Santo do Dia, 25 de outubro de 1989
A D V E R T Ê N C I A
Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Pe. Pierre-Joseph de Clorivière S.J. (1735-1820), Fundador das Filhas do Coração de Maria, reorganizador da Companhia de Jesus que havia sido fechada pelo Papa Clemente XIV
[Leitura feita por eremitas]
(…) no mundo de vossas leituras. Ah! Quem nos dera poder nos deliciar com todos os livros que sublinhastes até hoje. Enquanto esse bendito dia não chega, aproveitemos esta oportunidade que a Providência nos dá de retomarmos os escritos do Pe. de la Clorivière.
Tanto mais que o livro desse insigne Jesuíta muito atraiu vossa atenção entregando à história do Grupo um esplêndido documento de vossa sabedoria e acuidade de espírito.
O sublinhado não deixa perder uma só frase ou um simples vocábulo quando se manifestam importantes.
Os trechos lidos nessa reunião foram traduzidos da obra acima, a qual pode ser consultada e/ou se fazer o download clicando na imagem acima
* Previsão da extinção de todo poder legítimo – É possível tal extinção?
Em seus livros “Doutrina da Declaração dos direitos do Homem” [Déclaration des Droits de l’Homme (1793)] e “Vistas sobre o futuro” [Vues sur l’Avenir (1794)], o Pe. de Clorivière previa o alastramento dos males da Revolução Francesa por toda a Europa, bem como a modificação das instituições e da própria personalidade do homem.
Previa também a extinção de todo poder legítimo, a terrível perseguição religiosa e a abolição do direito de propriedade.
Vejam, é interessante um lado: “extinção de todo poder legítimo”.
Em última análise a gente pergunta como é possível isto. Afinal de contas os poderes legítimos, vamos dizer numa monarquia: cai a dinastia legítima, vem uma dinastia que não é legítima, mas com o tempo – como todas as coisas existem para o bem comum – acaba acontecendo que a dinastia que não era legítima, pode ficar legitimada com o tempo. E a que era legítima pode ficar perempta; deve-se-lhe uma indenização, devem-se-lhe honras, devem-se-lhe manifestações de reconhecimento, mas fica perempta, pode acontecer.
Então como é todo poder é abolido? Cai uma monarquia e vem outra substitui. Numa república, os presidentes da república se substituem. Então, uma república não ser legítima. O Brasil está na quintésima, octagésima república, todas elas mais ou menos são legítimas. Então, como é que pode ser isso?
* A pan-Europa e o fim da legitimidade do poder
Agora, se os senhores tomem em consideração, por exemplo, a abolição das pátrias na Europa e a fundação de uma república pan-européia, essa república será legítima?
Uma nação europeia que num momento de amortecimento, tenha reconhecido isto aqui, porque estava amordaçada como aquele desenho manifesta, ela é obrigada, quando ela se acorda, a se inclinar diante do vencedor?
Se aquele governo não é, por exemplo, espanhol, a Espanha é obrigada a aceitar quando ela se dá conta? Eu tenho, pelo menos, muitas dúvidas a esse respeito.
Agora, se estes governos postiços e universais se estabelecem como cataplasmas em vários lugares, serão legítimos esses governos? É ou não é verdade que se pode chegar a um extremo aonde nenhum poder legítimo exista na Terra?
Os senhores estão vendo como isso lança luzes para o futuro, não é?
Para frente.
* Ou cremos no milagre da derrota da Revolução ou devemos crer no fim do mundo
Por fim, profetizava ele a derrocada da Revolução e a instauração do Reino de Maria nos seguintes termos:
“Haverá uma época em que Deus interromperá os males dessa Revolução…”
Notem hem! “Deus interromperá”! Quer dizer, às vezes a Revolução parece tão forte, tão forte, que eu tenho receio que no espírito de alguns de meus filhos se estabeleça alguma dúvida “quem acaba com esse Moloque? Não há forças na Terra que acabe com esse Moloque”.
Eu estou de acordo, acho inteiramente evidente. Mas por cima desse Moloque, tem Deus Nosso Senhor, tem Nossa Senhora que esmagou a cabeça da serpente. E, ao pé da letra, nós ou acreditamos nesse milagre, ou devemos acreditar no fim do mundo. E é engraçado que por uma conformação de mentalidade errada, quem não acredita nesse milagre, também não acredita no fim do mundo. Por quê? Em quem é que acredita, quem não acredita nesse milagre e não acredita no fim do mundo?
