Plinio Corrêa de Oliveira

 

A vida dos jovens não é fácil
Alguns conselhos para ajudá-los... e aos não tão jovens também (depressão 2)

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 7 de novembro de 1987, sábado

  Bookmark and Share

 

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Meus caros, para tratar de um assunto que possa ter um interesse atual, eu vou tratar de uma questão de que muita gente não trata, de que pouca gente trata. Também se fosse tratar de assuntos que todo o mundo trata não tinha graça... é preciso tratar dos assuntos que nem todo o mundo trata.

Eu achei que há uma convenção, há um modo de dizer estabelecido que diz que a mocidade é a época da alegria, e quando se é moço se está alegre, que a vida toda aparece em flor, a gente fica muito satisfeito etc., etc., e naturalmente quando eu era moço eu ouvia isso também. E eu tinha objeções a levantar esse modo de entender as coisas.

Eu pensava o seguinte: eu via homens muito mais velhos do que eu e via a mim mesmo, e pensava o seguinte, mas afinal de contas eu tenho toda uma vida para viver, e essa vida para viver deve ter um dever a cumprir, deve ter uma vocação, deve ter coisas difíceis a realizar, eu já estou sentindo que já estão batendo em mim como se fossem ondas as dificuldades da vida. E esses homens mais velhos aí todos resolveram, resolveram bem ou resolveram mal, mas eu os vejo contentões, alegrões, pacatões, com a vida bem arranjada, satisfeitões, como quem não tem mais com o que combater.

E eu tenho diante de mim todos os combates da vida, como é que eles podem pretender que isso é pura e simplesmente uma época de alegria? É uma época em que traz alegrias, não tem dúvida nenhuma, são alegrias diferentes das que tem a idade madura, também é verdade. Mas que seja só alegria eu tenho as minhas dúvidas a esse respeito.

Eu não sei quais os que concordam com esse modo de ver, ou quais os que acham que a juventude traz exclusivamente alegria. (riso geral). Eu não esperava, eu não esperava uma reação tão unânime, pelo que eu entendo, pelas fisionomias, é uma ilusão a ser rejeitada com severidade, a vida não traz só alegrias, tem cada abacaxi, a gente tem que fazer cada força, e não é brincadeira etc., etc.

Bem, isso explica que de vez em quando, houvesse uma coisa que com a graça de Nossa Senhora, houvesse entre os moços do meu tempo, que com a graça de Nossa Senhora pessoalmente eu nunca tive, é “baixa”.

Eu creio que já contei aqui que tinha um amigo muito íntimo, um primo que o pai internou num colégio chamado Danley (?), era um colégio inglês aqui de São Paulo que era afamado pelo bom inglês que ensinava, mas o meu primo tinha que ficar interno no Colégio Danley. Ele saía às Sextas-feiras à tarde se eu não me engano, e saía alegre, ele saia de lá e ia diretamente para a minha casa, para se encontrar comigo e começarmos o fim da semana. O fim de semana consistia para nós sobretudo em comedorias, que as havia magníficas na São Paulinho daquele tempo, e depois largas conversas, etc., etc., ele ia diretamente para casa.

E na Sexta-feira à noite ele estava um passarinho de contente. No Sábado o passarinho engordou, no Domingo estava ainda assim contente, quando chegava lá pelas 6:00 da tarde eu ainda tinha gasolina, mas ele decretava que ele estava com dor de cabeça, ia para um sofá de couro que tinha no hall da casa dele, deitava-se, punha um pano aqui e dizia: olhe você me desculpe, mas eu agora vou ser muito cacete, porque  eu não vou mais ser companhia para você, eu estou com humor negro, eu não estou contente, eu estou aborrecido, eu vejo que você está alegre e bem disposto, está querendo conversar, eu não estou querendo conversar, mas por favor me faça um pouco de companhia e fique aqui.

Eu, levado por temperamento a tirar o partido agradável das coisas, pensava: olhe é uma boa variedade, ele fica quieto e eu também, eu tenho muita coisa em que pensar, ele fica quieto. Chegava lá pelas oito horas, se eu não me engano, eu já não me lembro bem dos horários, também não nos interessa. Bem, chegava lá por x horas ele se despedia, a gaiola do internato se abria e ele tinha que ir para o internato, e tinha que passar a semana interna, e eu ficava de fora.

Eu notava que a baixa dele era porque ele tinha que entrar para o internato, acabaram os dias de alegria, ele tinha que começar o dia ali, aquela coisa dura. E às vezes antes de ir embora ele me dizia: Meu professor deu uma composição para fazer, a composição é sobre tal coisa, eu quero pedir para você me ditar uma composição. Em geral eu ditava, mas às vezes eu não estava com vontade de ditar, e dizia que não ditava, e aí ele ficava furioso comigo e eu com ele. E mais ou menos nos atracávamos, mas atracávamos de um modo assim muito pouco elegante, porque eram pontapés nas canelas de parte à parte. Nunca, nunca quebramos a canela um do outro, mas eram pontapés violentos, e eu por minha natureza é violenta, chegou a hora de dar pontapés saia pontapés mesmo.

