Resumo das aulas anteriores
Nas últimas aulas fizemos a descrição das hierarquias dos Anjos.
Nessa descrição vimos propriamente que a hierarquia dos Anjos forma uma série de seres distintos entre si. É o primeiro ponto.
Em segundo lugar, esses seres não são apenas distintos, mas constituem uma escala de poderes, mantendo uma relação de mando entre si.
Em terceiro lugar, essa escala é regular de alto a baixo, quer dizer, obedece àquelas regras de harmonia já vistas.
Enfim, cada ser, em relação ao ser inferior, não tem apenas uma jurisdição que lhe foi delegada, mas uma jurisdição própria. Cada ser manda no ser que lhe é inferior por uma jurisdição, uma autoridade própria.
À vista disto concluímos que desde que Deus criou tantos seres desiguais, os relacionou entre si de um modo admirável. Em termos diferentes, uma vez que Deus fez uma escala de seres, essa escala está admiravelmente organizada.
Não teria sido mais perfeito para Deus criar um só ser? Ou criar seres iguais?
Contudo, surge outra pergunta: se Deus fez bem em fazer vários seres, se não poderia ter feito a criação com um ser só; se, fazendo esses vários seres, eles deveriam ser desiguais.
Temos aí toda a problemática englobada. Temos o problema da desigualdade tratado em todos os seus aspectos.
Se a escala de seres que Deus fez é excelente, devemos ainda demonstrar que Deus devia fazer mais de um ser, e que esses seres que Ele devia fazer não podiam ser iguais entre si, mas deviam ser desiguais entre si. Por esta forma, teríamos demonstrado a razão da desigualdade no mundo.
Depois de ter respondido a primeira, temos a outra: não teria sido melhor criar um só ser? A objeção que poderíamos fazer seria a seguinte: a unidade não é a perfeição? Uma vez que é a perfeição, não seria melhor termos uma criação constituída de um só ser, do que de vários seres? Uma vez que esses seres foram criados, não era melhor criá-los iguais?
Esta é a problemática que devemos tratar hoje.
A beleza da unidade e a da variedade
Começo dizendo que nos seres que existem aqui na terra pode-se considerar duas formas de excelência, ou duas formas de beleza, ou duas formas diversas de perfeição.
Há alguns seres que têm uma beleza própria e inerente a eles, e em que a unidade é, propriamente, a beleza daquilo. Há alguns outros seres em que a beleza não está na unidade, mas na variedade.
Exemplos de beleza da unidade
Quais os exemplos de seres em que a beleza pode ser vista na unidade?
Por exemplo, um monolito. Por exemplo, aquele obelisco que se encontra no centro da Praça de São Pedro. Tem ele uma forma elegante, mas a beleza daquilo está apenas em ser elegante? Imaginem que aquilo fosse quatro ou cinco pedras cortadas e colocadas uma sobre a outra, de maneira a dar aquela forma elegante. Não acharíamos que aquilo não teria mérito nenhum? Qual é a beleza do obelisco? A principal beleza dele é a de ser uma só pedra, e daquele tamanho. Portanto, é a unidade o elemento principal da beleza daquilo.
Eu me lembro que, em Campos, fomos visitar um velho solar, que talvez pertencesse à família Rocha Miranda, solar este hoje transformado em asilo. E vimos a sala de jantar desse solar. Eu creio que a sala, numa de suas dimensões, teria 12 metros ; na outra dimensão, 8 metros , mais ou menos. Olhando para o assoalho, vimos tábuas enormes, que percorriam a sala quase de ponta a ponta. As tábuas teriam cerca de meio metro de largura, por quase 10 metros de comprimento. Eram inteiriças. Todos veem que aquele chão tinha uma beleza, e essa beleza própria era a unidade. Podemos imaginar que aquelas tábuas fossem substituídas por nossos tacos de hoje. A majestade daquela unidade ficaria destruída.
Uma outra coisa em que a beleza está na unidade são as águas do Lago Lehman, na Suíça. São águas muito paradas, muito tranquilas, que nunca sofrem agitação, de um azul muito delicado e permanente, de uma placidez absoluta. Aquela unidade da superfície das águas, a invariável serenidade, aquela uniformidade constitui a beleza específica daquelas águas e daquele panorama.