* Quem não acredita no excepcional tem uma alma abjeta
Acredita na eterna banalidade de todas as coisas, que a única coisa provável é o trivial, o banal, o de todos os dias, que o excepcional é igual a coisa que não acontece nunca. E quem acredita no erro, ama o erro em que acredita.
Algo lhe atrai nesta miragem abjeta da banalidade infinita, da trivialidade infinita, da rotina incessante e eterna; isso lhe atrai! No que revela uma alma que não pode deixar de causar – a palavra é dura, mas… “o pai que poupa a vara a seus filhos” [Provérbios, 13, 24] – então eu digo: abjeto.
A alma, a alma que não acredita no excepcional, no extraordinário, na interrupção brusca das coisas, no fato da Providência sair de seus próprios rumos habituais que nunca são banais, mas são imóveis e à fraqueza humana podem parecer banais. E que Deus, de vez em quando, sai da sua, por assim dizer, rotina e altera o curso da história, quem não acredita nisso e gosta de acreditar na continuação do tran-tran-tran, tran-tran, eterno e que nunca passa, manifesta uma alma abjeta.
Bem, vamos para frente.
* Os que recorrem a Nossa Senhora serão atendidos com superabundância
“Nessa época, é à Mãe de Deus que os fiéis serão devedores dos insignes favores que receberão. Muitos de seus filhos serão eminentes em santidade e o Senhor fará conhecer com superabundância as grandezas de Sua Mãe…”
Isso é muito interessante hein! Deus fará “conhecer com superabundância” as grandezas da Mãe dEle. Isso vem depois de uma frase em que acaba de ser dito que é pela intercessão de Nossa Senhora que Deus intervirá.
Há na Escritura um salmo que pergunta a Deus “Levantai-Vos, Senhor, por que Vós pareceis dormir?” É o gemido de aflição de uma alma que percebe que as horas de afastamento de Deus, em que Ele está longe e que parece não intervir, que essas horas de afastamento de Deus estão demorando demais. São almas superiores que então perguntam “levantai-Vos, Senhor, por que Vós pareceis dormir?” parece que Deus está dormindo e que não se incomoda com isso e que vai tocando para frente.
A resposta é: Deus se levanta desde que esse gemido seja feito por meio de Nossa Senhora, apresentado por meio de Nossa Senhora. Porque todas as nossas orações devem subir a Ele por meio dEla, senão não são ouvidas, é inútil.
Agora, então, porque nós rezamos por meio dEla, vem um atendimento superabundante, e a graça dEla, o esplendor dEla é manifestado também de modo superabundante.
Superabundante é evidentemente coisa diferente de abundante. O abundante já é mais do que necessário. Não tem verdadeira abundância quem tem quantidade estrita de bens.
Por exemplo, um jantar abundante é um jantar que tem mais do que o necessário em comida e em bebida, senão não é abundante. É um jantar suficiente.
Agora, vejam a energia da expressão: superabundante! Mais do que abundante; é assim, um trasbordamento.
Haverá, portanto, um trasbordamento de manifestação de glória de Nossa Senhora; isso nós devemos desejar com ênfase.
* Duas forças lutam pela conquista do século XXI
“… de tal sorte que este século poderá ser chamado o Século de Maria”…
Eu estou interrompendo à toda hora. É bom fazer-se o comentário. Então, há duas forças no mundo que preparam o século que vem: uma é a deles que prepara a república universal, que prepara o ecumenismo universal, uma só religião, um só Estado, um só chefe, um só país, com as nações que desaparecem e com o homem da ONU que fica o tipo humano universalizado em toda a Terra. Um homem que é o resultado da fusão e da confusão de todas as raças, com uma só religião etc., etc. Isso é o século deles.
Mas também há uma outra força que prepara o século XXI, que prepara o segundo milênio, e esta força prepara pela oração, pela luta, pelo sacrifício. Sabe que é fraquíssima para isso, mas sabe que a oração pode tudo e por isso caminha com ânimo. Qual vai ser esse século? O Reino de Maria!
* Revolução francesa: uma revolução satânica, paradigma das revoluções
Um dos manuscritos, com aproximadamente 700 páginas, é datado de 1794 e tem por título: “Visão sobre o futuro” (“Vues sur l’avenir”).
Ainda em plena Revolução Francesa.
Dele foram extraídos os trechos que passaremos a ler.
“Se por desgraça as trevas que a Revolução se propõe difundir por meio desta Declaração dos Direitos do Homem vier a se expandir sobre a terra, se a maior parte dos homens se deixar arrastar por ela, então nós teremos chegado a esses tempos infelizes, nos quais, segundo as terríveis palavras dos livros Sagrados, o Sol da verdade se terá obscurecido”.
