Entrevista concedida à revista “Manchete”

12 de abril de 1989

 

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Manchete (M) – Esse ano é um ano importante. E nos últimos tempos vocês andaram um pouco sumidos, quase não se ouvia falar, com exceção dos livros…

Plinio Corrêa de Oliveira (PCO) – Não só livros, mas campanhas de ruas quase constantes. E depois, não quis mencionar aqui, mas vários estrondos publicitários, um em cima do outro. Portanto, era difícil aparecer mais!

M – Exato. Agora, nesse ano, com o avanço da esquerda ocupando cargos eletivos em diversos lugares, como vocês pretendem agir, o que vocês pretendem fazer? Como vocês pretendem combater essa escalada das esquerdas?

PCO – A questão é a seguinte. A TFP, entre outras finalidades, tem a da defesa da tradição, da família e da propriedade. Agora, ela pode assumir, assume a defesa desses valores pelos próprios recursos dela, e contando, naturalmente, com os recursos daqueles que têm propriedades, que têm famílias, e que têm tradições. Porque há um princípio de Santo Agostinho que diz: “Deus que nos criou sem nós, não nos salvará sem nós”.

E então também, nós podemos ajudar os que são beneficiários da tradição, da família e da propriedade. Mas nós não podemos salvá-los na inércia deles.

Ora, há uma inércia enorme e uma divisão colossal entre os que representam, a tradição, a família e a propriedade. E nossa ação não terá sentido enquanto eles não se aglutinarem para fazer qualquer coisa.

Em 64 eles se aglutinaram, e nós agimos. E nossa ação teve muito relevo, a Sra. tem razão em dizer. Mas é tal a divisão entre eles no momento, o desconcerto, a moleza, que nem sei o que dizer. Se as esquerdas vencerem, vencerão por causa da moleza deles, e não pela força delas.

M – Como o Sr. vê a UDR? O Sr. a vê como uma aliada?

PCO – Como uma entidade que nos ignora. Logo no início da fundação da UDR, eu escrevi ao Dr. Caiado uma carta, propondo colaboração. Ele não me respondeu a carta. Embora tenhamos muito numerosos amigos na UDR, ele nunca quis ter contato conosco. Fiz críticas. Ele também nunca respondeu. Se ele nos ignora, nós o ignoramos.

M – O Sr. já ouviu falar na Ação Nacionalista Democrática?

PCO – Não.

M – Ela surgiu como sendo uma fusão de ex-integrantes do CCC e também do Movimento Estudantil Democrático. A carta de princípios dela prega exatamente a mesma coisa que vocês.

PCO – Não os conheço. Não nos procuraram e não tive notícia. A tal ponto que eu vou fazer omissão aqui do nome deles, porque não os conheço.

M – Exatamente. O Sr. acredita que a formação dessas organizações demonstra que o povo, as pessoas estão querendo sair dessa letargia?

PCO – Eu acho que estão querendo. Eu acho mesmo que o aparente desenvolvimento das esquerdas não corresponde a uma realidade. As esquerdas seriam derrotadas rotundamente se as direitas se movessem. É porque elas não se movem que as esquerdas avançam. Essa letargia é geral, em todos os setores da opinião pública.

M – Houve em alguma ocasião desses últimos 29 anos, algum ponto em comun da TFP com a CCC?

PCO – Nunca. Nunca trabalhamos juntos porque os métodos deles são radicalmente diversos dos nossos. Nossos métodos são essencialmente legais e pacíficos. Nós temos perto de 4 mil cartas de delegados, prefeitos, outras autoridades locais, atestando o caráter pacífico das nossas caravanas, quando passaram pelos respectivos distritos deles. Nós agimos sempre dentro da lei. A Sra. nunca ouviu falar de uma ilegalidade da TFP. E o CCC tem uma índole diversa.

M – Comentou-se que a TFP estaria criando um centro de treinamento.

PCO – Não, também não é verdade. Não, não é verdade.

M – Nunca agiu militarmente, ou para-militarmente?

PCO – Nunca.

