enfrenta o XI estrondo publicitário

Catolicismo, N. 411, Março de 1985, págs. 10-14Transcrito da “Folha de S. Paulo”, de 26-3-1985. Os negritos são do original

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* Narrando

                      * Argumentando

                                               * Desfazendo objeções

 

A “Folha da Manhã”, matutino de Campos (14-3-85), publicou nada menos do que em página e meia um espalhafatoso relato do Sr. Giulio Folena, residente em São Paulo, tendo por apêndice um documento de autoria do Sr. Luís Filipe F. Guimarães Ablas, ambos ex-cooperadores da TFP.

O documento do sr. G. Folena, no qual pululam afirmações falsas, e até supérfluas para o fim que ele tem em vista, parece querer fazer as vezes de resposta ao livro Refutação da TFP a uma investida frustra, em dois volumes, lançado por esta Sociedade em meados do ano passado.

Se assim é, impõe-se a afirmação de que a desproporção da análise do sr. G. Folena e o livro em dois volumes da TFP, é total.

Este livro, de autoria de uma comissão de sócios da entidade – Srs. Atila Sinke Guimarães, Gustavo Antônio Solimeo, João S. Clá Dias e Antônio Augusto Borelli Machado – constitui por sua vez esmagadora refutação a acusações de heterodoxia lançadas contra a TFP com base em alegado culto que seria prestado ilicitamente ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, e à alma de sua veneranda progenitora, Da. Lucilia R. Corrêa de Oliveira, pelos sócios e cooperadores da Sociedade. A obra da comissão de sócios da TFP tem óbvio valor intelectual, é fundamentada em excelente argumentação, e sua ortodoxia vem afirmada globalmente por límpido parecer de um teólogo espanhol de fama mundial, o Revmo. Pe. Victorino Rodríguez O.P., e em partes específicas por pareceres do canonista Pe. Arturo Alonso Lobo O.P. e do teólogo Pe. Antônio Royo Marin O.P., não menos célebres. A essa obra não foi dada qualquer réplica do mesmo nível.

A crítica da ampla e desconchavada exposição do sr. G. Folena, e da confusa e tumultuária apresentação do sr. O. Fedeli na TV Manchete de ontem comportariam mais um imenso espaço, se for feita com a seriedade que caracteriza as publicações da TFP. Importa isso em nova despesa, com que não estamos certos de poder arcar. Se achar oportuno, a entidade dará a conhecer, numa publicação mimeografada, sua apreciação integral sobre as mesmas. Neste caso, avisaremos ao público sobre o lugar e o horário em que encontre essa refutação.

Lembramos desde logo a superficialidade de espírito que mostraria quem opinasse sobre o assunto sem conhecer o pensamento da entidade: “Seja ouvida também a outra parte” – “Audiatur et altera pars”, é o preceito jurídico elementar de todas as nações contemporâneas que não estejam sob o jugo comunista.

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Acima, imagem de São Luís Maria Grignion de Montfort aos pés da Rainha dos Coraçöes, em Roma, no altar onde o santo francês renovou publicamente sua consagração à Virgem Maria

Livro da TFP sobre tema… “secreto”!

As publicações surgidas na imprensa paulista (“Folha de S. Paulo” de 15, 16, 17 e 19 do corrente, “Folha da Tarde” de 15, 16 e 19, e “Jornal da Tarde” do dia 15) foram de molde a repercutir bem mais, em virtude do seu cunho como que folhetinesco, que lhe deram os mencionados órgãos, às declarações do sr. Luís Filipe F. G. Ablas. Por isto, é a elas que voltamos prioritariamente esta nossa primeira análise.

Com efeito, quem lê a matéria na folha campista, e muito especialmente quem lê a síntese que dela fizeram os três mencionados cotidianos paulistas, fica com a noção mais pejorativa dos fatos. Ora, uma vez devidamente focalizados e expostos estes, com os importantes aspectos que nessas invectivas publicitárias não figuram, não poderá deixar de os ver como são e em toda justiça merecem ser vistos.

