Plinio Corrêa de Oliveira

 

Deus é bondoso mesmo quando Ele castiga

 

 

 

 

 

Reunião de 19 de março de 1994

  Bookmark and Share

 

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

O tema em questão também foi tratado pelo Prof. Plinio no livro "Guerreiros da Virgem - A RÉPLICA DA AUTENTICIDADE - A TFP sem segredos", Capítulo VI, pag. 166:

"O castigo que Nossa Senhora previu em Fátima, a TFP vê nele um ato supremo de misericórdia de Deus para com o mundo pecador, pois muitas almas, nesse sofrimento extraordinário, poderão se arrepender de seus pecados e expiar suas culpas. Precisamente como o dilúvio que, segundo São Pedro (I Pt. III, 19 a 21), foi motivo de salvação eterna para muitos que, entretanto, haviam permanecido incrédulos enquanto Noé fabricava a arca. Porém, quando desabou sobre eles o tremendo castigo, se arrependeram e pediram perdão a Deus, aceitando a morte como expiação de seus pecados".

*    *    *

 

O que comentar a respeito deste jornal falado?

Nós devemos dizer o seguinte: os fatos que os senhores ouviram constituem uma série de provas de uma determinada situação que encontra no espírito de muitos dos nossos contemporâneos, e quiçá, dos espíritos de alguns de nós, uma objeção que eu tive ocasião de enunciar no final de nossa última reunião.

A objeção é esta:

É verdadeiro todo esse maço de fatos, todo esse maço de catástrofes, toda esta congérie [coleção, n.d.c.] de ruínas, de abominações etc., etc., que acabamos de ouvir?

Há alguma coisa que faz com que, de um lado, os fatos estão aí e falam, e bradam, e clamam tanto que é impossível negar.  Não digo que seja impossível negar um ou outro desses fatos concretos, mas é impossível negar o bloco que está aqui.  Pode ser que um ou outro desses fatos não seja verídico, pode ser que um ou outro desses fatos tenha sido colhido numa fonte pouco segura, e que se em linhas gerais ele é assim, em alguns pormenores ele não será.  Pode, portanto, ter os defeitos de uma coleção de provas colhidas com dedicação e com honestidade exemplares.

Está bom. Vamos admitir.  Mas o que é que se deduz daí?

Deduz-se algo contra o qual o instinto de conservação da sociedade humana, mais do que simplesmente isto, mas o bom senso primário, o bom senso elementar do conjunto dos homens tende a insurgir-se.

Os senhores imaginem que em determinado dia do ano de 1994 apareça uma notícia provada de que vai aparecer descendo do céu – evidentemente não é o Céu Celeste, é o céu astronômico – uma série de oito trilhões de mosquitos venenosos e que estão em condições de, em pouco tempo, liquidar a Humanidade.  E que essa liquidação da Humanidade poderá se dar através de um banquete “mosquitário” que dure, vamos dizer, três dias. Ao cabo desses três dias os mosquitos terão mortos os homens e o fim da história da Humanidade, o ponto final dela seria o triunfo dos mosquitos. Tremenda humilhação para os homens, mas sobretudo tremenda ameaça. E tremenda ameaça que o bom senso humano instintivamente tende a pegar como ameaça infundada.

* Um modo de raciocinar que numa criança desperta compaixão, mas que é insuportável quando se trata de adultos

Assim também são esses fatos que nós acabamos de ver.  Se uma pessoa que vive placidamente em sua casa, que quando vê os jornais tem um sobressalto, mas está habituada a fechar o jornal, pô-lo de lado e voltar para a vidinha achando que aqueles fatos ou não são verdadeiros ou não vão ter as conseqüências que se imagina que poderão ter, essa pessoa que toma essa atitude de fechar o jornal, o que equivale a dizer fechar os olhos para a realidade, essa pessoa, [pelo que é levada?], ela está certa que é uma reação do bom senso que se pronunciou nela.  E ela dirá de si para consigo:

"Ora vamos, isto aqui não é possível.  De um jeito ou doutro, assim as coisas não correrão. E, portanto, eu pego esse jornal vaticinador de horrores e atiro de lado. Na preservação do meu bom senso, na preservação de minha saúde mental, na preservação do meu sono agradável durante a noite, e de minha coragem de lutar durante o dia.  E, portanto, acabou-se".

