Auditório Nossa Senhora Auxiliadora, 7 de maio de 1995, Domingo
A D V E R T Ê N C I A
Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.
O Prof. Plinio pronunciou a conferência com traje de gala da TFP
Reverendíssimo Pe. Olavo, Alteza Imperial e Real, meus caríssimos Correspondentes a quem saúdo com tanto afeto e tanta alegria num dos momentos em que nos é dado ao longo dos anos ter encontro significativo e que possamos intercomunicar entusiasmos, lances de amor de Deus, indignações que o amor de Deus nos leva a ter em relação à Revolução e aos inimigos da Santa Igreja, enfim, tantas disposições mútuas fervidamente intercambiadas entre nós, que fazem desse encontro um dos ápices do ano de um Correspondente da TFP. A todos eu saúdo de coração e faço notar que a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, que preside habitualmente às nossas reuniões, acaba de ser coberta com um véu de tristeza.
Esse é um hábito que se introduziu aqui nas nossas reuniões por força das circunstâncias que o mundo contemporâneo atravessa.
* É mostrando até que abismos está nos levando a Revolução, que podemos compreender o mal que fez o mundo afastando-se da Santa Igreja Católica
Quer dizer, são muitas vezes de tal maneira infames os atos e os pecados que é preciso estigmatizar, que é preciso denunciar, que é preciso descrever e esmiuçar para que os Correspondentes da TFP tenham uma ideia exata do abismo no qual o mundo está sendo lançando por ação das forças da Revolução; é tão infame aquilo que tem que ser dito, é tão baixo aquilo que tem que ser estigmatizado, que ter-se-ia vontade de retirar a Imagem do auditório para coisas dessas não serem ditas na presença da Imagem da Santíssima Mãe de Deus.
Mas acontece que essas coisas são lembradas aqui num espírito de oração. Um espírito de oração quer dizer num espírito de elevação na mente até Deus. É descrevendo esses males, é mostrando até que abismos está nos levando a Revolução, que nós podemos compreender o mal que fez o mundo afastando-se da Santa Igreja Católica por meio da tríplice Revolução: a Revolução Protestante, o Renascentismo e Humanismo dos séculos XV e XVI, a Revolução Francesa do século XVIII e a Revolução Comunista do século XX.
Tudo isto junto veio trazendo à humanidade uma série de deformações morais e de deformações religiosas tremendas. O que é mais terrível é que essas deformações morais e religiosas não se verificam apenas no seio da sociedade civil, quer dizer, no seio das nações e no seio dos estados, mas que essa crise nascida no seio dos Estados se projetou para dentro da Igreja Católica e criou para a Igreja em nossos dias a crise mais séria que a meu ver Ela tenha passado, desde quando há perto de dois mil anos atrás Nosso Senhor fundou a Igreja dizendo a Pedro que ele era Pedro, que sobre aquela rocha Ele instituiria a sua Igreja e que as portas do Inferno não prevaleceriam contra Ela.
É verdade, as portas do Inferno não prevaleceram; é verdade, Pedro é Pedro. Mas é verdade também que por pouco se diria – tal é o horror desta crise – que as portas do Inferno prevaleceram contra Ela, de tal maneira em todos os quadrantes da Igreja Católica se notam sinais dos tempos que revelam um profundo descolar de incontáveis almas dentro da Igreja, de um profundo descolar em relação à Igreja em ordem a uma situação que daqui a pouco descreveremos.
* Se essa marcha para o abismo continuar, haverá um determinado momento em que nós nos perguntaremos: “no mundo, quem é a Igreja de Deus?”
Nós notamos, então, que se essa marcha para o abismo continuar, haverá um determinado momento em que nós nos perguntaremos: “No mundo quem é a Igreja de Deus? Quem ainda é católico neste mundo em que quase não se veem mais católicos, em que se poderá dizer que certamente as portas do Inferno não prevalecerão contra a Igreja, porque a promessa de Cristo não pode ser desmentida?” Mas se dirá também que as portas da Igreja estão muito pouco frequentadas, estão num abandono terrível e que poucos são no mundo aqueles que ainda são verdadeiramente da Igreja.
Serão poucos, mas os Anjos do Céu são de uma quantidade indescritível e velarão sobre os poucos, tornados especialmente preciosos exatamente porque continuaram fiéis numa ocasião em que tão poucos serão os fiéis. E de tanta valia será essa fidelidade, que se afirmarão de todas as maneiras contra tudo e contra todos, investindo [doutrinariamente, e sempre segundo a Lei de Deus e a lei dos homens, claro está] contra os adversários da Igreja, até ao momento bendito em que a força dos fiéis verdadeiramente fiéis serem fiéis, o adversário se deixa cair, está esmagado e nós poderemos dizer: “Os dias do Reino de Maria nasceram”.
Terão vindo a lume os dias de alegria, de glória, de santidade, de esplendor sacral, que farão com que se possa dizer de novo: “O mundo pertence a Cristo, o mundo pertence a Maria”.
* Os canais através dos quais o homem contemporâneo toma notícia das realidades em nossos dias são muito falseados
Infelizmente os canais através dos quais o homem contemporâneo toma notícia das realidades em nossos dias são muito falseados. Rádios, televisões, imprensa, todo aquele conjunto de meios de publicidade que se costuma chamar de mídia – é uma pronúncia anglo-saxônica da palavra media, ou seja, meios, os meios de comunicação entre os homens – de tal maneira deforma os fatos, os silencia, os põe numa evidência exagerada, lhes dá um aspecto ora muito sem gravidade e despreocupante, ora, de outro lado, tão terríveis, que se tem impressão que não há mais possibilidade de resistência. E resistência haverá sempre possibilidade, quaisquer que sejam as circunstâncias, porque nós temos a promessa divina: “As portas do Inferno não prevalecerão contra Ela”.
Isto posto, nós devemos fazer aqui uma resenha da situação geral da Igreja Católica em nossos dias para compreendermos bem o que é que está se passando, o que é que está se dando e para onde estão caminhando as coisas.
* Em todas as épocas a Igreja Católica teve inimigos para vencer; mas em geral foram inimigos externos da Igreja
Para isto eu vou começar por salientar que em todas as épocas da Igreja, ou em quase todas as épocas, houve crises. Por causa da natureza humana fraca, má, concebida no pecado original, trabalhada por fermentos de toda a ordem, e especialmente pelo demônio que em abundância e em insistência particulares ora cresce na sua ação, ora decresce um pouco, mas que é sempre o velho adversário que procura ganhar vítimas para atirar no Inferno de Satanás e para lançar contra Deus, em todas as épocas a Igreja Católica teve inimigos que vencer.
Mas há um “mas” importante a acrescentar a esta afirmação geral: “em todas as épocas a Igreja Católica teve inimigos para vencer”.
É que esses inimigos, em geral, são inimigos externos da Igreja. É o Protestantismo, é a igreja greco-cismática que domina regiões até há pouco escravizadas pelo comunismo e que continuam sob as garras do comunismo disfarçado hoje em dia, ora serão as nações vastíssimas, amplíssimas que ainda continuam hoje dominadas pelo islamismo, pelo budismo, pelo xintoísmo, enfim, por toda a espécie de outras religiões extravagantes do mundo oriental contrárias à Igreja Católica. De todos esses arraiais vêm contra a Igreja Católica ataques que têm vindo durante toda a história e continuará a haver.
Mas na nossa situação encontramos uma posição particularmente grave e que merece nossa atenção especialmente.
* O adversário penetrou na Igreja e é de dentro da Igreja, fingindo ares e atitudes de Igreja, que ele procura levar os fiéis da Igreja para o Inferno
É que em virtude de circunstâncias das quais conto falar daqui a pouco, deu-se o fato concreto de que os inimigos penetraram dentro da Igreja. É hoje de inimigos dentro da Igreja que afirmam como se fossem católicas doutrinas anticatólicas e que querem que essas doutrinas sejam pregadas dos púlpitos, sejam pregadas nos confessionários, sejam ensinadas nas associações e entidades católicas como se fossem católicas, é deste gênero de ataque que se trata, o adversário penetrou na Igreja e é de dentro da Igreja – fingindo ares e atitudes de Igreja – que ele procura levar os fiéis da Igreja para o Inferno.