Agora ele era muito forte também, e retribuía, era uma... pagávamos mutuamente os pontapés, e isso durava uns cinco minutos e depois no fim eu cedia ou não cedia, e ele ia para o colégio dele na baixa, em geral eu ficava com pena da baixa dele. E percebia que se eu desse uma composição para ele, ele saía mais animado, então eu tinha pena dele e ditava uma composição para ele.

Bem, mas às vezes ele estava deitado, nunca imaginaria naquele tempo que isso serviria para fazer uma exposição para um auditório de 400 pessoas mais ou menos vindas de países tão diferentes, de idades tão diferentes, de tudo tão diversos, e que seriam os membros da minha ordem de Cavalaria. Nunca, isso passou-me pela cabeça, essas coisas são assim.

Ele ficava deitado, e às vezes eu ficava prestando atenção nele. E perguntando, “eu não sei o que é que baixa, eu nunca tive essas baixas, o que é que está se passando na cabeça dele?” E cheguei a formular um quadro de uma baixa. Depois eu vi muitos outros companheiros de minha idade, ou mais moços do que eu na baixa, e conheci muitas baixas e o quadro que eu pintei para mim mesmo olhando esse meu primo, o quadro não se desmentiu em nenhum lugar. Mas, tal é a diferença das gerações que é possível que o quadro das baixas seja diferente hoje em dia, e que as baixas dos senhores já não são como as baixas do tempo em que o meu primo tinha 18 anos e eu tinha 19 e meio, era uma diferença muito grande.

Em todo o caso, eu vou descrever a baixa como ela ficou no meu espírito, os senhores dirão se é ou não é assim. Eu acho que a baixa era isso. Ele tinha durante toda a semana diante de si, –– toda a semana não, o fim de semana, a partir da Sexta-feira à noite até Domingo à noite, ele tinha diante de si a idéia de que aqueles três dias eram passageiros e que terminados aqueles três dias ele tinha que voltar para o colégio, e ele detestava o colégio, porque eu não sei bem, era um dos melhores colégios de São Paulo, mas ele detestava.

Os senhores me fazem umas caras de quem acha explicável que ele detestasse o colégio, bem eu não entro na análise desse particular...

Bem, agora, ele quando saía de lá, ele empurrava aquilo de lado, e o traço escuro da vida dele, que era o colégio, ficava afastado e ficava tudo alegria. À medida que o tempo ia correndo, ia chegando a hora de voltar para o colégio, e aquele traço escuro ia se aproximando. E eu desconfio que o primeiro sintoma que dava quando ele sentia aquilo perto mesmo era uma certa indisposição física, que ou era uma dor de cabeça, ou era um certo incomodo gástrico que dava em dor de cabeça, mas era uma certa indisposição física que levava a ver todas as coisas em negro. Quando chegava mesmo perto da hora de ir, faltava uma ou duas horas, aquilo era ou menos irresistível e ele se deitava.

Mas, aí começavam todos os lados difíceis da existência a cavalgar. Eu tenho ainda tal coisa para fazer, tal outra coisa difícil, tal outra coisa está me fazendo sofrer, tal outra coisa assim na minha vida é ruim, aquilo tudo se levantava como fantasmas que se levantam de dentro de um pântano e as colocavam em pé diante dele. Vai ver tal coisa, tal assim, assim, o meu pai me passou um pito porque eu não tirei boas notas, e eu não tirar boas notas porque eu não quero estudar, e apesar disso eu queria que o meu pai não se zangasse comigo. Um torvelinho de coisas assim que ficavam muito piores do que eram na realidade, e que formava assim uma espécie de fantasmas em torno dele.

E enquanto ele não entrasse no colégio e não começasse a vida de todos os dias no colégio, aquela transição da vida livre para a vida de colégio produzia aquilo nele. Depois entrava no colégio, começava a vida de todos os dias, e ele de repente começava a perceber que já estava perto da sexta-feira, aí começava a “alta”, começava a se alegrar, a se alegrar, a se alegrar. Por um processo análogo a dor de cabeça passava, o pequeno incomodo gástrico passava, voltava o apetite, ele estava alegre, na Sexta-feira à noite ele estava um passarinho.

Essa baixa conserva-se mais ou menos assim hoje em dia?

(Sim)

É mais ou menos isso?

(Sim).

Então não é tempo perdido nós fazermos uma análise dessa baixa. Em primeiro lugar os senhores me respondam à mim, podem responder falando, podem responder levantando o braço, podem responder como quiserem. Eu faço uma pergunta: No período da baixa a gente está mais propenso à virtude ou está menos propenso à virtude?

(Menos)

Vem “menos” de todos os lados. Eu acrescento o seguinte: Está menos propenso à virtudes ou está muito menos propendo à virtude?