Escreveu ele ainda:
“A Revolução é satânica.
“Desde o nascimento do cristianismo, desde o começo do mundo, jamais se viu revolução onde a impiedade tenha se mostrado tão a descoberto, tenha cometido excesso e una, tão monstruosos e tão extravagantes”.
Vejam que é um homem que morreu em odor de santidade. Ele conhecia muito bem, antes da Revolução Francesa, a Revolução protestante que foi o germe da Revolução Francesa. E com ela o humanismo e a Revolução que também foram germes da Revolução Francesa. Ele considera que nada disso, desde o começo do mundo, foi tão ruim quanto a Revolução Francesa.
De maneira que a primeira Revolução de que se tem história no mundo foi uma Revolução doméstica. Quando o gênero humano era igual a uma família, tempo de Adão e Eva na Terra, houve a revolução de Caim contra Abel, revolta etc., etc., e um crime.
Está bem, desde lá até hoje, todo o sangue que foi vertido em crimes, todas as revoluções não foram – como dizia o padre de Clorivière em 1794 – como a Revolução Francesa. Os senhores compreendem, então, quanta razão tem a TFP de colocar a Revolução Francesa num lugar de muito destaque nas suas considerações históricas.
* O que deveria causar indignação foi causa de sucesso
“No entanto ela se expandiu com a rapidez a mais espantosa, através dos meios menos proporcionados ao sucesso, e o que devia chorar e revoltar os espíritos, não serviu se não para lhe dar novas forças”.
Quer dizer, o que deveria produzir cristalizações não cristalizou, abateu. Por exemplo a reforma agrária no Brasil, por exemplo, a Constituição em vigor no Brasil, deveriam provocar indignações. Onde é que está a cristalização? Os senhores querem me apontar? Não existe!
* Sem razão e contra toda razão uma completa mudança do povo francês.
“Um grande povo (o povo francês) subitamente mudou de princípios, de modos, de leis, de religião. Sem razão e contra toda a razão, quer de política, quer de interesse, QUER DE GLÓRIA, quer de prazer, adotou o ateísmo.”
Este texto é do próprio padre de Clorivière?
(Sim.)
Vejam bem hein? Leia de novo, faz favor.
“Um grande (o povo francês) subitamente mudou de princípios, de modos, de leis, de religião.
“Sem razão mudou de princípios…”
Os princípios que norteiam o pensamento do homem.
“De leis, de modos, de costumes e depois de religião”…
Mudou de tudo. Um grande povo, evidentemente, é o povo francês.
Agora, entra o ponto que nos interessa.
“Sem razão, e contra toda a razão.”
Quer dizer, não havia nenhum motivo razoável para isso. Mas ele não quer dizer o seguinte: nenhum princípio moral que justificasse isso, é outra coisa, os interesses mesquinhos do homem, nada levava a fazer a Revolução Francesa, isso é que ele quer dizer. Portanto, nem neste ponto se explica a Revolução Francesa.
Faz favor de ler a enumeração.
“Sem razão, e contra toda a razão.
Então, as razões políticas da França não levavam a fazer a revolução. Os interesses da França não levavam, é evidente, não levavam mesmo.
Continue, faz favor.
“… quer de glória…”
A glória da França não lucrou nada com a revolução. Pelo contrário.
“ … quer de prazer…”
Quer dizer, a Revolução não trouxe prazer. Interrompeu a feira de prazer do Ancien regime, para produzir uma queda em todo tônus da vida humana, torná-la mais banal nessa caminhada rumo ao feio, que é a caminhada ininterrupta dos homens desde então para cá.
“…adotou o ateísmo…”
Adotou o ateísmo apesar de todas essas razões, não havia nenhuma razão secundária que levasse a isso. Contra o próprio interesse fez isso. Isso é próprio do demônio que leva o homem a querer suicidar-se.
* Uma tal mudança só pode atribuir-se ao poder do demônio
“Este povo parece não sonhar com outra coisa que cegar-se, envilecer-se e abraçar ardorosamente tudo aquilo que o tornará infeliz”.
É isto.
“Ele adota as noções mais cruéis, acolhe as proposições mais insensatas e aplaude as fanfarronadas mais ridículas”.
É tal qual! Tal qual!
“Não se pode encontrar a razão de tudo isso a não ser num maior poder dado aos demônios, a esta liberdade que, segundo diversas passagens das Escrituras, é dada em certas épocas ao poder das trevas.
