Santo do Dia, 5 de maio de 1967
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Santo Ângelo [1185-1220], Carmelita e mártir, também conhecido como o Anjo da Sicília (pintura que se encontra no Museu do Prado, em Madri)
Hoje é festa de Santo Ângelo, Mártir [1185-1220]. Alguns dados de sua biografia:
“Carmelita, filho de judeus convertidos, combateu tenazmente as heresias. Em Roma, predisse a São Francisco os estigmas e foi por ele informado de seu próximo martírio. Foi um lindo encontro que houve em Roma entre São Domingos, São Francisco e Santo Ângelo, carmelita. Os três, quando se encontraram, se ajoelharam e, nessa ocasião, Santo Ângelo – tomado de uma inspiração divina – predisse a São Francisco que ele ia ser objeto de estigmas e São Francisco predisse a ele que seria martirizado.”
Entre santos, dizer que vai ser martirizado, é gentileza…
“Em Leocádia ele foi assassinado pelo Conde Berengário, no próprio púlpito onde o censurava por viver amancebado com sua própria irmã. Ferido de morte, expirava dizendo: “In manus tuas, Domine – Em vossas mãos, Senhor”. Século XIII.
* O milagre de Treviglio mostra como Nossa Senhora é, de fato, a Rainha dos Corações
O fato marial que nós devemos comentar hoje, uma vez que estamos no mês de maio, é a invocação de Nossa Senhora das Lágrimas em Treviglio, no ano de 1522.
Altar de Nossa Senhora em Treviglio (Itália). Foto de Roberto Bertogna – CC.
“Durante as guerras da Itália, em 1522, o general francês Lautrec, avançando sobre a cidade de Treviglio, que havia favorecido o imperador Carlos V da Alemanha, a ameaçou de destruir pelo fogo se não lhe fossem entregues os culpados. Enquanto ele se mantinha inflexível diante das súplicas do povo, os soldados irromperam gritando: “Milagre, milagre!” A Santíssima Virgem estava chorando na Igreja de Santo Agostinho.
“O general, trêmulo, se dirigiu para a igreja com seu Estado Maior.
“A Santíssima Virgem estava pintada na parede, no interior da igreja. Sentada, as mãos juntas, Ela contemplava o Menino Jesus sobre seus joelhos. O general viu as lágrimas correrem sobre os joelhos da Virgem, e tomado de um terror santo, coloca-se de joelhos para venerar a Rainha do Céu, que se fazia suplicante em favor de seu povo.
“Compreendendo o apelo à misericórdia, deixa a cidade, oferecendo a Virgem sua espada e vários troféus”.
Acima, o elmo e a espada que Lautrec deixou em reconhecimento à imagem de Nossa Senhora que chorara
É mais um lindo episódio que mostra a proteção materna de Nossa Senhora. Encanta aqui considerar a atitude do cavaleiro católico que, informado do caso, tem fé e vai à igreja. Presenciando o pranto da imagem, ele se ajoelha, perdoa a cidade e faz esse ato de um simbolismo maravilhoso: deixa sua espada com Nossa Senhora. Quer dizer, a espada com a qual ele ia fazer a dizimação, mas como esta não desejada por Nossa Senhora, ele Lha oferece.
É maravilhosa esta justaposição dessas duas imagens: Nossa Senhora cheia de misericórdia, tendo o Menino Jesus ao colo e o guerreiro feroz, abrandado por Ela, mas cioso e ufano de sua espada, a ponto de não encontrar nada de melhor para ofertar a Maria Santíssima… essa espada “domada”, colocada aos pés de Nossa Senhora, são lindas imagens do passado que nos devem dar a nostalgia das eras que foram a esperança do dia que virá, e estimular em nós a pressa do Reino de Maria.
Em outros termos: se Nossa Senhora por tal forma soube desarmar a sanha de um soldado inclemente, é porque Ela, de fato, domina os corações. Uma das bonitas invocações que fazem dEla é “Rainha dos Corações”. Mas a palavra “coração” não tem aí o sentido sentimental que se pensa, mas é o domínio das almas.
Nossa Senhora faz com que a vontade do homem corra para onde Ela deseja. Se é a Rainha dos Corações e sabe por essa forma desarmar os homens que Ela quer conter, então pode ser também Rainha de nossas almas. E nessa época de geral covardia, de geral medo, Ela pode nos dar a coragem que teve que abrandar em Lautrec. De maneira tal que Ela, pelo contrário, em vez de nos abrandar, nos dê aquela força indispensável para as lutas dEla, sempre legais e doutrinárias.
É aquela jaculatória lindíssima que pede isso e que às vezes rezamos aqui: “Dignare me laudare Te, Virgo Sacrata, da mihi virtutem contra hostes tuos – Senhora, dignai-Vos de fazer com que eu Vos louve; dai-me força contra os vossos adversários”. Da mihi virtutem contra hostes tuos, poderia ser a súplica para o dia de amanhã, já que estamos no mês de maio.
* A devoção do primeiro sábado
Agora, temos uma ficha a respeito do primeiro sábado do mês:
Em dez de dezembro de 1925, aparecendo à irmã Lucia, última sobrevivente dos pastorinhos de Fátima:
«Em seguida, disse a SS. Virgem: “Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.° sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.“» (Memórias da Irmã Lúcia I. 15.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010, p. 192).
