Ambientes, Costumes, Civilizações
Catolicismo, São Paulo, Janeiro de 2013 (*)
Podemos comparar Konrad Adenauer e Winston Churchill, dotados de fluxos vitais muito distintos.
Konrad Adenauer (1876-1967). Chanceler alemão, responsável pela reconstrução da Alemanha do pós- II Guerra Mundial. Governou a Alemanha ocidental de 1949 a 1963
Adenauer era um homem constituído por duas modalidades de fluxo vital, que se compensavam. Até certo ponto era frio, metódico, racional, esquemático, seco. Mas, por outro lado, tinha uma vitalidade mediante a qual era supersensível, assustadiço, nervoso, irritadiço – um felino! E ele aprendeu a usar as duas modalidades alternativamente, conforme as suas regularidades.
Em seu lado seco-esquemático, era sempre igual a si mesmo. Como o rio Amazonas, que corre para o mar num mesmo leito, com todo o seu volume. E ainda empurra o mar para longe.
No lado felino, era capaz de praticar todas as grandezas, mas também todas as misérias. Alternava horas de uma força enorme com horas de uma prostração incrível; horas de abatimento, horas de langor.
É muito interessante, analisando Adenauer, observar o seguinte: ele decidiu que sua parte estática teria preeminência sobre a parte felina. Mas poderia ter resolvido o contrário. Em conseqüência, poderia ter sido um facínora, um poeta ou um artista.
Winston Churchill (1874-1965). Ocupou várias vezes cargos de ministro da Inglaterra. Transformou-se no símbolo da determinação e fibra britânicas durante a II Guerra Mundial, enquanto primeiro-ministro.
Churchill causa-me a impressão de ter sido dotado de uma personalidade imensamente mais vasta e rica do que Adenauer.
Existiam nele vários Adenauers. Assim como, por exemplo, Adenauer era dominado pelo mencionado binômio, Churchill tinha uma multiplicidade de facetas em sua personalidade. Havia de tudo dentro dele. E com uma característica, mediante a qual algo de vulcânico o dominava, mas um vulcânico ordenado. Os vulcões explodiam nele ordenadamente, formando uma certa sinfonia. Assim, por exemplo, era dominado por momentos de cóleras, e cóleras magníficas. Depois, podia experimentar acessos de lirismo. Não daquele lirismo doentio do Adenauer, que impele a pessoa a se trancar no quarto. Churchill, nos momentos líricos, fazia lirismo para outros e poderia bater nas costas dos circunstantes. Porque era bonachão e muito expansivo.
Era tão grande de espírito, que poderia ser comparado a uma mesa posta para todo mundo a qualquer hora, com todos os tipos de iguarias. Servia banquetes espirituais, banquetes intelectuais, sendo sua mesa, em princípio, aberta para todos. Poderia igualmente recusar alguns. E quando dissesse não, era um não que — quase se diria — excluiria do universo a pessoa.
Entretanto, noto nas fotos de Churchill algo segundo o qual ele era pequeno. Ele sentia-se desproporcionado ao tamanho de si mesmo. Esse foi o drama do Churchill.
É um homem pequeno para a proporção do seu próprio gigantismo. E que, em horas de derrota, sofria prostrações horríveis! Porque ele precisaria ter correspondido à graça de Deus para atingir o tamanho de si mesmo. Como não correspondeu à graça, ficou pequeno para si mesmo.
Se tivesse correspondido à graça divina, seria um grande santo e um dos maiores homens que a História registraria. Mas, infelizmente, não foi.
(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 9 de agosto de 1974. Sem revisão do autor.