Um outro exemplo são os panoramas do tipo de Copacabana, ou da Praia Grande. Todos deverão ter visto na Praia Grande a linha do horizonte. Aquilo apresenta uma unidade muito grande. Não se vê a ponta de uma ilha quebrando aquilo. Em certos pontos nem mesmo se vê a ponta de uma montanha que avance no mar e quebre o paralelismo daquelas duas linhas. A beleza específica daquilo é aquela grande unidade.
Também a beleza do Saara está nisto. É um areal que não acaba mais.
Outro ser onde se vê a beleza da unidade é o céu. O céu de São Paulo num dia de julho, às vezes, é continuamente azul, homogênea e maciçamente azul. É um azul igual a si mesmo em todos os pontos do horizonte. Digamos que isto é uma maravilha por causa da unidade que tem.
Outro exemplo seria o daquela água marinha a que se deu o […] nome de Marta Rocha. Consiste sua beleza em ser um grande bloco homogêneo, uniforme, de uma só cor muito bonita.
O mesmo se diz da beleza de uma pérola: se tiver algum caroço ou alguma mancha, não será bonita. A beleza da pérola está em sua uniformidade, é invariavelmente branca, de uma brancura perfeita em todos os seus pontos; sua esfericidade também não tem defeitos. Disto vem sua beleza.
Grandeza da unidade
Também o exemplo de um tecido, digamos o veludo que cobre esta mesa. Nota-se nele a beleza da unidade que a superfície apresenta. É uma excelência que vem da coisa por sua própria unidade.
Imaginemos agora que sobre este veludo se borde uma flor de ouro. Ele poderá até ficar mais bonito do que era antes sem a flor. Mas a beleza própria da unidade ele perdeu. Pode ter adquirido outra beleza, mas aquela própria à unidade e à simplicidade, ele perdeu.
Eu vi uma decoração do século XVIII no obelisco de São Pedro. Encheram o obelisco de cordéis de rosas, festões, guirlandas etc. Ficou até uma figura elegante, mas a beleza própria da unidade ele perdeu.
A unidade tem uma beleza que lhe é própria, e que pode até ser superada por outras formas de beleza, mas que qualquer enfeite ou modificação prejudica ou elimina.
Imaginemos agora que alguém quisesse fazer daquele obelisco uma coisa feérica, e recamasse todo ele com pedras preciosas. Ficaria coruscante de cores, ficaria talvez uma árvore de Natal sem galhos, mas com bonitos efeitos de luz. Mas desapareceria o aspecto de unidade. A majestade própria ao obelisco desapareceria.
Suponhamos agora que no asilo de Campos resolvessem serrar aquelas tábuas e substituir por um parquet lindo, formando desenhos. Pode ser que isso fosse mais bonito que as tábuas, pode ser que seja mais ornamental colocar o parquet. Mas a beleza própria à unidade daquelas tábuas teria desaparecido. Não estou comparando uma forma de beleza com outra, mas estou mostrando que a beleza da unidade tem algo que lhe é próprio, e é uma beleza que não se confunde com outras formas de beleza.
Este fato se traduz também na decoração. É por isto que encontramos, às vezes, certos seres que precisam de uma apresentação muito cuidadosa e muito simples.
Suponha-se que sou um joalheiro e que tenha um lindo brilhante para expor na vitrine. Como deveria expô-lo? Ficaria bem colocá-lo numa caixa de brocado todo trabalhado? Seria bonito colocá-lo numa multidão feérica de joias? Para fazer sobressair bem a simplicidade do brilhante, seria o melhor arranjar um bonito veludo de fundo, nesse veludo uma caixa também muito simples, e colocá-lo sozinho em toda a vitrine. Esta apresentação realçaria a beleza desse diamante único, que é toda feita de simplicidade.
Imaginem agora que eu tomasse, por exemplo, a Vênus de Milo, toda ela muito simples, e, para torná-la mais bonita, eu a vestisse com um desses vestidos ultra drapeados das imagens dos séculos XVI e XVII. Aqueles panejamentos serviriam para a estátua? Não, porque há um princípio de simplicidade que seria prejudicado pelos muitos enfeites.