M – Nunca teve uma violência…

PCO – Exatamente, a TFP nunca atuou pela violência. A TFP nunca usou armas. Deve ter portado armas para a defesa pessoal, eu posso portar, o Prof. Brito pode portar, mas não é uma organização que está feita para agir pela violência.

M – Como a população está encarando a TFP hoje? O Sr. vê uma diferença de encarar a TFP hoje, da forma que era encarada no início?

PCO – Eu acho que as campanhas contra a TFP foram, durante esse período, muito grandes e muito apoiadas pela mídia. A TFP tem revidado, e sempre – não há exceção – depois do revide eles se calam. Mas isso não teve efeitos sobre a opinião pública. Nessas campanhas todas, de uma delas disse um jornalista que daria para derrubar um governo. Quando terminou a campanha, a TFP não tinha perdido um sócio, nem um cooperador, nem um doador, nem nada. Estava intacta, ilesa, e continuando a [sua atividade].

Acontece que nós temos grupos em cento e tantos municípios do Brasil, temos Correspondentes em perto de 400 municípios, nós temos mil e tantos, entre sócios e cooperadores no Brasil. Em […] 64, nós éramos uma organizaçãozinha naquele tempo, bem adestrada para a propaganda em São Paulo. Durante esse tempo também, o exemplo da TFP se propagou pelo exterior, e nós temos hoje em dia 15 co-irmãs autônomas da TFP.

M – Tiveram origem aqui no Brasil?

PCO – São pessoas de fora, de outros países, que conheceram a TFP, e vieram ter contato conosco, para conhecer a experiência, e fundar as TFPs nos seus países.

M – Eles se basearam nos princípios…

PCO – Nos princípios, e um pouco, em linhas gerais, na organização. Mas então em todos os continentes, inclusive na Ásia.

M – Na Ásia?! Aonde?

PCO – Em todos os continentes. Nós temos grupos na Europa, em vários países. Quer dizer entre bureaux e grupos, nós temos em Portugal, na Espanha, na França, Inglaterra, Itália e Alemanha. Na América do Sul nós temos em todos os países; na América Central temos na Costa Rica; temos grupo nos EUA, espalhado também com Correspondentes por muitas cidades norte-americanas; e no Canadá temos em Montreal e Toronto. Na África, temos na África do Sul; e temos grupos em formação em mais de um país da Ásia. Temos na Austrália, e na Nova Zelândia.

M – Uma coisa, pelo que eu entendi, vocês recebem contribuições. Os membros da TFP são pessoas de classe?

PCO – Não. Tem de todas as classes. A TFP mantém os cooperadores dela, que lhe dedicam então o tempo integral para ela.

M – Paga salário?

PCO – Pagamos o necessário para a manutenção da vida.

M – Não, eu estou perguntando como a TFP se mantém.

PCO – Donativos.

M – Porque a sede dela é na Maranhão. […]

PCO – Tem outra na Martinico Prado, e em vários outros lugares temos sedes.

M – Aqui em São Paulo quantas são?

PCO – 21 ao todo.

M – E no Rio?

PCO – No Rio temos duas.

M – Aonde? Quais são os bairros?

PCO – Eu não me lembro as ruas…

Dr. Paulo Brito – Santa Teresa, e a outra creio que é na Tijuca.

M – Tendo em vista que são donativos, existe períodos em que ela está, digamos assim, de caixa baixa, e existem períodos de caixa baixa, ou ela se mantém estável?

PCO – Mantém-se estável, graças a Deus, naturalmente subindo e descendo um pouco, como tudo quanto vive. Não é uma planície. Mas está longe de ser uma sucessão de montanhas e abismos. Precisa notar o seguinte, heim? Quase todos são médios ou pequenos doadores. A TFP não tem dependência de nenhum grande doador.

M – Era isso que estava perguntando. Então é classe média…

PCO – E baixa. A classe alta, a meu ver – nós temos muitos amigos na classe alta, vários de nós pertencem à classe alta – mas a classe alta é a classe onde também as esquerdas têm, proporcionalmente, mais adeptos. A meu ver elas têm mais adeptos na classe alta do que no operariado.

