Plinio Corrêa de Oliveira

 

Como manter a paz de alma nos dias de hoje?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eremo de São Bento, 24 de agosto de 1987

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Eu acho o seguinte, que para nós termos paz de alma, para ter essa paz de alma, a primeira coisa que é preciso é obedecer… (eu não sei bem se é conselho ou preceito do Evangelho; deve ser preceito) “quaerite primo regnum Dei” – “procurai antes de tudo o Reino de Deus” (Mt. 6, 33). O “procurai” quer dizer querei, porque ninguém procura o que não quer. Portanto uma coisa está contida na outra, é dedução da outra.

Então, “querei antes de tudo o Reino de Deus, e todas as coisas vos serão dadas por acréscimo”. O que quer dizer o seguinte: a gente se importar só com esse fato: que a Revolução seja derrotada e a Contra-Revolução vitoriosa. Então, a gente aparecer, a gente não sei mais o quê, pequenos apegos pessoais, etc., etc., desde que isto seja alcançado, não se preocupe, porque o resto - ainda que lhe falte - não lhe fará falta.

Em outros termos, é um jogo de palavras não muito claro, quer dizer: ainda que você não tenha, ainda que você tenha e lhe tirem, ou você não tenha, seja como for, isto não lhe fará falta. Não se incomode porque você chega à sua meta: o Reino de Deus será realizado.

Se a pessoa se puser em apegos, é o inferno na terra. Em qualquer época, mas hoje mais do que nunca.

Tome qualquer época da História. A vida humana é sempre vida humana, não é? Então, por exemplo, imagine no tempo dos romanos. Você sabe que os romanos entravam em guerra, como em todas as guerras muitos eram mortos, quer do lado deles, quer do lado dos romanos.

Agora, vamos olhar do lado dos romanos. Os adversários dos romanos que não morriam na guerra, os romanos vencendo - como em geral acontecia - eles prendiam o adversário, reduziam a escravo. Depois o escravo ia, em todo trajeto que não fosse de mar, o escravo ia a pé. Ia descalço, às vezes com as mãos amarradas às costas, e com verdugos batendo para andarem depressa… comendo o que davam, bebendo quando encontravam, não podendo cansar porque do contrário apanhava, não podendo resmungar porque podiam ser mortos. Não podiam espalhar o derrotismo entre aqueles outros.

Bem, iam andando até a capital, Roma. Quando chegava em Roma, na entrada da cidade, antes de entrar, organizavam o triunfo do general vencedor. Então fazia uma espécie de parada em que ia na frente o rei vencido, posto de escravo, cabeça raspada, mãos amarradas nas costas etc., etc., e levando vaias, cusparadas, bofetadas etc., etc., de todo povo que ia encontrando pelo caminho.

Depois iam atrás dele os homens graduados dele, tudo reduzido a escravo, e depois a escravaria comum, os soldados derrotados na guerra. E por toda parte brincadeira, pontapés, jogavam no chão, sujeito estava com as mãos amarradas, custava para levantar, vinha o feitor, dava ordem: “levanta!” Ele começava a levantar… Vinha um outro e jogava ele no chão de novo. Ele não podia reagir. Então tinha que se arrastar como uma lesma até uma casa para poder se equilibrar para tocar, porque se não fizesse apanhava…

Quando chegavam todos no Capitólio, tinha embaixo uma prisão de onde nunca se saía. Era uma prisão famosa, chamada Marmetina. Essa prisão tinha um buraco, e era tão alta que ninguém lá dentro podia pegar nada em cima. Não jogavam, ou quase não jogavam comida. Idem bebida. O sujeito ficava definhando lá, jogado… ele já chegava lá, podia quebrar na queda. Não tinha socorro nem nada. E ali ficavam aqueles homens levando aquele resto de vida, até o momento em que ele morresse. Naturalmente brigavam entre si também, um matava o outro, não tinha consequência nenhuma, porque não tinha lei não tinha nada. Era um inferno.

E quando o rei adversário era jogado lá embaixo, e terminava a jogada dos principais, o carrasco gritava de maneira a ser ouvido embaixo: “vae victis! Ai dos que foram vencidos!”

Agora, imaginem um soldado batalhando o tempo inteiro, na ideia de que se ele não for morto pode acabar na prisão Marmetina? Não daria toda espécie de apegos etc., etc.? Não quebrava um homem? Quebrava, tem que ser. Como é que esses homens eram?