Trata-se aí de um fato que foi denunciado já em palavras dramáticas e explícitas pelo próprio Papa Paulo VI, o qual declarou que tinha esperança que no decurso do Concílio (Vaticano II) as coisas se esclarecem, se elucidassem, e que depois do Concílio uma grande era de alegria e de paz dominaria o mundo. É o que diz o Concílio na Constituição Gaudium et Spes, Gáudio e Esperança.
Ele tinha esperança que uma bonança geral interviesse na Igreja. Mas afirma ele que, pelo contrário, apareceram dias borrascosos e nublados dentro da Igreja, e que de tal maneira a agitação tinha penetrado na Igreja, que se diria – são palavras textuais dele – que a fumaça de Satanás penetrou dentro da Igreja.
Quer dizer, estava dentro da Igreja uma série de inimigos organizados, adestrados, com o fito de fazer o papel de uma verdadeira quinta coluna dentro da Igreja e se aproveitarem dos cargos que ocupassem eventualmente na hierarquia da Igreja, nos cargos que ocupassem nos seminários, nas universidades católicas, na imensa rede de ensino que a Igreja tem espalhada pelo mundo. Então, usando a batina, usando o báculo, usando mitra, usando a púrpura cardinalícia, se fizessem de arautos e defensores de uma doutrina anticatólica, e arrancassem para o redil de Satanás aqueles que eram chamados e tinham a sede de entrar para o sagrado redil de Nosso Senhor Jesus Cristo.
* Os fatos que se passaram dentro da Igreja nos dias mais recentes se apresentam hoje sob a forma de uma ameaça especial
Os fatos que se passaram nos dias mais recentes, e nós estamos diretamente sob o império desses fatos, esses fatos se apresentam hoje sob a forma de uma ameaça especial. De maneira que todas as pessoas que têm algum conhecimento dos problemas internos da Igreja e da doutrina da Igreja sobre esses problemas internos, todas elas se entreolham preocupadas, diligentes, atentas e de sobreaviso em vista do que vai aparecendo.
Para lhes dar uma ideia disso, ideia de que os jornais dão uma notícia muito farfalhante – à maneira deles – muito barulhenta, mas vazia de conteúdo, em que não se compreende bem o que é que está em jogo, é para isto que eu resolvi destinar esta última reunião destes nossos encontros para nós falarmos seriamente e diligentemente a respeito desses problemas, da nossa posição perante esses problemas e das nossas preces e sacrifícios à vista desses problemas. É com vista a isso que eu vou entrar diretamente na matéria.
Pergunto, antes de entrar, se algum dos senhores queria me fazer alguma pergunta a esse respeito ou pedir alguma elucidação. Eu estou à disposição.
Não se dando o caso, eu entro diretamente no assunto.
É notório, é público que desde pelo menos o fim da Primeira Guerra Mundial – os senhores notem que a Primeira Guerra Mundial terminou em 1918 e nós estamos em 1995, o que acaba sendo quase o século inteiro – desde 1918 mais ou menos essas doutrinas começaram a penetrar pelo mundo afora. Essa penetração se deu de um modo singular que eu vou descrever daqui a pouco aos senhores.
* O perigo das infiltrações está no otimismo dos que as veem e na preguiça de recusar e combater o que vai mal
O perigo – eu quero acrescentar desde logo a isso – dessas infiltrações não é tanto em que elas possam ter uma grande facilidade de conquista porque se disfarçaram. É porque aqueles que as veem em geral têm um otimismo, têm uma facilidade em admitir que vai tudo bem, têm uma preguiça de recusar e de combater tudo o que vai mal, que faz com que de um modo otimista confiem cargos e postos – inclusive eclesiásticos – a pessoas que têm essas doutrinas. Aí a pessoa fica perigosa, porque uma vez que ela está revestida de báculo, de mitra, do traje talar sacerdotal, uma vez que ela tem uma cátedra numa universidade católica ou numa universidade do Estado, aí ela começa a ter uma influência que não vem só da pessoa dela, mas vem do cargo que ela ocupa e do prestígio católico que esses cargos têm. Então a possibilidade de se infiltrar torna-se forte.
Por causa disto, com uma certa frequência ao longo do período histórico que vai da Revolução Francesa até nossos dias, nós encontramos casos de organizações secretas formadas por pessoas que sustentam essas doutrinas secretas também e que, tramadas entre si, fazem entrar dentro da Igreja essas ideias erradas.
Várias vezes isto se deu ao longo da história da Igreja e em nosso século também, mas encontrou quase sempre Papas decididos, Papas “agressivos” no sentido santo da palavra, como foi São Miguel quando foi agressivo diante do ataque de Satanás e exclamou: “Quem é como Deus?”. Em consequência, na unção da paz eterna, na unção da eterna felicidade, dentro do Céu um prélio – quer dizer, uma guerra, uma luta magna – se travou entre São Miguel e seus Anjos e Satanás e seus anjos.
Satanás exclamou: “Eu não servirei!” Houve uma espécie de suspense, São Miguel exclamou de seu lado: “Quem é como Deus? Quem és tu, vil Satanás, para dizer que não servirás se tens teu senhor em Deus? Serve, abaixa a cabeça!”
Não abaixou, as legiões angélicas desfilaram diante dele em ataque cerrado, e depois de uma grande luta Satanás e seus anjos foram atirados no Inferno.
* Houve no Céu quem combatesse e que fosse coroado por Deus com as mais insignes honrarias
Houve, então, no Céu algo que foi como que o nascimento de uma má planta, mas houve o combatente heroico que, não temendo as lutas nem os riscos de uma fadiga, se atirou em cima do mal, o arrancou e o atirou no Inferno. Houve quem combatesse e que fosse coroado por Deus com as mais insignes honrarias. Foi São Miguel e seus Anjos.
Assim também em nosso século houve revoltas dessa natureza e de doutrinas muito parecidas umas com as outras. Se a gente vai analisar as doutrinas dessas várias sociedades, são todas muito parecidas. Eu sou de opinião que no fundo é uma mesma doutrina, que se camufla cada vez de um modo, faz uma espécie de disfarce cada vez de um modo, que se reúne, que promove uma conspiração secreta. Quando encontra um Papa diligente e ativo que persegue essa conspiração, eles procuram revoltar-se, mas o Papa os pisa sempre aos pés e eles desaparecem.
Isto houve, por exemplo, de um modo notável nos pontificados de Gregório XVI, no século passado, de Pio IX no século passado, e São Pio X no nosso século. Esses três pontífices, mas sobretudo Pio IX e São Pio X, esmagaram e arrasaram esses erros.
Depois, sobretudo no reinado de São Pio X, houve uma paz, uma tranquilidade, um esplendor de virtude nos meios católicos. Eu, que nasci em 1908, conheci algo do reinado de São Pio X aqui na América do Sul porque os erros que vieram depois custaram para penetrar no Brasil. Pelo contrário, a atmosfera bendita de São Pio X, que morreu em 1914, ficou dominando a atmosfera brasileira mais ou menos até 1940, largo período em que os maus não ousaram fazer essa penetração e em que, portanto, o ambiente católico do Brasil debaixo de certo ponto de vista era como que um Céu de ortodoxia, de amor de Deus, de prática intensa de virtude, de edificação por todo o lado onde se visse o nome católico, onde se visse a doutrina católica, se visse a autoridade católica desfraldar o seu pendão.
* Lá por 1940 foi que comecei a perceber que alguma coisa nova estava entrando, e que era o mesmo demônio que São Pio X tinha esmagado: seus primeiros sintomas
Depois disto, lá por mil novecentos e quarenta e tanto, foi que eu comecei a perceber que alguma coisa nova estava entrando, e que eu percebi que era o mesmo demônio que São Pio X tinha esmagado, que Pio IX tinha esmagado, que Gregório XVI tinha esmagado, e outros Papas anteriores da História.