Quais são as notas que poderíamos mostrar nessa simplicidade? A unidade acentua muito a grandeza, põe em evidência a homogeneidade da substância, regularidade da forma e beleza do aspecto.
Aplicação às formas de governo e à Santa Igreja
Isto se reflete no modo pelo qual consideramos as formas de governo.
Digamos, certas formas de governo cujo bem é a unidade. Por exemplo, a monarquia absoluta. Realmente, a beleza própria a essa forma de governo é aquele poder sem contraste do rei dentro do Estado, que se exerce sobre todo o Estado, e que é, a bem dizer, o enfeite central do Estado. É uma excelência própria àquela forma de governo.
Há certas formas de unidade assim que têm uma majestade inconfundível. Por exemplo, a unidade do rito latino na Igreja Católica. A Igreja Católica tem, ao mesmo tempo, a unidade na variedade; tem Ela os ritos orientais, mas esses ritos, ao mesmo tempo que dão à Igreja uma grande variedade, não prejudicam a grande unidade harmoniosa do rito latino.
Temos então, bem configurada, a beleza inerente à unidade.
A beleza da variedade
Ao lado disso, contudo, temos outra forma de beleza, que é inerente à variedade.
Por exemplo, o oposto do monolito: o mosaico. Se diante de um mosaico, alguém me sugerisse cobrir todas as pedrinhas e pintar por cima um quadro, eu discordaria, pois o bonito é exatamente aquela variedade de peças constituírem o quadro. Reduzir a uma superfície lisa e homogênea seria desfigurar.
Na Igreja de São Pedro, em Roma, encontram-se quadros lindos representando a história da Igreja, ou cenas do Antigo e Novo Testamento. O bonito que o guia gosta de mostrar ali é que aquilo parece uma coisa só, e, entretanto, é um mosaico. É uma variedade tão harmônica, que chega a parecer um quadro só.
Por exemplo, o chão da capela de Versailles. Para mim é um dos mais bonitos que existem no mundo. É um mosaico de várias cores, de várias formas, e que dá uma impressão maravilhosa. Alguém poderia sugerir que aquilo fosse substituído por uma imensa uniformidade de mármore branco. Ali não serviria, porque a beleza específica do lugar é a beleza da variedade.
Outro exemplo, opondo-se à uniformidade de Copacabana poder-se-ia citar o Flamengo, com sua variedade, montanha, ilhas etc.
O céu, por exemplo, é muito bonito, às vezes, porque está tão azul… Outro dia, contudo, na Faculdade de São Bento, observei um pôr de sol em que a um azul profundo, crepuscular, se mesclavam, no céu, nuvens cinzentas luminosas e nuvens rosadas, mas de um rosado brilhante e inconfundível. Havia uma variedade de cores. A beleza própria daquilo era a beleza inerente à variedade de cores que estava sendo posta lá.
Outro exemplo, a ágata. A ágata é uma pedra avermelhada, cheia de veios, de estrias, e o bonito é olhar aqueles veios na pedra. Alguém vem e diz que vai bater com uma varinha de condão na pedra e que as cores vão se separar, agrupando-se cada uma em quadrados distintos. A beleza desapareceria, porque o bonito, justamente, é a diversidade de cores que se confundem e interpenetram.
Muito característica também é a diferença entre a opala e a pérola. A pérola é toda branca, enquanto a opala é multicolor. A beleza da opala é a variedade.
Por exemplo, uma cortina. Uma cortina de voile pode ser muito bonita, mas também uma cortina de renda pode ser bonita. Não apresentará o encanto desse tecido único, mas apresenta o encanto da renda e as muitas figuras que forma.
Levei todo este tempo para mostrar que estamos colocados diante de uma diversidade de formas de beleza, uma provindo da unidade e outra da variedade.
