“Eis o Coração que tanto amou os homens e por eles foi tão pouco amado”

Santo do Dia, 4 de julho de 1992

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

Sábado passado tivemos um apagamento de luz elétrica que interrompeu a nossa reunião, o que eu espero que não se realize hoje, para nós podermos tratar do grande tema que tínhamos abordado no sábado passado que era a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Nós tínhamos começado por dar a ideia do que é um coração, o que significa o coração; o Sagrado Coração de Jesus.

* O que é que significa a devoção especial ao Sagrado Coração de Jesus?

Nosso Senhor Jesus Cristo, como Homem-Deus, tinha além de Sua natureza divina, a sua natureza humana completa e perfeita, e, portanto, tinha seu físico perfeito, e, portanto, tinha também um coração e um coração perfeito.

Mas o que é que significa esta adoração especial ao Sagrado Coração de Jesus? É uma adoração àquele órgão que é o coração, que pulsa e que distribui o sangue para todo organismo? Mas o que é que significa a adoração especial de um órgão?

Na Igreja Católica tudo é muito razoável, é muito pensado e muito acertadamente pensado. E perguntas dessa natureza, o pensamento da Igreja não as deixa no vago, Ela as define perfeitamente para que os fiéis compreendam bem do que é que se trata e o que é que eles estão adorando e porque é que estão adorando. Porque está na índole da Igreja, Mestra perfeita, que dá um ensino perfeito, explicar inteiramente aquilo que Ela faz e aquilo que Ela ensina.

Então é com verdadeiro respeito, como um homem que entra num palácio maravilhoso, que nós entramos nessas doutrinas da Igreja e vamos aprendendo o que significam para nós etc.

E depois de ter esclarecido este ponto preliminar que eu acabo de dar aos senhores, eu comecei a dizer o que é que é o coração.

* O coração é símbolo da mentalidade, da psicologia de Nosso Senhor Jesus Cristo

O coração não é apenas essa víscera que figura no peito e que tem essa função fisiológica que todos conhecem, mas ele é também um símbolo. Ele um símbolo do quê?

É o símbolo daquilo que nós poderíamos chamar a mentalidade, a psicologia de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nós poderíamos chamar, portanto, [aquilo] o que a Sua vontade adere, e que forma um só com Sua vontade divina, e sua vontade humana. Aquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo adere, porque Ele quer aquilo, Ele vive, Ele existe para aquilo enquanto Homem, na sua natureza humana, isto é simbolizado pelo coração que ele tem no seu peito.

* Nosso Senhor quis apresentar Seu Coração representando todo o amor dEle por nós, todo o sacrifício que Ele fez para sermos resgatados e sermos salvos

Lindo símbolo, porque o coração foi representado pelos artistas do tempo em que Nosso Senhor apareceu à Santa Margarida Maria no modo bonito como Ele costuma ser apresentado hoje em dia: vermelho, rubro, incandescente. E depois como Nosso Senhor quis que o Seu coração fosse mostrado, quer dizer, tendo no alto uma chama para indicar que Ele ardia continuamente de um amor enorme e intensíssimo, e no centro dessa chama encontrando-se uma cruz que representava o Lenho sublime no qual Ele se imolou por nós. Representava, portanto, todo o amor dEle por nós, todo o sacrifício que Ele fez para nós sermos resgatados e sermos salvos.

Nosso Senhor Jesus Cristo por esta forma queria que nós tivéssemos em vista todo o imenso amor dEle por nós, e que o amor dEle a nós nos tocasse e que tocando-nos, esse amor nos modificasse.

A gente compreende que isto possa ser assim, porque um grande ato de bondade pode tocar as pessoas as mais endurecidas, as mais terríveis, e por esta forma podem se obter as conversões as mais brilhantes.

* Uma caso imaginário que procura mostrar até que extremo pode chegar o amor materno

Um escritor francês do século passado, que era um mal escritor, um homem de má doutrina, uma vez figurou um caso que vem a propósito lembrar.

