Santo do Dia, 5 de outubro de 1964
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Existem devoções nacionais a Nossa Senhora, como é o caso de Aparecida, da mesma maneira que há grandes invocações que têm uma realeza entre as invocações de Nossa Senhora, como é o caso de Nossa Senhora do Rosário.
Quase não existe um país da Terra que não tenha uma grande devoção a Nossa Senhora e de que Ela não seja, debaixo de algum título, a Padroeira.
Também existem as invocações a Nossa Senhora das regiões e das cidades, como é, por exemplo, Nossa Senhora da Penha, em São Paulo. E, às vezes, ainda há imagens de Nossa Senhora particularmente invocadas numa paróquia, numa parte de uma cidade, etc.
Há até famílias que têm uma devoção especial por alguma imagem de Nossa Senhora por alguma relação especial dEla com aquela família. Por exemplo, na minha família paterna há devoção a Nossa Senhora da Piedade, é mais uma acomodação desse trato de Nossa Senhora com os homens, individualmente. E depois, existe ainda, para cada um uma invocação especial de Nossa Senhora por alguma graça pessoal ou algum fato que liga a pessoa a essa imagem.
Nossa Senhora, com aquela índole materna que é característica dEla se faz grande com os grandes, e se faz pequena com os pequenos. Se faz universal para as grandes coletividades e se faz regional para grupos humanos menores. Nós podemos admirá-La em todas as dimensões: como Rainha das grandes coletividades e como Mãe das pequenas unidades. É dentro dessa linha que nós devemos ver a devoção a Nossa Senhora Aparecida como Rainha do Brasil.
A América Latina inteira tem como padroeira a Nossa Senhora de Guadalupe, e, no Brasil, nós temos Nossa Senhora Aparecida.
Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil! O que, propriamente, deve significar para nós?
Nós sabemos o ponto de partida dessa devoção: no século XVIII, uns pescadores estavam pescando no Rio Paraíba quando eles recolheram, de repente, um tronco de imagem. Depois, mais adiante, pescaram uma cabeça. E a pesca, que era inútil até aquele momento, passou a ser, então, muito abundante. E eles, junto do rio, construíram uma capelinha para aquela imagem que tinham encontrado.
As graças alcançadas ali foram extraordinariamente numerosas. Então, construiu-se a Basílica de Nossa Senhora Aparecida.
O povo começou e a afluir em quantidade, recebendo graças extraordinárias, entre as quais se conta a de um escravo perseguido por seu senhor e que, rezando a Nossa Senhora Aparecida, viu que suas algemas se partiram.
E seu senhor, que ia puni-lo com grande ferocidade, viu-se desarmado e deu ao escravo a liberdade. Disseram-me que as correntes desse escravo ainda se conservam na sala dos milagres de Nossa Senhora Aparecida.
De lá para cá, a devoção a Nossa Senhora Aparecida se tem generalizado.
O ambiente em Aparecida é de grande afluência de povo pobre e do povo sofredor. E Nossa Senhora Aparecida atendendo e concedendo, continuamente, graças extraordinárias. Ao mesmo tempo, a devoção a Nossa Senhora Aparecida foi marcando a vida da Igreja. E no pontificado de São Pio X acabou sendo coroada solenemente Rainha do Brasil, por todo o episcopado nacional, num ato oficial. A coroa foi colocada sobre a imagem de acordo com um decreto da Santa Sé, a qual autorizou que Nossa Senhora Aparecida fosse considerada Rainha do Brasil! Essa devoção nascida tão humildemente, acabou fazendo seu caminho, culminando num ato que é verdadeiramente jurídico.
É jurídico pelo emprego do Poder das Chaves! A Santa Sé tem o direito de constituir uma Padroeira. Ela tem o direito de erigir uma realeza que estabelece um vínculo especial de um povo com Nossa Senhora e dEla com esse povo! O poder de desligar e ligar na Terra e no Céu que Nosso Senhor concedeu a São Pedro tem esse efeito, entre outros.
Nossa Senhora ficou sendo no Céu, advogada e Rainha do Brasil pelo poder das Chaves do Papa, que nessa época era o grande São Pio X.
Nesse ato jurídico nós devemos ver um prenúncio do Reino de Maria.
A partir do momento que Nossa Senhora foi aclamada Rainha do Brasil, ficou juridicamente declarado o Reino de Maria no País.
Para os efeitos celestes e para os efeitos terrestres, Nossa Senhora tem direitos jurídicos sobre o Brasil ainda maiores do que os que Ela teria se fosse uma rainha temporal, ainda que muito santa.
Reconstituição do achado milagroso da imagem no Paraíba. Crédito foto Thiago-Leon