(Muito menos)

Muito menos propenso à virtude. Então a gente quer praticar a virtude a gente deve procurar evitar a baixa, parece uma coisa muito lógica, a gente deve procurar evitar a baixa.

Bem, como é que a gente evita uma baixa?

A baixa é uma coisa razoável ou é um capricho? Os que acham que é um capricho levantem o braço? A sala inteira. Mas deve ser uma coisa meio gostosa para a pessoa largar o corpo na baixa, por mais que a baixa faça sofrer, a pessoa recusar de ter aquela baixa deve ser uma coisa meio dura, porque a maior parte das pessoas não faz isso, e se fosse gostoso fazia, isso é verdade ou não?

(Sim).

Bem, então a primeira pergunta é! O que é que há de gostoso na baixa e que leva a gente e não resistir à baixa? A baixa se apresenta de longe, a gente percebe que vai entrar na baixa, e percebe que vai sofrer na baixa, invés de a gente rejeitar a baixa a gente se afunda na baixa, tem alguma coisa de gostoso nisso. O que é que de gostoso há nisso?

É uma ilusão, porque a baixa é toda feita de mentira, a baixa é filha da mentira, é uma ilusão. Qual é a ilusão? A ilusão é a seguinte: a pessoa, vamos dizer esse meu primo, tem que voltar para o colégio, ele não está com vontade de voltar para o colégio e tem que voltar, está bom, ele tem a ilusão de que se ele se deixar cair na baixa, o sofrimento de entrar no colégio diminui, que é um desabafo, a baixa é um desabafo, e por causa disso é que ele não quer segurar a baixa, porque ele acha que desabafando fica melhor, que ele sofre menos, e por isso ele não resiste à baixa. Está claro ou não está?

(Sim).

Para os que não são de língua portuguesa está bem claro o que é “desabafo” ou não? Traduzam para ele o que é desabafo. Você sabe o que é desabafo? Vocês não sabem inglês para dizer para eles? Meu Henrique, você não sabe o que é desabafo em português é? Você traduz para ele, é o seguinte: desabafo é a pessoa quando está muito cheia de sentimento desagradável parece que fica meio abafada com aquilo. Bem, desabafo é huf!... Está claro?

Então, a baixa é uma espécie de... a pessoa tem a ilusão de que se entregando à baixa, é uma espécie de desabafo e que depois da baixa a pessoa fica alegre. Então vale à pena passar pelo túnel da baixa para desabafar.

Isto é verdade ou é erro?

(Erro).

É erro, quando a pessoa fica bem na baixa, não sente desabafo, aquilo está doendo mais do que nunca, e não há uma coisa pior do que a baixa. A baixa abafa a pessoa. E, portanto, a pessoa deve resistir à baixa, porque ela vai sofrer mais, vai sofrer estupidamente, e fica especialmente sujeita a tentação durante a baixa.

Então, aquele que estão me ouvindo aqui, e que por acaso tenham baixa –– eu sei que é uma minoria. Mas, aqueles que estão me ouvindo aqui e que por acaso tem baixa, deveriam formar um propósito de sempre resistir à baixa. E eu já estou dando o primeiro elemento para resistência à baixa. O primeiro elemento para resistência à essa baixa é a gente se lembrar que vai sofre mais e que é uma estupidez a gente ceder para aquilo.

Agora, segundo ponto pelo qual a gente deve evitar a baixa é o seguinte: a baixa é sempre mentirosa. A baixa é mais ou menos como se uma pessoa por exemplo, para ver as coisas pusesse um binóculo errado. Quer dizer, se a gente põe o binóculo pelo lado errado vê as coisas de um tamanho errado. A graduação do binóculo, a pessoa gradua o binóculo de acordo com a própria vista, para ver bem com o binóculo; se a pessoa gradua errado vê tudo errado. E quando a gente está na baixa, a gente gradua o binóculo aqui, não é esse binóculo, é esse binóculo, na baixa todas as coisas nos parecem piores.

Então, se a gente não está com vontade de ir ao colégio, a ida física para o colégio parece horrível, a chegada sinistra, os amigos que a gente tem no colégio uns estúpidos, os professores uns carrascos, o regulamento uma tortura, tudo parece muito pior do que é na realidade.

E se a pessoa cede à baixa, isso forma então fantasmas nascidos do pântano. Os senhores sabem que os pântanos são um misto de água com terra em geral, não é? Então quando chega certa hora, dias muito quentes etc., aquela água começa a evaporar e saem fumaças dos pântanos. Se essas fumaças saem numa noite bonita de luar elas tomam ar de fantasmas e por isso é que eu falo de fantasmas saídas do pântano. O pântano é água suja, limonosa, horrível, das ilusões erradas. E o fantasma é o pânico, tal coisa vai dar em tal resultado, tal outra vai dar em tal outro, vai acontecer tal coisa má, fica-se de um pessimismo negro.