Para os senhores verem com são essas coisas, os primeiros sintomas desta entrada desse espírito dessa heresia… É um espírito igualitário que quer estabelecer uma ordem nova no mundo, onde todos sejam iguais debaixo de todos os pontos de vista e onde nem haja na Igreja Bispos, Cardeais e Papas com toda a medida de autoridade que têm, mas, pelo contrário, eles sejam muito diminuídos e quase igualados aos leigos. Eu digo “quase”, mas não me espantaria de encontrar documentos deles de um momento para outro em que se diria que eles querem é abolir todos os degraus da hierarquia eclesiástica para estabelecer uma igualdade completa entre leigos e Sacerdotes, entre leigos e Bispos, entre leigos e o próprio Papa.
Eu digo que comecei a notar os primeiros sintomas disso penetrando no Brasil até então perfumado pela lembrança de São Pio X, eu comecei a notar em sinais que eu comecei a achar esquisitos. Eram em geral pessoas provenientes da Europa, em geral provenientes de entidades religiosas, de ordens ou de congregações religiosas novas, fundadas há pouco, e que mantinham uma situação que era de aparência não religiosa, mas de realidade religiosa. Vestiam-se de leigos como se veste qualquer um, de leigas como se veste qualquer pessoa, entravam nos ambientes católicos aparentemente para fazer caridade, para levar as pessoas a ajudar os pobres, o que é sempre uma coisa muito louvável, mas de fato, debaixo desta influência, essas pessoas queriam começar a pregar essas doutrinas.
Uma das coisas mais curiosas que eu notei foi o seguinte:
* Na Universidade Católica de São Paulo vejo circular uma senhora vestida de um modo muito despretensioso que estava por toda a parte examinando tudo e não comentando quase nada
Eu era, naquele tempo, professor da Universidade Católica de São Paulo e era professor de História Medieval, Moderna e Contemporânea. Eu dava as minhas aulas tão bem quanto podia, tão bem quanto sabia, as alunas – porque se tratava de uma faculdade de curso feminino – seguiam com muito respeito e muito bem as aulas, a concórdia entre elas e eu era muito grande quando eu vejo circular por essa faculdade uma senhora já assim de talvez entre quarenta e cinquenta anos, vestida de um modo muito despretensioso, mas até de um modo exageradamente despretensioso, com uns sapatos de saltos baixos, um modo de vestir-se que não se usava naquele tempo, que estava um pouco por toda a parte, olhando tudo, examinando tudo e não comentando quase nada.
Eu achava aquilo esquisito e disse: “Alguma coisa essa mulher veio fazer aqui”.
– Quem ela é?
– Ah, é Mademoiselle Tal. Ela pertence a uma ordem religiosa nova da Europa e ela está fazendo uma visita de inspeção no Brasil.
– De inspeção, é? Ela tem cargo de inspeção?
– Não, não, ela não tem cargo, mas ela gosta muito de ver as coisas como são e de inspecionar.
– Está bom.
Daí a dias a diretora dessa faculdade, pessoa que se dava muito comigo, me disse muito amavelmente, muito comprazidamente:
* A tal senhora pede licença para assistir a uma de minhas aulas; reação: não mudou de cara durante todo o tempo da aula
– Mademoiselle Tal ouviu dizer que as suas aulas são muito boas e muito claras. Ela gostaria, então, de assistir a uma de suas aulas e manda pedir ao senhor a gentileza de permitir que seja posta para ela uma cadeira especial na sala de aulas do senhor.
– Pois não, é só mandarem pôr.
Começa a aula e eu vi que estava a tal senhora lá. Rezamos, ela acompanhou as orações, e depois com cara de pau, não mudou de cara durante todo o tempo da aula.
A gente nas aulas de História é levado a ensinar fatos muitas vezes emocionantes, que ora causam indignação, ora causam entusiasmo, ora causam surpresa, e é normal que numa aula para moças esses sentimentos particularmente vivos se façam notar. Por causa disso, em episódios históricos terríveis como os da Revolução Francesa, por exemplo, entre episódios dessa natureza as alunas tenham aquilo que em linguagem brasileira se chama a “torcida”: ora pró, ora contra, torcem muito a favor de um lado, do outro, etc. Esta pessoa com cara assim… (impassível).
Eu disse: “Aqui tem alguma coisa. Não é natural, não é humano isso”.
Terminada a aula era normal que ela viesse me felicitar e me agradecer a gentileza que eu tinha tido de permitir que ela assistisse minha aula. Nada.
Alguns dias depois a diretora da escola me disse:
– O senhor sabe o que é que Mademoiselle Tal pensou de sua aula, o comentário que ela fez?
* “Ponham esse homem fora, deem os débeis mentais para ele lecionar, porque a influência que ele exerce não me agrada e é contrária a certos desígnios que eu quero”
– Não, não sei.
– Ela estava pasma – os senhores vejam o veneno – com a clareza de suas aulas, como o senhor tem facilidade de comunicar com clareza coisas normalmente obscuras, e que mesmo alunas mais novas e, portanto, com espírito menos difícil de apanhar certos aspectos da História pegam perfeitamente. Ela até achou que o senhor está mal colocado na aula que está dando.
Eu aí vi que vinha veneno:
– Ah, é? Ela achou isso?
– Achou. Ela achou que o senhor deveria ser tirado dessas aulas que são para alunas intelectualmente normais e que o senhor deveria ser deslocado para um ensino de débeis mentais. Porque o senhor é tão claro, que é um desperdício um professor tão claro como o senhor ficar lecionando gente com espírito tão claro, que não precisava de tanta clareza. O senhor é próprio para débeis mentais.
Na aparência é um elogio; na realidade os senhores estão vendo o que é que é. Quer dizer “Ponham esse homem fora, deem os débeis mentais para ele lecionar, porque a influência que ele exerce não me agrada e é contrária a certos desígnios que eu quero”.
Eu me lembrei de certas coisas de São Pio X que eu tinha lido e pensei: “Será o veneno que renasce?”
* Dentro de uns dois ou três anos, pessoas com as ideias dessa senhora se multiplicam em quase todos os setores das atividades católicas de São Paulo
Infelizmente as circunstâncias não permitiram que eu conversasse com essa senhora, ela embarcou logo depois, porque eu gostaria de ter com ela uma conversa. Sobretudo eu gostaria de ter essa conversa se tudo isso se tivesse passado uns dez anos depois. Naquele tempo ainda não havia gravadores, os gravadores só apareceram um tempo depois, e eu gostaria de conversar com ela diante de gravador. Eu gostaria de poder ter demonstrado o que na realidade ela pensava – não vive mais. Eu gostaria de tê-la levado a dizer tudo quanto estava no fundo da cabeça dela – que eu estava vendo bem o que era – para provar que era o velho erro condenado por Pio IX, depois caído no chão, se levanta de novo e é condenado por Pio X, cai e queria levantar a cabeça no Brasil.
Dentro de uns dois ou três anos – eu era naquele tempo Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo – pessoas com as ideias dessa mademoiselle se multiplicam em quase todos os setores das atividades católicas de São Paulo. E mais ainda do que isso: se multiplicam até nas fileiras dos seminários, nas fileiras das escolas secundárias e universitárias. Mais ou menos por toda a parte eu via uma mudança que se estabelecia e que entrava como um vento pode entrar numa sala dessas, abrir as janelas e generalizar um tufão numa sala que no momento está em inteira paz.
Os senhores verão porque é que eu estou exumando recordações de um tão velho tempo, os senhores verão daqui pouco.
* Enquanto esses erros estavam nascendo, estava nascendo o contra-erro, estava nascendo também a TFP com o “Legionário”
Uma coisa que foi característica neste sentido era o seguinte: enquanto esses erros estavam nascendo, estava nascendo o contra-erro, estava nascendo também a TFP. [Aplausos]
A TFP nascia no corpo redatorial de um jornal católico, órgão da paróquia de Santa Cecília. A TFP nascia no corpo redatorial desse jornal que congregava jovens universitários, jovens que tinham acabado o curso secundário e que se preparavam para outras profissões. Enfim, jovens católicos congregados marianos bem piedosos e que todas as quartas-feiras à noite se reuniam para redigir as notícias que o “Legionário” – assim se chamava esse órgão – deveria publicar.