Ele figurou a hipótese – o fato não existiu – a hipótese de que uma mãe [que] era viúva, morava numa casinha com o filho. O filho casou-se e mudou para outra casa para morar com a esposa, e deixou na primitiva casa a mãe. A mãe morava ali sozinha, mas conformada, bem, e sempre com grande amor ao filho. E a nora dela, esposa desse filho, tinha um ódio à sogra e cada vez mais impeliu o filho a fazer brutalidades e estupidezes com a sogra., etc., para cevar o ódio que ela tinha contra a sogra.

Mas depois de ter conseguido desse péssimo filho, toda espécie de brutalidade contra a mãe, ela resolveu que ele deveria matar a mãe. E em certo momento ela disse isto: “eu exijo que você vá agora para a casa de sua mãe, e mate a sua mãe. Mas eu não quero que você me venha com lorotas depois, e dizer que matou e não matou. Vou ver no dia seguinte, em vez de sair o enterro dela, ela está dormindo em casa. Você, portanto, me traga num pedaço de papel, embrulhado, o coração de sua mãe.”

O homem foi lá, matou a mãe, pegou no coração e foi levar para a mulher ver. E durante o caminho, ele levou um tombo, caiu no chão, e o coração da mãe bateu no chão também, e ele ouviu o coração perguntar: “meu filho, você se teria machucado?”

É uma pergunta de uma ternura extrema, uma ternura inimaginável. O coração da mulher assassinada pelo filho, uma coisa monstruosíssima, o coração dessa mulher assassinada pelo filho perguntava ao filho: “você se teria machucado?” Quer dizer, ela que era assassinada não guardava ressentimento, e chegou a levar essas coisas ao ponto de perguntar a ele com solicitude, se ele estaria machucado.

O conto termina aí. Mas deixa entrever o remorso sem nome que invadiu esse homem e que o levou naturalmente a mudar de vida etc. Ou deixa entrever o contrário, a dureza do homem que pode ter dado um pontapé no coração e jogado longe. Porque qualquer das duas coisas pode resultar deste ato de bondade extrema, desse ato de bondade tão tocante.

Se o sujeito se deixar tocar e, a bem dizer, delira de arrependimento, a conduta é uma. Se ele, pelo contrário, não se incomoda, e mete um pontapé no coração da mãe, o caminho dele é outro. É um caminho que vai para o inferno no segundo caso, quando seria um caminho que poderia conduzir ao Céu, no primeiro caso.

* Um conto que tem um conteúdo moral, mas não tem conteúdo religioso, podemos aplicá-lo ao Sagrado Coração de Jesus

Bem, isto que é um conto que tem um conteúdo moral, mas não tem conteúdo religioso, nós podemos aplicá-lo ao Sagrado Coração de Jesus.

Quer dizer, Nosso Senhor Jesus Cristo nos amou tanto que se nós tivéssemos cometido o crime sem nome de arrancar-Lhe o coração depois de crucificado, e tivéssemos caído carregando o coração, tivéssemos pecado carregando o coração, Ele nos perguntaria:

“Meu filho, você se machucou?”…

Este é o amor dEle a cada homem. É o amor, portanto, a cada um de nós, é a bondade com que Ele considera a cada um de nós.

Quer dizer, concretamente isso se passa assim. Nosso Senhor Jesus Cristo nos criou, Ele nos resgatou pela sua morte infinitamente preciosa, sofreu tudo quanto sofreu para que cada um de nós fosse resgatado, de maneira que Ele que conhecia como Homem-Deus, todos os homens que haveriam de nascer e, enquanto conhecendo esses homens, amava-os com todo coração e lhes desejava a salvação, se um homem pecasse contra Ele de um pecado gravíssimo, ele vendo esse pecado, Ele diria: “meu filho, você mediu o mal que você fez? Eu quero para você o Céu e não o inferno. Estou praticando um milagre para que você se reabilite”.

Até esse ponto extremo chega a bondade do Sagrado Coração de Jesus para com cada um de nós.

Então, representam o Sagrado Coração de Jesus na sua bondade infinita, no seu amor infinito, e em todos os outros aspectos de seu coração, quer dizer, de sua alma, de sua psicologia, de sua vontade, que são narrados na ladainha do Sagrado Coração de Jesus, que nós podermos depois, talvez mesmo na reunião que vem, comentar cada uma daquelas invocações e assim entendermos bem como é o Sagrado Coração de Jesus.

