Revista “Ave Maria”, São Paulo, N.º 31, julho de 1943
Imagem venerada na catedral de Barcelona (Espanha)
Uma das características da devoção que devemos tributar a Nossa Senhora consiste sem dúvida em ser terna. Entretanto, a devoção não se faz só de ternura, de efusões sentimentais e efetivas. Para ser sólida, é preciso que se funde em conhecimentos precisos, exatos, lógicos. Só da Verdade bem conhecida pode sair o amor durável e sincero. A piedade deve ser firmada no estudo da doutrina católica. É aí que ela há de encontrar seu melhor fundamento, sua verdadeira raiz.
Quando a Igreja promove a consagração de Nações, Dioceses, famílias ou pessoas ao Coração Sacratíssimo de Jesus ou ao Imaculado Coração de Maria, tem em vista que as criaturas assim consagradas formulem a resolução de pertencer de modo particular ao Coração de Jesus ou ao Coração de Maria, obedecendo-Lhes mais fielmente as leis, tomando-Os mais perfeitamente por modelos, e, reciprocamente, recebendo de modo todo especial sua particular e vigilante atenção.
Assim, a Consagração não é um mero rito, uma fórmula vaga, a ser recitada em momento de emoção piedosa. Ela é antes de tudo um ato refletido, deliberado, voluntário e profundo, que implica no propósito de uma mais perfeita integração na doutrina e na vida da Santa Igreja Católica, o que é o único modo real de pertencer a Jesus e a Maria.
Compreende-se facilmente que este ato tanto pode ser feito por pessoas da mais alta virtude, quanto por almas que ainda estão nos primeiros passos da vida espiritual. A uns e a outros, será utilíssimo, porque atrairá para quem o faz uma proteção toda especial da Providência, e, com isto, garantias particularíssimas de salvação.
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Nosso povo compreende facilmente que alguém se consagre ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Essa magnífica prática já tem sido posta em ação frequentemente, e, graças a Deus, são numerosas as famílias que, hoje, se encontram consagradas ao Coração de Jesus, com o que manifestam o propósito de conformar toda a sua existência com o Sagrado Coração de Jesus, vivendo vida verdadeiramente piedosa e cristã, santificando os deveres de estado, vivendo-os com espírito intensamente sobrenatural e mortificado, e recomendando-se especialmente, para o êxito de tais propósitos bem como para a obtenção de todas as graças, ao Coração Divino que é a fonte, por excelência, de todo bem.
Entretanto, é menos frequente que se compreenda entre nós, a consagração ao Coração Imaculado de Maria. Não faltará, talvez, quem veja em um e outro ato alguma antinomia (oposição). Como pertencer ao mesmo tempo a dois senhores, obedecer a dois corações? Uma consagração não contradirá ou anulará a outra?
Nada de mais inconsistente. A consagração ao Imaculado Coração de Maria é um complemento da que se faz ao Coração Sacratíssimo de Jesus; não um complemento supérfluo, por certo, mas um complemento precioso e admirável, que dá à Consagração ao Coração de Jesus uma realidade e uma plenitude admiráveis.
O Coração de Maria é por excelência o reino do Coração de Jesus. A união de ambos os Corações é tão perfeita que há escritores que por assim dizer os fundem em um só, referindo-se ao Coração de Jesus e de Maria. Toda a piedade marial assenta sobre esta verdade fundamental de que Maria Santíssima é o canal pelo qual se chega a Jesus, é a porta, a vida, o caminho por excelência, onde com maior segurança, mais rapidez, mais facilidade, encontramos Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, a consagração ao Imaculado Coração de Maria é o meio mais seguro, mais fácil, mais rápido de conseguirmos a consagração ao Coração Sagrado de Jesus.
Com efeito, pronunciar um ato de consagração é fácil. Consagrar-se sinceramente, seriamente, a fundo, é muito mais difícil. Para conseguirmos as condições necessárias para uma perfeita consagração a Nosso Senhor nada mais perfeito, mais seguro, mais útil do que consagrarmo-nos a Maria Santíssima.
O Cristocentrismo consiste em ter a Nosso Senhor Jesus Cristo como centro de tudo. Ora só será verdadeiro o Cristocentrismo que nos conduz ao centro pelo verdadeiro caminho. E esse caminho é Nossa Senhora.
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A consagração ao Coração Imaculado de Maria é mais atual do que nunca. Mais do que nunca, o mundo atribulado por mil vicissitudes de toda ordem, precisa de um coração materno que dele se condoa. Mais do que nunca, pois, torna-se necessário que apelemos para o Coração de nossa Mãe, que imploremos, fazendo, tanger suas fibras mais sensíveis, suas cordas mais íntimas, toda a sua misericórdia, todo o seu amor, toda a sua assistência.
Se o Santo Padre Pio XII consagrou o mundo inteiro ao Coração de Maria, imitemos seu gesto, completemo-lo, por assim dizer, consagrando-nos sem reservas ao mesmo Coração Imaculado. Estaremos dentro dos desejos do Papa, dentro das vias da Providência Divina.