Plinio Corrêa de Oliveira
A maioria dos leitores não conhece um dos atuais bispos auxiliares de d. Jayme, d. José de Castro Pinto, e como, por dever de legítima defesa, dele me ocuparei no presente artigo, é preciso que – à guisa de apresentação – diga sobre S. Exa. o que sei. É pouco, mas os leitores verão que diz muito.
Ao lado do pe. Adamo, o prelado atuou em vários episódios da crise universitária. Este é um dado. Outro, bem diverso, e que vem diretamente ao caso deste artigo é o seguinte: s. exa. publicou, há pouco mais de um ano, um artigo sobre o protestantismo e o ecumenismo, que causou estranheza (cf. “Jornal do Brasil”, de 30-10-67). Destaco três trechos do trabalho. No primeiro, d. Castro Pinto admite que “muitos dos valores espirituais” do cristianismo “possam ter-se desenvolvido melhor” na seita fundada pelo frade apóstata Martinho Lutero do que no grêmio bendito da Santa Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo. Reconheçamos que na pena de um bispo a afirmação desconcerta. Dessa afirmativa o prelado parte para outra também espantosa: “É exatamente reconhecendo isto que não mais falamos em conversão dos outros para nossa Igreja”. Assim, a Igreja fundada pelos Apóstolos já não faz apostolado. E, pouco adiante, S. Exa. repisa: “Se em muitas coisas a mensagem evangélica está lidimamente conservada na Igreja Católica, inclusive o conjunto da mensagem, muitas coisas foram melhor defendidas e conservadas fora”. Em outros termos, se alguém quiser conhecer em toda a sua extensão, plenitude e limpidez a doutrina dos Evangelhos, não lhe basta beber das águas cristalinas da Igreja. É preciso recorrer a Lutero, a Calvino, a Melanchton, a Zwinglio, a quanto heresiarca tem dilacerado a túnica de Cristo e perseguido seu Corpo Místico.
Convenhamos em que as frases que cito dão para caracterizar a mentalidade de um prelado, a lhe pintar, por assim dizer, o retrato. E de corpo inteiro.
O terceiro dado que possuo sobre d. Castro Pinto é que, quando estourou o “escândalo Comblin”, s. exa. saiu pela imprensa a externar sua simpatia e seu apreço pelo professor anticlerical e subversivo do Instituto Teológico de Recife. Este dado se coaduna perfeitamente com as frases de s. exa. que acabo de citar.
Pois a este prelado, que leva a tão extremos e inesperados limites o espírito de conciliação, alguns jornais atribuíram uma entrevista na qual ataca rudemente a TFP. Teria s. exa. afirmado que a TFP fala em nome da Igreja sem ter poderes para isto, e que, quando o faz, “apresenta sempre uma orientação diversa e contrária (sic) à posição assumida pela Igreja”. Escrevi então a d. Castro Pinto uma carta em que eu lhe pedia desmentisse a entrevista provavelmente apócrifa. E que, se não a pudesse desmentir, que citasse uma só prova de a TFP se haver inculcado como porta-voz da Igreja. Acrescentei que se a TFP, em suas atitudes, apresenta sempre um orientação “diversa e contrária” à da Igreja, então nossa vitoriosa campanha de um milhão de assinaturas contra o divórcio teria sido contrária à doutrina da Igreja. E perguntei: então a Igreja é divorcista? E concluí daí pela provável inautenticidade da entrevista.
Minha carta, irrepreensivelmente correta e cortês, foi publicada por vários jornais.
Ao contrário de Lutero, ou do pe. Comblin, não caí entretanto nas boas graças do bispo auxiliar. E por isto s. exa. dardejou contra a TFP e contra mim uma entrevista ácida e injuriosa, publicada em um vespertino paulistano. Vejo-me, pois, reduzido à legítima defesa. Nossa época não aprecia as polêmicas verbosas e difusas. Ela gosta do extremo oposto, isto é, das discussões rápidas, das notícias densas e pequenas como um comprimido, das histórias em quadrinhos. Imaginei, pois, responder a d. Castro Pinto usando o sistema de quadrinhos [por uma facilidade grafica, apresentamos o texto como segue abaixo, ndc].
- Castro Pinto:
- “Li (a carta do presidente da TFP) por cima, rapidamente, vi que não era nada de urgente ou importante. Ainda não tive tempo de ler outra vez para mandar a resposta”.
- D. Castro Pinto diz que não se lembra de ter dito aquilo (os seus ataques contra a TFP) alguma vez.
- A TFP “não tem importância alguma”.
- A TFP “tem muito dinheiro, é financiada por gente que tem interesse em criar uma falsa imagem da Igreja, uma imagem de divisão”.
- Na última reunião da CNBB, d. Castro Pinto foi um dos três bispos que formaram a comissão encarregada de estudar o caso da TFP.
- D. Castro Pinto afirmou que a decisão de ignorar a TFP foi tomada nessa reunião.
Plinio Corrêa de Oliveira:
- Então, a boa fama da TFP ou de quem quer que seja, é coisa sem importância para um pastor de almas?
- É desconcertante que alguém, com a responsabilidade de um bispo, não se lembre do que disse ou não disse. Ademais, ou d. Castro Pinto concorda com o que lhe foi atribuído, ou não. Se concorda, por que não confirma? Se discorda, por que não desmente?
- Não sei bem o que é preciso ser para que d. Castro Pinto lhe dê importância. Para um bispo, todo e qualquer homem deveria ter uma importância indizível, pois foi remido pelo Precioso Sangue de Cristo. Ó Jesus, que Vos afirmastes “manso e humilde de coração”, onde estais?
- Prove. Quem são esses bandidos endinheirados? Quais os seus nomes? Com que direito d. Castro Pinto me tacha de mercenário, quando desde a mais tenra juventude minha linha de pensamento e ação sempre foi esta que hoje tenho?
- É pena que um componente da comissão tenha o espírito tão preconcebido. Ademais, se a TFP é tão sem importância, por que formou a CNBB uma comissão para a estudar?
- Como é notório, a CNBB difundiu por toda a imprensa uma notícia fortemente contrária à TFP. Depois, resolveu que a TFP não tem importância. E sem ouvir a TFP, dá o caso por julgado e encerrado. Assim, quem “não tem importância” pode ser injuriado à vontade, sem ser ouvido?
Ademais, a TFP é tão sem importância? O pe. Comblin que o diga… Digam-no os adeptos do divórcio… E os fomentadores da reforma agrária socialista e confiscatória…