Como aumentar a esperança dos bens celestes? – Um trecho de Santa Gertrudes – O Sr. poderia dizer como gostaria de passar o Céu?

Santo do Dia, 11 de maio 1974, Sábado

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

Eu sempre tive a respeito do Céu uma impressão, uma vivência – se os srs. quiserem usar a expressão -, uma vivência que era singular. Porque pela fé eu sabia que o Céu era um lugar de todas as delícias. Mas quando me descreviam as delícias do Céu, eu tinha impressão de que era uma coisa deliciosa para outro, mas não para mim e que se eu fosse para o Céu, eu não sentiria no Céu delicioso, aquilo como me descreviam.

E era um pouco a ideia, apresentada por certos quadros, muito legítimos, mas que à força de se apresentar só um tipo de quadro desfigura um pouco a ideia do Céu. Mas por exemplo, um céu muito azul, uniformemente azul; uma nuvem branca sob a forma de uma sofá mais ou menos cômodo, e um anjo tocando violino…

Eu compreendo que seja mais agradável isso do que esse vale de lágrimas. Mas mesmo assim, se eu tivesse que passar uma eternidade sentado numa nuvem branca, diante do céu azul, tocando um violino, eu confesso que não me sentiria atraído por esse tipo de Céu.

“Você vai para lá, que você [gostará]…” Está bom, esplêndido, magnífico, maravilhoso, eu sei que lá ninguém tem aborrecimento, ninguém adoece, mas eu confesso que a nuvem e o violino me atraem muito menos do que se costuma dizer. Não sinto de tal maneira no Céu a pátria de minha alma.

Depois, outra coisa também que eu não sentia quando se falava do Céu, me dava uma certa estranheza, é uma espécie de imobilidade no Céu. Porque a doutrina católica nos ensina o seguinte: que no Céu o homem não pode crescer em amor de Deus – é a pura verdade. O grau de amor de Deus com que ele morreu, esse ele conserva por toda a eternidade. Há uma bonita expressão da Escritura: A árvore onde cai, aí fica. E o homem, naquele grau de maior de Deus em que morre, ele lá fica. E se morre sem amor de Deus, os senhores sabem para onde vai… E fica ali também por toda a eternidade, no grau de maldade em que morreu. Quer dizer, morreu, parou. E o progresso espiritual não vai para a frente.

De outro lado, eu já tenho toda a felicidade possível no Céu. De maneira que o Céu se apresenta a mim uma coisa parada, em que tudo parou. A gente tem impressão de que está todo mundo, eternamente parado, olhando parado para Deus também. Ora, está em nosso modo de ser o movimento. Está em nosso modo de ser, uma comunicação. E um Céu tão parado, nós temos uma certa dificuldade em compreender como possa ser para nós, atraente.

Essas são algumas das vivências do Céu que me parece que fazem com que nós tenhamos pouca esperança dos bens celestes e sejamos, portanto, pouco atraídos para o Céu. Quando na verdade, Nosso Senhor disse: Meditarás nos teus novíssimos e não pecarás eternamente. Medita.

Quais são os Novíssimos? “Novus” em latim não quer dizer só novo, mas também o último. Novíssimo é o ultimíssimo. O que vai ser o fim de nossa vida. E os Novíssimos os senhores sabem quais são: morte, juízo, céu e inferno. Quer dizer, são as últimas coisa que vão nos acontecer. Nós morreremos, seremos julgados, vamos para o Céu ou vamos para o inferno. Isso para todos nós. Nosso Senhor disse: Medita nos teus novíssimos e não pecarás eternamente. Quer dizer, se eu não quero pecar, eu devo meditar nesses 4 pontos. Um desses 4 pontos é o Céu. Quando vou fazer uma meditação sobre o Céu, encontro essa e outra vivências, pensava eu antigamente.

Então eu comecei a fazer um trabalho de reflexão, de análise, aproveitando trechos de cá e de lá, de livros de santos que falavam sobre o Céu, para construir para mim mesmo uma verdadeira imagem do Céu, e para fazer com que o Céu fosse mais apetecível para mim; para eu ver como é que o Céu era conforme à natureza humana e, portanto, era inteiramente conforme à mim e eu nele poderia me sentir inteiramente bem.

Isso são as vivências – se os srs. quiserem usar o termo – de um homem de minha idade. Não sei se algum dos senhores também fez a respeito da nuvem branca, do céu azul e do parado do céu, se teve as mesmas vivências que eu. Os que tiveram levantem o braço para eu ver. Os srs. estão vendo, é praticamente a sala inteira.

