Plinio Corrêa de Oliveira

 

Ideia errada do que é um Santo e a importância de sempre se dizer a verdade

 

 

 

 

 

 

 

25 de setembro de 1993, sábado

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Eu fui formado, como a imensa maioria dos brasileiros, com a ideia de que um santo é um ser inteiramente excepcional. É de tal maneira um ser excepcional, que não há santos a não ser um em cada mil anos, nasce um santo. E já com todas as características de um santo, aparecendo com “relumbramentos”, com fenômenos místicos, e deixando-nos completamente sem ter o que dizer diante da grandeza deles.

De onde, naturalmente, a ideia que eu tinha, como tinham todas as pessoas no meu tempo, uma ideia errada de que nós não éramos chamados para nenhuma forma de santidade, que nós éramos chamados para sermos bons, para então praticarmos o bem, a verdade, etc., num grauzinho pequeno e está acabado. Mais do que isso não era necessário e nem era possível.

Como é que aconteceu que eu chegasse a ter a ideia de vir a ser santo algum dia de maneira tal que, quer os senhores quer eu, possamos de fato sê-lo se nós quisermos? Portanto, não era um sonho, não era uma loucura, não era uma mania, mas era uma coisa realizável. Como é que isto chegou aos meus olhos?

Foi lendo o Dom Chautard. O livro de Dom Chautard "A alma de todo apostolado". Ele chegava à tese de que só é fecundo o apostolado de quem é santo, e que quem não é santo não tem apostolado capaz de atrair gente.

Ora, eu queria absolutamente atrair gente. E, portanto, por causa disso tinha que tentar ser santo. Se tinha que tentar ser santo, é preciso  meter “a mão na massa”, porque do contrário o meu apostolado sairia vazio. Se fosse vazio o apostolado, seria vazia a minha vida. Se era vazia a minha vida, mais vale a pena morrer, porque se é viver para levar uma vida vazia, é uma vida besta, isso eu não queria por preço nenhum.

Então, daí um certo esforço para começar a combater certamente defeitos que antes disso eu julgava que quase não eram defeitos.

Eu me lembro, por exemplo, que fui educado na ideia de que a mentira é um pecado venial. Mas é um pecado venial tão pequeno que não tinha importância nenhuma mentir. Se morresse, depois, iria passar umas horas no Purgatório, saía do Purgatório e ia para o Céu. Daí eu tirava a conclusão que, quando eu tivesse vantagem, podia mentir à vontade, porque depois eu recebia um prêmio aqui nessa terra por ter feito mentiras a favor do bem, a favor da verdade. E que por isso estava todo o problema resolvido. E mentia então completamente à vontade.

Eu me lembro que um rapaz – eu era noviço de congregado mariano nesse tempo – um rapaz que estava entrando como noviço também, nós estivemos diante de uma dificuldade e ele me disse:

– Agora, Plinio, como é que nós fazemos?

Eram dificuldades de apostolado.

Eu pensei e disse:

– É muito simples, vamos mentir que isto é assim.

Eu me lembro até agora da cara dele. Ele me olhou bem de frente e assim com uma atitude muito categórica e me disse:

– Mas então mentir?

– Olha, fulano, não tem importância é um pecado leve.

– Não espere de mim que eu minta porque nunca na minha vida farei isso!

Aquilo criou na minha alma uma tal convicção de que não se mente, um tal horror à mentira, que se eu encontrar... se eu agora ainda tiver contato com os lugares com que ele e eu tivemos contato, e eu vir os lugares em que essa pessoa evitou de mentir para evitar de desagradar a Deus, eu terei uma lembrança do que eu tive nesse dia quando ele me disse isso, e que eu compreendi: "não se mente. Não se tem o direito de mentir, a política é a política da verdade. Não há outra política a não ser a de dizer a verdade".

Esse rapaz depois perdeu-se. Para os senhores verem como são as coisas. E eu procurei conservar-me e procurei levar a minha vida não mais mentindo. E com isso a lição dele foi pouco útil para ele, mas foi muito útil para mim.

Eu peço a Nossa Senhora que cuide da alma dele pelo bem que me fez.

E vou andando, meus filhos, porque eu estou morrendo de cansado. Não sei se notam que eu estou até morrendo de sono. E que eu preciso absolutamente descansar mais um pouco, porque tive uma semana que talvez tenha sido a mais fatigante de minha vida.

Mas agora não tem remédio, eu tenho que ir mesmo. Que Nossa Senhora a todos os ajude.

Pedir a Nossa Senhora, rezando a Ela todos os dias um “Memorare” [“Lembrai-Vos”, famosa oração composta por São Bernardo de Claraval, n.d.c.] aos pés de uma imagem dEla, pedir a graça de ter um horror à mentira e um amor à verdade.

Salve Maria!

Foto ilustrativa: D. José Gaspar de Affonseca e Silva (1901-1943), então Arcebispo de São Paulo, preside uma sessão. À direita, o Prof. Plinio.


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