Os assírios faziam o seguinte: prendiam uma argola nos lábios do vencido, e eram 200, 300 vencidos levados com as argolas amarradas, e gente espancando em cima. E o rei ficava em pé com uma lança furando os olhos de todos que se aproximavam, para servirem depois de animais de tração. Porque não podia fugir. Fura os olhos, não foge, não faz nada… Espera de manhã que lhe atrelem como um burro, e nem dão indicação. Vá seguindo o rumo. – Que tempo é? – Cale a boca! você não tem direito de saber. Está acabado.

Bem, compreendem, essas coisas põem o homem em delírio.

Em todas as épocas há coisas dessas. Não há o… nada disso, mas há situações que são mais ou menos assim. O sujeito rateou a vida, está acabado. Bem, dá ou não dá apegos delirantes? Tem que dar. Mas fica nervoso, fica frenético etc., etc., quando de longe a coisa começa a ameaçar de acontecer.

Agora, se a gente se põe claramente nisso: procure o Reino de Deus e a sua justiça, e o resto lhe será dado por acréscimo - no céu ou na terra, não está garantido que seja no céu - mas vá para lá tranquilo, porque isso lhe será dado, o Reino de Deus lhe será dado, aconteça o que acontecer Aí a gente é calmo.

Imagine agora, por exemplo aqui: Reforma Agrária, Reforma Urbana, Revolução Industrial etc., etc. Tomem um nababo qualquer no Morumbi: casa magnífica, joias, tá-tá. Pode ser que daqui a um ano, exatamente a essa hora, ele vê que de repente da janela da sala em que ele está, se levantando da sesta para ir trabalhar, ele vê que um cordão policial cercou a casa. Vem aviso: “O senhor, recebeu ordem do distrito tanto etc., etc., de entregar isso para um destacamento de gente que vem do Estado de não sei onde, por ordem do governo, morar aqui dentro, porque não tem onde morar. O senhor é sensível ou não é sensível às reivindicações dos pobres?” É gente que nem mora aqui. “O governo mandou vir para ocupar sua casa…”

Ele pergunta: “há um cantinho onde eu possa morar?” – “Lá fora, no quarto do chauffeur! Saia! Saia já! O povo está esperando!” Chega à noite, como é que ele está lá? Bem, como é que o sujeito aguenta uma coisa dessas se ele não procura antes de tudo o Reino de Deus?

Mas isso que parece tão terrível, é a vida de todos os dias.

O sujeito vai ao médico, o médico examina e receita quando ele menos espera, um câncer! Ainda algum tempo eu li o caso ocorrido no Rio Grande do Sul com um homem que era de Porto Alegre, uma notabilidade em qualquer ramo, não me lembro mais qual era o ramo. Mas ele foi ao médico, oculista, o médico descobriu que ele estava para ficar cego – assim! - e de uma hora para outra. Mas ele não tinha bem noção disso. E daí a dois, três dias eram as bodas de ouro dele. Então a família resolveu - era um homem rico - comprar passagem para daí a quatro dias para os Estados Unidos, para ir - já tomaram hora etc., etc. - com super oculista não sei o que, não sei o que, de tal lugar assim, assim. E fizeram uma festa de… não disseram nada para ele, e festa de bodas de ouro de primeira ordem.

Quando toda a festa terminou, ele se preparou para deitar, a mulher dele disse para ele: “Fulano, eu lamento muito, mas quero dizer que você está com risco de ficar cego. E você tem que partir amanhã cedo, eu vou também, para os Estados Unidos, tá-tá”…

Os senhores acham que muita gente dormia essa noite? (Ahhh…) Os senhores estão vendo o rugido que os senhores dão diante dessa hipótese. Bem, e é mesmo! Pode haver gente que fique tentada de se jogar do avião. Pode haver. Bem, mas se procurar antes de tudo o Reino de Deus e sua justiça… o resto nos será dado em acréscimo.

Está claro, meus caros?

Nota: Para tomar conhecimento de outras considerações de Dr. Plinio a respeito da calma, consulte a obra "A Calma e sua gentil superioridade - Excertos do pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira" (coletânea aos cuidados de Leo Daniele).


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