Eu creio que nós não perdemos nosso tempo meditando algumas coisa a respeito do Céu. Se os srs. me lembrarem, se houver tempo, planejar já para o sábado que vem, um audiovisual com duas, três, quatro ou cinco figuras do céu pintadas por Fra Angélico. Eu explicarei, aí, melhor para os srs., quem é Frá Angélico. Uns anjos, algumas cenas do Céu, pintados por Fra Angélico. Fra Angélico é o pintor católico máximo, assim como São tomas de Aquino foi o filósofo católico máximo. É o rei da pintura católica, como São Tomás de Aquino é o rei da filosofia católica.

Então, eu vou mostrar aos srs. como é que esse santo – porque ele é beato, beatificado pela Igreja  –   e conta-se que Nossa Senhora aparecia para ele na hora dele pintá-La, Daí o caráter celeste das pinturas em que Ela figura. Então, eu vou mostrar aos srs. como esse santo concebia o Céu. E vou mostrar como o Céu concebido por ele é diferente do Céu que é apresentado, não errado, mas de modo meio unilateral por uma série de figuras as quais estamos habituados.

Agora vou tratar mais especialmente daquilo que se poderia chamar a imobilidade no Céu.

A pergunta é a seguinte: É verdade que a felicidade de uma alma no Céu não pode ser aumentada de um grão, ou de um grau? É verdade, em sentido contrário, que a desgraça de uma alma no inferno, não pode ser aumentada em nada? Então, é verdade que no Céu está tudo tão parado quanto imaginamos? Ou há aumentos de intensidade de felicidade no céu? E há aumentos de desgraça no inferno? Então, existe no Céu um certo movimento, uma vida, e até uma vida intensíssima, como não temos nenhuma ideia, e, nesse caso, como será essa vida? Como é a vida no inferno?

São duas meditações paralelas a respeito do Céu e do inferno que possivelmente atraiam os srs.

Para nós termos ideia, para construirmos mentalmente essa imagem do que é verdadeiramente o Céu, ou que é verdadeiramente o inferno, eu tomo um dado indiscutível, ensinado pela doutrina católica, e que o seguinte: Quando um homem faz um determinado ato, um ato bom, ou um mau. Depois ele é julgado, e vai para o Céu ou para o inferno, esse ato bom ou mau que ele pôs continua a ter repercussões pela vida afora. E às vezes repercussões que sem ele imaginar, vão até o fim do mundo. Duram até o fim do mundo.

Os senhores considerem um nos senhores que faz apostolado e traz um rapaz para dentro da TFP. É uma coisa tão simples, parece tão pequena, tão banal. Imaginem que esse rapaz faça apostolado e traz outro para a TFP. E que esse outro traz outro, que depois da geração traz outro e que até o fim do mundo, porque os srs. trouxeram um, vem um filão de filhos, netos e bisnetos espirituais daquele que os senhores trouxeram, e que vão ser bons porque os senhores trouxeram um para a TFP.

À medida que os séculos vão passando do alto do Céu os senhores estão vendo o efeito da boa ação que fizeram. E os srs. estão recebendo uma alegria pela boa ação que fizeram. Uma alegria – eu vou daqui a pouco explicar de que natureza é essa alegria e de que natureza é esse aumento, mas é uma alegria que aumenta a alegria que os senhores tem no Céu. Ainda que estejam vendo Deus face a face; ainda que estejam inundados de felicidade, olhando na terra o efeito do bem que fizeram, os senhores tem uma felicidade ainda maior.

Uma pessoa salva uma alma. Ela morre antes, dali há algum tempo vem a outra alma e entra também no Céu. Na hora em que ela entra, aquele que a salvou tem um aumento de alegria, porque vê aquela sua boa ação que chegou ao auge. E então, aquilo, por toda a eternidade, é um título de contentamento maior para ele, no Céu, porque está ali aquele que ele olha, inundado de felicidade, e ele pensa: Aquele lá está ali porque Nossa Senhora se serviu de mim para trazê-lo. Mais: Aquele que recebeu o benefício, canta passando perto dele: Eu te saúdo, eu te agradeço, a ti eu devo esta felicidade. Inclina-se diante dele, homenageia, os dias se osculam e depois os dois se cruzam nas belezas perfeitas do paraíso [celeste]. Quer dizer, os srs. estão percebendo a felicidade que uma alma tem e que pode crescer pelo fato de ir multiplicando, ao longo dos tempos, e efeito da boa coisa que ela fez.

Uma pessoa que escreve um livro… uma coisa que sempre me anima quando eu escrevo um livro, é que um livro pode produzir bons efeitos até o fim do mundo.