Por singular coincidência, estavam sendo concluídos precisamente no dia 14 (em que saíram as primeiras publicações sobre o assunto) os últimos aprestos para o encaminhamento à impressão de um livro substancioso, com excelente argumentação e farta documentação de autoria do sócio da TFP, sr. Atila Sinke Guimarães. O livro versa sobre os mais importantes dentre os interessantes aspectos da vida da entidade, deformados pelos Srs. G. Folena e L. F. Ablas. Divulgando-o, a TFP deseja dar ao conhecimento do público uma matéria que o sr. L. F. Ablas afirma… secreta!

Tal livro foi entregue há dias na gráfica, e estará à venda aos interessados na rua Dr. Martinico Prado 246, telefone 221-8755, das 8 às 20 horas, a partir da próxima terça-feira, dia 2 de abril.

Também esse livro conta com parecer favorável escrito do eminente teólogo Pe. Victorino Rodríguez O. P.

Bem entendido, não pode ser tomada a sério, daqui por diante, qualquer objeção que seja feita contra a TFP sobre o assunto, sem que o detrator mostre conhecer devidamente, não só o presente Comunicado, como o que o livro expõe.

Antecedentes históricos: a singela narração dos fatos

Entretanto, dados os atrasos dos serviços gráficos, sempre possíveis, e para desfazer sem tardança estranhezas que especialmente o noticiário dos mencionados cotidianos paulistas tenha produzido sobre leitores desavisados, a TFP se antecipa ao livro para esclarecer alguns dos aspectos mais essenciais do assunto. Para tal, nada é mais eficiente do que a singela narração dos fatos:

  1. Como todo o Brasil, e a bem dizer, todo o Ocidente sabe, a TFP tem por fim o combate, por vias pacíficas e legais, à expansão do comunismo internacional.

Nesta árdua pugna, ao longo de duas décadas e meia, os sócios e cooperadores da TFP têm enfrentado vitoriosamente os vagalhões sistemáticos, bem articulados e até quase contínuos de duas modalidades de campanhas, cada qual mais acirrada: a) a do silêncio; b) a da calúnia, da desinformação e da contra-informação.

Em tal ação, na qual desenvolvem esforços incessantes, por vezes ingentes, sempre desinteressados, os sócios e cooperadores da TFP vêm arcando com sacrifícios das mais variadas ordens.

Isto, eles o têm feito com ânimo alegre, sem tergiversação nem recuo. É que os anima um grande ideal.

  1. Um grande ideal? Quanto mais do que isso! Anima-os a Fé católica, apostólica e romana, que a grande maioria deles professa desde o santo Batismo recebido na primeira infância. Mas para a qual não poucos dentre eles foram atraídos pela graça, das longínquas paragens do protestantismo, da igreja grega, da sinagoga e do paganismo.

A TFP não é especificamente uma sociedade religiosa, erecta e dirigida pela autoridade eclesiástica. Por seus estatutos ela é uma entidade cívica cujo pensamento e cuja ação se pautam pelos princípios teológicos e morais tradicionais da Igreja. Porém, todos os seus sócios e cooperadores são católicos apostólicos romanos.

Fiéis aos ensinamentos tradicionais do Supremo Magistério eclesiástico, eles estão cônscios de que o comunismo e a Religião Católica são intrinsecamente incompatíveis. E, em conseqüência, é por amor à Fé católica que movem os grandes combates doutrinários da entidade.

  1. Ainda em consonância com a Doutrina Católica tradicional, anima-os especialmente nessa luta a confiança em Nossa Senhora, Medianeira de todas as graças, por intermédio de Quem sobem a Deus todas as preces dos homens, e provém de Deus as graças que sua misericórdia nos concede.

