Santo do Dia, 14 de julho de 1973
Nós acabávamos de fazer uma campanha – eu não me lembro mais sobre o que -, D. Sigaud estava em São Paulo e neste tempo já estava vacilando, e me disse: “Olha, eu quero pedir a você um favor. O Cardeal (Agnelo) Rossi (arcebispo de São Paulo), sucessor de D. Carlos Carmelo (de Vasconcelos Motta), quer falar com você. Ele quer ter um encontro estando presente eu e também o secretário geral da CNBB, que é o Bispo D. (Ivo) Lorscheiter. Eles querem conversar sobre a TFP. Agora, eu quero pedir a você um favor: você seja franco como você quiser, mas você seja muito amável. Eu posso ter a certeza de que você será muito amável?”
Eu disse: “Vossa Excelência me conhece há tanto tempo; nem compreendo a razão de sua incerteza. Pode estar certo de que serei as duas coisas: franco e amável“.
Eu cheguei ao Palácio São Luís (foto acima), estavam estas pessoas numa saleta, me acolheram muito amavelmente, a conversa começou imediatamente sobre a TFP.
Então eles se manifestaram queixosos porque a TFP tinha feito uma campanha, e eles tinham falado contra nós, nós tínhamos respondido com muita energia, naturalmente em legítima defesa etc.
No meio da conversa, veio uma história: se eu não podia assumir o compromisso de avisar a eles em cada campanha nova que nós fizéssemos, consultar a eles para ver se a campanha estava bem ou não.
Eu disse: “De nenhum modo. Nós somos uma sociedade cívica e fazemos as nossas campanhas. Se Vossas Eminências tiverem alguma coisa para dizer, digam. Eu tomo em consideração com toda atenção, mas uma sociedade cívica tem sua autonomia, não posso pedir licença para fazer uma campanha”.
E acrescentei: “Eu posso fazer outra coisa. VV. Emcias. me escrevam uma carta indicando no que é que não estão satisfeitos e vamos iniciar um diálogo por escrito. A partir do momento que eu receber esta carta, eu assumo o compromisso. Eu não faço nenhuma campanha sem avisá-los antes. Consultar não, mas avisar, sim”.
“Está muito bem”, responderam.
Nunca chegou a carta. Quer dizer, a coisa caiu.
Na saída, eu desci com D. Sigaud e vim no automóvel. Voltei-me para D. Sigaud e disse: “D. Sigaud, eu fui amável ou não?”
Ele disse: “Amável você foi muito, mas muito inflexível”.
Eu disse: “Vossa Excelência pediu franqueza. Franqueza é inflexibilidade, eu não podia flexionar-me evidentemente“…
Nota: Para aprofundar o relacionamento de D. Agnelo Rossi com a TFP, consulte a obra “Minha Vida Pública”, 2015, Parte IX, págs. 525 a 527.