* “Coração de Jesus, de Majestade infinita, tende piedade de nós”

Há uma dessas invocações que a mim me toca especialmente. Depois de considerar a bondade dEle, a humildade dEle, é “Coração de Jesus, de Majestade infinita, tende piedade de nós“.

Quer dizer, nós devemos imaginar Nosso Senhor, num momento desgraçado em que algum pecador peque, em que um de nós peque, nós termos ofendido a Ele e Ele aparecer para nós cheio de bondade e dizendo: “Meu filho, por que me fizeste isto? Que mal te fiz eu para que tu fizeste isto contra mim?”

E depois, deixar aparecer uma majestade diante de nós, uma grandeza! uma realeza! uma superioridade! diante da qual nós nos sentíssemos pequeninos, mas pequeninos a tal ponto pequeninos, que um micróbio nos pareceria gigante em comparação com o que seríamos nós.

E ver desse Coração tão infinitamente maior do que nós, e em relação ao qual nós somos tão indignamente pequenos, brotar dali uma fonte inesgotável de bondade, de misericórdia, de ternura que nos inundasse e quebrasse o nosso pecado, quebrasse a nossa maldade, nós compreendêssemos o mal que fizemos e pedíssemos misericórdia e perdão.

Era o perdão ao gênero humano de tudo quanto os homens têm feito contra Ele, que Ele convocava desse modo, por meio de Santa Margarida Maria Alacoque, pedindo que ela desse a conhecer esta devoção à toda Igreja Católica. Naturalmente, pelas superioras dela – ela era religiosa –, depois pelas autoridades eclesiásticas etc., de maneira que o mundo inteiro viesse a conhecer essa devoção e tivesse para com Nosso Senhor Jesus Cristo uma atitude parecida com aquele homem que carregava o coração da mãe que ele tinha cortado e que ele tinha levado consigo para aquele mulher infame.

Esta é a ideia. E então nos comover com a manifestação de sua bondade, mas comover até o fundo de nossa alma, a tal ponto que depois de nós termos pecado, considerando a bondade dEle, nós não quiséssemos outra coisa senão arrependermos de nossos pecados, expiar os nossos pecados, expiar duramente os nossos pecados, para amá-Lo cada vez mais, e assim num incêndio de amor, nós por assim dizer nos consumirmos em holocausto a Ele. Nós estarmos disposto, por exemplo, a oferecer o martírio, a oferecer a nossa vida, oferecer de aceitar as dores mais pungentes, de aceitar de sermos caluniados, de sermos espezinhados etc., etc., para a nossa dor assim sofrida por amor a Ele ser uma manifestação pequena do agradecimento enorme que nós devemos a Ele pela bondade dEle.

* A bondade infinita do Sagrado Coração de Jesus pode ser medida e auscultada em todos os episódios da vida dEle

Esta bondade infinita do Sagrado Coração de Jesus pode naturalmente ser medida e auscultada em todos os episódios da vida dEle. Por exemplo o que terá sofrido, como terá agido o Sagrado Coração de Jesus na cura dos morféticos?

Os senhores conhecem o episódio. Iam dez morféticos por uma estrada, formando um bando isolado de todo o mundo; porque parece que a lepra do tempo dEle era mais contagiosa do que a lepra dos homens hoje em dia. Hoje em dia, aliás, há meios ainda de curar a lepra, naquele tempo não tinha, ela parece que devorava mais rapidamente os homens e de outro lado contagiava ainda muito mais.

Então tinham […inaudível] horror à lepra. E por exemplo, na Idade Média os leprosos também andavam em bandos, porque todos evitavam de estar com eles, e eles, para não ficarem inteiramente sós, formavam bandos para conviverem uns com os outros. Mas quando um leproso estava em bando ou quando estava só, ele deveria ir tocando uma campainha bem alto para que todos fugissem dele para não tomarem a lepra. E se não fizesse isto, ele era expulso da cidade como um homem que estava atentando à saúde pública.

* Como seria a voz de Nosso Senhor?

Os senhores podem imaginar a cena lamentável por uma daquelas estradas mal feitas e poeirentas da Terra Santa, Nosso Senhor ir andando, admirável de santidade, de dignidade, de bondade, de beleza, de sabedoria, de tudo quanto é virtude possível levado a um grau inimaginável e com alguns apóstolos ou discípulos em torno dEle, devorando avidamente cada palavra que saísse de seus lábios divinos.