O diretor desse jornal se chamava Plinio e dirigiu o jornal com vivo aplauso do então Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva.
O jornal era um jornal de repercussão universal, por quê?
Porque o Brasil tinha naquele tempo um movimento de Congregações Marianas – que este fumo de Satanás destruiu – que era um dos maiores movimentos católicos do mundo e que constituía um verdadeiro sinal de triunfo e de grandeza na Igreja.
Esta organização do “Legionário” quase toda ela era [de] membros das Congregações Marianas e tinha aprendido a doutrina católica exatamente com o santo e sagrado pontificado de São Pio X e como nos pontificados anteriores se tinha ensinado.
* O católico não deve ser apalhaçado, não deve ser brincalhão; ele deve ser sério e aplicado
Uma das coisas que se ensinava – sobre os auspícios de São Pio X e dos que se lhe sucederam às vezes – era que o católico normalmente não deve ser apalhaçado, não deve ser brincalhão. Ele deve ser sério, deve ser aplicado, deve ter a mentalidade e o espírito de um Santo Inácio de Loiola, de um São Tomás de Aquino, de um desses grandes heróis da Igreja que esmagaram as heresias em todos os tempos. Por causa disso, na sala de redação do “Legionário” imperava um silêncio afável, um silêncio ameno, mas um silêncio grave. Ninguém conversava, ninguém ria, todo o mundo trabalhava, porque queria fazer andar as coisas para a frente, não queria perder o tempo em brincadeiras e em asneiras.
No andar térreo do edifício que funcionava o “Legionário” quase todo o andar térreo era ocupado pelo “Legionário”. Mas esse era um edifício de dois ou três andares, e no andar último do edifício era todo ele ocupado com um salão menor do que este aqui, mas um salão, entretanto, bem vasto. Esse salão era de propriedade da paróquia de Santa Cecília e, como era natural, era frequente ser cedido a organizações católicas que não tinham salão, para que se reunissem ali e pudessem ali fazer os seus encontros, o que estamos fazendo aqui.
Mas naquela noite eu notava uma coisa diferente. Em vez de serem conferências sérias – porque a gente ouvia dos últimos andares alguns ecos que iam até nós – ou atos de música sacra, música patriótica, música militar, música-música, mas, enfim, música séria, eram gargalhadas, brincadeiras, piadas que desciam de lá para baixo.
Eu achei aquilo tudo muito esquisito, mas mais esquisito eu achei o que se deu depois.
* “Plinio, você está vendo todas essas canções, essa gargalhada alegre? Eu comparo isto com o que vem da sua sala de redação; lá em cima é o futuro, e o mundo do futuro vai ser este”
Algum tempo depois do “Legionário” ter aberto as portas e começar aquela noite a redação, o diretor – um leigo, que tinha sido membro do “Legionário” e tinha saído – daquela organização nova, com espírito daquela mademoiselle tal e qual, mandou-me dizer que pedia para dar a ele um tempinho para ele falar comigo durante a nossa redação. Eu disse “pois não, que podia vir”.
Ele veio, troca de saudações, sentamo-nos e ele me disse o seguinte – ele era quase da minha idade e nos tratávamos de “você”:
– Plinio, você está vendo todas essas canções e todas essas músicas que descem, essa gargalhada alegre etc.? Eu comparo isto com o que vem da sua sala de redação. Da sua sala de redação eu ouvi orações antes que vocês começassem, depois eu ouvi o som desolador do silêncio. Não se ri, não se brinca, não se faz nada que possa animar o espírito, é um silêncio sério, as pessoas trabalhando, trabalhando e trabalhando. Isso não é a religião católica, a religião católica é alegre, ela é brincalhona, ela gosta da piada, ela ama o dito surpreendente, a piquetada, a chanchada. Lá em cima é o futuro, e o mundo do futuro vai ser este. Aqui com vocês é o passado, o mundo do passado foi este que vocês estão representando, e haverá fatalmente um choque entre essas duas mentalidades.
Quando ele disse isso eu pensei comigo – não disse, mas pensei: “Eu te conheço”.
Tomei um ar natural e ele me disse:
– Agora você saiba do seguinte: pessoas com esse espírito novo, espírito de galhofeiro, brincalhão, ligeiro, otimista, espera do futuro e espera do progresso apenas coisas boas e resultados excelentes. Vocês não, vocês são desconfiados, vocês são sombrios, vocês receiam que a tal Revolução de vocês produza desastres no mundo. Nós não, nós caminhamos alegres para o futuro, sem recear nada. O sorriso desarma, a gentileza faz com que os caminhos se abram. Tudo é alegre e fácil no caminho de quem segue os nossos movimentos com esse espírito. Então você fique sabendo que em altos cargos da hierarquia eclesiástica há gente que quer promover este espírito novo e não o espírito que você promove, o espírito do passado, o espírito da tradição.
* “Eu não me vendo! nunca na minha vida eu serei comprado!”
[E terminou dizendo]:
– Saiba de uma coisa. Esse movimento que está de cima vai vencer, já está combinada a vitória desse movimento, e para você existem dois caminhos. Ou você adere a isto e você muda seu jeito, deixa de ser um homem tão sério e tão grave como é, para passar para um brincalhão amigo de pilhérias.
Os senhores vão ver que pilhérias.
– Então você vai para a frente com esse movimento e você tem diante de si os maiores cargos públicos do Brasil e as melhores situações no movimento católico do Brasil, ou você combate esse movimento e esse movimento esmaga você. Então você que é tão jovem e que já foi deputado federal – o deputado federal mais votado do Brasil foi você – você que é tão jovem, professor universitário e já está, portanto, numa situação importante, você será esmagado, você não será ninguém no futuro porque o futuro não pertence à tradição, a tradição é o passado. O nosso movimento rompe com o passado, é um movimento novo e moderno, e nesse caso você ficará de lado. Fica dito isto para você!
Eu disse:
– Fulano, eu não me vendo. [Aplausos] Pode ser que eu seja derrotado, mas você escreva isto: que nunca na minha vida eu serei comprado! [Aplausos].
Ele me disse:
– Está bom, você foi avisado, agora tome o caminho que você quiser.
– Sim, o caminho da seriedade, da limpeza e da fé. Está tomado! [Aplausos].
* Eu, que era orador dos mais continuamente procurados para fazer conferências nos meios católicos, aos poucos deixei de ser procurado
Isso se passou lá pelos anos trinta e tantos, final da década de trinta, começo da década de quarenta, uma coisa mais ou menos assim. Nós continuamos e ele continuou, mas a previsão dele realizou-se largamente. Aos poucos eu fui sendo afastado de todos os cargos de direção do movimento católico. Eu, que era orador dos mais continuamente procurados para fazer conferências nos meios católicos, aos poucos deixei de ser procurado.
Houve uma espécie de anoitecer em torno dos membros de redação do “Legionário” e de mim, de um lado. E dos movimentos da patuscada, dos engraçados, da piada imoral, do dito picante, dos costumes singulares dos quais eu falarei daqui a pouco, esta turma, este bando cada vez mais em evidência. Quer no movimento católico, quer no movimento político, quer nas cátedras universitárias, cada vez mais em evidência.
Ficava patente que essa gente evidentemente estava realizando o êxito de uma conspiração. Eles tinham conspirado, fizeram uma ameaça, nós fizemos um desafio altivo: nós não nos submetemos. Eles tinham quem os apoiasse por detrás, mais quanta outra coisa que a gente não sabe.
Eles não cresceram, eles incharam, eles se inflamaram e, naturalmente, daí a pouco estavam nos galarins.
* Era só a nossa integridade que abria um sulco entre católicos e comunistas e impedia a reconciliação católico-comunista
Ao mesmo tempo nascia o movimento comunista universitário, e vários desta turma dos pândegos começaram a passar para o movimento comunista, mas continuando a dizer-se católicos. E dizendo que nós, os partidários da tradição, achávamos impossível uma pessoa ser ao mesmo tempo católica e comunista, mas que eles achavam que isso era possível, que era um novo tônus do Catolicismo que tornava possível o indivíduo ter as doutrinas de Lênin ateu, Marx ateu, e ser católico, apostólico, romano. Era só a nossa integridade insuportável que abria um sulco entre católicos e comunistas e impedia a reconciliação católico-comunista.