M – Uma coisa. Os seus livros, têm rendido muito. E os direitos autorais, digamos assim…

PCO – São meus. Mas o que dá, eu dou sempre para a TFP, integralmente.

M – Todas as pessoas que trabalham na TFP, ou estão na TFP, possuem uma atividade paralela?

PCO – Não. Os que dão tempo integral para a TFP…

M – Não, esses não, claro…

PCO – Mas são em grande número. É um grande número. Não é uma meia dúzia de funcionários.

M – Quantos, mais ou menos?

PCO – Algumas centenas. Não tenho aqui de cabeça, mas são algumas centenas.

M – Mas as pessoas que dão tempo integral pertencem à entidade? Ou existe alguém de fora que não é da…

PCO – Não. É diferente. Pelos estatutos da TFP, precisa distinguir os sócios e os cooperadores. Os sócios são propriamente os membros da entidade. E os cooperadores são aqueles que trabalham pela TFP, em regime de tempo integral, por dedicação, mas são em número menor do que os de sócios. O que caracteriza os sócios, essencialmente, é ter feito parte do núcleo inicial dos fundadores. E que têm mais a orientação da sociedade.

M – Aqui no Brasil há a Igreja progressista, e junto com a Igreja progressista, a Igreja [inaudível]. Como é que vocês veem isso?

PCO – A TFP é uma entidade que visa os assuntos de caráter temporal e não espiritual. De maneira que nós não tomamos posição oficial diante disso. Mas individualmente, como indivíduos, nenhum de nós é progressista, todos nós somos tradicionais, e seguimos a orientação tradicional da Igreja.

M – A ação das Comunidades de Base que o Sr. se refere aqui, como [inaudível] está agindo? Porque em 82 a TFP publicou uma obra denunciando as CEBs. Denunciando por quê?

PCO – Monsenhor Lefebvre tomou face à TFP – Mons. Lefebvre tanto não, mas amigos dele na França – tomaram uma atitude contrária à TFP francesa. Nós então revidamos e mostramos no que é que tínhamos razão, e no que é que eles não tinham.

M – Através de documentos?

PCO – Através de um documento chamado “Imbroglio, detração e delírio”, em francês, naturalmente: “Imbroglio, détraction, délire” (IMBROGLIO, DETRACTION, DELIRE – Remarques sur un Rapport concernant les TFP – 1980).

Dr. Paulo Brito – Agora me parece que a Sra. perguntou sobre as CEBs, e sobre a campanha que a TFP lançou. Foi isso que ela perguntou.

PCO – Mas ela mudou logo depois para Mons. Lefebvre, e não deu tempo de responder…

M – Ah! Eu gostaria que o Sr. respondesse…

PCO – Eu respondo com muito gosto. Quanto às CEBs nós escrevemos esse livro apontando o caráter muito radicalmente socialista das CEBs, que são companheiros de viagem do comunismo. Isso é que está nesse livro. Está documentado, as CEBs não responderam. E um livro que teve muito boa tiragem.

M – As suas obras….

PCO – Homem… eu nunca contei. Quantos livros teve até hoje, você se lembra Paulo? Ou C.?

[É mostrado o livro “Meio Século de Epopéia Anticomunista“, dão a lista das obras]

PCO – Dá para escrever um número especial da Manchete!

(risos)  M – Não, isso aqui vai para…

PCO – Não é para a Manchete?

M – Sim.

PCO – Então?

M – Não, mas é mais ou menos uma coisa sobre a ação das direitas, atualmente. A reorganização delas…

PCO – Mas não há uma reorganização da TFP. A TFP nunca se desorganizou.

M – Exatamente. A TFP se manteve na mesma forma, desde o início.

PCO – Não, e em franca expansão. Uma expansão enorme.

M – Quais são as características que deve ter uma pessoa para ingressar na TFP?

PCO – A pessoa precisa aderir inteiramente às metas da Sociedade e aos métodos. E querer trabalhar pela TFP desinteressadamente ou [inaudível.]

