A conduta da humanidade está clamando o castigo de Deus – O que é a mediocridade e como vencê-la?

Palavrinha [breve conversa] com baianos e canadenses, 30 de junho de 1987

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conversa do Prof. Plinio, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

[“Bagarre” é uma palavra francesa que indica uma situação de confusão, devida a uma disputa ou a uma rixa. Plinio Corrêa de Oliveira a utiliza como metáfora para se referir de modo sintético ao castigo que espera a humanidade se esta não se converter, conforme advertiu Nossa Senhora em Fátima, n.d.c.]

(Pergunta: …nós que moramos fora de São Paulo, e fazemos apostolado na Bahia, e também os que não moram lá na Bahia,  que fé eles devem ter nos milagres de Nossa Senhora na hora da “Bagarre”?)

Meu filho, a questão é a seguinte: a razão pela qual se deve acreditar que vai haver a “Bagarre” é a razão pela qual depois, durante a “Bagarre”, se deve confiar em Nossa Senhora.

A julgar por dois fatores, nós devemos crer na “Bagarre”. Essa crença na “Bagarre” não é uma coisa assim tirada do ar, é uma coisa racional. Eu vou dar muito resumidamente porque isto daria para um simpósio. Eu não tenho tempo para fazer esse simpósio a não ser um dia que eu vá à Bahia… Eu gostaria muito, gostaria enormemente. Ainda que fosse para rever a imagem de São Pedro arrependido e a praia da Amaralina. A praia da Amaralina fora da hora de imoralidade e porcaria. Numa hora boa.

Mas, então, nós acreditamos na “Bagarre”, primeiro porque a ordem toda do mundo provém do cumprimento da Lei de Deus, dos Dez Mandamentos. Se vocês imaginarem um país onde todo mundo cumpre os Dez Mandamentos, vocês têm a perfeição. Se imaginarem um país onde ninguém cumpre os Dez mandamentos, têm o caos.

Tomem aqui o Brasil, país rico, grande, inteligente, quanta coisa tem o Brasil, é uma coisa magnífica! Pergunta: Por que está no estado em que está? É porque ninguém cumpre os Dez mandamentos da Lei de Deus. É evidente.

E depois, se Deus existe e Deus é Deus – ninguém pode duvidar disso –  a lei dEle tem que ser o fundamento de toda ordem. Pois se Ele é Deus e Ele dá uma Lei, tudo tem que estar baseado nessa Lei.

Ora, ninguém cumpre a Lei de Deus; os que cumprem a lei de Deus são muito pouco numerosos. Qual é o resultado? É o caos! Nós temos aqui o caos diante de nós. O mundo inteiro está no caos.

Não preciso dizer mais nada, para verem como as coisas mudam: no tempo remoto em que eu tinha a idade de vocês, se um homem punha em dúvida a virgindade de uma moça, o pai ou o irmão dela metia um tiro no homem. Se saía um ato sexual fora do casamento com uma moça, o pai ou o irmão exigia o casamento na polícia. E isso não era só no meu tempo, não. No tempo muito mais recente muito mais recentemente ainda era isso.

Se, por exemplo, um  rapaz chegar para outro e dizer: “Eu desonrei a sua irmã”, o outro puxava o revólver e matava. Tal era o respeito que se tinha à virgindade. Hoje que é virgem? É um país que está perdendo… não tem quase mais virgens. Então, onde é que está o Sexto Mandamento “Não pecar contra a castidade”? “Não cobiçar a mulher do próximo”? Onde está este Mandamento?

Quer dizer, assim nós podemos tomar todos os outros Mandamentos, transgredidos dia a dia, dia a dia, dia a dia. O resultado: tem de vir um momento em que o mundo vem água abaixo.

* A barbárie está entrando

Vocês estão vendo: matar. Um matar o outro, lei que autorize um a matar o outro é sinal de barbárie. Por exemplo, aquelas tribos selvagens do interior da África, durante muito tempo os índios brasileiros matavam-se uns aos outros. Sinal de barbárie.

Agora, a lei está autorizando, está impondo o assassinato. O aborto é permitido e o aborto é o assassinato de uma criança inocente, e muitas vezes sem batismo. A criança nem vai para o Céu, vai para o Limbo. E depois é a eutanásia! Quer dizer, a autorização de matarem os velhos que já não são úteis, para pôr fora. Isto não é barbárie que vai entrando?

Essa barbárie é um pecado tão grande, que é natural que Deus faça cair sobre o mundo algo como fez no Dilúvio. Nós estamos merecendo um Dilúvio. Não é “nós” Brasil, é “nós” o mundo inteiro. Isto de um lado.