E terceira razão: eu ainda não vi, pode ser que haja, mas eu não vi ainda baixa que não fosse agravada por tentação do demônio. Quer dizer, na baixa sempre entra o demônio, ou quase sempre entra o demônio, para apresentar as coisas ainda pior do que a baixa apresenta. O demônio agrava a baixa.

E por causa disso ele vem, aí está a tentação, com uma sugestão: “você sofrendo tanto assim, cometa um pecado. O jeito que você tem de acabar com esse sofrimento é cometer um pecado, pega aquela revista, tem coisas imorais, ou vá passear na rua e passe por uma rua onde tem uma fassura que faz mal para você olhar”, qualquer coisa na linha da pureza, que é o que o demônio gosta de tentar na linha da pureza. Ele dá à pessoa a ilusão de que a pessoa cometendo aquilo desafoga ainda mais, desabafa ainda mais.

Na realidade, se acontece a infelicidade da pessoa pecar, o próprio demônio depois abaixa mais, porque mete na pessoa a idéia da tristeza do que ele fez, que é uma porcaria, que ele não tem remédio, que ele é um porco, que não tem saída, e agrava ainda mais a baixa. De maneira que o sujeito cai na baixa e fica joguete do demônio.

E, então, quando alguém entra na baixa, a primeira coisa que ele deve fazer é começar a rezar. Começar a rezar, pedindo a Nossa Senhora que nos liberte da baixa. Uma invocação muito boa é dizer: Nossa Senhora, terror dos demônios, afastai de mim essas tentações; São Miguel Arcanjo, protetor dos que lutam contra o demônio, calcai aos pés satanás e os seus anjos malditos. É um modo que a gente tem de tirar o corpo da baixa, de não ceder, e de evitar que o torvelinho negro da baixa entre dentro de nossas almas.

Uma quarta razão é que a baixa tem um efeito curioso. A gente pode gostar das coisas da TFP tanto quanto goste, quando se está na baixa não gosta. Os senhores devem ter notado isso. A mais bela cerimônia, o mais belo ofício, uma reunião mais ou menos suportável feita pelo Dr. Plinio, seja o que for, a gente estando na baixa não suporta.

E diz: - Não, não, não vou com aquilo, não estou sentido, graça nisso, nem gosto nisso, não quero, eu queria estar em outro lugar etc., etc., eu queria estar longe de Deus.

A baixa dá uma vontade de estar longe de Deus e de Nossa Senhora. E por causa disso a baixa enrola a gente e torna cada vez mais fraco para a próxima baixa. Então a gente deve de todos os modos recusar a baixa.

O baixoso é sempre um poltrão, porque a baixa vem da falta de coragem de lutar.

Uma vez encontrei-me com um homem, dos homens mais pitorescos que eu encontrei em minha vida, um velho castelão francês, Conde de Nemours, muito amigo de D. Pedro Henrique, pai de D. Bertrand.

Uma vez que eu fui à Europa D. Pedro Henrique me deu uma carta de apresentação para esse conde para ir à propriedade dele, era um castelo interessante, para eu conhecer e para conversarmos. E ele tinha combatido na guerra da França contra a Alemanha nas duas guerras, quando ele era moço foi a primeira guerra mundial. Quando ele era mais homem maduro, a segunda guerra não foi propriamente nas trincheiras, mas ele combateu nos maquis, quer dizer, aqueles que na floresta, disfarçados, eram uma espécie de guerrilheiros franceses contra o Hitler. E ele me contava vários aspectos interessantes de uma e de outra coisa da guerra.

Mas, ele me contava sem saber – eu conversei uma só vez com ele na vida, não tinha a menor intimidade – mas ele contava a baixa que ele tinha nas vésperas da batalha. Eram avisados todos que no dia seguinte, às tantas horas, ia soar o clarim e que eles deveriam sair da trincheira e ir correndo, tão agachados quanto possível, de encontro à trincheira alemã. E se eu não me esqueço, se eu não estou mal lembrado, a coisa era chegar perto e atirar para dentro. Mas, os alemães estavam dentro atirando para fora. Quer dizer, a coisa não era tão simples chegar e atirar nos alemães, os alemães estavam muito bem armados, muito bons guerreiros, e batendo tiro também. Então ele que, eu volto a dizer, era um homem muito, muito pitoresco, assim, com os cabelos já brancos, bem brancos, um branco de neve, vermelho, com uns olhos de gato, um bigode de D’Artagnan, assim...

E ele todo assim movediço, todo... ele imitava o som dos bichos. Ele quando chegava um caminhão, ele imitava o som do caminhão, ele era todo, mas tudo isso nele era muito pitoresco, me distraía enormemente.

Ele me contou que na véspera da batalha a baixa, porque em geral o ataque era durante a noite. E eles então ficavam, não podendo dormir, porque se fosse dormir, na hora de avançar, avançava com sono, e era uma tristeza. Mesmo porque, quando o indivíduo não avançava, dava um tiro por detrás nele, ele podia morrer das balas francesas, de maneira que é preciso ir direito.

