Reunião Sábado à tarde, 10 de julho de 1965
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Santa Catarina Labouré (1806-1876), uma das insígnes Filhas da Caridade e a quem Nossa Senhora apareceu ensinando-lhe a devoção da Medalha Milagrosa
…a Sabedoria, que é a virtude que leva o homem a querer conhecer, em matéria de verdade, a mais alta verdade. Em matéria de bem, tender e amar ao mais alto bem. Esta virtude da Sabedoria, por assim dizer, prepara o homem para corresponder exatamente à graça quando ele a recebe. De sorte que o homem de Fé quer conhecer as mais altas verdades da Fé, ou seja, as mais arquitetônicas, aquela que dá todos os aspetos de conjunto da Fé.
Aquele que em matéria de esperança, quer ter as mais altas esperanças, e, portanto, em matéria de esperança, cobiça em ela, o mais alto bem para o homem, e vem a ter as mais altas formas de santidade: todas as formas de santidade para as quais ele tenha sido criado, toda forma de bem-aventurança para as quais ele tenha sido chamado.
Em matéria de caridade, aquele que quer ter o amor mais extremado, mais zeloso, mais propenso ao holocausto gratuito de si; mais propenso à luta extrema, mais propenso à conversão das normas da moral em prática etc. De maneira que a virtude da sabedoria quase que habita nessas virtudes e leva então essas virtudes ao seu extremo.
E que, esta virtude da Sabedoria vista assim, representava do ponto de vista temperamental, a tendência do espírito para se fixar numa posição que é uma posição de sumo equilíbrio. Em que a alma não tem propensão própria para nada, para o exercício nenhum especial de nenhuma paixão. Nem ela tem muita propensão muito para isso, nem para aquilo, vamos dizer, nem para zangar-se, nem para estar muito séria, nem para nada, mas ela tem uma facilidade em conduzir o jogo de suas paixões para aquilo que o mais alto exercício de sua mente pede.
De maneira que conforme as circunstâncias, ela dá no auge da combatividade, ou pode ser conduzida para o auge da ternura, ou para o auge da contemplação, ou para o auge mais arrojado, mais contínuo e o mais trepidante da ação. Em suma, a tudo se presta de boa vontade seu temperamento. Evidentemente com as lacunas do pecado original, mas acaba procedendo por essa forma.
De maneira que a esta altíssima virtude da Sabedoria, corresponde um estado temperamental e de vontade que é flexível, maleável, forte e que com facilidade se conduz aos últimos auges.
A alma, dominada por este estado de espírito, é capaz das virtudes mais opostas, o que não representa uma contradição, pois elas estão numa oposição harmônica.
Então, vemos o exemplo disso na Igreja Católica, Apostólica, Romana. Ela suscita guerreiros, mas ao mesmo tempo suscita irmãs de caridade que cuidem dos guerreiros feridos e dos próprios inimigos feridos por aqueles. Quer dizer, das entranhas da Igreja nasce simultaneamente o sumo da belicosidade e o sumo da ternura, da bondade e do carinho.
A Igreja suscita eremitas que se conservam no isolamento mais absoluto e na meditação mais contínua das verdades de Deus, e suscita os pregadores, os cruzados e que vivem na luta contínua dentro do século.
Ela suscita, por exemplo, todo o luxo do Vaticano, mas ao mesmo tempo, desperta a vocação dos capuchinhos, dos teatinos, que vivem numa pobreza completa, que nem sequer pedem aquilo de que precisam.
Nestas oposições, nota-se que não há nenhuma contradição e que, pelo contrário, todas constituem uma harmonia; e que faz parte do mesmo espírito da Igreja lançar-se num voo magnífico, “dégagé”, desenvolto para os extremos de todos os lados, em todos os sentidos possíveis. E que é propriamente dessa espécie de desejo de auge multiforme que nasce então a visão perfeita da santidade da Igreja.
Então, há duas notas para considerar aqui. De um lado, este fato externo de que a Igreja inspira as coisas as mais contrárias; e de outro lado, a alma da Igreja como é, o espírito da Igreja como é: grande, rico, sem nenhuma espécie de unilateralidade, ou de manias, ou apegos, e embora suscitando nesse, neste ou naquele de Seus filhos, que se empregue apenas numa das direções, entretanto, na realidade, suscita almas em todas as direções.
E, exigindo de cada um de Seus filhos, que esteja em que ponto estiver, ele seja muito compreensível para todos os outros pontos, compreendendo que ele não é senão um raio desse sol. Mas que o rei dos astros, na sua totalidade, abrange uma luz muito maior, muito mais completa e que aqui está então, o verdadeiro espírito da Igreja. É na totalidade disso.
Isso traz como consequência, naturalmente, o seguinte: o espírito católico nos aparece, quer enquanto feitio de inteligência – pois há, portanto, um feitio de inteligência católico -, quer enquanto posição da alma – porque há uma posição da alma católica – nos aparece ao mesmo tempo, muito rígido e muito “nuancé” [matizado].
Muito rígido, enquanto em qualquer ponto, tende ao extremo. Muito “nuancé”, enquanto correndo para um extremo, compreende que dessa linha se pode correr para outro extremo. E que há toda uma imensidade de gamas, por onde essa, esta, aquela afirmação se casam com esta outra, esta outra, esta outra, esta outra, em direção oposta.
De maneira que a inteligência católica ama a unidade, mas ama também a variedade. Ela ama a afirmação categórica, intransigente. Mas ela ama o matiz que torna esta afirmação compreensível, que lhe dá o contrapeso, o contraforte, e que faça com que ela tenha verdadeiramente todo o seu sentido.
E, de outro lado, como o feitio de temperamento católico é sumamente acomodatício, sumamente ajustável, sumamente adaptável, sumamente “souple”, e ao mesmo tempo é de ferro.
Santo Estevão, Rei da Hungria (aprox. 975 – 1038)
Em que sentido é de ferro? É de ferro na repulsa a tudo quanto seja não oposição legítima, mas contrariedade. Ou seja, flexibilíssimo para amar toda forma de bem; de ferro para repudiar qualquer forma de mal. Mal, não! O Bem em todos os seus graus, em todas as suas formas, em todos os seus modos, está esplêndido! Mal, nem um pouco, nunca e com uma recusa total!
Então aqui se vê mais uma vez uma grande elasticidade que, de repente, se converte numa negação absoluta: “Isto não! Isto eu vou liquidar, isto eu vou exterminar. Eu luto até morrer contra isto, mas eu morro nisso. Isto eu não aceito!”
Agora, do lado do bem: aceito tudo, adapto tudo, ajeito tudo etc. Quer dizer, há aí também, um misto de uma inflexibilidade de ferro, e de uma suma flexibilidade, de uma suma disponibilidade, que constitui então o próprio do que nós poderíamos chamar o temperamento católico.