A “Ação Social dos Católicos”: O século XX vota um culto supersticioso ao Estado, de quem espera a solução para a crise contemporânea.

“Folha da Noite”, 1° de outubro de 1935

A “AÇÃO SOCIAL DOS CATÓLICOS” SERÁ ESTUDADA HOJE PELO DR. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Sobre a tese que defenderá na “Semana de Estudos sobre a Doutrina Política da Igreja” fala-nos o seu autor

Na sessão de hoje da “Semana de estudos sobre a doutrina Política da Igreja” promovida na cúria Metropolitana pelo “Centro D. Vital”, o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira defenderá a tese que lhe cometeram, sobre a “Ação Social dos Católicos”. A respeito do seu trabalho s. s. concedeu à “Folha da Noite” ligeira entrevista:

O século XX vota um culto supersticioso ao Estado, de quem espera a solução para a crise contemporânea. Por esta razão, não costuma ser atribuída à ação social dos católicos a importância e o alcance que, na realidade, tem.

“Sem querer diminuir a importância do papel do Estado, que tem na hora presente gravíssimas responsabilidades, cumpre notar que o Estado, por si só, não está em condições de solucionar a crise contemporânea. Efetivamente, é suficiente um exame sucinto da situação moral, social e política do mundo moderno, para nos persuadir disto.

“O estado de luta parece ter-se tornado habitual para os homens e as Nações hodiernas. Na família, a luta se estabelece entre os cônjuges, esquecidos de seus deveres recíprocos, e desejosos de direitos sempre maiores. Entre pais e filhos, também não reina harmonia, pois que a autoridade paterna parece, para a mocidade de hoje, um jugo cada vez mais pesado. Lutam entre si as classes, que formulam, umas contra as outras, reivindicações sempre maiores, procurando ao mesmo tempo subtrair-se ao cumprimento dos respectivos deveres. Enfim lutam nações contra nações, estimuladas pelo orgulho nacional e pelo desejo de maior expansão econômica.

A razão deste estado de coisas deve ser procurada muito menos nas leis modernas do que na mentalidade do homem contemporâneo. Um desejo imoderado de prazeres e o horror ao cumprimento do dever são suas duas grandes características. E ambas as características derivam do egoísmo que domina hoje toda a humanidade. Enquanto o homem continuar aforrado a este individualismo sem limites, não será possível estabelecer qualquer reforma durável na sociedade contemporânea.

“Ora, a ação do Estado é totalmente impotente para operar a reforma dos caracteres. É certo que o Estado pode defender a moralidade pública. Não é menos certo, porém, que ele não pode edificar a moralidade pública ou privada.

“Ora enquanto o Estado é impotente para esta tarefa indispensável, a Igreja é um fator inigualável de moralização dos povos. Realmente, ela os submete a uma disciplina intelectual e moral perfeita, que, ao contrário do protestantismo, submete os atos de cada homem não ao julgamento sempre suspeito de suas próprias consciências, mas a um tribunal superior cheio de austeridade e ao mesmo tempo rico em benignidade. Por outro lado, pelos motivos que a Religião Católica dá ao homem de amar a Deus e de desejar a felicidade eterna, bem como pelo temor da condenação, ela proporciona ao espírito humano os estímulos mais eficientes que se possam conceber para induzi-lo à prática do bem. Assim, a Igreja é a grande moralizadora dos povos. E ela o provou em inúmeros episódios históricos como por exemplo quando encaminhou ao martírio na antigüidade legiões de virgens, ao passo que o culto da Besta pagã perecia porque o paganismo não podia mais suscitar em Roma o número de virgens necessário ao culto do fogo sagrado.

“Por outro lado, o Estado tem uma atuação meramente nacional. E a reedificação da ordem social não pode depender da ação de um país, mas de uma atuação supranacional, afetando simultaneamente o mundo inteiro e agindo com uma inteira unidade de pensamento e de direção.”

Depois de mostrar até que ponto o protestantismo descamba atualmente para o racionalismo, chegando a repudiar em muitas de suas seitas a divindade de Cristo, o conferencista demonstra que não é da Reforma que se deve esperar tal ação supranacional. Também dos cismáticos nada se pode esperar. Alguns procuram estabelecer um modus vivendi doutrinário com o comunismo e outros tendem ao catolicismo. Por outro lado, negando a supremacia do Bispo de Roma, as igrejas cismáticas renunciaram implicitamente à possibilidade de desenvolverem qualquer ação mundial, porque não reconhece nenhum de seus bispos qualquer autoridade espiritual que lhe seja superior.

O conferencista conclui afirmando que, se aqueles que desejam restaurar a civilização cristã querem alcançar a vitória, não devem limitar-se a aceitar um vago pan-cristianismo, mas devem abraçar resoluta e exclusivamente o Catolicismo, única expressão autêntica e completa da doutrina de Cristo.

 

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