(Pergunta: Uma pessoa converte um pagão ao catolicismo…)

Ou converte um católico ao catolicismo…

(Essa pessoa morre, o apóstolo vai para o Céu. O apostolando depois de convertido more e vai ao inferno. O apóstolo se alegra? Ou se entristeceria? Ou ficaria alegre pela justiça de Deus?)

Sim, ele ficaria triste se o homem entrasse no Céu sem merecer. Se por absurdo o homem entrasse no céu sem merecer, ele diria: Eu dei meu esforço para esse miserável salvar-se, ele recusou meu esforço, até o fim ele recusou, o que está ele fazendo aqui no Céu? O alívio dele é ver o homem no inferno. Daqui a pouco vou mostrar como o inferno dá alegria aos estão no Céu. E depois o movimento que há de uma coisa para outra. Porque eu queria indicar aos senhores a movimentação. A tese é a movimentação.

Então, vamos voltar ao nosso fato. Quem escreve um livro… um livro é uma coisa que pode produzir bons efeitos até o fim do mundo. Aquele livro vai para as bibliotecas, para as estantes e quando a gente menos pensa, alguém o lê; lendo, faz bem de novo. De maneira que nós estamos no ano de 1974, infelizmente, está bem, pode ser que no ano 2974, se o mundo chegar até lá, talvez chegue, um livro que eu escrevi, e que um dos senhores propagou, esteja fazendo bem ainda para alguém. Eu escrevi o livro, um dos senhores vendeu para alguém. Alguém – vamos usar a pior das hipóteses  –  não leu o livro, zupou e deixou na estante da família. Vem um remoto quinto neto, encontra no sótão da casa, lê e se converte. O livro pode fazer bem até o fim do mundo. Então quando a gente escreve um livro, quando a gente espalha um livro, a gente imagina: até o fim mundo pode estar dando glória a Deus; até o fim do mundo e poderei ter uma alegria por causa do bem que esse livro fez. A minha alegria no Céu é aumentada.

Quer dizer, a tese é de que muitos acontecimentos na terra podem aumentar a nossa alegria no Céu. E que há uma relação entre a Terra e o Céu, há uma relação constante, onde as alegrias do Céu se movem de acordo com os movimentos da terra.

A mesma coisa se dá com o inferno. Sempre que um sujeito contempla, do inferno, o mal que ele fez, o tormento dele aumenta; e os outros demônios – porque os demônios se odeiam entre si, assim como os bem-aventurados se amam entre si  –  os outros demônios e precitos… – quem sabe a diferença entre demônio e precito? Os que sabem levantem o braço? Está bem, os outros demônios e precitos se dizem uns aos outros toda espécie de horrores, e se maltratam. Inclusive se dão ferimentos uns aos outros, ou no corpo, ou na alma. Quando acontece uma coisa, um fruto do mal que um fez, os outros todos dão uma gargalhada: “Está vendo! Você, miserável, fez tal coisa. Vai mais para o fundo do inferno”. Ele blasfema, cai, se joga todo, vai por cima dos outros.

E assim o tormento eterno que existe no reino sinistro do inferno, pode ser aumentado por aquilo que se passa na terra. E mais ou menos tudo que nós fazemos na terra está repercutindo, em gloria no céu, em alegria no Céu, — eu daqui a pouco vou dizer o que é a tristeza no Céu  –  pode estar determinando tristeza no inferno, mas pode estar determinando também alegria no inferno. Daqui vou dizer o que é a alegria no inferno. Se é que no inferno pode haver alegria.

Então, por exemplo, estamos todos nós aqui nesta sala. Eu estou falando, os senhores estão ouvindo. Do alto do Céu,  –  esse é o panorama completo dessa sala  –  a Santíssima Trindade está com os olhos voltados para cá, porque está com os olhos voltados para tudo quanto acontece por toda a parte. Deus é Omnisciente. Ele conhece tudo por toda parte.

De outro lado, Nossa Senhora, todos os anjos, todos os santos olham para cá, especialmente os nossos protetores; todas as almas que se salvaram olham para cá. E elas tem uma aumento de alegria vendo aqueles que estão aproveitando. Não tem uma alegria tão grande, por aqueles que não estão aproveitando. Porque o Céu  –  se pudesse usar essa palavra  –  é debaixo de certo ponto de vista uma arquibancada de torcedores pela causa de Nossa Senhora aqui; e que não só torcem, mas lutam. Lutam pelas suas orações, rezam, nos ajudam. E tem um empenho enorme em ver como é que o lumen Christi progride na terra, como é que as trevas do diabo progridem ou recuam na terra.