Como essas palavras devem calar fundo em nossas almas: “Tu ao menos vê [trata] de me consolar“. Isso é o que Nossa Senhora diz a cada um de nós quando se prepara, com o silêncio e o recolhimento [“statio”], a cerimônia para a leitura e comentário dos recortes da semana. “Tu ao menos vê de me consolar. Pensa um pouco e consola-Me de tudo quanto ouviste de horrível sobre a marcha da Revolução, na reunião passada; e de tudo quanto ouvirás de horrível nessa reunião. Sê um filho consolador“.
E a melhor consolação que podemos oferecer a Nossa Senhora é o desejo de, por nossa luta, fazer cessar os ultrajes que os adversários proferem contra Ela.
“Pediu, então, Nossa Senhora a Comunhão reparadora dos primeiros sábados dos cinco meses”.
Quer dizer, a Comunhão feita para reparar os pecados que Ela sofre, que são lançados contra Ela e o Divino Filho dEla, prometendo a quem os fizesse nas condições indicadas a assistência na hora da morte com as graças necessárias para a salvação.
É preciosíssimo! Porque a graça, os senhores sabem que a graça da perseverança final é uma graça autônoma. A gente não pode dizer: “Eu a vida inteira perseverei, portanto, na hora da morte eu estou garantido que me salvarei”. Não, é preciso uma graça própria da hora da morte para nós passarmos para a eternidade. E então nós, também aqui, devemos considerar o valor dessa promessa. Nosso Senhor já fez análoga promessa em Paray-le-Monial para quem fizesse as nove primeiras sextas-feiras do mês.
Aí, Nossa Senhora faz uma promessa desse gênero para as pessoas que fazem os cinco primeiros sábados do mês.
Bem, então aqui, no primeiro sábado, são as seguintes as condições indicadas à irmã Lúcia, conforme os textos mais autorizados:
1º – no primeiro sábado de cinco meses seguidos, confessar, comungar, rezar um terço e, meditando nos quinze mistérios do Rosário, fazer quinze minutos de companhia a Nossa Senhora.
Quer dizer, de preferência numa igreja, naturalmente, mas não está dito aqui que tem que ser igreja. Fazer quinze minutos de companhia a Nossa Senhora e rezar o Rosário meditando nesses mistérios. Depois de ter confessado, enfim, comungar.
2º – Todos esses quatro atos devem ser realizados com a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria e reparar os ultrajes, sacrilégios e indiferenças cometidas contra ele.
Os senhores veem que Nossa Senhora não falou apenas à irmã Lúcia dos ultrajes e dos sacrilégios. Mas acrescentou as indiferenças, como um gênero de ofensas que são da mesma envergadura do ultraje e do sacrilégio.
Os senhores veem, portanto, a indiferença – sobretudo dos muito chamados – como pode ofender a Nossa Senhora, e quanto é razoável que se faça uma reparação especial pelas indiferenças de que Nossa Senhora possa ser objeto dentro dos movimentos que querem ser autenticamente católicos e contra-revolucionários.
3º – Todavia, quem tiver dificuldade de se confessar no primeiro sábado, pode fazê-lo em qualquer outro dia, ainda que fora da oitava, contanto que ao confessar tenha a intenção aludida.
Quer dizer, a pessoa que não pode se confessar no primeiro sábado, desde que se confesse com a intenção de cumprir essa exigência, lucra a indulgência.
4º – Por fim, se essa for esquecida na primeira confissão, poder-se-á formulá-la na seguinte, aproveitando a primeira ocasião para se confessar.
Quer dizer, se a pessoa esqueceu, ainda vale uma segunda confissão, um como que “exame de segunda época” [utilizado, naquela época, nos colégios no Brasil, n.d.c.].
Então, a irmã Lúcia escreveu a esse respeito uma carta à sua mãe, ensinando-lhe essa devoção. A carta diz o seguinte:
“Por isso eu queria que a mãe, com generosidade, oferecesse à Santíssima Virgem um ato de reparação pelas ofensas que Ela recebe de seus filhos ingratos, a minha ausência. Queria também que a mãe me desse a consolação de abraçar uma devoção que sei que é do agrado de Deus e que foi nossa querida Mãe do Céu quem a pediu. Logo que tive conhecimento dela desejei abraçá-la e fazer com que todos mais abraçassem.
“Espero, portanto, que a mãe me responderá a dizer que o faz e vai procurar com que todas essas pessoas que aí vão o abracem também. Nunca poderá dar-me consolação maior do que essa. Conta só em fazer o que vai escrito nesse santinho: a confissão pode ser noutro dia e os quinze minutos é o que parece que lhe vai fazer mais confusão, mas é muito fácil. Quem não pode pensar nos mistérios do Rosário, na Anunciação do Anjo, na humildade de nossa querida Mãe, que ao ver-se tão exaltada chama-se escrava? Na Paixão de Jesus no Calvário? Quem não pode assim, nesses santos pensamentos, passar quinze minutos junto da mais terna das Mães?
Essa é a reflexão, o comentário que a irmã Lúcia, ela mesma faz num documento autógrafo, a respeito dessa devoção.