Alguém dirá para essa pessoa:

Mas leia o jornal, não se contente com raciocínio sumário dessa natureza.  Examine se esse raciocínio tem fundamento.  Depois de você ter lido o jornal e ter visto ponto por ponto o que é que ele deixa ver. Depois de ter lido durante seis meses pelo menos, os quotidianos tidos como sérios no país para ver o que é que eles dizem, depois disso, você deverá pensar, deverá raciocinar, deverá convocar as verdades de fé que você conhece e nas quais você acredita, e deve perguntar a essas verdades de fé se este quadro apresentado por estes jornais, por estes órgãos de mídia, se esse quadro é um quadro viável ou não.

Se dado às informações que a Fé proporciona, esse quadro é um quadro apresentável, é um quadro crível, é preciso que você seja bastante lúcido, digamos as coisas bem, que você tenha suficiente boa-fé para dizer: eu não quereria que as coisas corressem como elas correrão – como se vê à vista da ameaça do noticiário catastrófico que eu acabo de ler –, eu não quereria. Mas... eu compreendo que uma criança de quatro anos, cinco anos, colocada diante da perspectiva de uma coisa que não gosta, por exemplo, o quê?  "Sua mãe vai fazer uma viagem de um ano, vai deixar você em casa sozinha formada pela sua governante".  A criança chora e diz que não é verdade.

Qual é a razão pela qual a criança diz que não é verdade?

Perguntada, a criança, com a atrofia inicial própria do pensamento infantil, dirá: "Não quero!   Eu não quero que seja assim.  Nenê não quer, e como nenê não quer, não vai acontecer".  É um modo de raciocinar que desperta compaixão, tal a fraqueza de alma – explicável – que revela, mas que é insuportável quando se trata de adultos.

* Mesclas entre verdade e erro, entre bem e mal, é coisa que repugna à idade adulta

Uma pessoa que atingiu a idade adulta, e que chega a dizer que determinado acontecimento não se dará porque ela não quer que se dê, é uma pessoa que não chegou à idade adulta, nem tem condições de chegar à idade adulta. Por uma razão, é que a idade adulta é aquela que se define como sendo a idade em que se possui um aparelhamento psicológico, mental, sobretudo moral pelo qual se quer conhecer a verdade, a verdade inteira, só a verdade.  Repelir o que não for a verdade, o que não for a verdade inteira, não for a verdade exclusiva.  Mesclas entre verdade e erro, entre bem e mal, é coisa que à idade adulta repugna.  E, portanto, esse não é adulto.

Ora, se nós vamos ver qual é a atitude que à maneira de tentação aflora no espírito de muitos de nós, se descreve da seguinte maneira:

A pessoa lê, e depois diz:

– Ora qual!... Haverá alguma coisa disto, mas... assim as coisas não vão ser.  Vamos continuar na nossa “vidoca”, na nossa vidinha, sobretudo despreocupados. Quando chegarem algumas das conseqüências que em torrente parece que se desprenderão desses fatos verdadeiros, aí então nós veremos o que fazer.  Vista de perto a torrente das desgraças será menor.

– Por quê?

– Porque habitualmente é assim. Porque nada acontece de tão terrível como à primeira vista pareceria de longe. E, portanto, eu não vou me incomodar!"

O que é perfeitamente infantil.

O raciocínio de uma pessoa adulta dirá: "Está bom, aqui estão fatos narrados por órgãos da mídia aos quais habitualmente a opinião pública tida como sensata, tida como criteriosa, como madura, dá crédito.  São milhões e milhões, e milhões de norte-americanos que habitualmente dão crédito ao que esses órgãos dizem.  Eu não vou dizer, eu, que eu não dou crédito por quê?  Se eu tenho argumento digo, digo até contra esses milhões de órgãos – não terá sido a primeira em nossa vida. Mas se nós não temos argumentos e vemos que eles têm argumentos, nós diremos: não Sr., é assim e está acabado.

* Mais ainda do que crer na objetividade dos fatos, é preciso crer num fato infinitamente mais objetivo que qualquer outro: é a Providência divina

E vai acontecer o quê? Em linhas gerais, percebe-se o que vai acontecer.  Tenha a coragem de abrir os olhos para essas linhas gerais e seja homem, sobretudo seja homem de Fé, seja um homem que [crê].  Mais ainda do que crer na objetividade desses fatos, crer num fato objetivo, infinitamente mais objetivo que tudo isso: é a Providência divina.