Estimulados especialmente por esta grande verdade marial, e pelas revelações feitas por Nossa Senhora, em 1917, na Cova da Iria (Portugal), a Lúcia, Jacinta e Francisco, os sócios e cooperadores da TFP têm em vista servir, com sua ação anticomunista, Aquela que advertiu a todos, por meio dos três pastorinhos, que se os homens não se emendassem, “a Rússia espalharia seus erros pelo mundo”, acrescentando, entretanto, a promessa decisiva e alentadora: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.

  1. Com o intuito de melhor amar e servir Aquela por quem combatem, os sócios e cooperadores da TFP costumam seguir, em matéria marial, a espiritualidade de uma alma de fogo, que figura entre os mais destacados mestres da devoção à Santíssima Virgem, isto é, São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716), solenemente canonizado por Pio XII em 1947, com gáudio indizível de todas as almas mariais ardorosas, então muito numerosas pelo mundo afora.

Por isto, costuma-se na TFP ler e estudar de modo especial duas obras célebres desse Santo, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem e O Segredo de Maria, das quais, a partir principalmente do século XIX, se têm feito sucessivas traduções e edições em grande número de idiomas. E, ao cabo da leitura, costumam, como o mesmo Santo recomenda, consagrar-se como “escravos de amor à Santíssima Virgem”, a Quem cada qual dirige uma oração nos seguintes termos: “Entrego-Vos e consagro-Vos, na qualidade de escravo, meu corpo e minha alma, meus bens interiores e exteriores, e até o valor de minhas obras boas passadas, presentes e futuras, deixando-Vos direito pleno e inteiro de dispor de mim e de tudo o que me pertence, sem exceção, a vosso gosto, para maior glória de Deus, no tempo e na eternidade”. Estas palavras são do texto da consagração redigido pelo Santo.

  1. Segundo é normal, desde que se reconheça no combate ao comunismo um serviço de Maria, tal combate, com as boas ações interiores e exteriores em que implica, constitui atuação pela qualse põe em prática a consagração montfortiana do “escravo de amor à Santíssima Virgem”. Pois, sem dúvida, é ato meritório e conforme à vontade dEla, combater o inimigo que Ela aponta como o castigo e o flagelo dos homens, e do qual promete libertar o mundo.

Dado que essa atuação anticomunista é conforme à Fé e à Moral cristã, e à vontade de Maria Santíssima, e dado ainda que desenvolver tal ação supõe esforço concatenado e disciplinado, sem o qual nenhuma ação é frutífera, obedecer, na pugna anticomunista, os que na TFP, exercem cargos de direção, é logicamente vontade de Maria. É nesta perspectiva que procedem os que a Ela se consagram como “escravos de amor”, dentre os sócios e cooperadores da TFP.

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São Pio X, em 1908, estimulou os apóstolos da devoção mariana segundo São Luís Grignion de Montfort, recomendando vivamente o “Tratado da Verdadeira Devoção à Maria Santíssima”

  1. Tais considerações levaram, em 1967 –há perto de 20 anos – certo número de sócios e cooperadores da TFP, que habitualmente renovavam sua consagração de “escravos de amor à Santíssima Virgem”, a pedir ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, insigne fundador da entidade e exímio presidente do seu Conselho Nacional, a aceitar que nas mãos dele se consagrassem à Mãe de Deus. Por este modo entendiam razoavelmente afirmar que todos os labores e sacrifícios que o mais alto dirigente da pugna anticomunista lhes indicasse como necessários para seu crescimento na devoção à Santíssima Virgem, e no serviço dEla, na atuação desenvolvida pela TFP contra a Revolução igualitária, gnóstica e comunista, eram para eles decorrência da sua consagração segundo os escritos de São Luís Maria Grignion de Montfort. Tratava-se, portanto, de uma consagração como escravos de Maria Santíssima, feita nas mãos do Dr. Plinio. Escravidão, já se vê, toda ela substancialmente no sentido religioso e espiritual em que o Santo francês emprega o termo. Especificamente diversa – e quanto! – da vil, cruel e injusta escravidão do índio agarrado à unha na selva para servir ao seu senhor branco, e do tráfico negreiro, não menos vil, injusto e cruel.