Quer dizer, todo o Céu olha atento para o que se passa na terra, continuamente. O que é muito diferente do homem com o violino, sentado na nuvem. O que é um aspecto da realidade. Não que exista a nuvem material; é um símbolo. Mas aquele símbolo apresenta um aspecto da realidade. Mas eu estou querendo mostrar aos srs. que não é toda a realidade. Que é preciso acrescentar a essa realidade, outra, para terem uma noção completa. Estou querendo completar a noção.

Isso faz com que nós devamos notar que continuamente todos os nossos atos repercutem no Céu, e, por outro lado, também repercutem no inferno. Sobretudo se alegram aqueles que tem conosco uma relação especial. Por exemplo, toda a linhagem de ultramontanos, que houve desde Abel até nossos dias, se alegra se com uma alegria especial; enquanto todos os Cains, que estão lá embaixo, se entristecendo com um furor especial. O demônio, por exemplo nossa reunião é as 10 e meia, quando chega digamos, 8 da noite, ele já está trabalhando para ver se o pessoal não vem à reunião; ou para ver se vem com a menor disposição possível, fazendo com que as pessoas tenham enxaquecas, sonos, preguiças, ideias fixas para evitar que prestem atenção durante a reunião, toda espécie de coisas possível para com que a reunião produza o menor bem possível. Os anjos e santos estão rezando no sentido contrário.

Enquanto estamos falando aqui, os anjos atuam, os demônios atuam também,  se que nós percebamos. De maneira que nessa realidade visível, de fato o menos importante é o visível. O mais importante é o indivisível, que existe aqui e paira aqui, que luta aqui. E nós estamos engajados nessa luta fabulosa fazendo uma coisa na aparência, tão comum: uma conferência. Se nós soubéssemos ver cada ato de nossa vida assim, como seria diferente! Mas se nós soubéssemos ver o Céu assim também, olhando para a terra, e com a possibilidade de lutar pelos que estão na terra, e com essa militância ativa pelos que estão na terra através das orações de toda ordem, como sentiríamos o Céu de modo diferente!

Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: Eu quero passar o Céu fazendo bem sobre a terra. E só descansarei quando o número dos que tiverem salvos, estiver completo. Antes disso, eu no Céu vou continuar a lutar e a agir. É uma linda expressão que mostra como no Céu há um movimento das coisas que vêm para terra, e que fazem um intercâmbio com o Céu.

Agora, de outro lado, os senhores poderão dizer: Dr. Plinio, está bem, mas quando acabar a terra, e todos estiverem no céu, zíper? E acabou-se! Então fica tudo parado.

Antes de responder a essa pergunta, eu tento que tratar de outra questão: qual é a alegria que há no Céu. Como pode haver aumento de alegria no Céu com as coisa de terra.

No Céu, nos ensina o catecismo e, portanto, é verdade, temos uma felicidade perfeita. Quer dizer, não temos uma grão de tristeza, e temos toda a felicidade de que nossa natureza é capaz. Como pode haver um aumento de alegria no Céu? É o que se chama uma alegria acidental.

O que é uma alegria acidental? Os senhores imaginem uma rainha que é casada com um rei poderosíssimo, boníssimo e ela goza junto a esse rei, de toda a felicidade que o estado de rainha lhe pode dar. Mas chega no aniversário dela, vem um grupo de camponeses dançar diante da janela dela, por amor para com ela, e fazer-lhe uma homenagem. Se os camponeses não vierem, ela não vai deixar de ser feliz, porque ela tem o rei, e o rei é a felicidade dela. Mas se os camponeses vierem, é uma coisa acidental que ela vai para o terraço, olha, se compraz com aquilo, e depois manda servir uma mesa de doces para os camponeses. Aparece até, diz uma palavra amável para cada um e depois vai embora. Eles radiantes; ela, comprazida, alegre. Não é tão natural?

Isso aumentou a felicidade dela? Num certo sentido, sim. A felicidade essencial dela, não. Ela é rainha, esposa do rei, ela tem no rei toda sua felicidade. Mas acidentalmente, assim como as franjas de um tapete que não fazem parte dele, mas são um prolongamento do tapete, ela teve essa alegria.

Assim também as coisas da terra repercutem no Céu. Aumentam a alegria no Céu dessa maneira; aumentam nosso comprazimento, nossa satisfação, nossa felicidade.

O demônio pode ter alegria no inferno? São Tomás de Aquino explica isso muito bem – não sei se vou conseguir explicar essa noção muito difícil, de um  modo prático e rápido. Talvez recorrendo a um exemplo concreto, também isto dê bem a ideia.