“Esta permissão maior que o Senhor dá aos demônios para tentar os homens e de utilizar contra eles os artifícios de que sua natureza angélica, os torna capazes, esta permissão é um castigo da cólera Divina. Entretanto, Deus dá essa permissão, como que lamentando-se e contrariando a própria vontade: “non humiliavit ex corde filios hominun (Then. III, 32.)” – Por si mesmo Deus não quer se não o bem de suas criaturas: “De Suo bonus”, é preciso que ele seja forçado por nossos pecados, nosso orgulho, nosso endurecimento.
“Sem isso, abandonaria ele ao furor de seus inimigos os filhos resgatados pelo sangue de Jesus Cristo?
* Os que alertam contra a Revolução são tidos como fanáticos
“Se os povos, voltando a si mesmos, se humilhassem sob a mão do Todo Poderoso, se eles reconhecessem sua loucura e voltassem atrás, sem dúvida, Deus se deixa fletir, o poder dos demônios seria encadeado, e graças maiores seriam dispensadas aos povos, e fortificados por este socorro, eles triunfariam por sua vez dos infernos conjurados. Essa mudança deve ser objeto de nossos votos mais ardentes”.
Quer dizer o seguinte, então. É um homem eminente, como o padre de Clorivière, este homem, entretanto, diz que os votos os mais ardentes do homem devem ser o esmagamento da Revolução. Isso se ensina na TFP.
“Mas a conduta destes povos deixa margem ao temor de que por muito tempo eles não reconhecerão nem mesmo os próprios males. Eles são escravos e se dizem livres…”
É essa gente aí…
“…eles se afundam nas trevas e creem avançar na direção da luz. Eles nos olhariam como insensatos, como fanáticos se nós lhes disséssemos, sobre a fé dos divinos oráculos, que eles são joguetes e instrumento do espírito das trevas, que sua miséria é lamentável, a sua cegueira extrema.
A TFP, porque diz isso, é tida como uma organização de fanáticos…
* Admirável castigos para um povo apóstata
“E, entretanto, eles fizeram aliança com esses gênios malfeitores para fazer guerras a Jesus Cristo.
“Só um golpe assinalado de misericórdia Divina os poderia fazer voltar a si mesmos, o que não é impossível a uma bondade infinita. Eu não creio que tenha havido até aqui tal exemplo de todo um povo apóstata que se tenha tornado tão indigno.
“Devemos esperar especialmente naqueles que, apesar de engajados no mesmo triste caminho que segue o corpo da nação, não estão ainda inteiramente endurecidos. Resta-lhes a fé, as impressões de uma educação cristã, eles desejariam que não se tivesse chegado a tão grandes excessos, eles gemem em segredo. Nós lhes diremos o que Jesus Cristo dizia aos judeus: “Vos resta ainda um pouco de luz, caminhai na sua luminosidade”, e com o profeta: “Dai graças ao Senhor vosso Deus antes que a noite vos cubra com sua sombra”.
“Esses que o Senhor, por uma graça especia,l preservar em tais tempos em que o mal estiver generalizado, devem utilizar sabias precauções para merecer que a continuidade de um tal socorro lhe seja assegurada. É-lhes necessário estarem convencidos do ódio com o qual o inferno ataca nesta época os homens e do poder maior do que em qualquer outro século, que é dado a Satanás”.
Daí, daí a necessidade, dentro dos planos de Deus, da “Bagarre” [realizações das profecias de Nossa Senhora em Fátima, n.d.c.], em que o poder do demônio vai aparecer, e alguns homens a mais vão compreender o que que é que isto, e o que é o demônio. Eles vão ter que ver o poder o demônio no que tem de mais sinistro. A Bagarre se presta admiravelmente para isso.
* O sinal do combate está dado, não é mais tempo de pensar em repouso
“Conhecedores da força de seus inimigos, esses que foram preservados, sentirão melhor a excelência desse favor, eles confessarão que não podem se atribuir a glória, e que eles não devem cessar de se manter atentos.
“É nessa ocasião, com efeito, que é preciso fazer entender aos habitantes da terra o que trama contra eles o inimigo do gênero humano. O sinal do combate está dado, não é mais tempo de pensar em repouso…”
Ouvi “sabugos”! [neologismo para quem perdeu o entusiasmo, n.d.c.] ouvi!
“Uma fé pusilânime não poderia se não nos enfraquecer e dar vantagens a nossos inimigos. Isso que é um castigo para os que são de Deus às meias, não é se não uma prova para os que generosamente abraçaram seu serviço”.
“Pusilânimes” que ele disse aqui há pouco, quer dizer alma pequena, alma fraca, culposamente pequena, culposamente fraca. São os adoradores da banalidade.