Escravidão a Maria? É o que se diz legitimamente na linguagem marial corrente. Pois a fórmula de São Luís Maria Grignion de Montfort se intitula Consagração de si mesmo a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, pelas mãos de Maria. E tal consagração é feita “na qualidade de escravo perpétuo”.

Esta escravidão importa numa suma liberdade. É o que salienta, com clareza e precisão, S. S. João Paulo II. Interrogado a respeito pelo conhecido escritor André Frossard, assim se exprimiu S. S. sobre a “sagrada escravidão” a Maria Santíssima.

“Escravidão: a palavra pode chocar nossos contemporâneos. Por mim, não vejo nela nenhuma dificuldade. Penso que se trata de uma espécie de paradoxo, como freqüentemente se encontra nos Evangelhos, significando as palavras ‘santa escravidão’ que nós não poderíamos realizar mais profundamente nossa liberdade, o maior dos dons que Deus nos tenha feito. Porque a liberdade se mede pelo amor do qual somos capazes.

“É isto, creio, que [Montfort] quis mostrar” (*) (A. Frossard, Dialogues avec Jean-Paul II, Paris, 1983, pp. 186-187 – apud “L’Homme Nouveau”, Paris, 18-11-84).

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Nota:

(*) Com efeito, enumerando os motivos que recomendam a “escravidão de amor”, diz São Luís Maria Grignion de Montfort: “Esta prática de devoção dá, às pessoas que a praticam fielmente, uma grande liberdade interior, que é a liberdade dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8,21). Visto que, por esta devoção, nos tornamos escravos de Jesus Cristo, consagrando-nos todo a Ele nesta condição, este bom Mestre, em recompensa do cativeiro por amor a que nos submetemos, tira, primeiro, à alma todo escrúpulo e temor servil, que a constrangem, escravizam e perturbam; segundo, alarga o coração por uma santa confiança em Deus, fazendo-o considerá-Lo como Pai; terceiro, inspira-lhe um amor terno e filial” (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 4ª ed., 1949, pp. 163-164).

E o santo passa a narrar, como exemplo, a vida da Madre Inês de Jesus, que faleceu na França em odor de santidade, em 1634, concluindo: “Um dia a Santíssima Virgem lhe apareceu [à Madre Inês de Jesus] e lhe pôs ao pescoço uma cadeia de ouro para lhe manifestar a alegria de tê-la como escrava de seu Filho e sua; e Santa Cecília, que acompanhava a Santíssima Virgem, lhe disse: Felizes os fiéis escravos da Rainha do Céu, pois gozarão da verdadeira liberdade: “Tibi servire libertas’” (ibidem, pp. 164-165).

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Por analogia a esta escravidão – obviamente toda ela religiosa e espiritual, convém talvez repetir – a consagração como escravo de Maria nas mãos de Dr. Plinio importava em constituir entre ele e quem se consagrava a Maria nas mãos dele, uma situação que, na perspectiva do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem de São Luís Maria Grignion de Montfort, podia denominar-se de senhor-escravo.

A afirmação poderá causar surpresa às pessoas explicavelmente não familiarizadas com essa terminologia especializada e quase diríamos técnica. Mas ela é inteiramente consoante com a Doutrina e a Moral católicas, e com a consagração montfortiana. É o que sem esforço reconhecerão tantas das almas mariais que eventualmente leiam o presente comunicado. E é também o que demonstra – como acima é dito – com abundância de argumentos históricos e doutrinários, o livro do sr. Atila Sinke Guimarães.

Maior estranheza ainda poderá ser a de mentalidades a-religiosas, habituadas a ver as coisas numa perspectiva laica e naturalista. E não nas perspectivas luminosas e sobrenaturais, nas perspectivas cristãs da Fé.