Os senhores imagem uma penitenciária. Eu vi isso na penitenciária de São Paulo a seção dos presos insuportáveis. Era uma espécie de porão mais baixo; os presos suportáveis tinham na cela uma espécie de janelinha, podiam olhar para fora, podiam falar etc. Os insuportáveis, apenas um buraquinho para olhar para fora e para gritar qualquer coisa que precisassem. E o resto, lá dentro, trancados completamente. E era uma coisa impressionante que a gente ia passava por lá, eu ia com um grupo grande de visitantes, e naturalmente fazia barulho – e muitos deles iam olhar, porque dentro daquela monotonia, ver gente passar para eles era uma alívio. Eles iam olhar e a gente via só através do buraco, aquele olho celerado, brilhando de canalhice dentro do buraquinho. Ou então um olho falso, hipócrita, embaçado. Tinha uma outra forma de canalhice; não é a canalhice excitada, mas a canalhice deprimida. A gente tinha vontade de dar um peteleco no olho…

Um homem que está nessa prisão, ele está triste. Está furioso de estar na prisão. De repente percebe, pelo barulho, pelo movimento, que estão levando outro para dentro da prisão. E ele grita: “Que bom! Prende mais um, está bem, mais um desgraçado aqui, é o que eu queria etc.” Mas depois cai sentado no colchão dele, abatido. Ele teve verdadeiramente uma alegria quando o outro entrou? Isso pode se chamar alegria? Ele deu uma gargalhadona. Tem as aparências de alegria. Não é uma verdadeira alegria, porque no estado dele ele não tem alegria.

Então, mais ou menos assim são os demônios quando entra mais um precito no inferno. Eles tem uma pseudo-alegria desse gênero, chamada, por São Tomás de Aquino, “gaudium fantasticum”, no sentido de que é uma alegria imaginária, irreal, que ele se forja para si mesmo e que aumenta seu próprio tormento. É essa alegria que tem no inferno os miseráveis, quando veem que alguém peca, que alguém segue a linha deles, ou que alguém cai na garra deles. Esta é a repercussão do aumento de tristeza que pode produzir-se no inferno.

Está clara essa comparação da alegria e da tristeza, em que sentido são alegria e tristeza?

[Eu vou dar só um trecho do que ela conta de como as coisas se passam no Céu, como são as relações no Céu]… e aí os senhores vão ter uma ideia de como é a vida celeste.

(Pergunta: O senhor poderia explicar a expressão de que ”os anjos, no Céu, clamam por vingança?” Clamar por vingança não indica uma certa indignação? E, portanto, uma tristeza?)

É verdade, mas não é propriamente uma tristeza. É uma inconformidade, não é uma tristeza. Porque eles já veem todo o plano de Deus e percebem que aquilo vai ser corrigido pelo ato de justiça que vem. De maneira que quando se clama por vingança, quer dizer que eles pedem a justiça que eles não têm nenhuma dúvida de que virá. De maneira que eles fazem com uma certeza que nós não temos. Compreendeu?

Então, entre outras coisa, Santa Gertrudes viu o seguinte:

“Um dia, como se cantava, durante o ofício de matinas a Ave Maria, Santa Gertrudes viu sair do Coração do Pai Celeste, do Filho e do Espírito Santo, três jatos que penetravam no Coração de Nossa Senhora, para de lá voltar à fonte, que era a Santíssima Trindade. Depois, do poder do Pai…”

Era o primeiro jato, era o poder do Pai que jorrava sobre o Imaculado Coração de Maria.

“…a Sabedoria do Filho…”

Que é o atributo especial do Filho.

“…e a ternura misericordiosa do Espírito Santo; depois deles nada se compara coma ternura misericordiosa do de Maria. Santa Gertrudes compreendeu, na mesma ocasião, que essa expansão do coração da Santíssima Trindade no Coração da Nossa Senhora se reproduz cada vez que uma alma na terra recita devotamente a Ave Maria…”

Os srs. estão vendo o poder de uma Ave Maria bem recitada na terra? Cada vez que uma alma aqui recita a Ave Maria – no Oratório, no meio dos ônibus, da poluição, dos insultos, um rapaz que recita devotadamente a Ave Maria -, a Santíssima Trindade, para glorificar Nossa Senhora, emite um jorro de poder, de sabedoria e de ternura dentro dela. E Ela tem um sobressalto de alegria, por causa dessa Ave Maria. E é uma só Ave Maria. Isso Santa Gertrudes viu no Céu.

A fortiori, quando um bem-aventurado no Céu elogia Nossa Senhora; há um aumento de comunicação dEla com a Santíssima Trindade e da Santíssima Trindade com Ela; e um aumento acidental de gáudio, por onde, no Céu, – e aí a gente compreende bem – todos os que estão lá, na medida em que se amam, na medida em que falam uns com os outros, aumentam a comunicação de todos com Deus. E há portanto, uma espécie de interação recíproca, a que Deus se associa, em que todos estão continuamente agindo, e Deus está continuamente coroando essa ação.

