Santo do Dia, 14 de agosto de 1965
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
A festa da Assunção de Nossa Senhora foi proclamada dogma pelo Papa Pio XII (a 1° de novembro de 1950, n.d.c.). Esse dogma era ardentemente desejado pelas almas católicas do mundo inteiro, porque é mais uma das afirmações a respeito de Nossa Senhora que A coloca completamente fora de paralelo com qualquer outra mera criatura, justificando o culto de hiperdulia que a Igreja lhe tributa.
Nossa Senhora, depois de uma morte suavíssima, que é qualificada com uma propriedade de linguagem muito bonita, pelos autores como a “dormição” de Maria Santíssima, indicando que Ela teve uma morte tão próxima da ressurreição que, apesar de ser uma verdadeira morte, entretanto mais parecia a um simples sono. Nossa Senhora depois da morte ressuscitou como Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi chamada à vida por Deus e subiu aos Céus, em presença de todos os Apóstolos e de uma quantidade muito grande de fiéis.
A Assunção representa para Nossa Senhora uma verdadeira glorificação aos olhos dos homens e de toda a humanidade até o fim do mundo e o proêmio da glorificação que deveria receber no Céu.
Seria interessante se pudéssemos fazer uma recomposição de lugar para imaginarmos, à nossa maneira, como a Assunção se passou, uma vez que a respeito do fato não nos consta que haja descrições.
Então, os Apóstolos todos ajoelhados, rezando. E, com a presença deles, algo de inefavelmente nobre, sublime, recolhido, interior, todos com expressões de personagens de Fra Angélico. O céu material enchendo-se gradualmente de Anjos (à imagem também dos pintados por Fra Angélico), com coloridos os mais diversos, com matizações, com irradiações magníficas, de maneira tal a apresentar um espetáculo absolutamente incomparável!
Se Nossa Senhora pôde dar ao céu um colorido tão diverso e produzir fenômenos tão excepcionais em Fátima, por que o mesmo não se teria dado por ocasião de Sua Assunção ao Céu? Ela em oração, Ela que se coloca em pé, o respeito e recolhimento de todos aqueles que estão lá vão crescendo, Sua semelhança física com Nosso Senhor Jesus Cristo que vai se acentuando cada vez mais… A glória de Nosso Senhor transfigurado que se vai comunicando a Ela, que refulge cada vez mais como Rainha, cada vez mais majestosa, cada vez mais materna também. Todo seu interior se manifestando de modo supremo nessa hora de despedida…
Alguns Anjos – talvez, os mais esplendidos do Céu – que se aproximam e que fazem Nossa Senhora subir. Com o auxílio deles, Ela vai sendo elevada e, aos poucos, o céu vai se transformando, aquela maravilha vai mudando…
A terra volta ao aspecto primitivo, os homens retornam para casa com a sensação que tiveram na Ascensão de Nosso Senhor, ao mesmo tempo maravilhados, com uma saudade sem nome, desolados por algum lado, mas levando na retina algo que nunca tinham visto, nem podiam ter imaginado a respeito de Nossa Senhora.
O triunfo de Nossa Senhora que começa no Céu: a Igreja gloriosa inteira vai recebê-La, todos os coros angélicos, Nosso Senhor Jesus Cristo A acolhe, São José está perto, depois é coroada pela Santíssima Trindade…
É impossível pensar nesse triunfo terreno, sem pensar no triunfo celeste que veio logo a seguir. É a glorificação de Nossa Senhora aos olhos de toda a Igreja triunfante e aos olhos de toda a Igreja militante.
Com certeza, nesse dia também a Igreja padecente teve uma efusão de graças extraordinárias e não é temerário pensar que quase todas as almas que estavam no Purgatório foram libertadas por Nossa Senhora nesse dia. De maneira que também ali houve uma alegria enorme. Assim é que podemos imaginar como foi a glória de nossa Rainha…
Algo disso se repetirá, creio, quando vier o Reino de Maria, quando virmos o mundo todo transformado e a glória de Nossa Senhora brilhar sobre a terra, porque Seu reinado começou de modo efetivo e dias maravilhosos de graças – como nunca houve antes – começam a se anunciar também. Antes de contemplarmos a glória de Nossa Senhora no Céu, havemos de contemplá-La na terra certamente, com algo que poderá nos dar alguma semelhança desse triunfo sem nome que deve ter sido, mesmo aos olhos dos homens, a glória de Maria.
Os Marechais Foch e Joffre à testa do desfile da vitória, na Avenue Champs-Elysées (julho de 1919), após a I Guerra Mundial
Quando pensamos nos triunfos que os homens têm preparado para seus grandes batalhadores, quando pensamos, por exemplo, o que foi feito pelas tropas francesas que venceram os alemães e desfilaram sob o Arco do Triunfo, depois da Guerra de 14-18, em tantos triunfos que os romanos preparavam para seus generais vencedores, devemos compreender que Nosso Senhor Jesus Cristo, que é infinitamente mais generoso, deve ter premiado Nossa Senhora, no triunfo dEla aos olhos dos homens, de um modo também incomensuravelmente maior. E que tudo quanto de mais glorioso e triunfal nessa hora da Assunção de Nossa Senhora, terá certamente brilhado.
Meditando nisso, pensamos também na virtude que devemos pedir a Nossa Senhora a propósito dessa festa. É claro que cada um deve pedir a virtude que mais carece. Mas não haveria demasia em pedirmos a Ela uma virtude: o senso de Sua glória, compreender bem tudo quanto representa a glória de Nossa Senhora na ordem da criação, como isso é a mais alta expressão criada da glória de Deus. E, portanto, como devemos ser sedentos de afirmar, de defender a glória de Nossa Senhora na terra, por uma virtude de combatividade levada ao seu último extremo, sempre segundo a Lei de Deus e dos homens. E que Ela nos faça verdadeiros cavaleiros, verdadeiros cruzados, lutando por Sua glória na terra. Essa, parece-me, a virtude mais adequada a se pedir nessa festa de glória, que é a Assunção de Nossa Senhora.