Nós batíamos com a mão na mesa, nós apresentávamos documentos pontifícios: “Tal Papa disse – foi o Papa Pio XI que disse – que ser católico e ser comunista ou ser católico e ser socialista era uma contradição nos próprios termos e que era uma verdadeira aberração. Ninguém pode se dizer ao mesmo tempo católico e socialista ou católico e comunista”.
Mas os Papas diziam isto, mas a conspiração ia para a frente. E manda a realidade que se diga que em vários desses Papas que vieram depois de São Pio X, em vários deles faltou a seguinte decisão: “Isto é a repetição dos erros condenados por São Pio X. Portanto, eu vou tomar os documentos de São Pio X, relembrá-los e aplicar as penas que São Pio X aplicou a quem sustentou essas doutrinas, assim com [uma] força arquiangélica”.
Acima, à direita, o futuro Padre Ernesto Bonaiuti; sentado, o jovem seminarista Angelo Roncalli, futuro Papa João XXIII
* São Pio X com uma espada de fogo puniu de todos os lados de um modo tremendo; por exemplo, ao Padre Bonaiuti
O termo é de um jornalista francês, que São Pio X pairava sobre o Vaticano como um Anjo de que nos fala a Bíblia que está na porta do Paraíso com uma espada de fogo. Assim estava São Pio X, então São Pio X com uma espada de fogo puniu de todos os lados de um modo tremendo.
Por exemplo, havia em Roma um sacerdote, homem muito inteligente, muito capaz e muito bom professor, então seguido pelos alunos com muito interesse etc. Mas São Pio X mandou examinar os livros dele e verificou que gotejavam a doutrina dita modernista, e que eles constituíam um clã, constituíam uma conspiração que, às ocultas, combinando de não contar para a autoridade eclesiástica espalhavam essa doutrina por todo o ambiente católico, juntamente com outras doutrinas de que eu falarei daqui a pouco.
São Pio X mandou vir os livros dele, mandou examinar, examinou-os ele mesmo e mandou uma comunicação oficial a esse padre Bonaiuti: “Ou o senhor escreve um livro declarando que tais, tais e tais erros estão nos seus livros; segundo lugar, que o senhor reconhece que esses erros são contrários à doutrina católica; terceiro lugar, que, portanto, o senhor abjura esses erros, declara que a verdade é o contrário do que o senhor anunciou, do que o senhor celebrou, que o erro é exatamente aquilo que o senhor celebrou até aqui e pede perdão, então eu verei o que fazer do senhor como sacerdote, que cargo que lhe darei, que situação que lhe darei; ou o senhor se recusa a assinar esse documento. Se não assinar, eu dardejarei em cima do senhor o furor da santidade do Papado. O senhor vai ser perseguido e vai ser destroçado pelo Papado”.
Ele pensou um pouco e disse:
– Eu não mudo nada.
São Pio X: – Está bem.
Daí a algum tempo aparece um decreto de São Pio X excomungando o homem, expulsando-o da Igreja Católica, proibindo-o de usar batina ou qualquer coisa dos trajes eclesiásticos, proibindo qualquer católico de ter qualquer espécie de relações com ele, e qualificando de excomungado da espécie de excomungado mais terrível que há que é o excomungado vitando.
Vitando é uma palavra latina que quer dizer aquele que deve ser evitado. É um excomungado que está fora da Igreja e que os filhos da Igreja devem evitar. Devem evitar com tanto rigor, que se andarem pela rua e perceberem que pela mesma calçada vem vindo no mesmo sentido ou em sentido oposto um excomungado vitando, o ex-Padre [Ernesto] Bonaiuti [1881-1946], por exemplo, ele deve mudar de calçada, para dar a entender a todo o mundo o horror que os católicos têm desse gênero de gente, e ajudar assim a reação católica contra esse tipo de gente.
Isto determinou uma situação horrorosa para esse homem, porque ele continuou a ir às aulas, mas o número de seus alunos diminuiu. Ele continuou a sair à rua com batina, mas ele era um homem vistoso, grande e bem-apessoado, e quando ele andava pela rua, as senhoras e os homens que foram fiéis a São Pio X mudavam de calçada. A calçada do lado dele estava esvaziada, enquanto a calçada do lado oposto cheia.
Depois vieram condenações do mesmo gênero a um grande número de padres, mas de leigos também.
* Com a morte misteriosa de São Pio X a reação antimodernista nunca mais teve o esplendor que teve em seu tempo
Um fato muito misterioso é o que nos é contado pelo Cardeal Merry del Val, Secretário de Estado de São Pio X e amigo queridíssimo deste.
Nas suas Memórias o Cardeal Merry del Val escreve o seguinte: “Na noite de tanto de tanto de 1914 eu terminei o meu trabalho com o Papa, despedi-me, saí dos aposentos pontifícios e fui para minha casa. Na manhã seguinte eu fui acordado cedinho, dizendo que o Papa estava mal à morte”.
Aí ele diz essa frase misteriosa: “Nunca se saberá o que é que se passou no quarto de Pio X – depois São Pio X – naquela noite de tanto de tanto de 1914. O fato concreto é que eu deixei o Papa em condições de saúde perfeitamente bem. De manhã, quando fui ao quarto dele eu notei que ele me reconheceu, pelo olhar eu vi que ele me reconheceu e que, portanto, ele tinha pelo menos certo grau de lucidez. Eu falei com ele, ele fez um esforço para falar, mas não conseguiu. Eu tomei um lápis e um bloco, pus na mão dele para ele escrever o que estava querendo dizer e que não queria, para ele escrever. Ele tentou escrever qualquer coisa e não conseguiu, e num gesto desanimado deixou o lápis cair sobre a roupa de cama e fez assim como quem diz: «Eu estou perdido». Pouco depois o Papa morria”.
Coisa singular, coisa trágica, mas foi assim que as coisas se passaram.
A reação antimodernista, que foi tão grande no tempo de São Pio X, nunca mais teve o esplendor que teve no tempo de São Pio X.
* A frieza das igrejas católicas com a canonização de São Pio X era terrível; em contraposição, a morte de um excomungado, Marc Sagnier, fora ultra festejada
Pio XII canonizou Pio X e eu estava em Paris quando veio essa canonização. A frieza das igrejas católicas com a canonização de São Pio X era terrível. Era natural que canonizado o novo santo houvesse imagens dele que se instalassem nas igrejas, houvesse missas e solenidades religiosas etc. Nada. Umas noticiazinhas assim nos jornais e acabou-se.
São Pio X além de ter condenado esse padre excomungado vitando, chamava-se Pe. Bonaiuti, tinha também lançado penas um pouco menos severas, mas também terríveis, contra um excomungado que era Marc Sangnier, que sustentava as mesmas doutrinas. Marc Sangnier se retirou e passaram umas dezenas de anos até ele morrer. Os meios católicos não o convidaram para nada, ele levou uma vida inteiramente afastada.
Eu estava em Paris novamente quando Marc Sangnier morreu. Então eu vejo com pasmo o seguinte: toda a arquidiocese de Paris promover os funerais de Marc Sangnier. Abriram a catedral para o corpo dele ser exposto até ao dia seguinte, e no dia seguinte uma multidão, mas uma verdadeira multidão de parisienses vindos da Catedral de Notre-Dame com o destino ao cemitério onde o Marc Sangnier foi enterrado… Mas homens de primeira importância na França daquele tempo, como foi, por exemplo, o Gen. de Gaulle e outros do gênero desfilarem diante das janelas do meu hotel, porque o cortejo passou assim.
* Subterraneamente falando Marc Sangnier gozava de uma verdadeira glória, porque ele era membro de uma conspiração
Eu na janela olhando e vendo o seguinte: “Subterraneamente falando este homem gozava de uma verdadeira glória. Por quê? Porque ele era membro de uma conspiração e todos os membros da conspiração não falavam dele, mas o glorificavam o quanto podiam nos seus encontros e nos seus conchavos”.