Mas como entender e julgar favoravelmente, em uma perspectiva laica, algo que só à luz da Fé se explica?

Confirmando desde já a doutrina do que aqui vem exposto, antecipamos que no livro escrito pelo sr. Atila Sinke Guimarães figuram pareceres favoráveis de dois luminares da intelectualidade católica contemporânea, o canonista Pe. Arturo Alonso Lobo O. P., e o teólogo Pe. Victorino Rodríguez O. P., ex-professores da célebre Universidade de Salamanca, o primeiro, um dos colaboradores dos famosos Comentarios al Código de Derecho Canónico da BAC (Biblioteca de Autores Cristianos) e autor de numerosas obras; o segundo, com mais de 200 estudos sobre teologia e filosofia publicados em livros e revistas especializadas dos principais centros culturais europeus.

  1. Por fim, importa ressaltar cinco aspectos dessa consagração a Nossa Senhora, feita nas mãos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

a) Como na consagração a Nossa Senhora, o “escravo” assim consagradonão ficava sujeito a qualquer pressão moral. Em outros termos, qualquer ato de desobediência dele, em si não constituía pecado;

b) E se, por eventuais e graves razões de consciência – por exemplo, para conservar sua integridade na Fé ou na observância da Moral católica – o “escravo”julgasse eventualmente dever deixar essa situação, poderia fazê-lo licitamente a qualquer momento, e sem licença de quem quer que fosse. Pois a pessoa que se consagrava não renunciava (e nem poderia renunciar) a esta faculdade, no ato de sua consagração. Como se vê, tratava-se deum vínculo livremente constituído, e mantido constantemente livre pelo consenso sempre espontaneamente renovado de quem o contraiu. O que é diametralmente o contrário do escravo segundo a lei da força e a brutalidade dos homens.

c) O conjunto das pessoas assim consagradas constitui algo como um veio, um setor, dentro da TFP.Nunca uma associação distinta da TFP. Pois os sócios e cooperadores assim consagrados, tencionavam exercer sua consagração por umaatuação anticomunista coidêntica com a da TFP, nas fileiras da TFP, e sob a direção do fundador desta e presidente do seu CN.

d) Infelizmente, tal consagração, feita na forte maioria dos casos, no ano de 1967, teve vida efêmera. Depois de um surto de fervor, ela começou rapidamente a entrar em decadência, pela superficialidade de espírito e pela inconseqüência que já se manifestavam em tantos elementos da “geração nova” de então.Poucos meses depois, a obediência decorrente dessa consagração já não tinha senão escassos vestígios de vigência. E também isto foi cessando. Em 1972 houve uma cerimônia de consagração quase póstuma. Pois não houve mais nenhuma reunião, a não ser uma muito esporádica em 1976, num ambiente de desalento que tornou definitivamente impossível qualquer outra. Vão disso quase dez anos. O que assim se passou, deixa aliás ver a inteira falta de coerção moral que era inerente à dita obediência.

e) Tudo isto deixou nas almas dos “escravos de Maria”, nas mãos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, tristeza, nostalgia, vaga esperança. – Quem sabe? Algum dia? – Este dia… ainda não chegou.

“Sempreviva”, a flor que não morre: era a alegoria transparente e graciosa que essa esperança nostálgica (mas, no plano estritamente natural, mera veleidade!) conservou por símbolo. O que de censurável nisto?

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São Francisco de Sales, grande mestre da vida espiritual, também se consagrou como escravo da Virgem Santíssima

  1. Associação secreta? É o que publicaram os cotidianos acima mencionados. Ora, vimos quenão se tratava de uma associação, mas de um setor, de um veio, e este veio não era secreto, não constituía uma camarilha fechada de exclusivistas com fins só deles, dos quais os outros deveriam ser afastados sem sequer o saberem.