Os senhores podem imaginar o que era ouvir o timbre de voz de Nosso Senhor Jesus Cristo! Infelizmente não se guardou documentos disso. Sabe-se como Ele era, se não se soubesse, o sagrado sudário de Turim o mostraria como a fotografia que se tem dEle no Santo Sepulcro à espera da ressurreição.

Ali aparece Ele perfeitamente. Os senhores conhecem esse milagre e não vou contar agora, aqui, aos senhores. Mas não se conhece a voz dEle. Olhando para aquele tecido e vendo a figura de Nosso Senhor, eu já me tenho perguntado várias vezes: se esses olhos olhassem, que expressão teriam?

Mas é curioso, os olhos estão fechados, e os judeus antigos, por algum costume que com certeza se relacionava com algum fato bíblico, depois que a pessoa tinha morrido, eles punham uma moedinha entre a pálpebra e os olhos, de maneira que havia uma moedinha imperceptível em cada olho. E deveria haver, portanto, nos olhos divinos de Nosso Senhor, porque eles seguiram exatamente o ritual dos judeus em matéria funerária. Por ordens de Nossa Senhora, os apóstolos, os discípulos que prepararam o corpo de Nosso Senhor para a sepultura fizeram exatamente como se mandava fazer naquele tempo, segundo as prescrições da bíblia.

Pois bem, apesar de se saber que entre aquelas pálpebras e aqueles olhos havia essa moedinha, a gente tem a impressão que aqueles olhos fechados olham, que aqueles olham fechados veem. É uma coisa simplesmente admirável. E isso dá uma compulsão e uma adoração verdadeiramente extraordinária.

Até nos olhos fechados de Nosso Senhor, a gente pode adivinhar o olhar. Mas nos seus lábios cerrados não saem timbre de voz nenhuma, e nós não sabemos como foi o timbre de voz de Nosso Senhor. E talvez, o primeiro timbre de voz [dEle] que nós ouviremos será por ocasião de nossa ressurreição, porque quando todos os homens que têm que morrer estiverem mortos, e só sobrarem no fim do mundo, na Terra, apenas alguns justos que sofreram tanto, tanto, que por desígnio de Nosso Senhor eles não terão que morrer, eles passarão diretamente para o Céu, uma voz se fará ouvir.

E os intérpretes discutem se essa voz será a de um Anjo, ou se será a própria voz de Nosso Senhor que se fará ouvir por toda Terra dando ordem aos mortos que ressuscitem e então a matéria que constituiu cada corpo, se reúne nas sepulturas, as sepulturas se racham, os corpos aparecem reconstituídos e os homens vivos, porque atenderam a voz de Nosso Senhor que mandou os justos e os pecadores despertarem. Os justos para irem com os seus corpos para o Céu onde já estão as almas. Reúnem-se os corpos às almas na ocasião da ressurreição. E os pecadores para irem para o inferno por toda eternidade.

Nesta ocasião, todos nós ouviremos essa voz que nos mandará ressuscitar, e nesta ocasião nós ouviremos a voz talvez dEle. Que coisa extraordinária ouvir a voz de Nosso Senhor!

Pelas vastidões de um mundo completamente liquidado, onde apenas, num canto, aqueles beneméritos, varões justos do fim do mundo, ajoelhados e ouvindo a voz de Nosso Senhor. Que suprema recompensa! A vida terrena deles está para terminar sem morte porque eles estão para serem levados ao Céu, e ouvem a voz de Nosso Senhor.

Se a voz é uma das expressões da alma, como será a voz de Nosso Senhor?! Que coisa maravilhosa a voz de Nosso Senhor.

* Nosso Senhor cura dez leprosos

Os apóstolos e os discípulos, na vida terrena de Nosso Senhor, ouviram essa voz a todos os instantes, a todos os momentos, e bem entendido tocadíssimos. Eles ouviam de longe, talvez um sino, talvez uma matraca – eu acho que os senhores sabem o que é uma matraca, é um pedaço de pau e depois pregado nisso um metal e o metal bate no pau e faz um barulho, plec! plec! plec! lúgubre. Então, talvez uma matraca, qualquer outra coisa, faz conhecer aos apóstolos que lá vêm os leprosos.