M – A TFP seria um “Clube do Bolinha”, onde a mulher não entra?

PCO – Não, não. Nós temos todo um setor de Correspondente da TFP, em que é constituído de famílias. Chamam Correspondentes. A missão deles consiste em viver nas suas casas, nas suas profissões, em contato com os meios que lhes são próprios, e esclarecendo as pessoas sobre a TFP, nos contatos que tomam, etc., etc. Porque a TFP tem muitíssimos simpatizantes, mas ela tem, ao mesmo tempo, muitos adversários. Mas, sobretudo, ela é vítima de uma campanha oral quase contínua, de detração. Aliás, muito bem organizada… E a essa campanha é preciso a gente estar continuamente revidando. Então, esses Correspondentes são pessoas que estão em contato com todos os ambientes em que vivem, e cada um no seu ambiente tem o propósito de, em se tratando da TFP, tomar a palavra, dar esclarecimentos, etc., etc.

M – Mas essas campanhas de detração são feitas por quem?

PCO – Não localizamos com precisão, de maneira a poder fazer uma afirmação pública, ninguém.

M – Mas o Sr. tem suspeita?

PCO – Eu acho que sim, mas aquilo que se suspeita não se documenta; e o que não se documenta, não se publica.

M – Ahhhh, sei. Bem, eu acho que já estou satisfeita. Muito obrigada, agradeço a atenção.

PCO – E eu agradeço a entrevista.

[O fotógrafo pede para tirar umas fotos.]

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PCO – Então, Brito, senta aqui. Vamos conversar para dar mais animação à fotografia! Não é melhor ele sentar aqui, fotógrafo?

Fotógrafo – Pode fazer uma com ele, e outra o Sr. sozinho também, não é?

PCO – Como quiser. O que estiver de acordo com a sua arte.

Fotógrafo: Está perfeito assim, está muito bonito. Podia apoiar o braço aqui?

PCO – Pois não. Qual é a vantagem que tem em apoiar o braço aqui?

Fotógrafo: O Sr. fica numa distribuição melhor, esteticamente, dentro da fotografia. Dá uma horizontalidade…

PCO – Ah, está bem. Então vamos ver. É preciso estar olhando para a objetiva, ou não? (Sim.) Pois não.

Fotógrafo: As diferenças nesses ângulos que eu estou tomando do Sr., essa lente é uma lente angular. Então eu pego o Sr. em primeiro plano, pego Nossa Senhora e a bandeira. Então dá uma perspectiva de baixo para cima, etc.

PCO – E agora essa perspectiva vai do quê?

Fotógrafo: De baixo para cima ainda. Esse ângulo dá a chamada “imponência”. Eles fotografam geralmente presidentes nessa posição.

PCO – Sei…

Fotógrafo: Está ótimo, muito obrigado. Foi um grande prazer.

PCO – Igualmente. Passe bem.

M – Dr. Plinio, eu esqueci dessa pergunta: como é feita a organização da diretoria da TFP?

PCO – Eu vou levar seu fotógrafo para a TFP, ouviu? Ele quer entrar na TFP, não quer entrar?! (risos) Qual é a sua pergunta?

M – Como é feita a diretoria da TFP? Como ela é composta?

PCO – Ela é composta por um Conselho Nacional e de uma Diretoria Administrativa Financeira. O Conselho Nacional desenvolve todas as atividades, normas [inaudível], com exceção das financeiras e administrativas. Essas são de uma Diretoria autônoma e especializada, que cuida das finanças e da organização da administração.

M – Quantas pessoas?

PCO – O Conselho Nacional consta de umas dez pessoas, cujo Presidente sou eu. E a Diretoria Administrativa Financeira consta de umas cinco ou seis pessoas. Eu poderia mandar o número exato pelo Prof. Brito, ou pelo C.

M – Tudo bem, agradeço. Agora acabou mesmo. Muito obrigada, prazer em conhecê-lo.

PCO – Muito gosto, passe bem.

Fotógrafo: Dr. Plinio, mais uma vez obrigado por tudo.

PCO – Passe bem!

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