* Há horas da cólera divina que se exerce como um castigo que desaba e tem sua beleza capaz de empolgar e de determinar atos de adoração magníficos

Deus tem horas em que castiga.  E que mesmo quando castiga ainda é bondoso.  E tem horas em que Ele castiga e onde não se chega a perceber onde está Sua bondade.  Por quê?  Porque há horas da cólera onde não cabe a bondade.  E elas têm seu papel na História.  E essa cólera pura!, que se exerce como um castigo que desaba, tem sua beleza.  Digo mais, tem sua beleza capaz de entusiasmar... [Aplausos], capaz de empolgar e de determinar atos de adoração puros e magníficos!

Senhor, diante de vossa justiça que se desprega tão magnificamente na sua força, na sua rejeição, no seu repúdio, naquilo em que por isso mesmo ela é pura de qualquer forma de contágio, de qualquer forma de conivência com o mal, que é o contrário de Vós, e que Vós repudiais, diante dessa repulsa, dessa cólera vossa que agarra e que joga de lado, e vota à destruição, temos vontade de nos ajoelhar, temos vontade de dizer: Adoramus Te Christi et benedicimus Tibi, quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Nós vos adoramos, Senhor, e nós Vos bendizemos, porque por vossa Santa Cruz redemisti o mundo'.

* As lamentações de Nosso Senhor diante de Jerusalém: eram ditas em lágrimas, mas com palavras cada uma das quais é um raio

Quer dizer, houve um momento em que segundo vossa sabedoria infalível tinha chegado a hora em que não se toleraria mais a existência de um mundo todo ele pagão, tinha chegado a hora de destruir a obra do demônio que era o mundo todo gentílico e todo imerso no mal.  Chegada essa hora, Vós Senhor, no vosso ódio magnífico começastes a vossa Paixão, Vós começastes a vossa Paixão chorando sobre Jerusalém.  Atos de amor em que choráveis a vítima de vossa cólera: Jerusalém, Jerusalém, se tu soubesses o dia em que o castigo virá sobre ti... Quantas vezes procurei, como a galinha faz com os pintainhos, reunir-te sobre minhas asas, mas tu recusaste, e agora!... – este "e agora" é de uma beleza suprema, fica o momento em que a cólera se abre e se deixa ver – ...agora vai te acontecer isto, aquilo e aquilo outro.  O que é dito em lágrimas, mas com palavras cada uma das quais é um raio. [Aplausos]

Depois, vós conheceis o desdobramento dos fatos.  Nosso Senhor – é o Homem-Deus, sabe tudo –, [que] conhecia – conhece – a profundeza do mal que estava dominando sobre toda Terra, a profundeza do pecado cometido por Adão, dos pecados cometidos em conseqüência por outros descendentes dele, que sabia de tudo isso, inicia a magnífica luta dEle contra todo esse mal.

* Nosso Senhor poderia ser comparado a um guerreiro que vê de longe as tropas terríveis do adversário que avança, sabendo-se inteiramente só e abandonado, com um punhado de soldados que dormem

Nesse sentido Nosso Senhor poderia ser comparado a um guerreiro que vendo de longe as tropas terríveis do adversário que avança, sabendo-se inteiramente só e abandonado com um punhado de soldados que doormeemmmm,... dormeemmm escandalosamente,... dormem otimisticamente,... dormem “nhonhosamente” enquanto Ele só vê tudo quanto está se passando. Ele sabe que na cidade ainda longínqua o filho da perdição, Judas Iscariotes, trama a entrega dEle mediante trinta dinheiros e um ósculo, um beijo...  Ele, que sabe tudo isso, reveste-Se de toda sua força para enfrentar o adversário.

Como é esse revestir-Se da força?

Profeticamente Ele começa a prever – inclinado provavelmente sobre uma pedra, no Horto das Oliveiras, rezando –, Ele começa a prever aquilo que vai acontecer, ponto por ponto, dor por dor, insulto por insulto que atiram contra Ele, ingratidões por ingratidões, pancada por pancada.  Estocadas desferidas com bastão ou com espada, caçoadas de uma infâmia vil e nauseabunda ao Autor de nossa salvação, de nossa redenção, coroado com uma coroa de espinhos como um rei de escárnio, de ludíbrio, esbofeteado, e vestido com a túnica dos bobos, dos imbecis, flagelado, tendo derramado sangue a mais não poder, e que começa a Sua viagem de coleta de insultos, de atos de ódio, etc., etc., que O reduzem ao último grau de humilhação possível.

