Natividade de Nossa Senhora: festa do início da derrubada do paganismo e simbologia para nossos dias

Santo do Dia, 8 de setembro de 1966

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Natividade da Virgem – Gradual de Santa Maria degli Angeli (Folio 148) – c. 1370

 

O que a Santa Igreja faz é imensamente sábio, pleno de tato. Considerem, por exemplo, o seguinte: o culto de latria ou adoração, a Igreja presta somente a Deus, portanto a Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o Verbo Encarnado. O culto de dulia, de veneração, de mediação, a Igreja presta aos santos. Mas a Nossa Senhora Ela presta um culto que nem é simplesmente o de dulia, nem é de nenhum modo o de latria, mas é o culto de hiperdulia, que é uma veneração como a nenhum outro santo se presta, sem nenhum paralelo, sem nenhum termo de comparação, de tal maneira Nossa Senhora está acima de todas as criaturas.

Excluindo a festa do Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo e o nascimento de São João Batista, a Natividade que a Igreja celebra em seu calendário litúrgico é a de Nossa Senhora. E, além disto, há inúmeras outras festas a Ela dedicadas, enquanto que para cada santo existe – em via de regra – uma festa no calendário e mais nada. Como também, em uma outra ordem de coisas, a Igreja permite e até estimula imagens dos santos, mas não permite que haja no mesmo altar mais de uma imagem do mesmo santo. Entretanto para Nossa Senhora, Ela permite que haja tanto no altar central como nos nichos ou altares laterais das igrejas outra imagem de Nossa Senhora.

Isto tudo para dar a entender que Nossa Senhora não tem termo de comparação nenhum, e introduzir este princípio teológico em mil realidades do calendário, da liturgia, da vida de piedade, com um tato e senso de proporções, que indica bem o espírito sapiencial da Igreja Católica e o oceano de sabedoria que nEla há.

Por que a Igreja festeja especialmente o santo natal de Nossa Senhora? Porque a Mãe de Deus foi tão grande que a data em que Ela entra no mundo, marca uma nova era na história do povo eleito.

Nós podemos dizer que a história do Antigo Testamento se divide –  sob este ponto de vista – em duas partes: antes e depois de Nossa Senhora. Porque se a história do Antigo Testamento é uma longa espera do Messias, esta espera tem dois aspectos: 1) o momento exato que não tinha chegado para a vinda do Messias, a Divina Providência estava portanto permitindo que esta espera se prolongasse pelos séculos dos séculos; 2) e depois o momento abençoado em que a Providência faz nascer Aquela que conseguirá que o Messias venha: Nossa Senhora.

Então, Sua vinda ao mundo é a chegada da criatura perfeita, da criatura que encontra plena graça diante de Deus, da única criatura cujas orações têm o mérito suficiente para acabar com esta espera, e fazer que, por fim, os rogos de toda a Humanidade, os sofrimentos de toda Humanidade, os padecimentos de todos os justos e a fidelidade de todos aqueles que tinham sido fiéis, consiga aquilo que sem Nossa Senhora não se teria obtido.

Houve os Patriarcas, os Profetas, houve inúmeras almas fiéis do povo eleito; deverá ter havido uma ou outra alma fiel em meio à gentilidade; houve sofrimentos ao longo dos séculos de espera do Messias. Mas nada disso foi suficiente para atrair a misericórdia divina e fazer chegar o momento da Redenção. Entretanto quando Deus quis, Ele fez nascer a criatura perfeita que haveria de conseguir isto. Então a entrada desta criatura perfeita no mundo dos vivos é o começo de Sua trajetória que durante todo o tempo atraiu bênçãos, atraiu graças, produziu santificação.

Já então todas as relações dos homens com Deus se modificaram, e começou então na porta do Céu, que estava trancada, como que a filtrar luzes e deixar filtrar esperanças de que ela seria aberta pelo Salvador que deveria vir. Isto tudo se deu desde o primeiro momento do nascimento de Nossa Senhora…

A presença dEla na terra era ocasião de graças insignes porque era a criatura mais contemplativa de todos os tempos, em relação a qual nenhuma outra contemplativa nem teve, tem ou terá paralelo. Ela possuía uma irradiação pessoal e uma ação de presença tão rica em bênção que era o prenúncio da vinda de Nosso Senhor.

E então a entrada desta bênção, a entrada desta graça, desta ação direta e pessoal na história do mundo é incomparável! E por causa disso, a Natividade de Nossa Senhora é uma festa que nos deve ser caríssima, é uma festa que nos deve falar muito, pois é a festa do início da derrubada do paganismo.

Nós poderíamos dizer que há alguma relação disto com a situação do mundo contemporâneo? Existe.

Na época presente há como que uma nova interferência de Nossa Senhora na história do mundo que atua nas trevas do neo-paganismo.

O fato de Nossa Senhora suscitar almas que já anseiam pelo Reino de Maria [1], que pedem a vinda do Reino de Maria, lutam para que o Reino de Maria venha, estas almas são – “mutatis mutandis”, ou seja, com todas as devidas adaptações e reservas – como que Nossa Senhora no Antigo Testamento. Ainda não veio o triunfo do Imaculado Coração de Maria, mas sim algo que é o prenúncio desse triunfo e que já começa a difundir  as suas graças, começa a determinar também movimentos entusiásticos de adesão. Isto é algo como uma Natividade que se repete e que prepara o  Reino de Maria, profetizado por Ela em Fátima.

Os senhores vêm, portanto, que esta data é da maior significação.  Oremos a Ela pedindo, pondo como fundamento na Sua Natividade, e assim como Ela veio à terra e imediatamente começou a pedir o advento do Messias e que acabasse aquele estado de coisas envolto pelo pecado, Ela nos dê um desejo ardente do Reino de Maria. Um desejo que nos arrebate por inteiro, um desejo sapiencial, refletido, ponderado, sério, profundo que não deixe em nossa alma apego a mais nada.

Esta seria, então, a nossa oração na noite de hoje.

Notas:

[1] – REINO DE MARIA – São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716) em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem prevê a implantação na Terra de uma era “em que almas respirarão Maria como o corpo respira o ar”, e em que inúmeras pessoas “tornar-se-ão cópias vivas de Maria” (Cap. VI, art. V). A essa era ele chama Reino de Maria. Essa profecia se entronca organicamente com a de Nossa Senhora em Fátima. Com efeito, depois de prever várias calamidades para o mundo, Ela afirmou: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. (DANIELE, LEO – O Universo é uma Catedral – Quarto Horizonte, nota [26]

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