Passou-se o seguinte. Depois de muito instado e vendo o surto de entusiasmo que a idéia espontânea dessa consagração ia causando em alguns sócios ou cooperadores que o procuravam, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira não quis recusar seu apoio ao bom propósito. Mas, ao mesmo tempo, tendo em vista o “fogo de palha” em que redundaram, ao longo de todos os séculos, tantos generosos surtos religiosos ou ideológicos, principalmente quando nascidos, como era o caso, em jovens ou pessoas de uma maturidade ainda muito próxima da juventude, recomendou ele a cada qual que o procurava, que não propagasse a idéia entre outros. De sorte que ela só resultasse, em cada qual, de um presumível movimento da graça, todo interior. Assim, os que recebiam esta graça, dela só falavam entre si.

O que de mais prudente? Em si mesmo, os fatos posteriores provaram que em muitos, o próprio movimento inicial sério e profundo trazia consigo manifestações tendentes ora ao exagero, ora ao efêmero, sintomáticas do “fogo de palha”. Um ou outro exagero que se manifestou foi possível coibi-lo, sempre com medidas prudenciais suaves e até graduais, e mais raramente com uma ou outra decisão terminante. A tendência ao efêmero, esta, infelizmente, ganhou rapidamente terreno, sem que, por fim, fosse possível contê-la.

O surgimento de abusos ao longo de uma formação ou de uma pregação aliás não prova (dito seja de passagem) contra ela.

A tendência ao abuso resulta, em todo homem, do pecado original e da ação preternatural. Desde os tempos apostólicos houve Santos que certos ouvintes ou seguidores exagerados queriam adorar como deuses. Culpa dos Santos, que contra isto reagiam? Por certo não. Mas do homem.

O surgimento da tendência ao abuso pode dar-se a todo propósito. Só a impunidade dele é que é culposa.

De qualquer forma, todos esperavam que, a tomar verdadeiramente corpo essa consagração, ela se estenderia a toda a TFP. Mas gradualmente, sem arroubos, e sem constituir para isso qualquer pressão moral sobre os que, por motivos pessoais, não quisessem fazer tal consagração.

O novo veio na TFP era, assim, essencialmente não secreto, pois tendia de si, e naturalmente, a abranger todos, observando unicamente a gradualidade necessária para que isso se fizesse de modo livre e normal.

Aos poucos, o conhecimento desses fatos se foi divulgando. Hoje, a TFP toda conhece esses fatos. Com o respeito e a simpatia de todos para com a “Sempreviva”. E com a nostalgia infinda dos que receberam a chamada “graça de 67”.

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Bento XV (foto acima), em carta de 23-4-1916, dirigida ao Superior da Companhia de Maria e das Filhas da Sabedoria, afirma que a devoção marial pregada pelo grande santo francês caracteriza-se por “suavíssima unção e solidíssima doutrina”

  1. Não havendo espaço para discorrer aqui sobre as cerimônias alegadas pelo sr. Luís Filipe Ablas, digamos entretanto algo sobre asbofetadas.

“Bofetada”: a palavra choca, pois lembra, por exemplo, a vulgar agressão de botequim. Não encontramos porém outra que traduzisse adequadamente a palavra latina “alapa”, usada no Pontifical Romano por ocasião da ereção de um cavaleiro por um Bispo (cfr. Pontificale Romanum, H. Dessain, Malines, 1934, p. 1019). Designamos, portanto, como “bofetada” a “alapa” ritual. No francês, por exemplo, encontra-se na linguagem da Cavalaria a palavra “paumée”, golpe dado com a palma da mão. Paumée derivaria assim etimologicamente em “palmada”, vocábulo que na linguagem corrente tomou outro significado, lembrando risivelmente um castigo de criança. “Tapa”? O termo designa mais ou menos a bofetada na briga entre crianças que caminham para a adolescência. Por mais inadequada que seja a palavra “bofetada”, não encontramos outra.