Nosso Senhor já sabia tudo, não precisava da matraca para saber, mas para os que O acompanhavam eles souberam através disso. E estavam ainda principiantes, quer dizer, eles ainda estavam antes de morte de Nosso Senhor, em que eles fizeram coisas bonitas – antes da morte – mas também por ocasião da morte, não cumpriram, muitos deles, o seu dever etc.

Então, talvez, é possível, portanto, que alguns tenham dito a Ele: “Senhor, vamos nos afastar desses miseráveis porque nós podemos tomar a doença deles”. E Nosso Senhor disse: “não, nós vamos nos aproximar deles”.

Horror! Mas uma palavra saída dos lábios de Nosso Senhor era uma ordem. Eles se aproximaram e apesar do horror, Nosso Senhor perguntou a eles: “o que quereis?”

Eles devem ter dito: “Senhor, que Vós nos cureis!”

Naquele instante, e num minuto, aquela doença horrorosa desapareceu, a pele deles apareceu branca, límpida, sadia, como se estivesse saído de um banho, o mal cheiro desapareceu, todos eles estavam curados.

Os senhores podem imaginar no Sagrado Coração de Jesus o desenrolar-se desses fatos? Ele que sabia que Ele ia curar aqueles homens, Ele amava aqueles homens, causava-lhe dor saber que aqueles homens estavam sofrendo tanto, era desígnio de Deus, mas Deus que tem o desígnio de que alguns adoeçam, tem o desígnio de que outros curem, e o coração dEle teve tristeza por aquela doença, mas alegria na antevisão da cura que ia lhes dar.

Chegando, olharam-se. Olhando, Nosso Senhor os olhou com bondade. A esses miseráveis de quem todo o mundo fugia, de quem todo o mundo tinha horror, Nosso Senhor olhou com bondade querendo se aproximar deles. Aproximou-se, Ele, a soberana beleza, a soberana perfeição, olhando para o soberano horror da pior de todas as doenças.

Os leprosos pedem a cura, e o Coração de Nosso Senhor exulta, dá ordem e eles saram. O Coração dEle festivamente bimbalha como se fosse um sino, de alegria pelo que acaba de acontecer.

E depois o que aconteceu? Qual seria o natural?

* Depois de curados, o normal seria que os leprosos pedissem para seguirem a Nosso Senhor até morrerem

É que todos eles se prostrassem no chão e agradecessem a Ele. Não! Seria natural que todos quisessem permanecer no serviço dEle, e que o segundo pedido fosse: “Senhor, não permitais que nós nos separemos de Vós. Depois de tão grande bondade, tolerai que nós fiquemos convosco até o fim de nossas vidas, porque nossa vida nos foi dada por Vós, nosso criador, mas foi, por assim dizer, restaurada por Vós, nosso Salvador. Então Senhor, nós não queremos mais nos distanciar de Vós, nossa vida sois Vós, e, portanto, permiti, Senhor, que nós sejamos colocados entre esses felizes que estão aí e que estão vos acompanhando.”

Pela narração do Evangelho não se passa nada disso. O Evangelho só conta que dias depois Nosso Senhor foi procurado por um deles que voltou para agradecer a cura.

Quer dizer, naturalmente já teria agradecido na presença de Nosso Senhor, mas era um coração elevado, nobre, tinha amor de Deus e por isso quis agradecer mais uma vez e procurou Nosso Senhor para agradecer.

* Só um dos leprosos voltou para agradecer. Nosso Senhor teve uma reflexão que denota a tristeza do coração dEle: “onde estão os outros nove?”…

Os senhores já pensaram a alegria do Sagrado Coração de Jesus vendo chegar aquele miserável, contente, satisfeito, perguntando: “O Senhor onde está? O Mestre onde está?” Chegando diante de Nosso Senhor inclinou-se, osculou-Lhe os pés: “Senhor, eu vos agradeço, etc. etc.”

Nosso Senhor teve uma reflexão que denota já agora a tristeza do coração dEle: “onde estão os outros nove? Éreis dez, um só veio me agradecer, onde estão os outros?”

E o outro ficou quieto. Tinham se dispersado pela vida, tinham esquecido de Nosso Senhor, e o coração de Nosso Senhor sofria por causa daquela ingratidão.