* No momento em que Nosso Senhor se encontra com Nossa Senhora durante a Via Sacra, e Ele vê nEla a dor de todos os justos da História e as dores do bem que se concentram e que choram

Ele coleta tudo isto, isto vai se coletando... Coleta terrível, coleta tremenda! e nós vemos que naquela tristeza dEle, naquela tristeza que transparece de um modo... – não sei como descrevê-la.  No momento em que Ele se encontra com Nossa Senhora durante a Via Sacra, e Ele vê nEla a dor de todos os justos da História, de todos os homens bons, de todos os Anjos no Céu, Ele vê nEla todas as dores do bem que se concentram e que choram, as vias de Jerusalém choram, os caminhos de Jerusalém choram.  Depois Eles continuam.  Ela, as santas mulheres vão caminhando rumo à Cruz.

Depois se desenvolvem os lances finais da Paixão.  Cada vez mais a montanha de injúrias, de injustiças, de atos de uma crueldade atroz vão se acumulando até um determinado momento em que Ele pratica a primeira canonização da História. Ele diz para o Bom Ladrão:  "Tu hoje estarás comigo no Paraíso".  Isso é como uma fulguração no céu.

* Naquela tarde horrível de Jerusalém em que o berreiro do povo deicida se faz ouvir de num ódio tremendo, há um cântico de vitória: "Hoje, Eu estarei no Céu"

Por quê?  Quer dizer, então, que naquela tarde horrível de Jerusalém em que [se] vai obscurecendo lentamente a atmosfera, em que um ar pesado, nauseabundo domina tudo, em que o berreiro do povo deicida se faz ouvir de num ódio tremendo, há um cântico de vitória: "Hoje, Eu estarei no Céu".  Quer dizer, "Eu terei vencido tudo, Eu serei o Senhor da glória, o Rei dos reis, Eu serei o Filho de Deus vitorioso, Redentor.  Eu terei redimido o gênero humano!  E tu, ó mal!, e tu, ó satanás!, e tu, ó Judas!, e vós todos que sois do partido de satanás, sois do partido de Judas! Vós todos, sabei-o!, porque eu sei que tudo dá a entender que eu estou perdido, entretanto, eu proclamo aqui: Tudo está salvo! Eu estarei no Céu!

[Muda a fita]

Numa atitude que deverá deixar muitas pessoas estarrecidas, porque parece uma antítese do que Ele diz. Ele brada: "Meu Deus!, meu Deus, por que me abandonastes?"  Como quem se apresenta à vista de Deus, com a plenitude de tudo que Ele pagou, de tudo que Ele resgatou, de tudo quanto Ele sofreu para resgatar o gênero humano.  E diz: "Vossa ação abandonando-me parece inexplicável, até eu pergunto: por quê Vós me abandonastes?  Mas eu sei que não é um verdadeiro abandono, para os que continuam a crer não há abandono.  Eu creio e afirmo:  Eu hoje estarei conVosco no Paraíso."

Depois de ter exclamado:  "Meu Deus, meu Deus, por que abandonastes", Ele expira.  Aí chega a hora. A terra treme, o céu está obscuro completamente.  No Templo de Jerusalém as trevas [se] estabeleceram, e com o terremoto geral o véu do Templo se cinde, se racha, e outros sinais se dão de que a cólera imensa de Deus está cobrindo o mundo.  Cólera pura, cólera no estado de furor que cobre apenas com o manto da misericórdia aqueles poucos que devem formar o núcleo da Igreja nascente, o resto é tudo devastado por um dilúvio de cólera, o dilúvio da cólera de Deus!

* Na escuridão da Sexta-Feira Santa, aqueles cadáveres andando...  Pode-se imaginar um quadro mais perfeito e mais completo da pura cólera?

Tudo isto, quando eu o li pelas primeiras vezes quando era menino, me entusiasmava, me encantava. Mas nada disto me deixou tão profundamente impressionado quanto a afirmação do Evangelho que as sepulturas dos justos muitas vezes se abriram e que eles saíram de dentro de suas sepulturas – não ressuscitados –, saíram de suas sepulturas em estado cadavérico.

Para nós compreendermos bem o que isto quer dizer... – eu estou me atrasando um pouquinho, eu vou resumir –,... nós temos que nos lembrar que os judeus, quando morria um dos deles, enfaixavam o cadáver completamente com tiras de pano e o cadáver ficava, portanto, incapaz de se mover, evidentemente.  E que eles colocavam uma moedinha em cada cavidade ocular, e que os justos ficavam ali com os seus cadáveres esperando a ressurreição dos mortos.