* Fátima e a “Bagarre”

Agora, de outro lado, em 1917, como vocês sabem, Nossa Senhora apareceu na Cova da Iria, em Portugal, e revelou que ou o mundo se convertia e o Papa consagrava a Ela o mundo –  então, neste caso a Rússia se converteria, ou o mundo não se convertia e viria então um castigo geral.

E a prova de que Ela de fato apareceu, de que Ela de fato estava falando com aquelas três crianças – Jacinta, Francisco e Lúcia -, a prova é que quando Ela falava, o sol se movimentavacoisa que aquelas crianças não podiam produzir. Não há ninguém que movimente o sol.

Em certa ocasião, quando Ela falou do castigo, Ela fez uma ameaça: o sol foi em direção à multidão e a multidão se espalhou correndo. Até hoje Portugal está cheio de gente que viu isso.

Então Nossa Senhora prometeu esse castigo, ameaçou. De 1917 para cá – nós estamos em 87, 70 anos! – Ela ficou esperando o mundo melhorar. O mundo não melhorou em nada. Só piorou, só decaiu. É natural que Ela cumpra a promessa dEla, o castigo dEla.

De maneira que nós acreditamos na “Bagarre”. É uma coisa racional. Vocês estão vendo que não é uma coisa, um fetiche, uma besteira dessas, é uma coisa racionada.

Agora, problema: como é que Nossa Senhora vai fazer? Como vai ser a conduta dEla? Ela prometeu o castigo para os maus, não prometeu castigo para os bons.

Depois, os bons são tão poucos hoje, que se Ela for matar os bons, acaba o mundo…

Nós estamos no caso de esperar que Nossa Senhora proteja especialmente os bons. Quer dizer, que Ela proteja os que seguem a Ela, que pregam a devoção a Ela e cumprem os Mandamentos de Deus. Então, nós temos o direito de esperar que Ela nos proteja especialmente durante a “Bagarre”.

Aí está a respondida a pergunta de um de vocês.

Como é que nós fizemos a TFP, pensamos na TFP?

Quando eu era bem mais moço do que vocês são hoje, eu tinha mais ou menos uns 10, 11 anos, entrei no Colégio São Luís. E notei que os meninos do meu tempo eram muito diferentes da educação que eu estava recebendo. Eu tinha recebido uma educação tradicional, à moda antiga etc., religiosa, e notava nos meninos uma pagodeira, uma imoralidade que no tempo de vocês só pode ser pior. Não pode deixar de ter piorado enormemente.

Eu tive um choque e compreendi que eu não podia seguir aquilo, que eu tinha que reagir contra aquilo. Mas também compreendi, quando eu tinha uns 12 anos mais ou menos, que daquele jeito o mundo ia acabar e que era preciso fazer uma reação. Fiquei esperando, procurando companheiros para se organizarem comigo para fazer essa reação até os 20 anos. Não encontrei nenhum…

(Aparte: O senhor adivinhou o que eu ia perguntar…)

Eu julguei que estava contido no que você perguntou. Não adivinhei, julguei que estava contido no que você perguntou.

Então, ali houve de repente um Congresso da Mocidade Católica [em setembro de 1928] e havia um mundo de moços católicos saídos do chão, por assim dizer. E ali entrei naquele ambiente, familiarizei-me muito com eles –  era o movimento das Congregações Marianas. Eu logo que vi, resolvi entrar. E terminado o Congresso matriculei-me como congregado mariano. E de lá fiz a minha vida no movimento católico, procurando estimular essa reação.

Bem, meus filhos, agora chegou a hora, não é? E eu tenho que dizer uma palavra para os canadenses. Quais são os canadenses?

(Pergunta: Como lutar contra a mediocridade?)

Na mediocridade, a gente deve distinguir duas coisas. Primeiro, a visão.

Então, eu recomeço. Um homem pode ser medíocre de dois modos. O homem medíocre o que é?

É o homem que tem vistas curtas. O homem que tem vistas curtas, ou é um homem que vê pouco, ou é um homem que compreende pouco.

O homem medíocre presta pouca atenção na realidade. Ele não se incomoda a não ser com ele mesmo. O mundo, Deus, a luta das ideias, a sublimidade dos acontecimentos históricos, não importam para ele, contanto que ele possa comprar um relógio novo, que possa ter um automóvel novo, que possa fazer um passeio nas férias, o resto para ele não interessa. Por quê? Porque vê pouco. Ele não presta atenção em nada, só em si.

Em segundo lugar, ele entende pouco, porque quem não presta atenção nas coisas não entende nada.

Então, a gente combate a mediocridade procurando observar as coisas, e procurando compreendê-las, analisar. Mas não basta isso. É preciso ter vontade de não ser medíocre.