Os senhores estão vendo aí o papel do Sagrado Coração de Jesus. E como nós devemos considerar a analogia entre esses lances e a nossa própria vida.

Quantas vezes Nosso Senhor curou das lepras de nossas almas, [os] nossos pecados. Cada pecado mortal é uma lepra, e sempre que uma alma comete um pecado mortal, de si, mereceria cair morta naquele lugar. Entretanto, nesse auditório aqui, quantos terão cometido pecado mortal antes de se converterem e entrarem para a TFP? – Meu Deus!… – até depois de entrar para a TFP, isso não terá acontecido? Cada um ponha a mão na sua consciência e se examine. E pense que tristeza deu ao Sagrado Coração de Jesus.

* A agonia de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras

Ele está agonizando no Horto das Oliveiras, suando sangue na previsão do que Ele teria que sofrer por todos nós, e até pedindo ao Pai Eterno: “Pai, se for possível afaste de mim esse cálice, se não for possível, faça-se a Vossa vontade e não a minha”. Mas Ele vendo que estava se oferecendo por todos, estava se oferecendo por nós, Ele via cada um de nós aqui presente, e via os atos de virtude, mas via também os pecados, e sabia os que iriam para no inferno por ingratidão para com Ele, a tal ponto que Ele nos gemidos dEle chegou a dizer: “Quae utilitas in sanguine meo? [Qual a utilidade de Meu sangue?] Com tantos que se perdem, qual é a utilidade do meu sangue?

No entanto quando os algozes se aproximaram dEle, Ele se levantou… Ele tinha bebido o líquido que o Anjo levou, Ele estava dominado por uma força extraordinária, Ele caminhou em relação àqueles homens com quem caminha para a própria cruz. E Nosso Senhor lhes perguntou: “Quam quaeritis? – “A quem estão querendo?”

E eles responderam assim em grupo: “A Jesus de Nazaré.”

E depois então Nosso Senhor disse: “Sou eu!” E aí Ele foi preso. Mas quando Ele disse “Sou Eu”, na bondade dEle que estava se entregando para salvar aqueles que O estavam prendendo também, a cada um dos que O prendia, Ela amava no momento que estava sendo preso. Mas a majestade dEle era tanta, que quando Ele disse: “Quem quereis?”, e eles responderam “Jesus de Nazaré”, e Nosso Senhor disse: “Sou eu!”, Ele disse com tanta majestade que todos caíram com rosto em terra. Pan! A grandeza!

Como é agradável ao homem o contato com a Grandeza, com a Grandeza absoluta, com a Grandeza eterna, com a Grandeza em comparação da qual o maior dos homens que se possa imaginar, por exemplo, Carlos Magno, não é senão uma pulga! Adorar essa Grandeza, ver essa Grandeza deveria equivaler a se converter diante dessa grandeza. Não…

E nós podemos imaginar, Nosso Senhor, no momento em que Ele chegou ao alto do calvário, extenuado, flagelado, vendo a Mãe dEle como estava sofrendo pela situação dEle, e isso O fazia sofrer infinitamente.

* Os sofrimentos de uma pessoa que é crucificada

Afinal tiram a cruz das costas dEle, atiram no chão: “Deite-se aí!”

E Ele se deitou sobre aquela cruz como sobre uma cama. Mas Ele com certeza estava de tal maneira lacerado, que o contato de qualquer ponto do corpo dEle com a cruz, deveria doer a Ele. Ele se deitou sobre aquela cama de dores, que era a cruz e começou a pancadaria: fura a mão, fura a outra mão, fura os dois pés, depois levanta a cruz e começa desde logo o mais terrível das dores.

É que a pessoa que está suspensa na cruz, está suspensa pelas mãos e pelos pés. Quando ela se apoia nas mãos, sente uma dor medonha nas mãos e tem um pequeno alívio nos pés, e quando ela apavorada pela dor nas mãos, ela se apoia nos pés para liberar um pouco a mão, alivia a mão. Quando ela se apoia um pouco na mão para liberar os pés a dor aumenta na mão. Ora na mão, ora no pé; ora no pé, ora na mão, aquilo dói, dói, dói, e o sangue continuar a correr, correr, a hemorragia vai depauperando o corpo inteiro, vai faltando ar. É uma das coisas piores que há, é exatamente a asfixia. A asfixia vai tomando conta dEle, a febre, por causa das reações do corpo, vai tomando conta dEle, e em cada vez os sofrimentos são maiores e mais terríveis.