Mas aquela demora tremenda de quem espera a ressurreição dos mortos tinha um dia de parênteses.  Aqueles mortos, sem deixarem de ser mortos, haveriam de se mover.  Aqueles mortos, que sem deixarem de ser mortos se moveriam, haveriam de dizer coisas tremendas sem abrir as bocas, sem descerrar os lábios, pela voz deles falaria a própria voz da justiça de Deus. E eram mortos justos do Antigo Testamento que encontrando as pessoas que corriam de um ou de outro lado pela rua, paravam e diziam:

"E tu! tu cometeste tal coisa!, tu tens a cargo de tua consciência tal infâmia!.  Contra ti a cólera de Deus lavrou sua sentença. Infame! continua agora teu caminho porque têm outros a quem eu tenho que dizer coisas ainda mais severas".

Na escuridão aqueles cadáveres andando...  Pode-se imaginar um quadro mais perfeito e mais completo da pura cólera?

E depois quando Nosso Senhor fala da queda de Jerusalém, da destruição da cidade, e depois a gente lê o Livro famoso de Flávio Josepho, e vê tudo quanto aconteceu – Flávio Josepho era judeu e não era católico – e vê os horrores do que teve que sofrer o povo deicida antes da dispersão, fica inteiramente claro o que é que é a justiça de Deus.

* "Imbecil ou celerado! você não vê que o bom senso pede que venha a hora da justiça?! quanto mais Deus é impunemente insultado, tanto mais você está contente?! Suma da minha presença!"

Pois bem, depois de lermos tudo isso, e pensarmos em tudo isso, nos admiramos com tudo isso, e ver Nosso Senhor Jesus Cristo como guerreiro vitorioso e tremendo que se põe do alto do Céu a contemplar e a tecer esta série de castigos, um em cima do outro.  Este Cavaleiro magnífico que é Nosso Senhor neste seu ato de Juiz.

E depois de tudo isso, nós lemos o que os senhores acabam de ouvir. Quer dizer, depois de dois mil anos de Igreja, cairmos no ponto onde chegamos agora, vermos o que nós vimos, medirmos o que nós medimos e dizer:  "Ora, qual nada! Isso não acontece assim, repugna o bom senso que isso aconteça assim".

Eu teria vontade de ter uma voz bastante tonitruante para que ela chegasse de um extremo do universo até outro, para gritar:  "Imbecil ou celerado! você não vê que é o contrário?!  Que o que o bom senso pede é que venha a hora da justiça?! [Aplausos] Quanto mais a justiça tardar, quanto mais Deus for impunemente insultado, tanto mais você está contente?!  E você se atreve a dizer que é um católico?!  Suma da minha presença!!"

É o mínimo que se tem vontade de dizer.

* Lembrar aos que estão na iminência de serem punidos, lembrar-lhes da punição que vem, é prepará-los para aproveitarem a punição e ainda se salvarem

Mas... eu tenho impressão que esta meditação, que eu estou fazendo tão breve quanto possível, seria preciso repeti-la de vez em quando com este ou outros aspectos, porque a Humanidade está tão ensebada, está tão deteriorada, que as coisas mais evidentes têm que lhe ser repetidas várias vezes até ela compreender que é assim mesmo, e que isto ainda é um ato de misericórdia.  Lembrar a estes que estão na iminência de ser punidos, lembrar-lhes da punição que vem, é prepará-los para aproveitarem a punição e ainda se salvarem.

São Pedro diz (I Pt. III, 19 a 21) que o dilúvio, que como os senhores sabem foi tremendo, foi, sob certo ponto de vista... um castigo, é evidente, mas foi também um ato da misericórdia de Deus.  Porque à medida que o dilúvio foi inundando a Terra e que as pessoas viam que iam morrer mesmo etc., elas caíam em si dos pecados que tinham cometido.  E que muito menos pessoas foram para o inferno do que iriam se não tivesse havido o dilúvio. Quer dizer, o dilúvio é terrível etc., etc., é verdade, mas ele foi uma salvação para muitos.

* "Nós estamos dentro de uma perspectiva diluviana. Ai de nós! se não abrirmos os nossos olhos para essa perspectiva e não formos os apóstolos da difusão dessa verdade"

Nós estamos dentro dessa perspectiva diluviana. Ai de nós! se não abrirmos os nossos olhos para essa perspectiva e não formos os apóstolos da difusão dessa verdade.

Para isso, de vez em quando lembrar fatos desses, e ter isto presente sempre, a meu ver é uma necessidade para a salvação de nossas almas, para a santificação de nossas almas e para a salvação daqueles que Deus quer salvar.

Não sei se está claro, mas é o que no termo desta coletânea magnífica de fatos, me ocorre refletir e pensar.


Bookmark and Share