Quando ele morreu não havia mais perigo de medidas contra ele, então era inútil estar querendo tomar uma medida de cautela e os adeptos daquela seita modernista levantaram a máscara. Então se via que era uma verdadeira multidão oculta e de homens da maior importância.
Isso me fez ver que, então, uma coisa era certa. É que tudo isto ainda existia, que tudo isto ainda estava debaixo do chão, mas se preparando à maneira daquele meu ex-membro do “Legionário”, se preparando a empurrar de lado – e empurrando de fato como eu me senti empurrado – como os adeptos da tradição. Pouco depois nós completaríamos a palavra tradição pelas palavras família e propriedade. Os adeptos da tradição, família e propriedade, ou seja, da verdadeira Igreja Católica do único verdadeiro Deus, lutando dentro da Igreja contra a onda demoníaca dos que querem lutar dentro da Igreja para arrastar a Igreja para Satanás.
Não sei se isto está claro.
Por experiência eu pergunto o seguinte: aqueles para quem isto está claro queiram levantar os braços para ter uma ideia.
É praticamente a totalidade dos membros da sala.
Então vamos prosseguir. Aí essa primeira parte termina e nós vamos passar para uma parte mais curta.
* Eu resolvi dar uma estocada nessa conspiração e escrever um livro em que denunciava a existência da conspiração: o “Em Defesa da Ação Católica“
Aconteceu que eu, então, resolvi dar uma estocada nessa conspiração e escrever um livro em que denunciava a existência da conspiração, denunciava as ideias, denunciava as doutrinas, mostrava como era condenado já por São Pio X, como tinha sido condenado por outros papas, o que é que isto tinha de errado. Eu mostrava tudo e, em última análise, pedia em termos clamorosos medidas à autoridade eclesiástica para acabarem com isso.
Esse livro tinha sido escrito com aprovação do então Núncio apostólico no Brasil Cardeal Bento Aloísio Masella, que tinha escrito uma carta prefácio para o livro. Eu mandei esse livro para todos os bispos do Brasil, para grande número de eclesiásticos amigos meus, e pus à venda nas livrarias e foi um estouro.
Nós estamos colecionando declarações sobre esses e outros feitos da TFP publicados em revistas estrangeiras que acompanhavam as realidades brasileiras e se vê que repercussão tudo isso teve em escala mundial, e que enorme alcance isso teve mais ou menos por toda a parte.
O livro foi objeto de ataques verbais furiosos, mas ninguém ousou escrever, porque se escrevesse sabiam que vinha outro… (aplausos) e que eles não podiam sustentar o contrário porque as provas estavam lá.
* Um dos erros da Ação Católica: quem recebe “o Cristo” de manhã fica de tal maneira santificado que não tem perigo de pecar…
Entre outras coisas que esta nova doutrina seguia tinha esta:
O indivíduo – eles não falavam de Jesus Cristo, eles diziam “o Cristo” – que quando de manhã recebesse o Cristo na Sagrada Eucaristia podia depois durante o dia andar despreocupado do problema se tal coisa era pecado ou não era, porque quem recebe o Cristo de manhã fica de tal maneira santificado que não tem perigo de pecar. Por causa disso mesmo quando chegava à noite – essa doutrina era especialmente espalhada no Rio, que como os senhores sabem era naquele tempo a cidade maravilhosa que atraía turistas do mundo inteiro e que, por causa disso, tinha lugares de prazer noturno espúrio em quantidade – podiam os membros da Ação Católica ir à vontade nesses lugares de prazer, pecarem e pecarem à vontade, porque não era pecado, o Cristo neles evitava de eles pecarem.
Eu disse “pecarem e pecarem à vontade” por um lapso de linguagem. Eles podiam frequentar à vontade os lugares onde se pecava. Eles podiam dançar danças que incitavam ao pecado, mas também não pecavam, porque como eles tinham de manhã recebido o Cristo, a tentação não tinha poder sobre eles…
Os senhores compreendem o que é que isso quer dizer. Quer dizer: “Ponha-te na ocasião próxima de pecar e não pecarás”.
A isso eu respondo como Nosso Senhor. Quer dizer: “Não te ponhas em ocasião de pecar porque pecarás”.
A ocasião de pecar deve ser evitada, sem cometer pecado grave nós não podemos nos colocar em condições próximas de risco grave de cometer pecado grave. Já isto constitui pecado.
Por isso a moça católica deve ser muito correta no trajar-se para que seus trajes não despertem a lubricidade. Deve ser muito correto o jovem católico no ter trato com outras moças, de maneira a não constituir ele ocasião de pecado para elas. É preciso que nos lugares onde se dance, as danças sejam morais, não sejam danças imorais, porque a dança imoral é uma ocasião próxima de pecado. E daí para a frente tudo como os senhores conhecem pela moral tradicional.
* Era uma verdadeira conspiração para perder os que estavam dentro da Igreja
O que é que aconteceu?
Aconteceu que esse pessoal da Ação Católica se jogava nesses sistemas e ali contraíam não sei que espécie de casamentos, muitos abandonavam a religião católica porque não é possível viver esse gênero de vida sem acabar pecando, e depois outros ficavam metidos no movimento católico, ocultavam que pecavam, mas atraíam os que estavam dentro para o pecado.
Os senhores estão vendo que é uma verdadeira conspiração para perder os que estavam dentro da Igreja.
Depois propaganda comunista que continuava a largas dentro deles. Por exemplo, admiração por Luís Carlos Prestes, elogio a Luís Carlos Prestes, o líder comunista, um dos maiores homens do Brasil etc. Tudo coisas aberrantes da doutrina católica, mas que eles sustentavam sem receber punição de ninguém, sem que ninguém, a não ser o grupo do “Legionário”, escrevesse contra eles. Mas também in contrario sensu o “Legionário” escrevia deveras.
Valia a pena os senhores lerem o “Legionário“ daquele tempo para verem com que combate o “Legionário” avançava em cima deles e os atacava. Eles não respondiam.
Um dos sacerdotes deles, que depois ficou bispo, escrevendo sobre aquele tempo teve essa frase: “Quem quisesse sofrer bastava ler o «Legionário» aos Domingos naquele tempo”. Porque eram os da seita que iam ler o “Legionário” e viam as marteladas que o “Legionário” dava na seita, e se sentiam muito assim e não tinham o que dizer.
Foi uma surpresa para mim quando um dia recebi um aviso de que estava à minha disposição no Convento do Carmo de São Paulo uma carta vinda do Vaticano para mim, escrita em nome do Papa Pio XII. Eu fui lá para pegar a carta e era uma carta escrita pelo Cardeal Monsenhor Montini, naquele tempo Secretário de Estado de Pio XII, em nome de Pio XII com franco elogio do meu livro, dizendo que aquilo era a verdadeira doutrina católica, que eu conhecia muito bem o que era a Ação Católica, o que era a doutrina católica, e que o Papa, por motivo do livro que tinha escrito, o Papa me mandava as suas facilitações e manifestações de comprazimento.
Nós não tínhamos outra coisa, publiquei no “Legionário” isso [nota: houve um pequeno lapso de memória do Conferencista, pois a carta da Secretaria de Estado do Vaticano é de 26 de fevereiro de 1949, portanto quando o Prof. Plinio já havia sido tirado, bem como seus demais colegas, daquele periódico, o que se deu no final de dezembro de 1947, n.d.c.], mas não tínhamos dinheiro para publicar num jornal grande. No “Estado” não saiu nada. Saiu na “Folha” umas noticiazinhas assim desse tamanho e depois mais nada. Silêncio, silêncio, silêncio…
Quer dizer, o outro lado era dono de toda a situação. Nós alcançamos outras vitórias desse gênero, mas tudo isso desaparecia no nada. A única coisa que aparecia era isto, isto e isto.
* Com o vício da homossexualidade dentro da Igreja, as coisas chegaram a um ponto inimaginável
As coisas chegaram a um ponto em que elas estão hoje em dia, e essas coisas nessas condições levaram à situação inimaginável da qual eu vou agora dizer duas palavras.