E em todo momento Ele está se lembrando de todos os homens, tem todos em vista e está oferecendo por todos! É a grandeza infinita do Sagrado Coração de Jesus.

A bondade infinita e a grandeza infinita do Sagrado Coração de Jesus.

Se alguém aqui – que Deus não permita, que as lágrimas de Maria e suas preces de intercessora onipotente impeçam isso – se alguém aqui pecar, não se esqueça de que Nosso Senhor naquele transe medonho, Nosso Senhor teve pena deste pecador e que ofereceu todas as suas dores por ele, e obteve que a alma dele fosse tocada pela graça, que ele pedisse perdão e que ele fosse salvo.

* Os dois ladrões, que foram crucificados junto com Nosso Senhor, simbolizam os dois tipos de alma humana

Exemplo disso é o que aconteceu com os dois ladrões. Simbolizam os dois tipos de alma humana. Uns são bons, e tocados diante da inocência de Nosso Senhor, fazem como o Bom Ladrão, eles se arrependem e pedem perdão. Outros, pelo contrário, revoltados pelo que eles sofriam, blasfemavam contra Nosso Senhor. A tal ponto que o Bom Ladrão disse ao mau: “Por que blasfemas contra Ele? Nós dois somos ladrões, nós merecemos o castigo que estamos sofrendo. Ele é inocente.”

E Nosso Senhor disse ao Bom Ladrão: “Tu, hoje, comigo estarás no Paraíso.” Era o ladrão perdoado. Era o primeiro grande perdão que se anunciava para os homens, começo de uma sucessão de perdões que só teria fim no fim do mundo, quando o último pecador, antes de morrer, ainda peça perdão e Ele dê a última absolvição através do padre, representante dEle, que dá absolvição aos pecadores arrependidos.

E pensando na imensidade desse amor então os pecadores se converteram, e o Bom Ladrão, naquele dia estava com Nosso Senhor no Paraíso. Quer dizer, é uma coisa assombrosa.

* “Eis o Coração que tanto amou os homens e por eles foi tão pouco amado”

Isto tudo, meus caros, nos deve levar a rever as nossas vidas. A pedir perdão pelos pecados de que nós não nos arrependemos suficientemente, pedir que Nossa Senhora nos proteja para evitar outros pecados, pensando sempre na bondade infinita dEle, e na frase dEle à Santa Margarida Maria.

Numa das vezes que Ele apareceu, Ele apareceu com o peito aberto, com o coração pulsando de amor pelos homens, e disse: “Eis aí este coração que tanto amou os homens e por eles foi tão pouco amado”.

Que nós não sejamos dos que amaram pouco, mas que nós estejamos entre os que amaram muito. Amaram tanto que renunciaram a tudo para segui-Lo. Amaram tanto que sofreram tudo para segui-Lo. Amaram tanto que por assim dizer estavam prontos a arrebentar de amor para segui-Lo.

Que Nossa Senhora, Mãe de misericórdia, Canal de todas as graças dEle, que Nossa Senhora nos obtenha dEle esta graça, é o que nós vamos pedir na Salve Regina que nós vamos rezar daqui a pouco, por nós, por todos que pertencem às TFPs, por todos que foram das TFPs, mas que Nossa Senhora ainda pode tocar e chamar a si, todos aqueles que ainda entrarão para as TFPs, tudo aquilo, para todos os homens da Terra, justos e injustos, que o Sagrado Coração de Jesus, a pedido de Nossa Senhora, palpite e salve aqueles que disserem sim para Ele, e que de nossos lábios, na Salve Rainha que rezarmos, um enorme sim suba até Ele dizendo: “nós aceitamos, Senhor, o vosso perdão que nós não mereceríamos, fazei-nos agora, dignos dele”.

Com isso podemos encerrar essa noite.

Salve Regina…

Nota: Para consultar a vasta coletânea de documentos de autoria do Prof. Plinio a respeito de tão sublime tema, clique aqui.

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