Então, ele diz que esses que são assim, têm uma fé fraca. Em castigo pela fraqueza de sua fé, o poder do demônio se acresce e aparece no seu horror.
Mas há outros que não são assim, e para esses vem depois a misericórdia através da Bagarre e do Reino de Maria.
“O combate é mais violento a fim de que a vitória seja mais gloriosa, e Deus aumenta as forças de seus soldados quando Ele os expõe a perigos maiores. Ele está conosco, que temeríamos nós? Eles combaterá por nós, que podem nossos inimigos? Nós poderíamos os desafiar como o profeta: “Juntai-vos, fazei planos, eles serão aniquilados”.
* A Revolução é inimiga de Jesus Cristo
“O grande esforço do inferno, agora sobretudo, consiste em tentar separar os homens de Jesus Cristo, em colocá-los na inimizade de Jesus Cristo. Todos os bens que Deus fez ao homem, os fez em vista de Jesus Cristo. Jesus Cristo é a chama do mundo. Separando-se dEle, os povos, como os indivíduos, caem nas trevas, perdem sua glória e sua felicidade. E será sempre assim. “Se alguém não ama o Senhor Jesus, que ele seja anátema”, diz São Paulo (I Cor XVI 22). E como Jesus Cristo é tratado entre nós? Este sol de justiça, ainda que sempre resplandecente de uma luz inefável, perdeu para nós seu esplendor, os raios de sua glória, se obscureceram, os traços de seu amor desapareceram. Não se o conhece mais, ou antes, não se o conhece a não ser para O ultrajar. Se vota ao ridículo seus mistérios, se trata suas verdades como mentira, e sua religião de fanatismo. Não há mais a nossos olhos nada de grande, nada de amável, nada de divino. Nós o olhamos como um sedutor, e nos afastamos como de coisas insuportáveis de tudo que se nos traz sua recordação”.
É ao pé da letra, assim com Nosso Senhor Jesus Cristo!
“A ponto de não se poder duvidar de que se Ele ainda estivesse sobre a terra O faríamos padecer novamente os tormentos e as ignomínias da Paixão”.
Os senhores notem bem, hein? Isso em 1794! Agora, de lá para cá as coisas não fizeram se não piorar muito. Então os senhores compreendem até que ponto nós temos razão em dizer que está sendo cometido hoje em dia um como que deicídio pela autodemolição.
* Os ímpios de hoje, piores que os judeus e pagãos de outrora
“Mais duros que os judeus, nós não suportaríamos, ó Jesus, que Vossa Santa Mãe Vos acompanhasse ao Calvário com Vosso Discípulo bem amado. As filhas de nosso povo tiveram contra vós a ferocidade de tigres, e ensinamos as crianças a insultarem Vosso nome!”
Compreendem bem a coisa? Quer dizer a coisa chega tão longe que os judeus não impediram Nossa Senhora e São João Evangelista chegarem até o pé da cruz; os homens de hoje impediriam!…
Isso quer dizer o seguinte: quem é que faz o papel de Nossa Senhora e dos Evangelistas aqui? São os devotos de Nossa Senhora, aqueles que amam com ternura a Nosso Senhor Jesus Cristo. A Revolução, tanto quanto possível, evita que cheguem ao pé da cruz.
“Os pagãos não tinham contra Jesus Cristo o ódio dos ímpios de nossos dias. Os povos cismáticos ou heréticos fazem profissão de O adorar como seu Deus. Nenhum povo se cobriu da desonra de nossa apostasia nacional. E a cada dia são cometidos novos excessos”.
* O contraste entre a conversão e a perversão dos povos
“O estado do mundo caído nas trevas do paganismo e o estado deste mesmo mundo tornado cristão, nos oferecem, sem dúvida, os contrastes mais extraordinários. Nós vemos, por todos os lugares onde triunfa a luz do Evangelho, um solo inculto se tornar uma terra facunda, os lobos se transformarem em cordeiros, as mais belas virtudes triunfarem em corações antes infectado pelo vício, a paz se estabelecer onde reinava o ódio, e os corações se unirem na verdade e na caridade.
“Mas o contraste que nós apontamos entre o estado dos povos esclarecidos pelos esplendores da Fé e seu estado precedente, se perde na profundeza dos séculos. O contraste que se dá a nossos olhos é de natureza a nos impressionar muito mais e, aliás, se nós aproximarmos a mudança que se deu outrora nos povos que se tornaram cristãos, desta que se dá com estes que hoje abjuram o Cristianismo, o contraste impressionará ainda mais. A primeira mudança se fazia por degraus, a maior parte dos habitantes de um país tinham pouco a pouco abraçado o Cristianismo antes dele ter sido estabelecido oficialmente”.