E como é que a gente tem vontade de não ser medíocre? É compreendendo como a vida egoística, vivida só para o reloginho, para o tênis, para o passeio, para comer, para “fassurar” – existe, vocês sabem, todo mundo sabe disto – a vida que gira só em torno disso, acaba sendo uma vida sem expressão e sem razão de ser. Para que nasceu um ente desses? Para que ele serve? Um porco, no chiqueiro, vive assim: só preta atenção na própria lama. O medíocre tem uma mentalidade suína. O homem deve ter vergonha de ser medíocre.

Pelo contrário, o homem que sabe que nasceu para Deus, que sente que a sua alma não se contenta com um relógio, nem com passeios, que tem remorso da “fassura”, essa alma sente que é nascida para coisas maiores. E procura ter uma vida de um sentido mais elevado.

Então eu pergunto para esse homem: para que você nasceu? Ele dirá: “Nasci para dar glória Àquele que me criou. Nasci para agradecer não só ao meu Criador, que me criou, mas ao meu Redentor Jesus Cristo, porque morreu na Cruz por mim, para salvar a minha alma. Vejo Nosso Senhor Jesus Cristo negado e perseguido hoje em dia. Vou lutar por Ele! Este é o sentido de minha vida. Relógio, passeio, “fassura”… a “fassura” que desapareça de minha vida. O relógio todo mundo precisa ter. Um passeio, às vezes a gente deve dar. Mas são coisas secundárias. A questão é servir e lutar“.

Eu concluo com uma coisa que é um pouco difícil de entender, mas nós não somos medíocres e gostamos das coisas difíceis. O medíocre gosta dos professores que dão aulas fáceis de entender, porque são aulas vazias. O que não é medíocre gosta dos professores que dão aulas substanciosas.

Imaginem Nosso Senhor agonizando no Horto. Todo mundo já ouviu contar a cena. Ele, prevendo o que ia acontecer, a Sua natureza humana começou a sentir medo. O Evangelho diz que Ele começou a sentir “medo e pavor”! E é natural. Ele era Homem-Deus e tinha todos os seus instintos perfeitíssimos. Tinha, portanto, o instinto de conservação perfeitíssimo também. E, portanto, o medo nEle tinha que ser muito grande.

Mas Ele sabia que tinha que passar por tudo aquilo, porque Ele tinha que morrer pelo gênero humano, para que o pecado de Adão e Eva fosse perdoado e nós pudéssemos ir para o Céu. Então, ajoelhado no Horto, sozinho, enquanto os discípulos dormiam e Judas tramava a entrega dEle, Ele começou a sentir medo, porque Ele era Profeta e sabia perfeitamente o que ia acontecer a Ele. Nosso Senhor foi o único profeta que, ao mesmo tempo que previu, fez, Ele, o que estava prevendo. Ele é o Homem-Deus. Ninguém tem nenhuma comparação com Ele. Ele é superior a qualquer coisa que se possa imaginar.

Ele previu isso, mas previu também, ao longo dos séculos, todo mundo que haveria de aproveitar do Sangue dEle e salvar-se. E todo mundo que haveria de não aproveitar e haveria de perder-se. Ele conheceu cada um dos homens que ia nascer e viu a trajetória de cada um dos homens. E gemeu pela inutilidade do Sangue dEle em relação aos que iam perder-se, fariam mau uso, não teriam Fé, não acreditariam.

Mas, de outro lado, Ele teve uma consolação vendo os que fariam bom uso, e calculando todos aqueles que Ele ia salvar. Esses haveriam de nascer, séculos depois, até o fim do mundo. Mas deram alegria a Ele antes de nascerem, porque Ele conheceu aqueles. Esta é uma coisa que só se pode compreender Ele sendo Deus, e conhecendo o passado, o presente e prevendo o futuro.

Então, Ele no Horto das Oliveiras teve conhecimento disso. Ele conheceu todos os homens, nominalmente a cada um de nós, que não tínhamos nascido, mas Ele sabia que ia nos criar. E Ele viu este momento em que nós estaríamos aqui, ajoelhados, comentando o sofrimento dEle. De maneira que, milênios antes de nós nascermos, Ele teve a alegria vendo esta cena que está havendo aqui. E nós alegramos a Ele durante a Paixão dEle.

Não acha isso extraordinariamente bonito?

Então, aqui está uma ideia de como vale a pena servi-Lo: nós alegramos a Ele durante a Paixão dEle. Quando todos O abandonavam, estes brasileiros e estes canadenses, Ele viu dando alegria a Ele.

Fica [como] uma reflexão final… e Salve Maria!

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