“Diário Nacional”, 27 de abril de 1932
A Organização Política dos Católicos
O que diz ao “Diário Nacional” um dos líderes da ação católica em São Paulo
O recente apelo aos católicos, largamente divulgado pela imprensa desta capital e do Rio, despertou em todos os círculos sociais um grande movimento de interesse, pois que se tem afirmado que tal apelo nada mais é senão um início da ação católica, em larga escala, sobre a vida pública do país.
Aliás, a ninguém passou despercebido o significado de tal documento, assinado por elementos representativos de todas as correntes políticas, bem como por grande número de católicos militantes da melhor sociedade paulistana.
A fim de informar os leitores sobre tão palpitante assunto e obtermos esclarecimentos, procuramos ontem o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, redator-chefe de “O Século”, membro do Centro D. Vital e um dos chefes da Ação Católica em São Paulo.
O Dr. Plinio Corrêa, que encontramos em seu escritório de advocacia, à Rua Libero Badaró, manteve a respeito a maior reserva, furtando-se a fazer quaisquer declarações. Finalmente, dada a nossa insistência, consentiu S. S. em nos adiantar o seguinte:
“O último apelo aos católicos revestiu-se de grande significação. A elevada esfera doutrinária e religiosa em que se manteve soube colocar nos seus devidos termos a ação dos católicos em relação aos problemas políticos e sociais que presentemente agitam a Nação.
“Elementos de todos os partidos se reuniram pela primeira vez, há muitas décadas, na nossa história, para elevar, como um símbolo nacional, o relicário dos princípios católicos, acima das competições partidárias e do tropel das praças públicas.
“De acordo com a intenção dos seus signatários, o apelo visa reunir em torno dos princípios católicos todos os elementos sinceramente apegados à Igreja e às tradições nacionais, para que, sejam quais forem as divisões que se suscitarem entre os filhos da mesma terra, estes se esqueçam todos das suas discórdias para correr em defesa do catolicismo, numa fecunda conjugação de esforços, desde que ele seja alvejado pela ação de seus adversários.
“A França soube estabelecer entre os diversos partidos uma União Sagrada, para lutar contra os alemães que invadiram o solo da Pátria.
“Por que não haveriam os católicos de fazer também sua União Sagrada, sem prejuízo de suas divergências políticas, sempre que se procurar invadir entre nós a esfera de influência que cabe à Igreja por direito natural e por direito histórico?
“Aliás – acrescenta o Dr. Plinio Corrêa – deram assim os católicos de São Paulo um belo exemplo de idealismo, saltando sobre a barreira de suas divisões partidárias, para acorrer em defesa de um ideal comum. Já se vê que o Catolicismo, logo ao ingressar na vida pública nacional, inicia sua ação com um esplêndido exemplo de amor ao ideal, que freqüentemente nos tem faltado”.
A arregimentação dos católicos
Interrogando-o sobre se os católicos procurariam arregimentar-se desde já, para efeitos eleitorais, declarou-nos o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira que não perderiam seus correligionários, na atual emergência, a alta linha de ponderação, discrição e elegância moral que caracteriza todas as iniciativas católicas.
Não se apressariam, portanto, os católicos a agir. E quando o fizerem, o farão com um elevado critério de idealismo e moderação, e com a preterição absoluta de seus interesses pessoais em benefício da vitória de sua causa.
“Fora e acima dos partidos – eis a senha que, no momento oportuno, quando os fatos nos chamarem à ação, saberemos adotar e impor”, conclui o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.