Isso se deu em Roma e depois se deu no começo da Idade Média. Foi aos poucos, gradualmente.
“A segunda mudança se fez de repente. Uma grande nação (a França) onde Jesus Cristo era conhecido e adorado, em pouco tempo virou as costas, derrubou seus altares e ignorou sua divindade.
“Na primeira mudança, as sãs luzes da razão inclinavam o homem na direção da Fé, ele não fazia se não deixar-se vencer pelas provas as mais convincentes. Na segunda mudança, é preciso que o homem apague as luzes da razão e endureça seu coração. Na primeira mudança, o homem entrava numa região de luz e via se abrir diante dele a perspectiva de uma superior felicidade. Na segunda, o homem não pode nada esperar do futuro, sua esperança é iniquidade, ele nada tem diante de si se não trevas e confusão.
“O pagão tinha uma ideia sã a respeito das virtudes morais, e se não se lhes conformava sua conduta, ao menos as sabia estimar e não as desaprovava”.
Isso se diz sobretudo do mundo clássico greco-romano, que tinha muitas idéias a respeito da verdadeira moral etc., porém não praticava.
“Os povos que abandonam o cristianismo passam da luz à espessas trevas, da escola da divina Sabedoria ao que a loucura tem de mais extravagante. Da teoria, se não da prática das virtudes aos desregramentos mais abjetos. Que se considere ainda uma vez, o que a França foi por mais de quinze séculos e o que ela é hoje”.
E o que ela é hoje?…
* A doutrina da Igreja é imutável, é preciso ter cuidado com as “novidades”
“Remédios para os males da revolução.”
“Como é Jesus Cristo que se ataca diretamente, como é seu conhecimento que se quer obscurecer e, se possível, extirpar do espírito dos homens, persuadidos de que assim a religião cristã cairá por si mesma com todos os seus mistérios, nós, portanto, ao contrário, para tornar esses esforços inúteis, devemos fazer um estudo ainda mais aprofundado de seu conhecimento. Devemos penetrar nas provas de Sua Divindade, da admirável economia do mistério de Deus feito Homem, das prerrogativas de sua Igreja.
“Em matéria de Fé, é sempre à Sede de Pedro que é preciso estar abraçado e porque a doutrina que a Igreja ensina e sempre ensinou, não varia, é preciso que jamais dela nos apartemos.
“É importante fazer uma reflexão a qual seria de desejar que se desse uma especial atenção: nos momentos em que não se pode consultar a Igreja ou seu primeiro Pastor, a quem a infalibilidade é prometida, é preciso não se reportar cegamente a nenhuma autoridade particular, pois que não há nenhuma que não possa ser arrastada ela mesma e nos arrastar com ela para dentro do erro”.
Aqui, a “autoridade particular”, “particular” quer dizer regional, de uma parte. Há uma autoridade universal que é a autoridade da Igreja considerada no seu ensino, mas não é o ensino de um Papa durante um pontificado apenas, mas é o ensino contínuo dos Papas desde São Pedro até nossos dias. Pelo que havendo um ensinamento de um Papa que contradiz o dos anteriores, esse ensinamento deve ser tido como não infalível, porque dois infalíveis não podem contradizer-se, deve ser tido como não infalível, porque se o anterior era infalível o que diz depois o contrário, só pode ser falível.
E então nós temos que nos ater aos ensinamentos infalíveis da Igreja durante esse tempo e ter cuidado com os ensinamentos episcopais. Porque pode ser que sejam arrastados esses ou aqueles dos bispos para os erros, então, cuidado. E pode ser que isso aconteça com uma nação inteira.
* É preciso ter o olhar mais voltado para a força e o número das provas e das razões do que para o número das autoridades particulares
“É menos à autoridade pessoal do que à autoridade das razões alegadas que é preciso se ater. Estas são circunstâncias nas quais uma obediência cega não pode ser louvada. É preciso utilizar o discernimento como diz o Apóstolo: “Rationabile sit obsequium vestrum”, enfim é preciso ter o olhar mais voltado para a força e o número das provas e das razões do que para o número das autoridades particulares.
“Isto porque nos tempos de convulsão, em que a verdade é perseguida, acontece de ordinário que o maior número pende para o lado que favorece sua fraqueza, ainda que menos conforme à verdade”.