E essa é a movimentação do Céu, à maneira de uma imensa, santíssima e inocentíssima política; em que todos estão se esforçando sem cansaço, deliciosamente, para aumentar o seu próprio gáudio e aumentar o gáudio dos outros; e nadam, por assim dizer, nas gentilezas recíprocas e na felicidade recíproca.

Quer dizer, debaixo desse ponto de vista, o Céu poderia ser comparado a uma Corte esplendidíssima, nobilíssima, perfeitíssima, onde quando os cortesãos se encontram, se inclinam profundamente um diante do outro com todo amor, e se cumprimentam. E o rei, vendo isso, se alegra e dá um galardão para eles. Eles então agradecem ao rei, e o rei dá um novo galardão. E vai pelas infinidades, de galardão em galardão, aumentando de acordo com a iniciativa de cada um, sem que nunca nenhum erre – nisso que poderíamos chamar um jogo – mas havendo sempre algo de novo aumentando algo em algum sentido.

Sobretudo no conhecimento de Deus. Porque Deus é infinitamente interessante. Podemos tomar a mais interessante das criaturas, ela é poca em comparação de Deus. Deus tem tudo; tem a inteligência esplendorosa, mas Ele é meigo, afável, se põe do nosso tamanho. Deus tem charme, Deus tem aquilo que se poderia chamar verve: algo exposto por Deus tem uma vida, um encanto, que nós nem podemos imaginar. Nem Deus propriamente fala. Ele mostra nEle, na essência dEle, todas as coisa.

De maneira que em Deus, que nunca é o mesmo para nós, ao longo de todas as infinidades, nós estamos vendo Deus diferente, porque nunca acabaremos de conhecê-lo, Deus é para nós novidade contínua. E os anjos e os santos e se dão o jornal-falado do que viram em Deus. Porque nenhum vê em Deus exatamente a mesma coisa que o outro vê. Mas eles podem contar uns para os outros o que Deus mostrou. De maneira que há um imenso jornal-falado das contínuas novidades de Deus. E esse jornal falado é cantado. E esse cântico é o cântico eterno do Céu que nos induz a um movimento contínuo, sem cansaço. Um movimento que não precisa, portanto, de repouso porque ele é movimento e repouso ao mesmo tempo. É ou não é verdade que isso é muito diferente do homem sentado com violino, na sua nuvem azul? E que o Céu, com isso, se torna mais aprazível para nós?

Me respondem, com toda franqueza, isto dá vontade de ir par ao Céu, ou não? Os que consideram que sim, levantem o braço para eu ver. Bem, então, valerá a pena, assim de vez em quando, fazer uma meditação sobre o Céu, e não apenas sobre o inferno, que é in-dis-pen-sá-vel…! indispensável!

(Pergunta: … falar da alegria do justo no céu ao ver o inferno)

Inferno: por que o justo tem alegria de ver o pecador expiar no inferno? Qual é a mentalidade do pecador que foi para o inferno, do demônio e todos os precitos que foram para o inferno?

A esse respeito também, as pessoas têm ideia… essas figurinhas que não são erradas, eu acho boas – ao menos as anteriores ao Concílio; depois que veio o Concílio…  –  mas batem sempre na mesma tecla, de maneira que não dão  uma noção completa das coisas. Então, estou falando mais uma vez para ajudar os senhores a terem uma noção completa.

Os senhores devem ter ouvido falar dos demônios acorrentados no inferno. A expressão é muito verdadeira. Mas ela insinua a ideia de que se o demônio pudesse, sairia do inferno. Porque se ele está acorrentado no inferno, quer dizer que é para não sair. E se, portanto, pudesse, ele sairia do inferno. Então, temos a ideia do demônio uma alma que está louca para ir para o Céu e para gozar da felicidade do céu, mas que não vai porque não pode.

Então, uma pessoa liberal pode ter uma certa pena do demônio. E deve haver aqui na sala alguns corações que não gostam muito de pensar na infelicidade do demônio no inferno, porque começam a ficar com pena, e pode lhes fazer um certo mal. Então, desviam o pensamento.

Qual é a realidade? O demônio está acorrentado no inferno. Mas o que quer dizer essa “corrente” do inferno? Não quer dizer que, se ele pudesse sairia.

Uma alma quando cai no inferno, é porque ela chegou a ficar tão ruim que se lhe fosse dado ir ao Céu, ela não quereria, por ódio de Deus. Esse é o precito que está no inferno. É certo que se Satanás quisesse ir para o Céu, Deus não permitiria. Mas é igualmente certo que ele não quer; e que de ódio de Deus, ele prefere estar nos tormentos dele a ver a Deus.