Bem, ia passando o tempo e a noite ia chegando, e ele vendo que a hora do ataque que ele não sabia precisamente qual era, nem os outros –– todo o mundo na trincheira quieto, sucumbido, triste, ele dizia: mas eu fazia assim, eu ficava assim, mas com todas as minhas energias “ramassés” recolhidas dentro de mim, e quando tocava o clarim, eu com medo do meu modo, saía correndo na primeira fileira dos que atacavam.

Eu acho muito bonita a expressão “com medo do meu medo”. Com medo do próprio medo ele se tornava corajoso, e saia de dentro e atacava, muito bonito, muito interessante o jeito como ele contava. E naturalmente ele não foi ferido, mas correu riscos de toda a ordem.

Os riscos que ele correu na segunda guerra mundial, talvez mais dramáticos do que esse. Mas esse da primeira guerra mundial, “n” bombardeios desse gênero, até que a guerra terminou e ele voltou para a casa e está acabado.

Bem, é o que nós devemos fazer nas ocasiões difíceis da vida: em vez de nos deixarmos levar na baixa, nós devemos ficar descansando, e recolhendo em nós as nossas forças, com medo de ter medo, de maneira que na hora do perigo a gente avança, a gente salta como um leão e avança e faz aquilo que tem que fazer.

Então, por exemplo, vamos dizer, esse meu primo do qual eu falo com saudades. Esse meu primo, se eu tivesse experiência da vida para dar um conselho a ele, eu daria esse que eu dei, mas naquele tempo eu não tinha experiência da vida.

O verdadeiro era o seguinte: não ficar aquelas duas horas dormindo lá, com aquele pano, mas levantar e ir para o colégio e ser dos primeiros que entrou. Queimou as etapas, desembarcou e entrou no colégio, está acabado, tenha medo do medo e enfrente o mal! Se eu tenho que enfrentar um certo mal eu vou fazer já – um risco, um inconveniente, não é o pecado; do pecado a gente foge de todos os jeitos. O mal, o inconveniente não, a gente às vezes ladeia. Mas é ruim, porque quanto mais tempo a gente fica temendo uma coisa, tanto mais a coisa fica ruim. Enquanto se a gente pula em cima da coisa desagradável e liquida, a coisa está feita, e isso evita as baixas, isso evita as tentações, e faz do homem um homem forte.

Isso faz parte de uma das quatro virtudes cardeais, a virtude da Fortaleza, pela qual a gente tem força de se arremeter contra as coisas. Resultado, já que eu tratei desse conde de Nemours, do qual eu também falo com saudades, nós mantivemos correspondência durante algum tempo, e ele era realmente muito interessante. Se eu soubesse fotografar eu teria fotografado o Nemours em várias... Depois muito, ele tinha as gentilezas do fidalgo antigo.

Eu era muito mais moço do que ele, e quando o meu automóvel chegou no castelo, o castelo tinha um paredão de pedra e ele estava ali por perto – eu não posso me esquecer de uma roupa meio cinzenta, uma casimira, com umas bolas, umas coisas assim verdes, mas de muito bom gosto, vestidos assim meio de caçador, eu acho que ele andou matando lebres de manhã, qualquer coisa, e ele estava assim vestido de caçador.

Ele veio ao meu encontro, ele viu que eu era o amigo do D. Pedro Henrique, veio ao meu encontro e se apresentou, mas com gestos, parecia uma figura saída de um romance do Dumas, gestos assim, e eu cumprimentei. E a porta do parque dele era grande e eu nem pensei em precedências, entrei naturalmente, se fosse uma porta pequena, como ele era um homem muito mais velho do que eu, eu teria dado precedência a ele, mas ele teria insistido que não porque eu era visitante, teríamos feito um pouco de cortesia, depois um dos dois teria cedido e teríamos entrado.

Qual foi a minha surpresa, ele vinha à minha esquerda, atravessamos juntos a porta, e mal eu entrei no terreno dele, ele deu uma voltinha por detrás e colocou-se à minha direita. É que como eu tinha entrado na casa dele, eu ali era o hóspede, e, portanto, eu tinha o lugar principal, e ele ia à minha direita apesar de eu ser muito mais moço.

“Mas, por favor, não senhor tátátá, falemos de outra coisa...” e foi logo enveredando e assim fomos para a casa dele. Ele era assim todo cheio de coisas. Ele me contou esse caso.

Que ele foi preso no mato pelos nazistas que viram logo que ele era uma espécie de maqui. Os senhores sabem o que é que é “maquis” ou não?

(Não)

Não sabem? É uma forma de guerrilheiro, mas dentro do mato, era uma espécie de “maquis”. E “maquis” era francês contra a Alemanha, o nome dele tudo em francês perfeito. Bem, prenderam a ele falava alemão muito bem. A mulher dele, a condessa, era meio polonesa alemã, era aliás uma senhora simpática também. Ele me disse que o oficial alemão que o prendeu disse: fique agora preso nessa sala e fechou a porta.

