Características do católico fervoroso e as do tíbio

Reunião extra (trechos), 1º de dezembro de 1963

 

blank

Monumento construído por orientação do bem-aventurado Papa Pio IX, em homenagem aos zuavos que morreram em defesa da integridade dos territórios pontifícios (séc. XIX). – Cemitério do Verano, em Roma

Traçaremos a seguir as características do fervor do espírito católico e do catolicismo tíbio, e daí tiraremos as conclusões. Quais são as características de um católico fervoroso?
1) Ele deve ter, antes de tudo, a disposição de tudo abandonar, quando for contra a religião católica. Se ele não tiver essa disposição, não será um católico fervoroso;
2) Ter a persuasão de que todas as coisas se devem ajustar aos princípios e interesses da Igreja;
3) É um corolário da segunda: ter persuasão de que a doutrina e os interesses da Igreja não se devem sacrificar em nada; portanto, nada deve exigir que a Igreja se ajuste a nada; a Igreja é a regra e a medida de todas as coisas.
4) Só se agradar das pessoas (e não às pessoas), ou seja, só achar agrado nas pessoas e nas coisas na medida em que estão impregnadas do espírito da Igreja.
Esta é uma das características mais importantes do verdadeiro católico.
Se encontro uma pessoa que não tem o espírito católico e julgo a sua companhia uma delícia, é um sinal de alarme para mim. Estou com o meu subconsciente profundamente intoxicado, porque achei gosto numa coisa que não é católico e o acho agradável, um sinal de alarme deve tocar no meu exame de consciência. Por quê? Porque estou tendo atração, achando interesse numa coisa acatólica, e, portanto, há em mim algo que não é católico.
5) Por fim, punir com rejeição total ou com guerra fria aquilo que se opuser à Igreja. O católico verdadeiro é intransigente; se alguma coisa se opõe à Igreja ele a rejeita totalmente. E se, por razões de momento, para evitar um mal maior, por alguma circunstância, não pode operar essa rejeição total, ele pune aquilo com uma guerra fria.
As características do católico tíbio
Quais são as características do católico tíbio?
1) Ele só não chega ao erro expresso, indisfarçável. O católico tíbio não se torna protestante. O restante ele o faz. Disto o melhor exemplo é o Brasil, onde a propaganda protestante não consegue nenhum resultado, onde ninguém muda de religião e ninguém toma a sério a religião que tem… É o monumento da nossa tibieza. É exatamente o que diz Nosso Senhor: “se fosses frio ou quente eu te sujeitaria, mas como és morno, eu começo a vomitar-te de minha boca“.
O tíbio é bem morno. – Você ama a Igreja? – Não. – Você vai abandoná-la? – Também não. – Que você quer? – Ficar nela sem amá-la. – Por quê? – Porque eu me quero amar a mim; não quero amar a Igreja, nem a anti-Igreja… É um susto o eu romper com todas as minhas tradições; é cacete, difícil!
Então, vem aquela fórmula açucarada e miserável: “eu fico com a religião dos meus pais”…
2) Só combate os erros e os vícios que a opinião pública julga excessivos. Isto é especialmente característico no católico tíbio. Há, por exemplo, um escândalo na cidade; todo mundo censura. Diz o católico tíbio: “a gente se vê tentado a ficar apreensivo com o futuro da humanidade. Ainda bem que a providência divina nos ajuda”… Se a opinião pública não censurou, ele não censurará!
3) Tendência constante a adaptar-se a tudo, a todas as circunstâncias, a todas as coisas. Por isso mesmo, quando a moda é usar as mangas curtas, ele acha que está bem; naturalmente se fossem mais curtas do que a moda estariam mal. Quando os vestidos comumente usados expõem as costas todas de fora, e apenas deixam qualquer coisa no ombro ele diz: “bom, naturalmente compreende-se; é preciso acompanhar a moda. Não se pode ser anacrônico”. E acha que não há tanto mal, afinal, não vamos maliciar! Pode-se chegar até a nudez que ele sempre encontra um meio de se adaptar.
4) Em relação a certos erros larvados, ele tem ou uma simpatia declarada, ou pelo menos uma neutralidade. Por exemplo, em face do comunismo, ele é contra desde o princípio. Em face do socialismo, que é o comunismo com um pouco de açúcar do lado de fora, ele diz: “bem… naturalmente é preciso ver… alguma coisa é preciso conceder”… e afinal ele se adapta. Depois, quando reage contra o mal, reage tímida e veladamente.
Nada é engraçado como se ver um católico liberal passar pito num filho, num aluno ou num empregado. O empregado faz uma enormidade para ele; ele o chama e diz: – Fulano!” – “Que é?” – “Eu que tenho sido tão bom para você”… Segue-se um silêncio cheio de dúvidas… – “Eu que não tenho poupado manifestações de generosidade para com Você… eu queria pedir a você que não repita isto; olhe, é por você que eu faço, para você mesmo fica mal”… O empregado dá três respostas atravessadas. Ele, se for muito enérgico, sai dizendo: “olhe, você ainda há de me dar razão…”. É o católico acomodatício.

Contato