Os senhores sabem que constitui um tema por demais escabroso para que eu entre em pormenores a respeito dele, o tema da homossexualidade. Talvez mesmo pessoas presentes neste auditório nem saibam o que é esse tema. Eu não vou revelar esse tema aqui o que é que é para aqueles que não sabem, mas eu vou tratar desse tema e aqueles que queiram podem procurar informar-se junto a bom sacerdote, há um excelente entre eles que está aqui nesse auditório, e podem procurar informar-se junto a outras pessoas idôneas que conheçam para falar a respeito desse tema.
Mas a história sagrada, por exemplo, quando cuida desse tema, cuida de um modo a velar, porque é tão horrível esse pecado, que a Igreja ao mesmo tempo que é obrigada a ensinar contra ele, ensina com uma espécie de horror, de um modo mais ou menos velado, mas ensina porque tem que ensinar.
Nesse modo velado ela, por exemplo, fala do pecado que custou a existência à cidades de Sodoma e Gomorra na mais alta antiguidade.
Essas cidades eram cidades perto do Mar Morto e elas tinham o vício da homossexualidade. Os seus homens se dedicavam a esse vício de um modo verdadeiramente maluco e desabrido. Esse pecado é chamado pelo Catecismo como pecado que brada a Deus e clama por vingança, porque é um pecado que é uma violação tão categórica e tão profunda das leis da moral natural ensinadas por Deus, as leis do Decálogo revelado por Deus, que não se pode quase imaginar um mal maior do que esse.
[Nota do datilógrafo: Aqui há um lapso de memória no nome da Santa citada. E para facilitar ao leitor, aqui seguem todos os dados a respeito de tal citação.
Palavras de Nosso Senhor a Santa Catarina de Siena (1347-1380), sobre o homossexualismo:
“Esses infelizes …. caem no vício contra a natureza. São cegos e estúpidos, cuja inteligência obnubilada não percebe a baixeza em que vivem. Desagrada-Me esse último pecado, pois sou a pureza eterna. Ele Me é tão abominável que somente por sua causa fiz desaparecer cinco cidades (cfr. Sab. 10, 6). Minha justiça não mais consegue suportá-lo. Esse pecado, aliás, não desagrada somente a Mim. É insuportável aos próprios demônios, que são tidos como patrões por aqueles infelizes ministros. Os demônios não toleram esse pecado. Não porque desejam a virtude; por sua origem angélica, recusam-se a ver tão hediondo vício. Eles (os demônios) atiram as flechas envenenadas de concupiscência, mas se voltam no momento em que o pecado é cometido” (fonte: “O Diálogo”: Edições Paulinas, 1984, pp. 259-260).
Uma santa – Ângela de Merici se não me engano (…). É uma coisa que diz bem aos senhores até onde a coisa vai.
* A onda a favor da homossexualidade estourou em nossos dias de um modo inacreditável em muitos meios que são os herdeiros dos modernistas do tempo de São Pio X
Em nossos dias a onda a favor da homossexualidade estourou de um modo inacreditável em muitos meios que são os herdeiros, em nossos dias, dos modernistas do tempo de São Pio X, dos modernistas do tempo de Marc Sangnier, dos modernistas de nossos dias mesmo.
Esses modernistas se entregaram à discussão sobre o seguinte ponto: se verdadeiramente o pecado da homossexualidade era um pecado tão grande, e se até mesmo era um pecado. Porque como era um pecado enorme, muito violento contra a natureza – são eles… –, podia se pretender que havia qualquer coisa de demência nesse pecado. Ora, quem é demente não tem culpa, é inocente e, portanto, esse seria o pecado da inocência. E não havia razão para reprimir esse pecado como antigamente se reprimia. Quando um indivíduo era homossexual, ninguém falava com ele, ninguém o cumprimentava, não respondia aos cumprimentos que ele fazia, não respondia às perguntas que ele fazia, era tratado como um leproso.
Quando eu era moço-mocinho numa casa muito confortável e muito boa perto da minha, havia um jovem de boa aparência, muito bem-educado, muito bem vestido, e percebia-se que ele era de uma família de categoria. A casa dele era quase em frente à minha, e naturalmente nessas condições os jovens de uma casa e de outra acabam conversando, até trocando visitas etc.
Mas eu notava que ele fazia o possível para me cumprimentar, era só nos encontrarmos na rua que ele começava a me olhar e ver se o meu olhar coincidia com o dele para ele poder soltar o cumprimento. E como eu via que ele queria isso de modo esquisito, eu não olhava etc.
Afinal acabei perguntando para outros porque razão é que ele era tratado assim e me disseram: “Você não sabe o que é? Ele é um homossexual”. Eu era muito novo e não sabia o que era um homossexual, então perguntei. Deram risada e me deram a explicação. Naturalmente eu fiquei horrorizado e mais do que nunca me mantive distante daquele homem.
Aquele homem que era de uma das melhores famílias de São Paulo, apesar do dinheiro e de toda atração que havia na pessoa dele era tratado assim como um Lázaro, como um morfético, por causa da morfeia de alma que dava num homem capaz de pecados desses. Também soube de pessoas do sexo feminino que tinham o mesmo pecado e via que eram tratadas da mesma maneira.
* Quando uma pessoa se entrega a uma profissão infame, essa pessoa não deve ter relações com ninguém, ninguém pode procurá-la, não pode ser amiga dela nem nada
Esse modo de trato provinha do seguinte princípio moral: é que quando uma pessoa se entrega a uma profissão infame, quer dizer, a uma profissão que deve despertar o horror pelo mal que ela contém em si e pelo mal que ela faz aos outros, essa pessoa não deve ter relações com ninguém, ninguém pode procurá-la, não pode ser amiga dela nem nada, porque é uma pessoa chamada assim de pessoa infame.
Exemplo característico disso: prostitutas. Uma prostituta não era convidada para uma casa de família nunca, ela não se dava com ninguém da sociedade. Elas se davam lá entre elas nas casas de perdição de que eram donas e que elas exploravam, mas fora disso elas eram tratadas como leprosas.
Por quê? Porque ter uma casa de perdição é uma atitude por assim dizer – a palavra não existe, eu vou inventá-la no momento – “leprífica”, que gera como que uma lepra na alma e que faz com que todo o mundo procure se afastar dela. Então, o criar um horror em relação a essas profissões, afastá-las e segregá-las do mundo era uma condição para a manutenção da moralidade pública. E todos os Santos moralistas, Doutores da Igreja sustentavam isto como um dever primacial, um dever de primeira ordem a que ninguém podia se subtrair.
De fato, por exemplo, na minha longa existência – até há pouco tempo atrás, hoje já não se diz mais nada – nunca eu soube na vida de uma senhora de… Não precisava ser uma senhora de família ilustre, não. De família limpa de, por exemplo, modestos operários, mas gente honesta, gente que pratica a moral, nunca admitiram que em sua casa pisasse uma mulher de uma profissão infame ou pisasse [um] homossexual. Embora essa mulher pudesse ser rica, pudesse dar dinheiro para a família, pudesse ser uma coisa aparentemente honorífica porque era uma mulher que tinha bonito automóvel, podia ir passear com a mãe de família, era para a mãe de família uma coisa… sob certo ponto de vista gente completamente sem princípios poderia achar honorífico. Apesar disto era rejeitado completamente e o princípio era esse: as profissões vergonhosas devem ser tratadas assim.
A meu ver deve figurar nisto o vendedor de droga. Aquele que vive de vender a morte, de vender o vício, de vender a tara, esse deve ser tratado como um infame e se deve recusar o tratamento com essa gente. E assim uma série de outras profissões e situações. E isto ao longo de todo o tempo da Civilização Cristã se entendeu assim.
* Os modernistas nos últimos vinte anos começaram a discutir entre si que a homossexualidade era uma coisa inocente e que era preciso evitar que eles fossem objeto do desprezo geral
Pois bem, este clã de gente, esses modernistas, nos últimos vinte anos começaram a discutir entre si que a homossexualidade era uma coisa inocente, que não havia um mal maior nisso, e que sobretudo o que era preciso era evitar que eles fossem objeto do desprezo geral, que era preciso abrir as portas das casas para eles e que tivessem o trato comum que se dá para o comum das pessoas.