Em certo momento disse a ele: “agora o senhor vai passar pelo conselho de julgamento”. Ele já tinha passado por uma tortura, tinham levado a ele para um salão de dentistas, soldado alemão, meteu uma broca em cada dente dele e furava assim, na parte próxima à raiz, naturalmente, naturalmente sem anestésico, uma coisa tremenda, deve ter quebrado alguns dentes etc.

Bem, disse: agora o senhor vai ser julgado e a comissão está aqui para julgá-lo. Ele entrou e encontrou a comissão, era um coronel que era alemão, era conde como ele, e muito amigo dele. E ele olhou para o coronel e disse o que é que eu vou fazer? Se eu digo oh! e o abraço aqui para ver se ele me salva ou qualquer coisa eu perco o homem, porque se os alemães perceberem que ele é meu amigo, ele dá um voto do meu lado o voto dele está nulo, ele não poderá votar do meu lado. Eu devo fingir que não o conheço, como ele está fingindo que não me conhece. Mas, eu devo portar-me com toda a calma e com toda a naturalidade como um homem que não tem nenhuma culpa. Se esse alemão, esse meu amigo, quiser salvar-me, ele me salva; se ele não quiser salvar-me ele me mata, eu agora estou na mão dele, mas inclusive com ele, eu devo mostrar uma confiança cavalheiresca, e quando for a hora do interrogatório dele, responder com toda a naturalidade, com toda a dignidade como a um estranho em que a gente confia.

Fez assim e respondeu exatamente assim, vejam a calma que ele precisava ter. Terminado, o alemão disse para os amigos: “Eu acho que não vale a pena perder”, disse em alemão para os amigos, o amigo dele sabia que ele falava alemão, “eu acho que não vale a pena perder tempo com esse homem. É um homem desinteressante, sem influência, é um bobo, vamos mandar sair por lá e nos vermos livres dele”. Os outros oh oh oh! manda embora.

E ele tinha que fingir que não tinha entendido, porque senão vinha a coisa: ah você sabe falar alemão, que relação você tem com esse homem que o interrogou e está pedindo a sua libertação? Precisava sair inteiramente calmo.

Se ele tivesse o hábito da baixa, se ele não tivesse morrido na Primeira Guerra, morria na Segunda Guerra. Isso continua claro ou não?

Nas épocas difíceis em que vivemos nós temos que saber escapar de dentro da baixa. E o jeito de escapar de dentro da baixa é quando ela se apresenta, lembrar dessas razões que eu dei.

Vou dizer mais: nas épocas difíceis vale a pena levar numa ficha isso bem resumido, chega e lê, e se lembra e resiste à baixa. Porque a baixa é um vício, a baixa é um mau defeito, a baixa é uma tentação do demônio. Então resistência à baixa é resistência ao demônio.

Meu Fernando nós tínhamos feito uma série, era a baixa e mais o que?

(Sr. Fernando Antunez: Baixa, amor próprio e sentimentalismo)

Ah bom! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Esses assuntos como são ligados uns aos outros!

A baixa em geral se prende a um ponto mole da psicologia da pessoa. Por exemplo, uma pessoa tem um amor-próprio meio sensível por causa de alguma coisa, por exemplo, eu não sei... é muito difícil exemplificar sem atingir alguém num auditório com 400 pessoas, eu preciso agir com muito jeito.

Mas, digamos assim, há pessoas que sabem que são cacetes. Não são muitos os que sabem que são cacetes, porque o cacete – vocês devem traduzir um pouquinho para os que não são brasileiros, explique um pouco o que é cacete, uma coisa e outra, para acompanharem bem. Você sabe o que é cacete?

(sim)

Os cacetes não sentem a própria caceteação, e alguns até se imaginam muito interessantes. A pior forma de cacete é daquele que se imagina interessante, e que conta coisas cacetes para ver se distrai a gente, esse é a pior forma de cacete.

Mas, pode ser que um homem, seja um rapaz, o rapaz seja cacete, ele nota que um irmão dele, um primo dele, um amigo dele, assim que entra numa sala forma uma roda. E que ele não, quando entra numa sala não forma uma roda. Pelo contrário ele quando entra na roda um outro sai, pode acontecer. E ele já viu uma vez um dizer: “quando entra esse cacete do fulano eu saio da roda porque ele só diz besteiras”.

Bem, forma nele uma espécie de perseguição de que os outros não gostam de conversar com ele. E assim quando ele vai às reuniões, ele já vai com medo que fujam dele, e se ele percebeu que fugiram dele quatro ou cinco vezes naquela noite, a tendência dele é sair da reunião, trancar no quarto e ter uma baixa. Isso pode ou não pode dar assim? É claro que pode. E na baixa fica aquilo: eu sou cacete, sou cacete, sou cacetíssimo, eu não sei o que é que é que vou fazer, eu não vou conversar com mais ninguém, eu vou mudar de cidade, eu vou fugir...