A questão da unidade na variedade
Uma pessoa poderia se perguntar qual dessas duas formas de beleza é a mais pura, a mais bela, a mais verdadeira, parecendo chegar à seguinte conclusão: se a beleza derivada da variedade é a mais bonita, a arte deve perseguir as manifestações derivadas da unidade, e deve estabelecer, por toda parte, a variedade. Mas se é verdade que a unidade é a forma de beleza mais perfeita, a arte deve perseguir a variedade, e deve estabelecer a unidade.
Então, nós nos veríamos colocados ante o problema muitas vezes abordado pelos modernos, e que é o problema da unidade ou da variedade, uma alternativa.
Vemos isto na arte contemporânea, com a tendência cada vez mais frequente de estabelecer a unidade como a beleza suprema. Já mostrei como este movimento panteísta de nossos dias tem como efeito multiplicar essa verdadeira mania da unidade por oposição à variedade. Não quero dizer que seja esta a tendência de todos os artistas modernos, porque há também algumas variedades desordenadas em certas manifestações da arte moderna, mas quero dizer que muito frequentemente esta posição se mostra. Podemos dizer, portanto, que certos artistas e certo espírito da arte moderna tomaram e aceitaram o problema, assumindo posição perante ele, e afirmando que a unidade é intrinsecamente superior à variedade. Combatem o quanto possível a variedade e só desejam a unidade.
Esta posição tomada pelos artistas, muitos políticos tomaram também. Certas histórias da França, digamos a de Charles (….). Coloca ele como fundo de quadro – como coisas evidentes que não precisam ser demonstradas, e quase não precisam ser enunciadas – que o bem da França é a unidade. Todos os reis que trabalharam para a unificação da França foram grandes reis, e praticamente o que os reis fizeram pela França foi sua unificação. E isto basta, porque o próprio de um país é ser uno. Tende o país para a sua unidade, ele tende para sua perfeição. E desde que ele se unifique eliminando feudos, divisões internas, para dar na França de hoje, ou seja, a da massa política, compacta e homogênea, está tudo realizado. Esta posição é afim com a arte moderna.
Se Deus deveria ter criado um só ser
Este problema liga-se ao problema que púnhamos aqui: se a unidade é o supremo bem, e na variedade existe, portanto, algum mal. Então é verdade que Deus deveria ter trabalhado pela unidade e não pela variedade, deveria ter feito um só ser em vez de fazer vários seres. É muito mais perfeito que a criação tenha um ser do que vários seres. A criação ter vários seres é uma imperfeição.
Temos aqui o primeiro problema: Deus deveria ter criado seres distintos entre si ou deveria ter criado um só ser?
Argumentos a favor da unidade do ser criado
Santo Tomás de Aquino analisa três argumentos a favor da unidade. Diz ele que parece que Deus deveria ter feito um só ser na criação:
1 – Todo efeito tem as qualidades inerentes à causa. Ora, Deus é uno. Logo, o efeito de Deus, que é a criação, deveria ser uno também. A criação ser vária enquanto Deus é uno, é fazer com que a variedade da criação não seja um reflexo de Deus. A variedade da criação é um mal. A variedade de seres é um mal.
2 – Deus é uno. Ora, se o mundo é a imagem de Deus, o mundo deveria ser uno também; se o mundo não é uno, é diferente de Deus. Tudo o que é diferente de Deus é ruim; logo, o mundo é ruim.
3 – O fim de todas as coisas que existem é Deus. Ora, Deus é uno; logo, todas as coisas deveriam tender para a unidade; se não tendem para a unidade, elas são más e, portanto, a diversidade não deveria existir porque afasta de Deus.
Refutação: nenhuma criatura pode representar em si todas as bondades de Deus; a variedade é um bem
A estes argumentos Santo Tomás responde: Deus, de fato, criou o universo para comunicar às criaturas sua bondade e representa-se nelas. Mas acontece que nenhuma criatura, por mais excelente que seja, pode representar em si todas as bondades de Deus. Portanto, por mais que Deus fizesse perfeita uma criatura, Ele criando mais outra criatura além dessa primeira, haveria possibilidade da criação ser mais perfeita, porque teria uma semelhança de Deus ainda maior.