Se a gente não tiver isso em consideração, não compreende bem o inferno. Deus leva uma alma para o inferno quando ela atingiu esse grau de maldade.

Os senhores dirão: Então, ninguém vai para o inferno? Ahh! Ahh!  fiem-se nessa…!

(Pergunta: Uma das teorias sobre a causa da queda dos anjos, é que Lúcifer se revoltou contra Deus quando soube que Nossa Senhora seria sua rainha. Então, suponhamos que ele se arrependesse disso e pedisse perdão a Nossa Senhora. Poderia ir para o Céu? Seria perdoado?)

Está na natureza angélica, que é tão lúcida e tão forte, que quando comete um ato não volta atrás. De maneira que ele não pode se arrepender, não está na natureza dele. Pecou, aquilo está consumado. É diferente de nós homens, que nos conhecemos, não é? Um homem que cometesse o pior pecado de revolta contra Deus, se procurasse Nossa Senhora e pedisse perdão, iria para o Céu. É de fé que se Judas Iscariotis tivesse ido procurar Nossa Senhora e tivesse pedido perdão, ele se teria salvo. Não preciso dizer mais nada…

[Então, o demônio não sai do inferno] porque não quer. Este é o requinte de maldade dele que o pôs lá. Então, durante toda a vida de uma pessoa, há o anjo da guarda – do pior dos homens, Judas – que reza para ele se salvar; há Nossa Senhora que reza para ele se salvar; há anjos e santos que rezam para ele se salvar. Mas quando o homem chegou a esse grau de maldade e Deus entendeu que é hora de fazer justiça, Deus… às vezes o homem chega a esse grau de maldade e Deus tenta salvar ainda, não está automaticamente perdido. Mas às vezes, esgotou a indulgência que Deus, desde toda a eternidade tinha resolvido dar a ele, esgotou. A partir desse momento, Deus corta com ele, cessa as relações com ele, odeia-o e mata. Ele acorda, vê e cai no inferno inteiro. É julgado e cai no inferno inteiro.

A partir do momento em que Deus o odiou, todos os anjos e santos o odeiam também. E a partir deste momento  eles têm a alegria que Deus tem de jogar no inferno aquele que Ele já não quer mais aceirar. Não sei se está claro isso, ou não.

É terrível! Mas nosso Deus é infinitamente bom. Mas como Ele tem em grau infinito todas as qualidade, Ele também tem, em grau infinito, a qualidade de ser justo. E se a justiça é uma coisa terrível, a justiça infinita é infinitamente terrível. Aí acabou a misericórdia e até Nossa Senhora o odeia…

(Pergunta: Se o amor é consequência do conhecimento, se no Céu cresce o conhecimento não deveria crescer o amor também?)

Eu dou um exemplo ao sr. e o sr. vai perceber bem. Imagine que alguém leia uma obra, por exemplo, de São Francisco de Sales. E aprecia enormemente a obra. Ou de Santo Inácio. Qualquer santo. Aprecia enormemente a obra, entende perfeitamente bem, compreende todo o espírito daquela obra e se identifica em espírito com aquela pessoa. De repente tem uma oportunidade de conhecer o santo pessoalmente, vamos supor que o santo esteja ainda em vida. A pessoa aumenta, essencialmente, seu amor ao santo conhecendo-o?

Se ele conheceu a obra inteiramente, não. Porque ele, na obra, teve uma tal lucidez, que o conhecer o santo não lhe acrescenta grande coisa ao amor. Pode dar-se isto, não pode?

Aí o senhor pode compreender como conhecendo Deus face a face, a gente não aumenta de amor, se leu bem o livro dEle. O livro dEle se chama Santa Igreja Católica Apostólica, Romana; se chama o universo; se chama civilização cristã. Quem leu isso e amou até o fim, vendo a Deus, se deleita, mas não tem surpresa, tanto Deus é visível nas suas criaturas.

Esse é o ponto delicadíssimo e que jamais será suficiente a gente insistir. Não sei se eu estou claro no que eu disse?

Bom, meus caros, a hora vai indo longe. Eu concluo.

Os senhores veem então como podemos imaginar o Céu como uma corte – aliás, é uma corte, celeste, perto da qual todas as cortes terrestres foram um exílio, foram um nada.