Ou, então, “eu li que há um livro que conta piadas, eu vou comprar o livro para aprender a contar piadas, para ver se fico engraçado”. Compra o livro e decora três ou quatro piadas, vai contar e ninguém dá risada, mudam de assunto, porque o indivíduo é cacete...

Bem, fica uma espécie de falta de coragem de viver por causa daquela dificuldade que o sujeito tem, ele é cacete. E por causa disso ele entra em baixa de amor-próprio. Porque o que fica ferido aí é o amor-próprio, é uma coisa evidente.

Vamos dizer que ele pertença a uma família rica, mas ele é o primo pobre da família rica.

Vão sair juntos, todos vão de automóvel, e ele fica reduzido a pedir um lugar de carona para qualquer um daqueles que vão lá, dá uma inibição, só eu não tenho automóvel. Resultado, quando há um lugar onde tem muita gente com automóvel ele não quer ir, mas fica na baixa porque não pode ir, porque o amor-próprio tocou.

Há outros que tem baixa medonha porque são burros, percebem que os outros dão argumentos muito melhor. Eles dão uma idéia e o outro dá um argumento e achata. Eles não sabem responder, como é que vão fazer? Dá baixa também.

Eu me lembro na Congregação de Santa Cecília, quando eu era jovem, eu discuti com um sujeito, aliás de uma muito boa família tradicional de São Paulo. Eu discuti com ele, e ele me deu uma idéia qualquer errada e eu fiz uma demonstração que estava certo e que ele estava errado. Ele olhou para mim, furioso, não tinha o que dizer, me disse: “Ora – eu até hoje não me esqueço disso – você tudo discute por bases e não por fundamentos!”... Não quer dizer nada, é uma idiotice, eu quase, graças à Deus eu me contive, quase disse a ele: você é um idiota! mas no ambiente de congregação mariana, eu não diria, para um outro eu diria, mas num ambiente de congregação mariana, de mutuo respeito, de mutua caridade, etc., etc., eu fiquei assim, eu como um idiota, porque eu não tive resposta para ele, eu fiquei assim pasmo para ele e ele se retirou feliz. Porque ele me tinha reduzido ao silêncio... De fato tinha, porque ou era dizer um desaforo que eu não queria dizer, ou era dizer à ele: “você é uma besta quadrada, você não entende o sentido das palavras que você diz”.

Vamos dizer que depois esse rapaz soubesse que eu fiz esse comentário, podia ou não podia dar uma baixa? Uma baixa solene. Durante essa baixa vinha o demônio e dizia: “olhe aqui, peque porque é a saída, para você o gosto da vida é o pecado. Você não tem outra coisa faça isso, está acabado, a saída é essa”.

Quer dizer, nós devemos tomar muito cuidado com o nosso amor-próprio. Porque muito freqüentemente a força da baixa é o amor-próprio. E há gente que é dada a “mega” [orgulhoso] e que fica prestando uma atenção enorme como é tratado por cada um, e o mega sempre acha que devia ser muito mais bem tratado do que ele deve ser de fato. Logo, ele acha que ninguém o trata como deve, logo acontece que ele fica na baixa a três por dois. É a baixa da megalice, é uma coisa horrorosa!...

Bem, há também uma outra baixa que é a baixa do sentimentalismo. Pode dar. Eu já vi por exemplo, entre irmãos homens – não é entre moças, enfim é errado, mas se compreende – mas não, é entre homens.

Ambos querendo muito bem os pais, era uma irmandade grande, mas eles tinham uma espécie de rivalidade, dois melhores tinham uma espécie de rivalidade de quem é que o pai queria mais bem, se era um ou se era outro. E se acontecia do pai ou da mãe manifestar mais preferência por um dos dois, o outro tomava baixa. É uma coisa perfeitamente estúpida! E’ normal, o pai quer bem normalmente o seu filho, pode ser que goste mais de um do que de outro, mas não tem significado maior; ele gosta inteiramente dos dois e está acabado. Depois se gostar do outro é porque gostou, está acabado, vá tomar banho! O que é isso? Você é uma mocinha que fica sensível com qualquer coisa?! Entre duas mocinhas na primeiríssima juventude seria mal feito, mas enfim vá lá. Mas vendo dois marmanjos de 20, 21, 22, 25 anos, homenzarrões com ciúmes como se fossem mocinhas...! Merecia levar um pito dos pais, dizer: “eu vou agora passar uma temporada em que não agrade nenhum dos dois, está acabado! E assim vocês vão ver como é que dois mais dois é igual à quatro!” Mas há coisas dessas.