Digamos que Deus houvesse criado só Nossa Senhora, que é o mais alto de todos os seres na ordem moral. Digamos, o mais alto dos Anjos, que seria o mais alto de todos os seres na ordem ontológica. Por mais perfeita que fosse a representação de Deus contida nesse ser, ele seria uma criatura; sendo criatura, caberia sempre uma representação de Deus em outro ser. Portanto, dois seres representam melhor a Deus do que um; três seres representam melhor a Deus do que dois; quatro representam melhor do que três, e 1000 representam melhor do que 999.
A variedade, portanto, tem uma representação de Deus melhor do que a unidade; a variedade é um bem.
É certo, diz ele, que a bondade em Deus é simples e uniforme. Mas acontece que Deus é um ser supremo, perfeitíssimo, nEle a bondade pode ser simples e uniforme. Não é o que acontece nas criaturas, que não têm a mesma perfeição de Deus. Por isto, elas não podem ter uma bondade simples e uniforme. Nelas a bondade tem que ser criada. De maneira que embora a unidade, em si, seja mais perfeita, para as criaturas ela não é a mais perfeita. É preciso que elas, de fato, tenham a variedade.
A alternativa “unidade x variedade” é mal posta
Chegamos, então, à conclusão seguinte: a alternativa unidade ou variedade era uma alternativa mal posta.
Deve haver seres que por sua esplêndida unidade sejam uma imagem, um reflexo da unidade de Deus. Mas também deve haver seres que por sua variedade reflitam melhor a Deus do que pela unidade. E propriamente o que a criação precisa ter é unidade e variedade.
Termos só uma ou só outra coisa é um problema mal posto. E todos os modernos que procuram a unidade em tudo andam mal, como andariam mal os que só procurassem a variedade. É preciso que ambas existam. Seres excelentes por sua unidade, e seres excelentes por sua variedade. É por esta forma que podemos compreender a perfeição do universo.
Aplicação a certas formas de arte – a pintura
Isto se torna mais claro quando tomamos certas formas de arte, por exemplo, a pintura.
Ticiano, digamos, pintava quadros de cores maravilhosas. Eu [posso considerar] uma beleza dos quadros de Ticiano, se tomar cada cor e analisar. É claro que cada cor é muito bonita. Mas ao lado da beleza de cada cor eu vejo que é mais bonito ter várias cores do que ter uma cor só. E há uma terceira forma de beleza que não consiste na variedade das cores, mas que consiste no contraste e na harmonia entre as cores.
Então, temos três formas de beleza: a beleza de uma cor; a beleza especial que vem de haver várias cores, e uma beleza especial que vem da combinação das cores entres si. Ora, essas formas de beleza vêm da variedade.
A música
A música, por exemplo. O universo musical tem uma especial beleza que corresponde à cada nota. Contudo, é mais bonito que eu tenha sete notas do que tenha uma só, mas ainda é mais bonito que eu possa fazer uma música e um jogo entre essas sete notas. Tenho assim três gamas de beleza. E são essas três gamas que fazem a beleza do universo musical.
Deus quis na criação a beleza da unidade e a beleza da variedade
Deus, tendo feito a criação, quis que alguns seres representassem sua unidade; quis que a variedade de outros seres representassem sua beleza. Por isto, a unidade e a variedade são muito bonitas, sobretudo quando se harmonizam entre si. Temos aí seres com uma grande variedade e, ao mesmo tempo, com uma grande unidade.
É característica disso, por exemplo, a fachada de Notre-Dame, formigando de pequenos desenhos, mas com uma linda unidade nas linhas essenciais.
Prova-se por aí que Deus teria, para fazer o universo com o grau de perfeição que Ele quis, teria que fazer um universo variegado. Não teria atingido esse grau de perfeição se houvesse feito um só ser.
Nesta terra também: a variedade para as formas de governo, para a organização social, para a arte, para tudo, é uma riqueza própria da qual não se pode abrir mão. Todo sistema de pensamento que pretenda reduzir tudo à unidade, volta-se diretamente contra a perfeição que Deus quis estabelecer no mundo.
Passando à segunda parte: tendo Deus estabelecido a variedade, deveria estabelecer, necessariamente, a desigualdade. Mas isto é matéria da próxima aula.