Desconfiança, portanto, com o sufrágio universal…
“É preciso então consultar o Senhor com simplicidade, no desígnio e na firme resolução de seguir as luzes da própria consciência, sem prestar atenção no que possa acontecer de desagradável, nem no mau julgamento que os homens possam fazer de nossa conduta. O Senhor se compraz em esclarecer uma alma que O procura com retidão, e as luzes de uma sã consciência se harmonizam sempre com as decisões de uma verdadeira doutrina. Se conformando com essas luzes, se viu almas as mais simples mostrarem uma coragem a uma firmeza singulares na defesa da Verdade.
* É privilégio do coração puro ver em todo o seu esplendor a luz de Deus
“Mas quando, não querendo se ater aos ditames por demais onerosos da própria consciência, se consulta sem cessar novos doutores, Deus, em punição, permite que se encontre os que deem respostas conforme ao desejo da natureza; elas servem para abafar os gritos da consciência, mas Deus não fica satisfeito. Tal, entretanto, é a conduta de um grande número.
“Não é suficiente esclarecer o espírito, é necessário depurar o coração a fim de que o espírito possa receber e conservar a luz”.
O “coração” aqui é a vontade.
“Em geral, todas as inclinações perversas que alteram a pureza do coração, alteram a penetração do espírito e o ofuscam”.
Tese muito da RCR [do livro “Revolução e Contra-Revolução”].
“É privilégio do coração puro ver em todo o seu esplendor a luz de Deus. Dois vícios, mais que todos os outros, fizeram tombar nosso século nas trevas: o orgulho e a impureza.
* Blasfema contra tudo que tenha algum sinal da majestade divina
“Jamais os homens entregues à impiedade puderam verificar como hoje em dia a propriedade destas palavras: “eles rejeitam com menosprezo toda a dominação e blasfemam contra tudo o que porte algum sinal da majestade Divina”.
Esse é um ponto muito interessante: blasfemam contra tudo que tenha alguma sinal da majestade divina. Quer dizer, tenham alguma majestade, algum frangalho de majestade, algum resto de majestade, alguma nota de grandeza, isso detesta.
E a evolução das modas, por exemplo. Mostra isso constantemente. E tudo quanto se fabrica hoje, de novo, quanto é novo é menos elevado do que o anterior. Porque toda a elevação, toda dignidade, toda beleza é odiada porque reflete em algo a Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso é sistemático.
* A libertinagem que rompe as barreiras entre nós o caminho para o reino de impiedade.
“Se a Fé morde suas consciências, os voluptuosos a tratam como crença infantil e encontrando no sistema da impiedade a justificação para as suas inclinações, nele se jogam pensando poder assim fazer calar seus remorsos. Um século em que reinam os bons costumes não se torna um século de incredulidade; é a libertinagem que rasga entre nós o caminho para o reino da impiedade.
“Os agentes da Revolução destrutiva, apresentando ao povo a doutrina infernal da liberdade, desenfrearam suas paixões, encorajaram suas inclinações para o vício, romperam as barreiras e fizeram desaparecer a desonra que um resto de pudor opunha às inclinações as mais baixas. E isto enquanto eles fomentavam seu orgulho com o fantoche da igualdade, e destruíam toda subordinação. Desde então não era difícil substituir a verdade pela mentira e a pura religião de Jesus Cristo pelas superstições mais monstruosas.
“É preciso, pois, tocar o povo na sua consciência, este juiz interior que o Soberano Mestre estabeleceu no coração de cada um. Se a razão e os bons costumes retomarem algum império, isto não se dará sem o concurso da religião fazer amar a virtude, em especial a prática dos Sacramentos”.
Isso é tese da RCR genuína, inteira!
* Revolução sangrenta se estancou, mas a revolução nas almas continuou cada vez mais para frente
“O dever nos dias de perseguição surda.
“Nós supomos que haverá uma interrupção nos males da presente Revolução, e esta suposição se apoia no estudo das Sagradas Escrituras. Mas como o mau subiu a um tal ponto, nosso país não se reerguerá sem uma intervenção maravilhosa de Deus como até agora não tivemos exemplo”.
A profecia dele se cumpriu ao pé da letra! Porque a Revolução Francesa nos seus excessos foi baixando gradualmente de Robespierre, Danton a Marat – para dar um ponto de partida – até o período de paz, ao menos de paz interna de Napoleão Bonaparte.
Mas o que os fatos mostram que a Revolução sangrenta se estancou, mas a Revolução nas almas continuou cada vez mais para frente.
