Santo do Dia, 11 de junho de 1964
A D V E R T Ê N C I A
Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
A devoção ao Coração Eucarístico de Jesus tem suas origens nas aparições de Nosso Senhor à leiga Sophie Prouvier em 1854. Essa devoção foi reconhecida pelos Papas Leão XIII e Bento XV, e sua festa é celebrada na Igreja na quinta-feira seguinte à festa do Sagrado Coração.
Amanhã é festa do Coração Eucarístico de Jesus e, ao mesmo tempo, de São Barnabé, Apóstolo, que foi ordenado apóstolo dos gentios juntamente com São Paulo. Sua relíquia se venera em nossa capela.
O tema e a devoção devem entender-se como o Coração de Jesus Cristo enquanto dirigindo-se às almas na Sagrada Eucaristia, ou a Sagrada Eucaristia vista enquanto prodígio de misericórdia do Coração de Jesus. Creio que vale mais a pena fazermos algumas considerações práticas que possam ajudar nossa comunhão no dia de amanhã.
Devemos nos lembrar do princípio sempre importante nessas ocasiões: a festa litúrgica traz consigo graças especiais que são relacionadas com a data. Todos, amanhã, receberemos, portanto, graças especiais que derivam do Coração Eucarístico de Jesus.
Ao mesmo tempo, uma vez que se trata de uma festa eucarística, essas graças devem ser particularmente abundantes por ocasião da comunhão. E os que temos a felicidade inapreciável de nos aproximarmos da Sagrada Mesa todos os dias, amanhã temos um título especial de fervor para comungarmos.
Assim, amanhã quando nos prepararmos para receber a Sagrada Eucaristia, devemos ter em mente que o Deus que vamos receber em nossas almas é de uma misericórdia infinita, no rigor maior da palavra “infinita”. Quer dizer, de uma condescendência imensa, pronto sempre a perdoar. Pronto sempre a ajudar a reerguer o pecador, isto quer se trate do pecador que tenha a surpresa desventurada de estar em estado de pecado mortal, quer se do que se encontre em estado de pecado venial, ou atolado em algumas das tais dificuldades ou ingratidões que o pecador tem às vezes, mesmo quando se acha em estado de graça, e que retardam o progresso de uma alma durante muitos anos.
Lembremo-nos que todas as situações dos pecadores dos vários graus têm algo de parecido com a das pessoas no Evangelho que Nosso Senhor curou. Tais curas foram fatos autênticos, mas tinham valor simbólico. Elas indicavam doenças da alma e o poder de Nosso Senhor para as curar. E atraíam a atenção para o fato de que Ele pode, com uma só palavra, operar de um momento para outro a cura completa de uma alma, ou, pelo menos, dizer no interior da alma uma palavra que seja o ponto de partida novo para sua cura completa.
E assim como havia os leprosos, há os que tem pecados imundos; havia os paralíticos e há os que estão paralisados nas vias da vida espiritual e não se movem; havia os mudos e há os que não abrem a boca para falar a Deus de suas próprias necessidades, nem a quem pode ajudar sua alma; havia os surdos e há aqueles que não ouvem a palavra de Deus nem os bons conselhos, nem os bons amigos, assim também estamos num desses casos.
Devemos, então, dizer ao Coração infinitamente misericordioso de Jesus na Sagrada Eucaristia, aquelas palavras que o padre pronuncia: “Domine non sum dignus ut intres sub tectum meum, sed tantum dic Verbum et sanabitur anima mea – Senhor, não sou digno que entreis em minha alma, mas dizei uma só palavra e ela será salva”.
Não temos ideia do que é a fecundidade de uma palavra de Nosso Senhor no interior das almas! Nós nos esforçamos às vezes durante muitos anos para abandonar um defeito ou para adquirir uma virtude e fracassamos sempre mais uma vez.
Mas se nos lembrássemos que Nossa Senhora pode nos obter de Nosso Senhor Jesus Cristo, de um momento para outro, uma só palavra e que esta pode nos curar inteiros, ou ao menos ser o ponto de partida de nossa cura, então compreenderíamos que a vida espiritual tem possibilidade de progresso e de “desencalhe” que em nossa tibieza e na rotina de nossa vida espiritual, nem sequer imaginamos em toda a sua extensão e em toda a sua importância!
Portanto aproximemo-nos de Nosso Senhor – sempre por meio de Nossa Senhora, que é a Medianeira de todas as graças – e digamos que uma vez que Ele nos patenteia Seu Coração, símbolo de Sua misericórdia, dentro da obra prima de amor, que é a Sagrada Eucaristia, uma vez que Ele toma a iniciativa de instituir uma festa para que todos os fiéis venham a Ele lembrados disso, com humildade, com obediência, com contrição, vamos nos apresentar a Ele pedindo perdão por nossos pecados, pedindo a virtude pela qual nos unimos a Ele, pedido que Lhe é dos mais gratos, pois contém a mais alta forma de amor, que é querer parecer com Nosso Senhor.
Dizer-Lhe que pedimos uma palavra nesse dia, que Ele diga uma só palavra e nossa alma será curada e será salva.
Essa palavra poderá tanto vir no dia de amanhã, como daqui a algum tempo. Mas peçamo-la incessantemente. Quanto mais ela tardar, tanto mais virá fecundada e, até certo ponto, irresistível.
E é na espera dessa palavra que devemos viver. Então, por intermédio de Nossa Senhora dizer: Senhor, não sou digno que entreis em meu coração, mas eu Vos recebo com confiança; dizei uma só palavra e minha alma será salva.
É um dia, portanto, de alegria, de confiança e de muita esperança.
Talvez alguém receba a graça de repetir muitas vezes durante o dia de amanhã ou durante todos os dias de sua existência, essa expressão: “sed tantum dic verbum e sanabitur anima mea – mas dizei uma só palavra e minha alma será curada”. De tal sorte que quando chegar a hora da morte, receberemos a última palavra que dará à nossa alma o último passo necessário para atingir toda sua santificação. E morreremos em paz, com a morte do justo, depois de termos vivido na luta, na vida dos justos também.