Por esta forma, essas pessoas entravam na organização da família, tinham elas mesmas “famílias” – os senhores me entendem bem, “famílias” de homossexuais como é que isto é possível… – e que podia até ser admitido pela lei civil o casamento dos homossexuais entre si ou das homossexuais entre si. E que feito o casamento, quando morria um dos dois [o outro] era herdeiro legítimo da outra parte, como numa família legítima é, e daí para a frente.
Tendendo a estabelecer uma espécie de igualdade entre o casamento e essas ligações infames, que levaram Deus a mandar o fogo sagrado sobre Sodoma e Gomorra e destruir essas duas cidades. A mulher de Lot vendo o incêndio da cidade – Deus tinha mandado à família de Lot que se retirasse da cidade – voltou-se para trás, teve saudades, e como castigo de Deus foi transformada em estátua de sal.
Assim nós poderíamos lembrar de vícios iguais ou com certo nexo de semelhança que Deus castigava de modo terrível.
Por exemplo, um vício parecido com esse que é o onanismo. Foi um pecado praticado por Onan. Eu não vou explicar aqui o que é, muitos sabem o que é. Onan praticou esse vício e enquanto estava na prática do vício um raio do céu bateu nele e matou.
Este vício este clã começa então a querer inocentar, dizendo que não, que não é uma coisa tão terrível, que tem atenuantes, que vale a pena receber esse pessoal em casa etc., etc. e que por esta forma se pratica a religião nova, a religião moderna, a religião alegre, a religião que não tem tristezas, nem ansiedades, nem castigos, mas que tudo é permitido.
Os senhores estão vendo bem a relação disso com o modernismo, como essas coisas constituem o todo só, e como, portanto, nós estamos na longa exposição de uma série de aberrações, de uma série de absurdos que chegam ao ponto de determinar uma completa transmutação da moral católica dentro da Igreja, para fazer exatamente o mal dentro da Igreja.
* Esse pecado da homossexualidade penetrou até nos mais altos escalões da Igreja e estamos em face de uma verdadeira revolução dentro da Igreja: os três casos que estão pondo a Igreja em polvorosa
Eu entro agora nos casos atuais.
Acontece que à força de fazer pregações assim, começam a aparecer documentos episcopais tomando a defesa desses pecados, ou escândalos de gente que comete esses pecados e que, tendo cometido, é denunciado. Então se fica vendo que esse pecado tinha penetrado até aos mais altos escalões da Igreja e que estamos em face de uma verdadeira revolução dentro da Igreja.
São três casos – a gente poderia dizer bem mais – recentes que mostram bem quanto este assunto é deformado hoje em dia pelos propugnadores destas seitas novas, e quanto mal isto vai fazendo por aí.
Nós temos três casos que puseram e que estão pondo a Igreja em polvorosa. São os Arcebispos de três das mais importantes cidades do mundo. Não, são duas das mais importantes do mundo; a outra é uma cidade menor.
A primeira, como importância de cidade, é a cidade de Londres. O Arcebispo de Londres (Basil Hume) fez uma declaração pública em que parecia dar todo o apoio a doutrinas desse gênero e houve um estouro mundial. Dias depois ele saiu com uma declaração de que ele não tinha sido bem entendido e voltando um tanto atrás, mas apenas um tanto, na doutrina errada e calamitosa que tinha publicado.
Depois o Arcebispo de Viena (Hans Hermann Groër), outra grande cidade, do ponto de vista cultural uma cidade de uma importância central, que também apareceu acusado simultaneamente ou quase simultaneamente por vários antigos seminaristas dele de ter querido perder esses seminaristas convidando-os para o pecado da homossexualidade. O Arcebispo ficou de tal maneira sem face pela acusação, provavelmente os que acusaram tinham contra ele tais provas, que sendo acusado ele pediu demissão da presidência da Confederação dos Bispos Austríacos. Pouco depois ele foi destituído pela Santa Sé do cargo de Arcebispo de Viena e foi morar num convento onde parece que ele vai sumir, mas ele já não é Arcebispo de Viena.
* O caso mais barulhento é o do bispo de Evreux, na França
O terceiro caso é o caso mais barulhento, é de um bispo de uma cidade na melhor das hipóteses de importância média na França, a cidade de Évreux (Mons. Gaillot). Ele era bispo dessa cidade, e era um barulhento que vivia apoiado pela mídia publicando notícias e doutrinas de fundo comunista, de fundo pansexual, homossexual etc. e com outros erros ainda.
Há dez anos pelo menos ele vem sendo denunciado e marcado por atuações dessa natureza. A Santa Sé uma vez lhe chamou atenção e preveniu a ele de que se continuasse seria destituído da diocese de Évreux. Ele não ligou, continuou ainda mais, e João Paulo II acaba de destituí-lo da diocese de Évreux e nomeá-lo Bispo titular de Parthênia.
Parthênia é um lugar que existia antigamente na Argélia e que desapareceu naquelas areias do deserto. Há umas cidades assim a que a Santa Sé dá o título de dioceses titulares. Não são habitadas, é uma coisa teórica.
Ele foi nomeado Bispo de Parthênia e foi uma revolta na França, mas de outro lado um bate palmas tremendo. A TFP recebeu no mailing dela numerosas cartas felicitando João Paulo II pela atitude tomada contra o bispo de Évreux. A questão está em suspenso.
O bispo de Évreux o que é que está fazendo? Ele tem publicado coisas provocativas e deixa ver que vai formar um movimento internacional a favor das ideias dele. Ele será excomungado? Ninguém sabe.
Na Alemanha há um verdadeiro pandemônio teológico de padres a favor e de padres contra esta posição.
* Há uma rachadura na Igreja, há uma fissura na Igreja por onde entra a fumaça de Satanás
O que os senhores estão vendo no fundo é que há uma rachadura na Igreja, há uma fissura na Igreja. A gente vê que é a tal rachadura e a tal fissura por onde entra a fumaça de Satanás, e que João Paulo II está absolutamente indeciso sobre o que fazer porque ele tem um medo explicável – eu não iria além disso – de que isto produza muitas separações na Igreja. Mas os verdadeiros católicos desejam ardentemente um gesto de energia de João Paulo II que chegue a limpar a Igreja de toda esta infestação interna como o Céu foi limpo por São Miguel Arcanjo. [Aplausos]
Nós, colocados diante dessa situação, devemos ter toda a repulsa possível a toda a forma de favorecimento da homossexualidade, a toda a forma de favorecimento do igualitarismo e de tudo o mais que nós percebemos que tem relação com esses erros há tanto tempo combatidos, mas cuja cabeça infame está à espera da paulada que os liquide.
Nós devemos, por nossas orações, pedir a Nossa Senhora que faça vir logo o dia dEla para esmagar todas essas coisas, e não há nada melhor do que aquela oração: “Enviai o Vosso espírito e todas as coisas serão mudadas, e renovareis a faça da Terra”. Pedir isso a Nossa Senhora com o máximo empenho, porque as orações dos filhos da Igreja abrem os céus e obtêm não só as graças que a gente pede, mas também os castigos que a gente pede. [Aplausos]
* “Senhor, se para Vossa glória for necessário, for indispensável, castigai, Senhor”
Peçamos, portanto, com empenho e com todo empenho, peçamos que para os maus venha a graça para que eles se convertam. Mas nós já estamos vendo desde logo quanto isso é difícil, e nossas orações devem conter, portanto, este adendo: “E, Senhor, se para Vossa glória for necessário, for indispensável, castigai, Senhor, e castigai com força. Vós mesmos dissestes na sagrada Bíblia: «O pai que poupa a vara a seu filho odeia seu filho». Senhor, porque nos amais e não porque nos odiais, nós Vos pedimos, para todos os que precisam, a vara salvífica do Vosso amor”. [Aplausos]
Está muito tarde e para os que têm que assistir Missa ainda convém que o Santo Sacrifício comece o mais imediatamente possível. Por isso eu peço ao Pe. Olavo de rezar e podermos nos dispersar.