“Como essa interrupção não parece próxima e, pelo contrário, parece dever dar-se em vista da conversão dos judeus e dos povos infiéis, nós não falaremos dela como de uma coisa certa e antes de fazer alguma previsão a respeito, exporemos o que parece convir no caso em que haja a perspectiva de uma ordem de coisas favorável à religião.
* Cuidado em qualificar de boas as pessoas
“Virtudes necessárias em tempos convulsionados”.
Isso agora, para nós é muito importante.
“Em um tempo no qual a Igreja não está menos exposta ao furor de seus inimigos do que nos primeiros séculos, é preciso uma virtude não menor em seus filhos. Uma virtude medíocre não lhes seria suficiente para continuarem discípulo de Jesus Cristo”.
Portanto, os senhores devem ter cuidado em não ir chamando irrefletidamente de “boas” as pessoas. Há uma coisa que mediocriza muito um ambiente [dizer]: “é, fulano, ééé tãoo boooom!… A dona fulana é tão booa!… É um coração de ouro! Fazem isto…!”
O que fazem?
“Ah! ela prepara todos os dias umas rosquinhas para os pobres. Eu fico comovido de ver o que ela faz”…
Não basta. Não basta…
Bom ele? “Ele é um homem muito bom! Eu já o vi escutar desaforo e não retrucar!…” Nem sempre é virtude. Às vezes a virtude consiste em retrucar. E às vezes ouvir desaforo e não retrucar é sem-vergonhice. Será que eu não estou chamando de “bom” um sem vergonha? Não é preciso ver isto bem direito?
Os senhores tomem, em geral, as pessoas que todo o mundo reconhece como “muito booom”! Até há um certo modo de dizer isso: “muito boooom! Ou “tão booom”! Há um certo modo de como que cantar isto que já indica que aquele não presta…
Vamos tocar.
* Como agem os inimigos ocultos
“Eles têm necessidade de graças maiores, de luzes mais vivas, à medida em que se multiplicam os inimigos visíveis e invisíveis, dos quais eles se devem guardar”.
“Como os inimigos ocultos agem”, é o que foi escrito por vós diante do trecho seguinte:
“Sendo o fim a que se propõem os inimigos de Jesus Cristo evidentemente mau, eles seriam demasiadamente fracos se não se armassem com a mentira. Filhos da antiga serpente, eles a imitam, se dissimulam em termos que não apresentam num primeiro aspecto nada de mau e se servem de equívocos como de anzóis para fisgar os imprudentes.
“É preciso ainda um grande discernimento para reconhecer, em meio aos que gozam de reputação de ciência e de piedade, os que é preciso consultar, que grau de confiança eles merecem e até que ponto eles merecem deferência. Faltando isso, muitos seguindo cegamente guias cegos, tombam com eles.
“Para as coisas mesmas que portam abertamente o sinal do mal e da mentira, a autoridade de alguns que as abraçam ou as defendem, o mau exemplo de um grande número, o temor de se singularizar, tudo leva a se fazer ilusões. Se começa por duvidar, o que era tido como verdade certa começa a parecer apenas uma problemática e se acaba por adoptar o que antes causava horror.
“A luz divina é uma grande luz, um socorro extraordinário, podem só eles nos proteger em tais perigos”.
* Nada é minúsculo em matéria de RCR.
Portanto, a oração. E pedir muito a Nossa Senhora nas nossas orações, sobretudo no rosário, que Ela dê ao nosso espírito o discernimento entre o bem e o mal, a verdade e o erro etc., e se Ela nos chama a ter um superior, a ter um fundador, guiar-nos por eles.
É uma coisinha minúscula, mas nessa matéria nada é minúsculo. Eu pergunto o seguinte: o nome exato desse padre é padre Claudio de la Clorivière, é bem isso?
(Pierre-Joseph Picot de Clorivière)
Picot de Clorivière.
Bem, eu ouvi já aqui dizer “o padre Clorivière, o padre Clorivière”, indica uma pequena atonia em matéria Revolução e Contra-Revolução, porque como a partícula “de” [nos nomes franceses, n.d.c.] é indicativo de nobreza, e nós devemos ser contrários a tudo que quer eliminar os sinais de desigualdade social, nós ouvindo um nome que tem “de” em francês – em português não é assim, e creio que em espanhol também não é, não tenho certeza – mas em português nunca se deve deixar de mencionar, porque é um pequeno distintivo de nobreza. O demônio não pouparia, se pudesse eliminaria isto. Então, nós devemos querer manter.
Meus caros, com isso, são dez e quarenta, e o tempo vai andando. Mas eu acho a leitura proveitosíssima e acho que se deve continuar numa outra reunião.
Vamos então andando.