Quem dos senhores não gostaria de entrar na corte de São Luís, ser recebido como um guerreiro que vem das cruzadas trazendo um espinho da coroa de Nosso Senhor de presente para São Luís. E então entrar a cavalo no pátio do castelo de São Luís, com uma armadura esplêndida, trazendo um relicário de ouro, de cristal, e apresentar ao rei. O rei recebe benignamente, ajoelha-se para oscular a relíquia, todos os cortesãos aplaudem. Depois, quando a gente deixa a relíquia em mãos do rei, e o rei nos inundou com sem sorriso, sua grandeza, nos deu títulos, nos deu posses, nos deu tudo, nós passamos pelas filas farfalhantes dos cortesãos que nos cumprimentam e nos admitem como um dos deles.

Qual dos senhores não gostaria de passar por essa cena?… Isso é um exílio cheio de penumbra em comparação com o que é o Céu. Aí os srs. compreendem como é a corte celeste, é simplesmente uma coisa maravilhosa. É uma corte onde todos são desiguais, mas só há príncipes, e todos nós somos chamados para um principado dessa natureza.

Aqui está uma meditação sobre o céu, para tentar ajudá-los a conquistar o Céu.

(Pergunta: Nossa Senhora foi para o Céu do corpo e alma; Nosso Senhor também. Portanto, o Céu é um lugar físico. As almas dos homens vão para esse lugar físico, que é o Céu. Então, como são essas relações de uma alma, no Céu, com Nossa Senhora e Nosso Senhor, que tem corpo?)

A pergunta poderia ser a mesma, quais são as relações dos anjos, que são puros espíritos, com Nossa Senhora e Nosso Senhor.

Aos anjos é dado conhecer a matéria, e é dado conhecer o que a matéria viva ou morta, inanimada, tem de comum com Deus, e adorar a Deus nessa criatura chamada matéria. A alma do morto também tem essa possibilidade. De maneira que adora o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não só sua alma, e venera o corpo de Nossa Senhora e não só sua alma.

Não sei se minha resposta respondeu sua pergunta.

(Pergunta: O senhor poderia dizer como o senhor gostaria de passar o Céu?)

Poderia. Eu poderia até dizer como eu imagino o céu, ou seja, o meu céu, ou seja, como seria o céu para mim, mas compreendendo que por mais que eu imagine assim, Nosso Senhor, pelos rogos de Maria, pode me destinar uma coisa muito diferente e muito melhor. É, portanto, apenas um esboço feito do lado de cá, e não é como quem verá do lado de lá, e pedindo a Nossa Senhora que me dê coisa muito melhor do que eu posso imaginar daqui.

Mas tendo em consideração o feitio de minha alma, eu imagino que eu visse a Deus, depois Nosso Senhor Jesus Cristo, quer dizer, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade humanada; depois Nossa Senhora muito no alto, mas numa altura uma coisa prodigiosa, como eu gosto de vê-los; e, portanto, infinitamente superiores a mim, de tal maneira que eu me sentisse um grão de poeira em comparação com Eles;  encantado de ser um grão de poeira para Eles serem Eles. Mas ao mesmo tempo, por uma perfeição que não seria uma contradição, perto dEles, tão, tão perto, que eu visse tudo, considerasse tudo, e estivesse em condições, portanto, de amar tudo exatamente como Eles são.

Entre Deus e eu, entre Nossa Senhora e eu, uma hierarquia esplendorosa e harmônica de pessoas sucessivamente superiores; outras a outras, outras a outras, outras a outras, formando uma verdadeira corte com a participação de perfeições harmônicas que vão aumentando, aumentando, e através das quais eu ainda vou conhecendo melhor a Deus, pela disposição gradativa e ordenada de todas as coisas. E eu, encantado dentro disso, me sentindo pequeno dentro disso, mas enlevadíssimo com toda a coisa, e tendo a impressão de que tudo isso escorreria e refletiria em mim. Uma coisa gravíssima, seríssima, majestosíssima. Ao mesmo tempo, sem nenhum paradoxo, afabilíssima, muito cheia de sorriso e muito cheia de condescendência para comigo. De maneira que eu dissesse: Eu cheguei afinal à minha pátria, aqui estou eu.

Mas essa ideia não estaria completa sem a noção de uma relação muito especial com Nossa Senhora. De maneira que eu tivesse, em relação a Nossa Senhora, uma relação que se não fosse audácia, eu ambicionaria única; se os senhores quisessem, eu fosse um grão de poeira junto ao trono dEla, mas eu estivesse bem perto dEla. Se eu ousasse, seria até no Coração dEla. Isso é que eu quereria e isso seria o Céu para mim. Aqui está.

Bem, meus caros, foi tão alto o horário, que acho que podemos ficar por aí.

Nota: Para aprofundar o tema, consulte a documentadíssima obra O PARAÍSO – Considerações teológicas sobre o Paraíso celeste, visto principalmente enquanto lugar –  de autoria do Cônego Pierre-Joseph Pession

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