Eram de estilo três bofetadas durante o ato da consagração a Maria nas mãos do Dr. Plinio. Com efeito, na ereção do cavaleiro medieval, o nobre que o armava dava-lhe algumas pranchadas coma espada no flanco ou nas costas, e lhe aplicava (ou isto fazia o próprio pai do cavaleiro) uma bofetada (cfr. León Gautier, La Chevalerie, Arthaud, França, 1959, pp. 135 a 151). Como é geralmente sabido, o cavaleiro medieval passou para a História como um modelo da dignidade e do brilho cristãos. Esses golpes e bofetadas tinham um caráter puramente ritual e protocolar, ligado a tradições às quais seria por demais longo dar explicação aqui.

Algo de análogo existe na bofetada puramente ritual que o Bispo dá ao crismando.

Não espanta, pois, que também algo de semelhante se encontrasse no ato de consagração, o qual tinha em seu rito algo de análogo (e não de idêntico) à recepção de um cavaleiro ou de um Religioso…

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São Luís Grignion de Montfort observa que Santos como São Boaventura – o Doutor seráfico – não se sentiram envilecidos em nada, nem se viram privados de seus direitos e dignidades fazendo-se escravos de Maria

  1. Confissão entre leigos na TFP? Alegou-o o sr. L. F. Ablas. O leitor corrente só conhece a confissão-sacramento. A ser assim, daria, por exemplo, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a absolvição aos que se confessavam? É istotão estapafúrdio, vem tão desacompanhado de provas, que só merece um rotundo “não”.

Ainda como reminiscência da cavalaria medieval, tomou espontaneamente alguma freqüência entre os “escravos” que este “confessassem” uns aos outros mutuamente as faltas. Tal “confissão” lembrava a que faziam entre si os cavaleiros, em certas ocasiões, como em vésperas de batalhas etc. Ainda como entre os cavaleiros, esta “confissão” não tinha entre os “escravos” o caráter de Sacramento, mas o de uma simples declaração de faltas feita a um irmão de armas, como nobre e tocante exercício de humildade cristã. Por isto mesmo, a palavra “confissão” jamais foi usada por eles para designar o que eles muito adequadamente chamavam “acusação de faltas”.

Entre os “escravos”, em tal prática era absolutamente vedado, segundo as máximas da prudência, fazer a narração de outras faltas que não as transgressões aos ditames da “escravidão marial”. Notadamente assuntos conexos com o VI e IX Mandamentos estavam excluídos dessas “confissões”.

Por fim, e ainda segundo a tradição da Cavalaria, quem declarava deste modo suas faltas podia pedir uma penitência, bem entendido módica e sensata, no estilo das três bofetadas rituais ou outros atos conformes à ascese cristã, e usados por Santos ou em Ordens Religiosas.

De passagem, pergunta-se se todas essas referências à Cavalaria cristã poderiam justificar a afirmação de um caráter paramilitar hodierno na TFP? A pergunta só proviria de um espírito tão ignorante, tão bronco ou tão chicanista, que seria normal desdenhar de responder.

*   *   *

Estes são esclarecimentos que, de momento, a TFP julga oportuno dar ao público para evitar as distorções, chicanas e falsas focalizações, tão freqüentes na extensa história dos estrondos publicitários movidos contra ela.

O que aqui fica dito, complementá-lo-á, em muito larga medida, o anunciado livro de autoria do sr. Atila Sinke Guimarães.

A TFP continua sempre disposta a dar quaisquer esclarecimentos a quem quer que os peça no sentido de um diálogo pessoal cortês, ou de uma discussão respeitosa e sincera. Não porém para alimentar indefinidamente invectivas movidas obviamente pelo ódio, com o aplauso da imensa coorte dos inocentes-úteis, “Companheiros de viagem” ou militantes do comunismo internacional.

São Paulo, 25 de março de 1985

Festa da Anunciação da Santíssima Virgem

Paulo Corrêa de Brito Filho

Diretor de Imprensa da TFP

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