E o sentimentalismo é sobretudo ruim quando entra alguma coisa de sexto mandamento pelo meio, e é a grande maioria dos casos. É uma moça, o outro conhece aquela moça também, a moça quem é que prefere, ele tem um sentimentalismo com aquela moça, lá vai daí para a frente... ela prefere o outro e [vem a] baixa, está acabado. Quer dizer, são coisas que deformam uma vida e que levam para baixo.

Em geral a virtude não leva para a baixa, o que leva para a baixa é o defeito. E se alguém é sujeito à baixa, procure porque, no fundo, está um defeito, está um defeito para corrigir.

Então eu gostaria muito que em havendo exame de consciência, se pusesse isso no exame de consciência:

* Tive baixas?

* Eu tentei resistir à minha baixa?

* Eu tentei lutar contra a minha baixa?

* Eu empreguei os vários sistemas que o Dr. Plínio recomendou?

* Eu ainda me lembro da exposição que ele fez sobre a baixa? Ou pelo contrário eu gosto de cair na baixa, e eu sou viciado na baixa, como outros são viciados da droga ou do fumo? É uma pergunta muito para se fazer.

Bem, agora termino, e termino, com o seguinte: qual é o resultado de uma exposição dessas?

Eu estou falando a mais ou menos uma hora, os senhores estão me ouvindo mais ou menos uma hora. Os senhores e eu teremos perdido o nosso tempo se os senhores não saírem daqui com uma resolução firme de pedir ao anotador das fitas que lhes dê um cartãozinho com isso tudo bem resumido. E se não formarem, por exemplo, a resolução de em um determinado dia da semana em que o ordo dos senhores dê mais tempo, os senhores irem à capela e diante do Santíssimo Sacramento, aos pés de uma imagem de Nossa Senhora, os senhores começarem por pedir a graça de se verem com franqueza, dizendo à Nossa Senhora:

“Minha Mãe, dizendo à Nosso Senhor Jesus Cristo, meu Deus, ainda que eu não me veja Vós me vereis, Vós estais me vendo, e se eu não quiser me ver bem, no juízo final vós me descrevereis na minha covardia não tendo a coragem de me ver bem. Preservai-me, eu Vos suplico, preservai-me de me ver mal, dai-me a graça de me ver bem. De ver os meus defeitos cara a cara como eles são, dai-me a graça de odiá-los. Agora Minha Mãe, agora meu Senhor e meu Deus, eu vou fazer um exame de consciência das minhas baixas”...

E com a ficha já na mão, ler ponto por ponto. Não se fiem na memória, porque a memória esquece o que é desagradável, e se lembra do que é agradável, portanto os senhores formem uma resolução e façam isso uma vez semana, uma vez por semana, será uma resolução. Aí teremos ganho essa noite!

Meus caros, assim fica encerrada a noite de hoje.

(Pergunta a respeito do que Da. Lucilia ensinou sobre a questão da baixa)

Seria muito mais fácil falar a respeito dela para aqueles que a conheceram do que não conheceram. Porque ela não era de dar grandes teorias, nem de dar grandes ensinamentos; ela era uma boa dona de casa, com leitura que tinham as senhoras cultas daquele tempo, mas não mais do que isso. E que falava muito mais pelo exemplo do que pelos conselhos.

Eu a vi muitas vezes triste, e muitas vezes gravemente triste, na baixa nunca a vi, nem nada parecido com a baixa. Porque eu percebia que estava fundamente posto no espírito dela um princípio eminentemente verdadeiro, e o princípio era o seguinte: essa vida é mesmo para sofrer, é um vale de lágrimas, e eu não tenho o direito de ficar surpreso se estou sofrendo, eu sofro mesmo, está acabado, é natural que eu sofra, não tem surpresas. Está doendo, está sofrendo, está bem, eu vou deixar que a dor me devaste, mas na tranqüilidade, na paz, oferecendo a Nossa Senhora o sofrimento que Ela me mandou.

Havia tanta alegria de sofrer e de oferecer aquilo à Nossa Senhora e por meio dEla ao Sagrado Coração de Jesus, tanta conformidade, que se uma pessoa estivesse na baixa, chegando perto dela, até mesmo numa hora de dor, acalmava a baixa.

As horas de alegria também eram horas serenas, ela não tinha alegrias turbulentas, ela tinha alegrias intensas, mas tão doces, que ela disseminava a tranqüilidade em torno de si, como eu não vi coisa igual no mundo. De maneira que quase não havia ocasião de falar sobre baixa. Ela olhava e a “baixa” abaixava...

Bom, meus caros vamos andando.

Nota: Para aprofundar o tema, veja:

* 1974-09-14 - Depressão 1 - Como evitar a rampa que conduz para ela (com áudio e texto).

* 1987-11-07 - Depressão 2 - A vida dos jovens não é fácil. Alguns conselhos para ajudá-los... e também aos não tão jovens.

* 1987-11-14 - Depressão 3 - Para curar a "baixa" é preciso compreender que devemos ter um ideal e viver para ele

* A Calma e sua gentil superioridade - Excertos do pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira


Bookmark and Share